segunda-feira, 9 de junho de 2014

[Copa] E se em 1950 aquela bola tivesse entrado

No outro jogo da rodada final, a Suécia venceu a Espanha por 3 a 1, com gols de Sundquist (15'), Melberg (33') e Palmer (35' do segundo tempo); Zarra (37 do segundo tempo) descontou para os espanhóis. A Suécia terminou em terceiro, com dois pontos, e a Espanha ficou na quarta colocação.

Na partida decisiva, o público oficial registrado nas catracas do Maracanã parou em pouco mais de 178 mil pessoas, a maior quantidade de torcedores reunidos em qualquer jogo de Copa do Mundo. Além disso, há uma lenda de que as catracas quebraram e, na realidade, o até então Estádio Mendes de Moraes contou, fácil, com mais de 200 mil pessoas!

A FINAL
O árbitro inglês George Reader apita o início do jogo! Emoção plena naquela verdadeira frigideira de nervosismo, alegria e muita confiança. Após uma semana com direito à mudança de concentração (do Irajá para São Januário), com muitas visitas de políticos e, para variar, muitas promessas, chegou a hora de os jogadores do escrete nacional confirmarem as prévias de capas para os jornais do dia seguinte. E não adianta depois dizer que tiveram que empurrar ônibus no meio do caminho!

Só que ninguém esperava que na metade do primeiro tempo, após um jogo com poucas chances e um Brasil aparentemente segurando o empate, o Uruguai é quem tivesse uma grande oportunidade. Ghiggia partiu sozinho do meio-campo à defesa vestida de branco e encheu o pé na entrada da área, mas a bola beijou a trave!

Após duas goleadas no quadrangular, a torcida esperava algo bem diferente do cadenciado tango uruguaio (? - eis a polêmica das polêmicas com a Argentina). Como o time brasileiro só precisava do empate, SE o jogo terminasse 0 a 0 já teria festa garantida, ainda que com menos fervor para quem vinha de dois espetáculos.

E se...
O segundo tempo começou diferente, com o mesmo Brasil que jogara as últimas partidas naquele mesmo monumental palco. 

Aos dois minutos, Bauer tocou para Friaça, que tocou para Zizinho que, magistralmente, concluiu a tabelinha na frente, na entrada da área, para o atacante são-paulino. Ele bateu na bola em diagonal, da direita para a esquerda, e marcou o GOOOOOLLLL!!!

Friaça marca o gol que poderia selar o título brasileiro. Vibração na arquibancada, com uma incontável quantidade de lenços brancos hasteados. A emoção foi tão grande que o locutor César Alencar saiu de trás do gol e caiu abraçado ao artilheiro!

Mas a seleção brasileira de futebol parou por aí, como se tentasse segurar o jogo. Num momento de fúria contra os gritos do capitão uruguaio Obdúlio Varela, Bigode o empurra:

"Aqui quem manda somos nós", teria dito o nosso marcador. Pena que não tenha avisado isso ao ponta-direita Ghiggia...

O ponta uruguaio partiu para cima de Bigode, sassaricou para lá, dançou para cá e passou pela marcação. Na entrada lateral da área, tocou para Schiaffino completar com uma bomba quase no meio do gol. Indefensável para Barbosa. O jogo volta ao empate, que ainda dá o título ao Brasil.

A torcida fica apreensiva por alguns instantes, mas o título continuava nas mãos. Continuava, pois:

"- 33 minutos do segundo tempo. A bola rola no Maracanã, a torcida está apreensiva, ainda que o empate dê a vitória para o escrete nacional. As nossas potencialidades chegando ao ápice no esporte inventado pelos ingleses, num confronto que é histórico, já que do outro lado temos a seleção bicampeã olímpica e campeã do primeiro Mundial. Ouça as vozes de mais de 200 mil pessoas, que lotam como nunca um estádio de futebol...

- Opa. Olha a correria do ponta-esquerda uruguaio... Vale lembrar que foi de uma jogada assim, com cruzamento dele para a área, que saiu o primeiro do Uruguai.

- Não vai ser desta vez. Ghiggia continua correndo, Bigode já ficou para trás... Não é possível... Ele chegou na nossa área! Ele vai cruzar. Corta Juvenal! Não, ele chutou! Defende Barbosaaaaaaa! Não, não pode ser. Gool do Uruguai, Ghiggia!"

Segundos de silêncio, o narrador não acredita no que vê e no que não ouve. O Maracanã está calado. No banco, Flávio Costa está atônito...

A bola e o tempo passam. A torcida permanece calada. O que seria a maior festa do mundo vai se transformando no maior velório a céu aberto já visto na história.

44 minutos. O Brasil já havia tentado inúmeras vezes chegar ao gol de empate. Só um gol, só um empate, daria-nos o primeiro título em casa. Mas do outro lado o goleiro Máspoli parece intransponível, fora o desespero evidente da maioria dos jogadores.

Friaça cruza para a área. Zizinho, com toda a sua habilidade, deixa para Ademir. O artilheiro deste Mundial, então com nove gols, tem a chance de marcar o mais importante tento da sua vida. Diferentemente de outras vezes, ele resolveu não ajeitar, para tentar surpreender o arqueiro uruguaio. O chute vai  de primeira, mas a bola vai para fora!

45 minutos do segundo tempo! O zagueiro uruguaio Gambetta manda a bola para escanteio. Torcedores fazem figa em todo o Maracanã, em todo o Brasil, para os que acompanham via transmissão radiofônica. Os que choravam tentam secar as lágrimas para poder ver a última chance de uma vitória "naturalmente" esperada.

Friaça levanta a bola. Todos olham aquele trajeto querendo ajudar a empurrá-la para o gol. Todos menos os uruguaios, é claro, tantos que escutavam pelo rádio as emoções de uma vitória que nem eles mesmos esperavam. "Um Maracanazo contra os macaquitos" devia ser base dos comentários de além da fronteira ao sul do país.

Máspoli e Jair da Rosa Pinto sobem para disputar a bola. Os paulistas lembram de Baltazar, o "Cabecinha de Ouro", do arquirrival do time de Jair. SE ele estivesse lá era certeza de gol, certeza de título.

Mas era Jair. O palmeirense saltou o quanto pôde, mais até do que o resto das forças permitiam. Máspoli pula depois dele. SE Jair acertar o cabeceio não terá ninguém para tirar a bola da direção do gol. Porém, ele não é tão alto e consegue  apenas triscar na pelota de couro. Será que o suficiente?

"Última chance para o gol brasileiro, senhoras e senhores. Friaça bate escanteio na primeira trave, Jair consegue se antecipar ao goleiro Máspoli e... e...

PECK, CRACSM, CROC,... (o estádio treme e as coisas caem da mesa)

É GOOOOLLLL, É GOOOOOLLLL, É GOOOOOOLLLL!!!"

Barulho ensurdecedor no Maracanã. Os torcedores choram de alegria, há notícias de outros tendo ataques cardíacos de tamanha emoção. Afinal, o Brasil acaba de conquistar um título em seu território, no maior estádio onde se fez uma Copa do Mundo!

2 comentários:

  1. Só uma correção, Anderson: você escreveu "do outro lado temos a seleção bicampeã olímpica e campeã do primeiro Mundial" e se esqueceu de que no universo da série "E se" a campeã de 1930 foi a Argentina.

    No resto, está ótimo o texto.

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  2. Valeu, Marcelo. Realmente você está certo. Acabei ficando na dúvida, inclusive quando eu tiver tempo de falar da Hungria em 1954 e de outras seleções que ficaram no meio do caminho, se conto a história segundo a "E se..." ou se vou criando especificamente por Copa, já que, por exemplo, o Brasil já teria sido campeão em 1938, então a pressão seria muito menor em 1950.

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