domingo, 24 de maio de 2015

A sombra se dissolvendo

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Todos temos nossos dias bons, dias ruins, dias péssimos. Isso interfere nas nossas relações sociais e na forma que vemos e (queremos) entendemos as coisas em nossa volta. Com séries não é diferente. Com Sessão de Terapia (GNT) seria impossível. Sentir-se identificado com algum dos episódios ou identificar alguém próximo com alguma situação ali presente é muito comum.

No meu caso, vi a segunda temporada formada por um conjunto de pessoas que acabaram se acostumando a assumir responsabilidades acima do que seria possível, mantendo uma fortaleza aos olhos das outras pessoas. Carol se acostumou a não pedir ajuda e mesmo com um câncer fica quieta; Otávio perde a base de controle no emprego e, especialmente, ao ver a filha sair de casa; Paula foi criada para ser o filho homem que o pai não teve; Daniel se responsabiliza pela separação dos pais; e mesmo Theo, o analista, carrega uma sombra, a responsabilidade de ter cuidado da mãe doente quando o pai saiu de casa, culpando-o até os últimos momentos por isso.

Apesar de problemas e formas de convívio com estes diferentes, vejo-me um pouco assim. Não escondo que prefiro milhões de vezes ajudar alguém que ser ajuda - ainda que eu seja "froid et pessimist", como disse numa aula recente de Francês. Como disse acima, como eu vi a segunda temporada é diferente da forma que eu vi a primeira e como eu assisti a In Treatment. Passei por momentos muito bons surpreendentes e ruins surpreendentes neste período que, no balanço dos efeitos, vêm me fazendo pensar se realmente não é melhor assumir de vez o jeito frio como as pessoas me olham.

[Aviso, vai ter spoilers. Inclusive porque entendo que as formas de assimilação variam]


Quando Theo fala ao final para Dora, sua consultora/analista, que precisa parar de atender e até mesmo "para de falar sobre a vida e viver" numa segunda temporada marcada por uma ainda maior solidão da personagem é bem marcante. Mesmo com a filha Malu presente e mostrando algumas de suas contradições - a ponto de dizer que só o abraçará quando voltar para casa ou que irá tratá-lo da mesma forma (sem visitar o pai doente) quando ele for mais velho.

A ação final da temporada anterior segue permeando a nova, em que Theo passa a morar num pequeno apartamento, onde atende seus clientes. A sombra da morte do período anterior segue e mais que o conselho de Psicologia, as ameaças de um pai ou qualquer ação na justiça, a maior cobrança vem de dentro dele; a culpa por não ter conseguido ajudar diretamente uma pessoa, sua marca como analista - como dirá Dora no final.

O rápido flerte com a primeira namorada o faz se empolgar com a aventura, mas esfriar após perceber que a imagem que construiu de seu pai era equivocada, justo aquilo que ele embasava o seu jeito de (não) agir. A vizinha ao lado, que pinta escutando música, atrapalhando algumas sessões, mas trazendo de uma forma diferente de Dora a importância de Theo.


Esta temporada ainda é baseada no original israelense BeTipul, mas como não tinha conseguido baixar todos os episódios da versão estadunidense, pude entender melhor cada caso a partir da realidade brasileira, sem muitos elementos de comparação. A exceção ficou por conta de Daniel, que aqui tem como pais o casal (chato), agora separado, da temporada anterior. Nos EUA, o menino pede para morar com o analista, aqui, ele apenas brinca com isso em alguns momentos.

Ah, mais uma vez, por mais bruto que Theo possa parecer, especialmente à frente de Dora às sextas-feiras, é com uma criança que ele mostra uma maior preocupação - mesmo que eu não tenha tido com ele uma aversão inicial como tive com Paul, de IT. Assim como com a jovem Carol, em que ele ajuda diretamente no tratamento de saúde, oferecendo-se para ir com ela para a primeira quimioterapia. Verdade que vemos pacientes menos agressivos com Theo, mesmo o casal diminui o nível de provocação com o analista.


Para terminar, a última atuação de Cláudio Cavalcanti é marcante. Os problemas de Otávio causados por uma culpa pela morte do irmão e a preocupação de nunca mais perder o controle sobre as coisas e pessoas geram crises no corpo quando o mundo construído perfeitamente cai. A empresa erra e ele pode ser descartado. A filha prefere andar com as próprias pernas e o surpreende.

Daquelas infelicidades da vida, dias depois Cláudio faleceria. A conclusão de Otávio no último episódio é que ele teria que aprender rápido a lidar com os problemas, antes que o tempo dele acabasse...

O GNT resolveu não fazer uma nova temporada da série, mas eu ainda tenho os episódios da terceira temporada a assistir. Acesse os links a seguir para ler os meus outros comentários sobre as séries derivadas de BeTipul:


sexta-feira, 22 de maio de 2015

A ‘tempestade brasileira’ do surfe

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“Por conta da final do mundial de surfe, não exibiremos a matéria sobre o UFC.” O final do Esporte Espetacular, programa dominical dedicado aos esportes na Rede Globo, deu os sinais da mudança do “segundo esporte do brasileiro”. Em meio à crise do futebol brasileiro após o 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014, o surfe desde o ano passado substitui o espaço do “brasileiro com muito orgulho, com muito amor”, como gritavam os torcedores no Rio-Pro no último domingo.

Alguns pesquisadores de esportes no Brasil costumam dizer que aqui há dois esportes no gosto dos torcedores: o futebol e aquele em que naquele momento um brasileiro esteja vencendo. Vivemos mais um desses períodos em que, apesar de não abandonarmos o esporte bretão, é outro que ganha o destaque dos noticiários como o que podemos vencer.

Como relembrou o repórter Edson Viana ao longo da transmissão da final da etapa brasileira da Liga Mundial de Surfe, a reação da torcida, e aqui destacamos também dos meios de comunicação, já foi assim com Ayrton Senna na Fórmula 1, com Gustavo Kuerten no tênis, mas também com Acelino “Popó” Freitas no boxe, com Daiane dos Santos na ginástica, dentre outros casos que se destacam mais especialmente quando o futebol passa por momentos de crise, caso atual.

Ainda que a “Brazilian Storm” (“Tempestade Brasileira”), nome que batiza a atual geração de surfistas brasileiros nas competições mundiais, venha sendo mostrada há alguns anos no mesmoEsporte Espetacular a partir do reality show Nas ondas…, ninguém imaginaria a um ano assistir ao vivo em TV aberta minutos da final de uma etapa do mundial de surfe, ainda que ocorrendo aqui no Brasil.

Projetos sociais e exemplos de vida

O título mundial inédito de Gabriel Medina no ano passado, esperado algumas etapas antes do final, garantiu a visibilidade e o patrocínio para colocar um esporte tradicional no litoral brasileiro nas telas da TV aberta por mais tempo. Ainda que não faça tanto sentido nesta temporada, devido aos maus resultados do atual campeão, o Nas ondas do campeão tem espaço nos programas esportivos da Globo e também nos jornalísticos.

Não se sabe o que ocorreria caso Medina não conseguisse o título que se avizinhava desde o início da temporada passada. Confesso que temia sobre os efeitos disso, já que o foco era enorme, com direito à cobertura em tempo real nos sites esportivos locais, materiais nos programas de TV sobre o andamento das últimas etapas e, no caso de Pipeline, derradeira delas, cobertura maior, com presença de celebridades brasileiras na praia.

A temporada deste ano, com títulos de brasileiros em três das quatro etapas da liga e, no momento, com os dois líderes do ranking mundial nascidos no Brasil, demonstra algo que os grandes grupos de comunicação perseguem: diminuir a aleatoriedade em comentar bens culturais, que estão ainda mais presentes quando se trata de uma prática esportiva.

Assim, se não tem Gabriel Medina na busca de títulos, há Adriano de Souza e/ou Filipe Toledo para justificar a opção por dar ainda maior espaço na temporada para o surfe, com direito a matérias clássicas para atrair a emoção, caso de projetos sociais desenvolvidos através do surfe e exemplos de vida envolvendo crianças que têm como sonho encontrar seus ídolos. Algo que, dos esportes radicais, o skate, com nomes como Bob Burnquist e Sandro Dias, não conseguiu, apesar de ter também grande popularidade entre os jovens brasileiros.

O surfe na crista da onda

A confirmação das expectativas sobre a “Brazilian Storm” chegou no momento em que a aposta de “segundo esporte” anterior caiu. O UFC vem perdendo espaço nos últimos anos no Brasil, especialmente por conta de Anderson Silva, principal nome das Artes Marciais Mistas (MMA) do mundo, que perdeu seu cinturão de peso médio após longos anos; fato seguido pela fratura na perna na luta seguinte; e, o pior, a acusação de doping no início deste ano – crise esta refletida na organização, que “perdeu” outro grande nome por atividades fora do octógono, John Jones, preso por atropelar uma grávida nos Estados Unidos. Ainda que José Aldo siga com seu cinturão dos pesos penas – e traga uma origem pobre, artifício usado para gerar matérias emotivas –, o impacto vem sendo grande e a busca por novos nomes que atraiam a atenção no Brasil segue.

Dos esportes coletivos, justo o que tinha uma estrutura mais equilibrada e, consequentemente, com resultados mais frequentes, perdeu-se em acusações sobre mau uso do dinheiro da publicidade. Ainda que os resultados não tenham mudado tanto, os problemas na administração do vôlei brasileiro podem gerar uma queda de interesses sobre o esporte.

Assim, o momento é do surfe estar na crista da onda (desculpem, o trocadilho). Não nos assustemos que, mesmo que as etapas da liga mundial de surfe dependam das condições naturais, na etapa brasileira da temporada do ano que vem ouçamos Galvão Bueno narrando a final, como fez na estreia do UFC na Globo. Para o segundo esporte mais querido dos brasileiros num dado momento, como é o surfe atualmente, basta que um brasileiro ao menos siga vencendo e esteja na disputa em 2016.

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Texto publicado na edição 851 do Observatório da Imprensa.

domingo, 3 de maio de 2015

Gloria

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Aún sobre la viaje a São Paulo, allá pude ver la película chilena Gloria (Sebastián Lelio, 2014), en el "41º Festival SESC Mejores Películas", que marcó la reabertura del CineSesc después de reformas.

Gloria (Paulina García) es una mujer de 58 años, divorciada y que tiene dos hijos que poco hablan con ella, que necesita telefonar para que ellos acuerden que tienen una madre.... Como si siente sola, a ella le gusta bailar una vez por semana para conocer otros hombres.

La historia se desarrolla con dos novedades en su vida: uno relacionamento con otro divorciado, pero que trata sus hijas como si fueran chicas; y el embarazo de su hija, que iba a Alemania para vivir con el padre de su futuro nieto.

La película es una comedia que muestra la vida de una mujer que busca animarse mismo con los problemas de la rutina y intenta seguir a vivir, incluso con nuevos placeres y vicios. Como Gloria es encatada por música, los distintos ritmos marcan la evolución de la película - incluso la bossa nueva y el rock brasileño (Rita Lee).

Con certeza, una película que no solamente salvó mi viaje a trabajo a São Paulo, pero que todos que puden tienen que ver para reir mucho y aprender sobre la (nueva) vida después de los 50.

Gloria estrenó en el Festival de Berlin de 2013, con Paulina García ganando el premio de mejor interpretación femenina y Sebastián Lelio los del Jurado Ecuménico y el Gilde de la Asociación de Salas de Arte y Ensayo de Alemania.