quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A transição na música em "Uma noite em 67"

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Eu tinha acompanhado as notícias sobre o lançamento do documentário "Uma noite em 67", em 2010. Pelo meu interesse por música nos últimos anos, que me fez catar muita coisa mais "histórica", deveria ter sido um audiovisual para ter visto. Porém, até mesmo por não ter muito tempo na época, acabei por vê-lo agora, para variar, também ao "acaso".

Ah, falando de divulgação de 2010, é preciso lembrar que o festival retratado no documentário ocorreu patrocinado pelo Grupo Record de Comunicação, ainda sob propriedade de Paulo Machado de Carvalho - conhecido no futebol como o "Cavaleiro da Esperança", por liderar a delegação da Seleção nos títulos de 1958 e 1962. Era o III Festival Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, que teve como jurados nomes ainda hoje muito respeitados para a crítica musical, como Sérgio Cabral e Nelson Motta, dois dos entrevistados.

O documentário dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil já vale muito a pena ser visto por conta da qualidade dos compositores e cantores envolvidos nesta final, com todas as apresentações dos seis primeiros colocados sendo reapresentadas e com transmissão com um bom número de câmeras para a época, casos de: Roberto Carlos, MPB-4, Chico Buarque, Os Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo,... 

Além disso, o contexto histórico era muito interessante. Pré-1968, que marca o aumento das forças repressoras da ditadura militar no Brasil, com o Ato Institucional nº 5, e também é antes de a juventude ir às ruas na Europa. Aqui, segundo até mesmo os relatos de quem esteve no festival, foi um momento em que o público percebeu que poderia ser protagonista e vaiou, xingou, aplaudiu e fez de tudo para que essa "premissa" fosse confirmada. Ao menos no Teatro Paramount, as vozes tinham de ser ouvidas.

Já no início há falas de Paulinho Machado de Carvalho, um dos responsáveis pelo controle do festival, que afirma claramente que mais que um festival artístico, a ideia era fazer um espetáculo para a TV - já naquela época. Inclusive, há toda uma tentativa de criar uma narrativa em torno dele, já que no período os programas musicais (dentre os quais, com a "Jovem Guarda", Elis Regina e Jair Rodrigues), havia a iniciativa da emissora de criar rixas entre os grupos, de forma incentivar que um seja o "mocinho" e o outro o "vilão".

Musicalmente, também era um momento que permitia a criação de "rixas" entre os músicos brasileiros. Dentre outras coisas, havia o "problema" entre os defensores da MPB, ainda que com a bossa nova em queda, e a Jovem Guarda, que representava já uma maior formatação do músico para vender produtos e um estilo de se vestir. Além disso, desenhava-se um novo movimento que estaria por vir: o "Tropicalismo".

O público, muito "politizado" (entre aspas mesmo, já que havia "certo" marxismo muito mais doutrinário que racional à época) estava pronto para vaiar o diferente. As letras deveriam ser críticas à situação social do momento e o arranjo musical não poderia aceitar símbolos do "imperialismo", caso da guitarra elétrica.

Já tinha lido no "Noites Tropicais", do Nelson Motta, sobre a quebra do violão do Sérgio Ricardo, que tentou de todos os jeitos contar a história de um jogador de futebol, o "Beto bom de bola", que antes de ele se irritar bastante, já tinha virado "Beto bom de vaia", numa das cenas que deveriam ser marcantes para a música nacional.

Porém, falar numa cena daquele festival seria exagero. Para mim, ao menos, o grande destaque é a apresentação de Caetano Veloso acompanhado dos argentinos do Beat Boys. "Alegria, Alegria" começa com vaias e se transforma em sucesso instantâneo com o público. Caetano reclama que de vez em quando tem que cantá-la e não gosta do fato de provavelmente ter ficado marcado por ela.

Gilberto Gil até hoje não sabe como conseguiu subir ao palco, na verdade ele não entende como as imagens dá época não mostram um fantasma ou um zumbi em cima do palco. Mas como? Numa apresentação de "Domingo no Parque" com Os Mutantes, estes com guitarra, contra-baixo e toda uma maneira "diferente" de se vestir.

Caetano e Gil acabam tratando da Tropicália, como eles, principalmente Veloso, buscam algo diferente, uma nova forma de buscar o que era de fora e trazer para a música nacional, só que misturando com coisas mais tradicionais e até mais regionais, trazendo nomes como Tom Zé, Os Mutantes, Rogério Duprat,... além de pessoas de outras áreas culturais, casos do teatro (Zé Celso), cinema (Gláuber Rocha) e artes plásticas (Hélio Oiticica). Uma possível boa introdução para quem entender o movimento - complementando com o filme "Tropicália", lançado este ano, dirigido por Marcelo Machado, e que eu ainda não assisti.

No meio disso, os mais "certinhos" foram tocar em São Paulo vestidos com smokings, exigência de alguns programas, e acabaram ficando no tempo do outro lado, mesmo tão novos quanto os outros. Chico Buarque foi o grande nome deste "outro lado", ainda que involuntariamente e permanecendo provocando a ditadura como com "Julinho da Adelaide".

Enfim, terminando por aqui até mesmo porque já estou partindo para as histórias paralelas. "Uma noite em 67" trata também de como foram produzidos os arranjos, alguns deles marcantes até hoje, das músicas apresentadas e como alguns nomes acabaram crescendo mais ao longo das décadas que outros. Um documentário essencial para quem gosta de entender a história da música brasileira.

A vencedora do Festival, "Ponteio", interpretada por Edu Lobo, 
Marília Medalha e o Grupo Momento 4

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

[Por Trás do Gol] Os símbolos do líder da Segunda (3ª) Divisão

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Desde que começou a Segunda Divisão (¹sic - já que na prática é a terceira, pois a segunda de fato é chamada de "Divisão de Acesso"), creio eu, tento ver um dia para conseguir assistir ao Clube Esportivo Aimoré, o "índio capilé" qui de São Leopoldo. No início, os jogos eram fora de casa; depois, só ocorreriam aos sábados, quando tinha outras atividades. Na semana passada, ficaria o sábado por aqui, mas adiaram o jogo para a segunda, quando tenho um dia cheio na universidade. Só que choveu tanto, dois dias de temporal, que adiaram para esta quinta-feira.

Não por um motivo qualquer, colocar a partida para o dia 20 de setembro, à tarde, poderia garantir um maior público, afinal hoje é o "dia do gaúcho". Explicando, o dia que os riograndenses comemoram a Revolução (sic) Farroupilha. Não vou entrar na questão do bairrismo tradicionalismo gaúcho, mas faço questão de frisar que eu não gosto disso, porém isso seria para um outro post (ouçam esta opinião aqui, em entrevista @s companheir@s da Radiocom de Pelotas).

Depois da semana passada cheia de problemas e desde domingo com a garganta inflamada, com muita dor de cabeça e moleza no corpo, imaginava que passaria esse feriadão descansando - como se pós-graduando tivesse feriado ou dia de folga... Na quarta é que eu vi que a partida havia sido transferida para hoje à tarde, mas o corpo pedia para ficar na cama, como em todos estes últimos dias. Depois de olhar o site do Aimoré para confirmar a partida contra o Atlético Garibaldi (²cidade com o nome de Giuseppe Garibaldi), resolvi ir mesmo doente, sabendo que voltaria pior.

Afinal, passei a manhã olhando documentos para a pesquisa e se tiver que morrer, será épico que seja vendo uma partida de futebol - desde que haja um time vestido com as cores verde e branco ou azul e branco, estas últimas do Aimoré. Além disso, lembraria os tempos de Estádio Rei Pelé, em que podia ir a pé  da casa dos meus pais.

O Estádio João Corrêa da Silveira tem capacidade para 14 mil pessoas sentadas, isso sem considerar o barranco atrás dos gols, que abrigam algumas pessoas, e tem o simbólico nome de Monumental² do Cristo Rei (³Monumental como o Olímpico Monumental e do Cristo Rei por ser o bairro onde fica a sede do clube). 

Realmente havia muitas pessoas, creio que cerca de mil, de várias idades, que pagaram R$ 10,00 (arquibancada) ou R$ 20,00 (cadeiras) em meio a um friozinho de final de inverno e resolveram desistir de churrascos e CTGs para tomar o seu chimarrão torcendo para o time da cidade - ainda que alguns foram vistos com camisas de Internacional, Grêmio, Náutico (!) e Palmeiras (!!) (4). Óbvio que haviam alguns um pouco, com botas, ou totalmente paramentados de "gaúchos" (5), mas o jogo era mais importante ainda assim.

JOGO
O CE Aimoré venceu cinco jogos e empatou outro nesta Segunda Divisão. O Atlético Garibaldi era o terceiro colocado do Grupo A, com 10 pontos, num jogo que poderia embaralhar os primeiros colocados.

Ah, antes que eu volte a esquecer, linda a camisa do Aimoré. Pelo que já tinha lido, os torcedores fizeram os modelos e colocaram em votação. Elas vêm sendo vendidas nas arquibancadas do Cristo Rei, mas hoje só tinham camisas GG ou XG, mais uma coisa para me irritar nestes últimos tempos. Porém, que prova o sucesso de coisas simples para clubes de menor porte, já que muit@s estavam com os dois modelos de camisa.

Voltando ao jogo, o primeiro tempo foi bem truncado, dando algum trabalho, e xingamentos, ao árbitro do jogo, que iniciou a partida com muito tempo de atraso. Não sei por qual motivo, talvez para esperar o índio (6) nas arquibancadas, acompanhado de dois caras com um 45 (7 argh!) às costas e outro cara com uma bandeira (8) que só atrapalhou e que foi achincalhado como "traíra", pois torcia também para o Inter - ah, não sei se era o candidato a prefeito, o photoshop nas imagens não ajuda na hora de identificá-los de "cara limpa". O legal mesmo foi a conversa de um dos diretores do Aimoré com ele, meio que dando uma bronca por utilizar o símbolo do clube.

Garibaldi + criança vestida assim = ...
Enfim, após duas grandes defesas do goleiro do Atlético Garibaldi, teve uma hora que não teve jeito. Cruzamento na área e Lucas deu um peixinho para abrir o placar para o Aimoré. O Garibaldi até que tentou chegar nos contra-ataques, mas com pouco trabalho ao goleiro capilé. O primeiro tempo terminou mesmo 1 a 0 para o Aimoré.

Enquanto na primeira etapa, fiquei nas arquibancadas cobertas, ao lado da torcida "Banda do Índio", que não parou um instante e que tinha até sinalizador!!!, na etapa final fui experimentar a sensação de ver o jogo em cima do barranco atrás do gol, onde encontrei pessoas com suas cadeiras de praia, térmicas e cuias de chimarrão.

O segundo tempo mal começou e o Atlético empatou o jogo. Cobrança de falta na entrada da área e a bola foi baixa, ao lado da barreira, mas com o goleiro sem visão do lugar aonde ela ia, teve que buscá-la dentro do gol.

Não demorou muito e saiu a virada do Aimoré. Nova falta, também na entrada da área, mas uma cobrança daquelas de dar aula. Por cima do terceiro homem da barreira e no ângulo, de forma que o goleiro rival sequer se mexeu.



Para piorar as coisas para o time de Garibaldi, um jogador cometeu falta dura, deu uma rasteira, recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso, sob apupos da torcida rival. Daí em diante, o Aimoré controlou a posse de bola e não deu chances para qualquer reação do rival. Ah, Lucas ainda recebeu uma bola na entrada da área e deu um toque por cima do goleiro para marcar o terceiro na partida. Um golaço! Não sei a veracidade da informação, mas um senhor ao lado informou que Lucas já tinha desistido de jogar futebol. Centroavante com bom porte físico e com habilidade na hora da finalização, quando é necessário.

Enfim, o jogo terminou 3 a 1 para o Aimoré, que dispara no Grupo A da Segunda Divisão (sic) com 19 pontos em sete jogos, o Atlético Garibaldi segue em terceiro com 10 pontos. O Aimoré volta a campo no domingo, às 15h, também no Cristo Rei, contra o Gaúcho (5º - 5 pontos), enquanto o Garibaldi joga em casa no mesmo horário contra o Nova Prata (2º - 14 pontos).

(Para conferir mais vídeos, acesse o Youtube; mais fotos, no Facebook; e a minha "saga" nos estádios gaúchos neste ano em: Sapucaia, Canoas, Porto Alegre). 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

"Parar só quando não puder carregar o violão"

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A semana vem sendo bem "carregada", provavelmente uma grande concorrente para a pior semana de um dos piores anos. Ontem, decidi ir a Porto Alegre após o adiamento de uma reunião, não para necessariamente relaxar, mas para acompanhar "outro problema" surgido esta semana, que me preocupou mais que os zilhões de outros.

Resolvi dar uma olhada nas salas de cinema para criar uma "justificativa" e haviam dois filmes na Casa de Cultura Mário Quintana no horário que eu queria. A segunda opção foi claramente aceita. Um documentário sobre um espaço em Pelotas, aqui no Rio Grande do Sul, que de dia é um restaurante e à noite dá espaço aos sambas e aos choros.

Surpreendi-me primeiro que, apesar do horário, havia um público razoável na sala Eduardo Hirtz e tenho certeza que ninguém se arrependeu em passar todos os 71 minutos ali, parados - quer dizer, nem tanto - assistindo à produção da Moviola Filmes, uma produtora do interior do Estado - na Universidade Federal de Pelotas há há um curso de graduação em Cinema e Audiovisual.

Liberdade é um bar e restaurante nas proximidades do Centro de Pelotas, criado há quase 40 anos por dois jovens que resolveram entrar num negócio que deveria ser "para pessoas mais velhas". É a partir de Seu Dilermando Lopes, o dono, que começam os relatos de quem vive o Liberdade desde muito tempo. Sabemos as dificuldades e quem ajudou a formar o espaço que tem 90% de clientes colonos no horário do almoço e que tem suas noites ocupadas por samba e choro, ritmos musicais que só "retornaram" a partir do último século, até então "restritos" a pessoas com mais idade.

Depois dele, sucedem-se várias personagens, com destaque para os membros do Grupo de Avendano Júnior, cada qual explicando a sua relação com a música, com o seu instrumento e com aquele espaço. De pessoas que praticamente a vida inteira tocaram e cantaram ali a mais "novos" frequentadores, inclusive jovens músicos que aprenderam a tocar cavaquinho e violão de sete cordas, por exemplo, nas noites do Liberdade.

Roberval e seu estilo de cantar à lá Francisco Alves, que aprendeu a tocar cavaquinho enquanto canta por conta própria; Seu Nogueira e seus 89 anos que já não permitem mais participar das rodas de choro e tocar seu bumbo; Milton Alves (cuja frase dá título a este post) e seu violão de sete cordas comprado do Rio de Janeiro após uma rifa; Soninha e seu agradecimento ao pai que ensinou os filhos o prazer de cantar mesmo com a reprovação da mãe; e tantos outros músicos que dividem/dividiram aquele espaço à noite.

O filme vai além e conta também a história do casal de senhores, na casa dos 70 anos, que dançam juntos há menos de cinco, Dona Terezinha e seu Wilson. Dona Terezinha, mais falante, destaca que antes do novo companheiro já tinha até desaprendido a dançar; porém, nada de uma moça mais nova pedir para dançar com ele, afinal "nenhuma outra dançará com o Wilson enquanto ela estiver viva". Além do resgate da maneira de dançar mais antiga de Jarbas, filósofo que pesquisa música e que vai para além do "miudinho", num samba mais livre e tradicional, o que ele chama de "capoeiragem".

Porém, ver "O Liberdade" é ficar impressionado com Avendano Júnior. O cavaquinista, que faleceu em junho deste ano, nunca saiu de Pelotas, mas é reconhecido como um dos principais instrumentistas de choro do país, com forte referência de Waldir Azevedo, cuja esposa deu um dos últimos cavaquinhos, porque Avendano era a única pessoa a tocar parecido com ele, com solos e ousados e muito comuns - bastando o cantor respirar para ele arriscar.


São as músicas compostas por Avendano que perfazem a maioria das que tocam durante o documentário, inclusive por nomes com Yamandu Costa, que destaca a sua diferença para ele. Também gaúcho, um dos melhores violonistas do país viajou ao mundo, mas disse que teria sido importante ter fincado num lugar. Avendano diz no filme que nunca foi vontade sua ser astro da música, porque ele toca só por prazer, por se sentir bem. 

No final do vídeo acima, ele explica como aprendeu a tocar ouvindo os discos até aprender a tocar a música, antes de ter a capacidade de criar sua próprias melodias. Mesmo não tendo a capacidade de anotar em partituras, precisando gravar para lembrar depois, a capacidade de composição é incrível, algo destacado no audiovisual por um pianista profissional com graduação e Mestrado em Música. O pessoal sabe que uma nota não iria bem com outra só por escutar, pela prática.

O documentário acaba com um churrasco na casa da viúva de um violonista que adaptou o seu instrumento para ter sete cordas, com cara de bravo, mas que tocava muito bem. Enquanto os letreiros desciam com o choro continuando a tocar ninguém saiu da sala de cinema, algo que poucos conseguem fazer - ao final vem a dedicatória a Avendano Júnior, falecido em 2012. Um audiovisual que merecia um espaço maior para ser exibido, para que as pessoas pudessem mais que ficar sentadas balançando as pernas com choros e sambas, conhecidos ou não.

DOC
Dirigido por Rafael Andreazza e Cíntia Lainge, "O Liberdade" foi lançado em 06 de outubro do ano passado, no Theatro Guarany, em Pelotas, para um público de 1.400 pessoas, algumas das quais ficaram em pé, enquanto que outras 500 ficaram do lado de fora.

Bancado com R$ 23 mil de um fundo de incentivo da Prefeitura Municipal de Pelotas (Procultura), "O Liberdade já ganhou três prêmios: Melhor Documentário do Mercosul (júri oficial do 16º Festival de Audiovisual do Mercosul); Melhor Documentário pelo Voto do Público (I Conexão Vivo Movida - João Pessoa); e Melhor Documentário pelo Voto do Público (I Conexão Vivo Movida - Goiânia). Em setembro, foi anunciado que ele foi um dos 35 documentários selecionados, de 34 países, para a 14º Muestra Internacional Documental, que ocorrerá em Bogotá, Colômbia, em novembro deste ano.

Para quem é de Porto Alegre e região metropolitana, "O Liberdade" segue em cartaz por mais uma semana na sala Eduardo Hirtz da Casa de Cultura Mário Quintana. A sessão saiu das 17h10 e foi para às 18h20. Mais informações: http://www.ccmq.com.br/2012/09/o-liberdade/#more-11861.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Cada vez mais descrente de um El Dorado

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Difícil pensar nestes últimos quatro meses e não sentir uma frustração do tamanho do universo, um cansaço ainda maior e questionamentos a zilhões sobre o quanto pode valer ou não à pena dedicar tanto tempo da vida a algo. Dar um passo à frente após muito trabalho e logo em seguida ser empurrado ainda mais para trás de forma rápida e sucessiva.

Em meio às dúvidas de vir ou não para cá, optei pelo que poderia ser a "oportunidade da vida", acreditei nisso até muito recentemente, mas olhando hoje, neste exato momento, para tudo, já não tenho esta certeza. Pessoalmente, está sendo uma trajetória desastrosa. Surpreendo-me nestes últimos meses da mente estar aguentando tão firmemente tudo isso.

É difícil para alguém que nem eu, que além de trabalhar com o que eu pesquisa, sou fascinado pelo meu objeto empírico e, para além disso, tenho uma relação de crença sociopolítica com o eixo teórico-metodológico. Eu procurei por algum tempo da graduação teorias em algumas Ciências Humanas e Sociais que ampliassem meu campo de visão sobre a sociedade. Ser crítico sem cair no "panfletário". Enfim, ter argumentos sobre aquilo que via nas relações sociais cotidianas, mas sempre com abertura a tensionamentos sobre tudo, inclusive a própria teoria, que não é "perfeita" - como odeio proselitismos de quaisquer partes...

Cheguei no que estudo praticamente por conta própria, catando os lugares, "inventando" outros, fortalecendo o que dialogava em outros lugares até encontrar o que procurava na Comunicação. Independente de ter professores para orientar ou não, de auxiliar em artigos ou dos que dificultavam a vida porque eu era "só" graduando. Ainda assim, os passos eram dados, os desafios enfrentados, mesmo que num jeito quase "suicida" de que responsabilidade assumida é garantia de que de alguma forma, nem que fosse me sobrecarregando em demasia, ela seria cumprida.

Aqui, imaginava que por mais trabalho que pudesse aparecer, ao menos não seria necessário brigar por nada, havia todo um coletivo para isso. Mais que isso, teria contato com pessoas com muito mais experiência que eu para tomar as rédeas do processo. Por mais que eu seja teimoso e goste de saber da maioria dos processos internos de onde estou, seria um período para focar em outras coisas. Menos preocupações burocráticas e mais teóricas, dentro do que estudo.

Com todos os problemas e desmanche desses dias, frustra-me muito ver um espaço desses tendo que recomeçar praticamente do zero, com um simples "vocês são importantes para a área nacionalmente e internacionalmente, então desejamos uma boa sorte para este novo...". 

Acho até que eu deveria ter me acostumado com essas coisas, afinal, é uma vida inteira vendo isso acontecer - desde então começo a pensar que devo alertar as pessoas para que não me chamem para mais nada. Há algum tempo que já me questiono se realmente terá valido a pena tentar respeitar a tod@s, pessoas e aplicações teóricas, não entrar em "rinhas" ou provocações - e é esta a palavra para algumas coisas, com um pedido de perdão a galos e galinhas -, fazer o possível para não trazer para casa os problemas de fora e não levar para o trabalho os problemas de casa. O que adianta? Ser o idiota n.1 de todos os lugares?

Desculpem-me o choque d@s pouc@s que possam ler este desabafo, mas volto a chamar de difícil este momento. Tenho a impressão de que estou fadado a ficar na fase entre o engatinhar e dar os primeiros passos. Parado no tempo, saem os primeiros passos, mas logo em seguida vem o desequilíbrio e o chão volta a aparecer. Cair, levantar, cair outras dezenas de vezes mais; enfrentar as gigantescas pedras no meio de todos os caminhos... 

Há muito que cansa, mas como eu não sei fazer outra coisa, com eu acredito em utopias, sigo tentando me convencer de que por mais que sempre vá cair, sempre terei que buscar forças já não sei nem onde para seguir levantando e fazer o que eu mais sei fazer: fingir que não há nada de mal comigo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

[Em busca do El Dorado] Sou de lugar nenhum!

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Após dias, finalmente consegui começar a escrever algo sobre a viagem a Fortaleza, ainda que a trabalho, para Fortaleza. Mais que no tempo ideal de cair fora do Rio Grande do Sul, esta viagem acho até que veio muito atrasada. A mais de uma semana sem dormir direito antes de vir para cá que o diga.

Enfim, como sempre, problemas não faltaram aqui também. Fortaleza me pareceu menos preocupada em manter uma "imagem turística" que o que estou acostumado para o Nordeste ou para cidades litorâneas. Só para citar um exemplo, de algo vista deste o primeiro dia, os táxis não usam GPS, mesmo os que saem do aeroporto.

Colegas gaúchos viram taxistas se "enganarem" algumas vezes, com direito à utilização de mapa pelo próprio celular para ajudar ao profissional. A dúvida que fica é se eles fizeram isso de propósito, para rodar um pouco mais com turista - e gaúcho, com uma brancura daquelas, é facilmente identificado - ou se era falta de conhecimento mesmo. Detalhe: esta é uma sede da Copa do Mundo FIFA 2014.

No domingo à noite, demos uma volta perto do Centro, em direção ao Dragão do Mar, e muita sujeira no chão e escuridão no caminho. Depois fui para o outro lado, em direção à movimentada Avenida Beira-Mar e a situação é melhor, porém, sempre se deve ter o cuidado para andar nos calçadões. Estranho é que os próprios moradores avisam que aqui é muito violento, a ponto de a Polícia impedir turistas de andarem muito próximo de favelas, em plena luz do dia, próximas à praia

Fora isso, algumas confusões em hostels por conta de super-lotação e problema resolvido aos poucos e em definitivo apenas na quarta-feira. Como sempre para este que escreve, nunca dá para ficar sem problema - vá lá, no Rio de Janeiro só o tempo não ajudou. Isso depois de ter visto a passagem de volta mudar duas vezes de horário...

INTERCOM
Enfim, como não estou com muita paciência para escrever esta semana, basta dizer que a Universidade de Fortaleza tem um bom paisagista, mas é menor que a Unisinos - que mais parece uma reserva ambiental quando comparada. É estranho que não fiquei surpreso com a estrutura da universidade privada do Grupo Édson Queiroz - dono de tudo e mais um pouco por essas bandas (inclusive meios de comunicação e refrigerantes). A comparação acaba por ser entre as privadas que eu conheço.

Ainda assim, as dezenas de fontes no campus acabaram por impressionar os estudantes turistas, que não cansaram de tirar fotos por perto. Assim como, dos raros aparecimentos das emas, que voltei a ver, e agora por dois dias, no meio dos estudantes.

A pergunta que mais escutei em Fortaleza foi: "Você é de onde?". E é a pergunta mais difícil de responder. Afinal, há um grande problema que é de eu não me sentir em casa em lugar algum. Sou alagoano da capital de nascimento, morei dez anos em Aracaju, voltei a Maceió e passei mais onze anos e estou há mais de um em São Leopoldo-Rs.

A resposta tem que ser: "eu sou de Maceió, mas venho do Rio Grande do Sul". Perdi as contas de quantas vezes eu respondi isso, mesmo que no segundo dia por aqui, no primeiro evento pré-congresso, tenhamos feito uma "discussão" sobre essa coisa de dizer de onde a pessoa é quando se viaja tanto a trabalho, passando a morar em outros lugares.

Pois é, "eu não sou de nenhum lugar, sou de lugar nenhum", ainda que tenha batido uma saudade de algo quando ouvi vários forrós pé-de-serra na abertura do Intercom. Porém, no final das contas...


Processos midiáticos do esporte: do futebol na mídia para um futebol midiatizado

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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O saldo da transmissão olímpica é de mais brigas para o futuro

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Record gastou uma grande chance de mudar o oligopólio midiático com as Olimpíadas de Londres

Quando a Rede Record de Televisão anunciou em 2007 que adquiriu os direitos de transmissão na TV aberta das competições olímpicas até 2014, imaginava-se que os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, marcariam a mudança de um paradigma no oligopólio midiático nacional, com uma aproximação maior em termos de audiência com a Rede Globo. Ledo engano.

A emissora da Barra Funda surpreendeu e foi surpreendida com a transmissão dos Jogos Olímpicos de Inverno 2010, em Vancouver. Praticamente sem tradição de acompanhamento deste evento num país quase sem neve, a Record conseguiu bons resultados de audiência. Porém, como não havia “experiência” anterior, não havia também barreiras tecnoestéticas a serem enfrentadas.

No ano seguinte, houve os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, evento que o público brasileiro não só estava mais acostumado como também o viu em uma de suas cidades a edição anterior, o Rio de Janeiro. A transmissão da Record foi alvo de várias críticas. De um lado, as barreiras de produção de eventos esportivos, quase todos eles sob comando da líder. Por outro, a repetição do que se mais criticava na adversária, a opção por manter programas como “Melhor do Brasil” (sábado) e “Programa do Gugu” (domingo) em detrimento de mostrar ao vivo as competições.

Do final de 2011 até o dia 27 de julho de 2012, quando foi aberta oficialmente a 30ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão, em Londres, a própria situação do mercado era outra. Em vez do crescimento dos cinco anos anteriores, período que marca a tentativa de disputa mais forte contra a Globo, uma queda constante, a ponto de o SBT retomar a vice-liderança na média diária de audiência.

A emissora de Silvio Santos passou a mudar a sua grade de programação com uma frequência bem menor do que nos anos anteriores e, além disso, conta com fenômenos atemporais de audiência, casos do seriado Chaves, das telenovelas mexicanas e do Programa Silvio Santos. Porém, este novo grande momento parece ser oriundo do sucesso do remake nacional da novela infantil Carrossel.

A “crise de identidade” passou para os lados da Record, que vive mudando seus horários, com problemas em programas como “Hoje em Dia” e no horário nobre, em que o seu remake de um sucesso mexicano, Rebelde, não vem dando certo.

Com esse novo contexto, a emissora emitiu um comunicado cauteloso ao público e aos anunciantes antes dos Jogos Olímpicos de Londres. A “Carta Olímpica Record” tranquilizava os seus parceiros, afirmando que suas marcas seriam exibidas, e também o público, que iria ver os principais momentos ao vivo, mesmo que os horários das atrações rotineiras fossem ajustados. O evento serviria mais para conseguir um novo fôlego, inclusive para retomar a vice-liderança, do que para concorrer pelo primeiro posto.

A transmissão foi melhor do que no Pan-Americano, com gafes aqui e acolá, mas sempre a enfrentar a memória de um público acostumado às transmissões esportivas da Rede Globo – que deixava de transmitir uma Olímpiada após 40 anos –, e a concorrência da SporTV na televisão fechada, com direito ao empréstimo de Galvão Bueno ao canal.

Ainda assim, a Record conseguiu alguns momentos de liderança, com destaque para o dia 11 de agosto, penúltimo dia da Olimpíada, em que ficou na primeira posição por mais tempo em sua história, das 7h às 18h18. Era dia de finais: do futebol masculino, em que teve audiência de 17 pontos, com picos de 20, quase o triplo de audiência da Globo; do vôlei feminino, com 12 pontos; e da categoria até 75 kg do boxe masculino, quando perdeu por uma diferença pequena, 12 a 11.

Ainda assim, muito pouco para quem vem gerando uma inflação nos valores dos direitos de transmissão esportivos. Só para o caso das Olimpíadas, se para 2008 a Globo gastou 15 milhões de dólares, para 2012 a Record pagou quatro vezes mais. Como os próximos jogos de verão serão no Brasil, Globo, Record e Bandeirantes dividirão a transmissão, tendo pago, em conjunto, 200 milhões de dólares.

Nesta briga entre Globo e Record, alguns outros grupos empresariais acabaram tendo vantagens. Além do SBT na TV aberta, um grupo transnacional também vem crescendo. O portal Terra (Telefonica) transmitiu com bom sucesso, para uma experiência na internet, os Jogos Olímpicos de Inverno e de Verão mais recentes e o Pan-Americano de Guadalajara, apresentando-se como uma alternativa à TV, mantendo a gratuidade e com novas possibilidades de recepção.

Enquanto isso, já se desenha uma nova disputa. Para as Olimpíadas de 2020, o valor inicial pedido pelo Comitê Olímpico Internacional seria de 250 milhões de dólares. Para se ter ideia, o Clube dos 13 propôs um valor próximo a isso por uma temporada do Campeonato Brasileiro de Futebol, que dura sete meses.

Vale a pena seguir acompanhando os passos dessa briga, principalmente porque as barreiras político-institucionais não contam, e sim quem pode pagar mais. Ao contrário do futebol em que, por exemplo, a Rede Globo adquiriu os direitos de transmissão das edições 2018 e 2022 da Copa do Mundo de Futebol de forma automática. Além disso, é tempo mais que suficiente para que as empresas que produzem audiovisual na internet e que possuem o aporte financeiro de grandes grupos transnacionais, caso do Terra, adquiram mais experiência nesse tipo de transmissão e incomodem ainda mais a TV aberta já a curto prazo.

*Texto originalmente publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos.