segunda-feira, 21 de julho de 2014

Rádio pública e política: depoimentos sobre a Rádio Difusora de Alagoas

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Falei no texto de maio sobre a minha primeira publicação em revistas científicas, hoje é a vez de tratar sobre a primeira publicação em livro que, na verdade, foi também o meu primeiro artigo propriamente dito, lá em 2009, que para certa surpresa viria a ser publicado num ebook após o evento em que participamos.

Em 2008, apresentei um artigo do núcleo de estudos em que fazia parte num evento em Aracaju, escrito em várias mãos porque fazia parte de uma pesquisa sobre os grupos de mídia alagoanos. Além de termos nos dividido em pequenos grupos naquele momento inicial para análise por mídia, o artigo foi feito por outra pessoa, que juntou nossas informações, e eu fiz apenas revisar e apresentar.

No ano seguinte eu estava estagiando na Rádio Difusora de Alagoas, a pioneira no Estado e parte do espectro público-estatal de comunicação. Uma amiga, colega da universidade, que estava naquele momento na TV Educativa, do mesmo complexo, chamou-me para escrever um artigo sobre a rádio, onde ela tinha estagiado meses antes, se não me falha a memória.

Como fazia naqueles tempos de caça às oportunidades, topei. A proposta era escrevermos sobre a história da Difusora e enviarmos o trabalho para o Encontro Nacional de História da Mídia. Um primeiro problema era que a avaliação seria por resumo. 10 linhas mais título e palavras-chave. Ainda hoje uma das piores coisas é ter de enviar a proposta antes, ainda que com resumo expandido seja um pouco melhor. Como fazer isso com um trabalho que estava a ser feito? Pedimos algumas pessoas para revisar o que propúnhamos e enviamos.

Com a proposta aceita, partimos para a segunda etapa. O objetivo era contar a história da rádio a partir de depoimentos de quem vivenciou boa parte da história dela. Tínhamos contato diário com um técnico que ainda estava trabalhando, conseguimos o de uma radialista que é um dos grandes nomes do radialismo alagoano, e só não conseguimos acertar o terceiro nome, mas havia um livro publicado por ele com parte da história.

Dividimos em partes, com cada um fazendo determinada análise e juntando depois. Lembro que não sabia por onde começar, pela falta de experiência em produção acadêmica, que era refletida até mesmo na dificuldade de se conseguir referências bibliográficas. Para dizer a verdade, o "costume" vai sendo adquirido conforme os artigos vão passando e ainda assim novos objetos de estudo podem exigir mais.

O evento foi bem diferente. Estávamos terminando a graduação e caímos no grupo de Mídia Sonora do Encontro que já tinha certo histórico, especialmente pela participação em outros eventos, caso do congresso da Intercom. Diga-se de passagem, um dos grupos de pesquisa mais organizados do país em termos de projetos coletivos e publicações. No grupo só tínhamos nós dois e outra moça do Pará de estudantes, então não tinha como não ser meio intimidador.

No final das contas deu tudo certo. Recebemos algumas contribuições e já durante o GP soubemos que o texto seria publicado num ebook, como foi confirmado posteriormente, o que foi muito bom para aquele estágio que nos encontrávamos.

De vez em quando eu busco ver se algum artigo vem sendo aproveitado como referência para outros trabalhos, algo meio narcista, é verdade, mas também para saber como determinada ideia está sendo apropriada, e percebi que este foi utilizado como referência de outros pesquisadores alagoanos em artigo recente. Uma das dificuldades que tivemos na época do artigo foi a falta de referências sobre o espectro público-estatal alagoano e felizmente pudemos colaborar para termos mais dados para pesquisas futuras - ah, minha monografia foi sobre a TVE.

Segue abaixo o resumo do artigo cujo livro pode ser lido/baixado no site da editoria da PUC-RS:http://www.pucrs.br/edipucrs/midiasonora.pdf

Resumo

A partir da iniciativa de compreender a complexa relação entre comunicação pública e política, Alagoas apresenta-se como um ambiente ideal para tal estudo, devido ao seu histórico de coronelismo político transposto para os meios de comunicação. Pioneira no Estado, a Rádio Difusora de Alagoas (AM 960khz) sempre foi de propriedade “pública” e traz em seus 61 anos fatos políticos marcantes, com personagens importantes para a formação da sociedade local. Este artigo tem como objetivo resgatar parte da história da emissora – desde a sua criação, para difundir os resultados do jogo-do-bicho, até os dias atuais –, através dos depoimentos de radialistas, jornalistas e artistas que fizeram a história do rádio alagoano, de forma a questionar, acima de tudo, o papel social de uma rádio pública.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

[Por Trás do Gol] Sempre pode piorar

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Li em algum lugar que a maior malvadeza do Ricardo Teixeira teria sido deixar o Marin no lugar dele e vermos que sempre pode piorar. Após uma semana e meia escrevendo, falando, lendo e ouvindo sobre o estágio preocupante do futebol brasileiro, finalmente os dirigentes da CBF resolveram marcar uma entrevista coletiva e após 15 minutos sem entender nada e mais 45 de enrolação, vemos que realmente sempre pode piorar.

Por falta de paciência apresento a seguir os tuítes ao longo da coletiva. Mas antes disso vale um novo comentário sobre o que eu denominei de "jornalismo #ousadia&alegria". Passamos este tempo todo vendo os colegas reclamarem da Seleção e dos dirigentes terem se escondido num momento de crise para na hora de ouvir as perguntas vermos que falta coragem a alguns.

Houve momentos de exceção, casos das perguntas sobre uma possível contradição no discurso de que a seleção principal não ouvia o coordenador das seleções de base. Quando também alguém perguntou sobre a avaliação do trabalho do "Felipe Scolari". E quando perguntaram quando Gilmar Rinaldi, o novo coordenador técnico, deixou de ser empresário, com uma das respostas mais interessantes: ontem à noite.

Entretanto, ouvir repórter dando boas vindas a Rinaldi, outro que é de rádio do Rio Grande do Sul e faz questão de frisar que o novo coordenador é "gaúcho de Erechim", o outro que está preocupado em que vai assumir a coordenação de comunicação - deixa o currículo logo! - e, vá lá que com um pouco de irritação, ver tantos boas sortes sem um sintoma de sarcasmo de "você vai precisar"...

O Gallo falou em mudar a Lei Pelé num artifício, pelo que consegui entender - tava difícil -, sobre os contratos com os jogadores poderem ser antecipados ou que algum vínculo permita que a Seleção tenha jogadores por mais tempo treinando. Nada sobre o problema de os empresários estarem de olho em futuros atletas antes mesmo de poderem assinar contrato com os clubes. Por quê? Logo em seguida é apresentado um coordenador geral que era empresário até ontem à noite e disse que o que mais incomodou foi a frase no boné antes do jogo contra a Alemanha...

Del Nero falou quase nada. A situação era tão visível que foi o Marin quem chamou-lhe a atenção. Vai ver que é porque, como vi num programa de debates (rasos) esta semana, o "presidente joga futebol toda semana no Morumbi, entende"...

Nós tivemos a pior entrevista coletiva para o futebol brasileiro após os piores resultados da história da seleção comanda por CBD e CBF e ninguém lá foi preparado para apertar em certos calos?










quarta-feira, 16 de julho de 2014

A tentativa de comando na segunda tela

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A “Copa das Copas” acabou no final de semana, com muitos gols, muitas emoções e também com a maior participação nos sites de redes sociais. A cada novo jogo, os sites noticiosos revelaram as tendências nas redes sociais, se houve novo recorde de postagens, os memes que foram criados por conta de fatos ocorridos, as mensagens de jogadores etc. Há a confirmação deste espaço como local de captura para as mídias.

Em paralelo a isso, os grandes grupos comunicacionais tentam se adaptar e propor novos espaços de interação, buscando disputar a audiência que está de olho na partida na televisão e comentando o jogo nas mídias sociais. Não à toa que mesmo as duas emissoras com os direitos de transmissão na TV aberta procuraram atrair este torcedor.

A Band criou a “Segunda Tela da Band” na Copa das Confederações Fifa Brasil 2013, tendo em vista a oferta de conteúdos complementares à programação através de aplicativos desenvolvidos para tablets e smartphones. O aplicativo possibilitava, dentre outras coisas, acesso à conta do Twitter, informações do jogo em andamento e enquetes. Ele foi aprimorado para a Copa do Mundo Fifa Brasil 2014, reunindo programação, estatísticas, vídeos, fotos de bastidores, bate-papo e até mesmo as transmissões ao vivo.

O Cartola FC

Ao contrário da Band, a Rede Globo só desenvolveu seu aplicativo a partir da Copa do Mundo deste ano, mas, se demorou para começar este diálogo com a segunda tela, esta é uma das grandes apostas da emissora em 2014. Antes de adentrar no tema do aplicativo é importante contextualizar a relação do grupo com essas novas ferramentas comunicacionais.

Sempre me pareceu que os grupos tradicionais tinham dificuldade em atuar nas novas mídias, de entender as novas relações que se comportam através delas, ainda que em constante mutação. A Globo, que há alguns anos decidiu não difundir conteúdo nas mídias sociais alheias, especialmente (tratamos deste tema neste Observatório). Assim, os perfis no Twitter e no Facebook não publicam vídeos, mas se ocupam apenas de anunciar o início de determinado programa e comentar trechos dos programas de ficção. No último caso, ainda assim, não consegue acompanhar os comentários do público, que é quem comanda as ações e definirá os assuntos mais comentados, independente de estímulo do perfil da emissora.

No caso dos vídeos, a Globo optou por não possuir canal no YouTube e não disponibilizar qualquer programa de maneira integral em seu portal, criando mecanismos de pagamento para isto (serviço on demand). Há uma preocupação em proteger seu principal fazer, os programas; não à toa, há centenas de advogados atentos para retirar vídeos de sua programação que sejam publicados em outros espaços. Ou seja, há uma preocupação em se fixar em espaços que sejam do grupo comunicacional, mesmo que o acesso ao conteúdo se dê cada vez mais pelas sugestões que aparecem em nossas timelines que na procura em determinado noticioso, seja ele televisivo, impresso ou site. Ainda assim, há evoluções.

O Cartola FC, jogo virtual que existe desde 2006 no Globoesporte.com, que permite que os torcedores montem suas equipes de acordo com o Campeonato Brasileiro e compitam entre si, ganhou muito mais destaque na programação da TV aberta em 2014. Semanas antes de o Brasileirão começar, o Globo Esporte anunciava que já podíamos montar nossos times. Com o torneio em andamento, a cada rodada é mostrada a seleção de acordo com os dados do jogo. O fantasy game que já esteve na plataforma da SporTV foi redirecionado e até tem o símbolo da Globo em sua marca para este ano. Além disso, os prêmios para cada rodada e para todo o torneio retornaram.

Interatividade deixa a desejar

A segunda aposta da emissora é o “Aplicativo da Globo”, também muito comentado desde antes do início da Copa do Mundo Fifa. Ele está baseado em três eixos. O menu oferece o replay dos melhores momentos (com a possibilidade de 14 câmeras para ver determinada jogada), estatísticas e informações dos jogadores. Há também a interatividade, ainda sob o esquema de perguntas preparadas com alternativas, algumas das quais substituindo em alguns momentos as enquetes via Globoesporte.com. Outro ponto de destaque no quesito interatividade foram os jogos criados para disputa em tempo real, que deram aos maiores pontuadores de determinado dia o direito de assistir ao “Central da Copa” após a partida do Brasil no mundial. O terceiro eixo é o “Social”, com um espaço de bate-papo que pode ser utilizado com os perfis do Facebook e do Twitter.

Disponível para smartphones e tablets, o aplicativo teve ampla divulgação nos programas esportivos e nos jogos exibidos pela emissora, com as últimas semanas do mundial acrescentando mais de um milhão de downloads efetuados e a garantia de sua permanência após a Copa para o Brasileirão. Quer dizer, ao contrário da Band, a Globo o utilizará exclusivamente para o futebol, com o resto da programação seguindo com as mesmas ferramentas – acrescidas recentemente do Gshow como site de entretenimento no portal Globo.com.

A preocupação da Globo, ainda que tardia, em meu ver, reflete as mudanças na audiência, que não mostram um novo equilíbrio de forças no mercado da TV aberta, mas a amplitude de opções que o público passa a ter, com cada vez maior acesso à internet banda larga e a pacotes de TV fechada. A concorrência intermídia passa a ser mais preocupante, especialmente quando os índices de audiência mostram a queda vertiginosa da líder do ano passado para cá.

A TV aberta está prestes a encerrar a Fase de Multiplicidade de Ofertas, com a difusão de conteúdos audiovisuais mantendo certo número de opções. Mas o caminho demonstra que a convergência é a nova etapa, com a necessidade de ser uma TV tão plural em termos de acesso quanto já é o seu público, ainda que esta PluriTV (ver mais aqui) ande se perdendo na tentativa de dialogar com este novo espectador, com uma interatividade que deixa a desejar.

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Texto publicado na edição n. 807 do Observatório da Imprensa.

domingo, 13 de julho de 2014

[Copa] Weltmeister!

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Muita coisa para escrever. Hoje foi a final da Copa com maior quantidade de gols da história, 171 - igualando 1998 -; a que teve muitos destaques dentro e fora de campo; teve momentos emocionantes que culminaram com uma final com gol no segundo tempo da prorrogação, como já ocorrera em 2010, mas num jogo muito melhor.

Quando Gotze matou a bola no peito dentro da área e chutou ao lado de Romero sabíamos que seria difícil que a Argentina empatasse, por mais que Schweinsteiger e Hummels estivessem pregados em campo. Vá lá, teve falta na entrada da área para Messi como último lance da partida. A falta foi cobrada para fora!

Era um confronto entre diferentes. Os europeus campeões por 3 vezes contra os sul-americanos campeões por 2. Um com uma organização fora de campo exemplar; o outro com um presidente de federação há décadas no posto. Um time contra uma equipe com dependência ofensiva sobre as costas de um craque. Um time que começou muito bem, caiu um pouco, mas vinha com tudo; contra outro que começou mal e vinha crescendo com o andar na Copa.

Os 7 a 1 de um lado contra a classificação nos pênaltis do outro só enganavam. Argentina e Alemanha vinham bem para a final, apesar dos desfalques. A Argentina não pôde colocar Di María em campo, o coadjuvante que chegava com maior moral na Europa que a estrela principal. A Alemanha teve um desfalque de última hora. A saída de Khedira, com Kramer no lugar, diminuía a qualidade do meio-campo.

JOGO
Como se não bastasse, o primeiro tempo mostrava a Argentina preparada para dar o bote, perdendo uma chance clara dada de presente a Higuaín. A Alemanha tocava a bola, mas não conseguia espaços. Para piorar, outra alteração. Kramer saíra e Löw resolveu colocar outro homem de frente, Schürrle. Os minutos finais foram de pressão alemã, com direito a bola na trave no cabeceio de Howedes.

Em compensação, Agüero no lugar de Lavezzi e pressão nos minutos iniciais do segundo tempo, com direito a "gol que o Messi não costuma perder". E o 0 a 0 seguiu até o final do tempo normal e para a prorrogação vai a nossa narração pelo Twitter (ver storify completa do jogo aqui):








#TETRACAMPEÃ
Comentei no início do jogo. O trabalho da Alemanha, ao perceber que precisavam se renovar depois do fracasso na Euro 2000, necessitava ser premiado após dois terceiros lugares seguidos em Copas, e um 2º e um 3º seguidos numa Euro.

Como se não bastasse ter um time com bons jogadores praticamente em todas as posições - com Höwedes sendo o que mais destoava -, o trabalho de assessoria de comunicação foi muito bom. Treinos fechados, mas bom tratamento com quem os cercava. Vídeos e fotos agradecendo ao Brasil, dançando com índios pataxós, vendo jogos da Seleção com a galera do hotel.

Podolski talvez saia como o jogador mais adorado por aqui nesta Copa, à frente até do Neymar, mesmo atuando pouco mais de 50 minutos. O #focadão e #noveleiro contou com a ajuda de um amigo brasileiro para publicar em mídias sociais e ganhou dois dias como um dos temas mais comentados no Twitter após dizer que estava cada vez mais brasileiro.

Voltando ao campo, esta geração alemã não tem um jogador de grande destaque. Pelos três primeiros jogos, dava ideia que seria Thomas Müller, que parou nas marcações - exceto a brasileira - quando veio o mata-mata. Poderia ser Schweinsteiger, o volante, meia, que está em todo lugar. Poderia ser Lahm, o capitão que começou como volante, mas é muito melhor como lateral-direito. Ou Özil, mais apagado que se esperava. Ou Gotze, o novato habilidoso que fugia do tiki-taka aprimorado, mais ofensivo, alemão. Ou Neuer, o goleiro líbero do time. Mas não. O coletivo prevaleceu.

Por isso que, para mim, o melhor da Copa é o incansável (e mergulhador) Robben, da Holanda. Messi recebeu o prêmio pelo histórico, apesar de decisivo na maioria dos jogos. Depois, James Rodríguez, a grande novidade para o mundo deste mundial e a esperança de 2018, com Falcao García no time, termos uma Colômbia ainda melhor.

As mudanças da Alemanha e da Holanda, especialmente, mostram que é necessário ter um grupo que possibilite que o time titular se adapte ao adversário. Tivemos uma primeira fase com muitos gols, mas na hora do mata-mata os mais fracos se trancaram atrás e quem abriu o placar nas quartas assim também o fez. A exceção viria a ser a semifinal brasileira, com um time que não se adaptou e deu no que deu.

Posse de bola, ofensividade com maior objetividade, compactação ao atacar e ao defender e quando necessário dar chutão. A evolução do futebol mostra que é necessário saber jogar de todas as formas de acordo com o que a partida te leva. Cada vez que um "estilo de jogo" aparece, mais rápida é a neutralização deste.


#COPADASCOPAS
Temos que falar que a organização foi muito melhor do que imaginávamos. Os estádios ficaram prontos, ainda que a Arena do Corinthians e a de Curitiba precisem de complementos e  maioria dos gramados não estivesse 100% já pros mata-matas. Não houve nenhum alarde, para além das invasões a campo em algumas partidas.

Tudo bem que houve silenciamentos. Brigas entre torcedores nas arquibancadas - como a suposta mordida de um uruguaio num torcedor inglês - não foram comentadas, com raros relatos pelas mídias sociais e em sites quando o assunto já tomara popularidade. A invasão chilena foi problema de segurança da FIFA.

Não podemos esquecer das chuvas no Rio Grande do Norte e em Pernambuco e do desabamento do viaduto que estava no projeto da Copa em Belo Horizonte, bancado pela prefeitura. Ambos nos fizeram lembrar do quão precisamos melhorar em infraestrutura para além dos 31 dias de um evento esportivo.

Para mim o grande legado seria mesmo a ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro ao mostrar o que muitos conheciam: a venda ilegal oficial dos ingressos nobres da Copa do Mundo. Restaria ver apenas até onde conseguiria chegar nos meandros da corrupção que marcam o football association.

Entretanto, a prisão por suposta "formação de quadrilha armada", termo que nunca tinha ouvido, mancha um pouco tudo isso. Se tivemos poucos protestos, com muito mais opressão policial e menos pessoas nas ruas - o que eu imaginava -, ver pessoas presas porque parece que fariam vandalismo antes da final da Copa é temerário num país que há três décadas parecia ter saído de um regime de exceção.

No Fla-Flu político que transformaram o país, a final teve gritos pró-Dilma e xingamentos a ela, respondidos por algumas vaias. O rosto sisudo da presidenta ao entregar a Copa do Mundo refletia isso. Tirando os pessimistas ao extremo, sabíamos, mesmo nós críticos ao evento aqui, que a Copa sairia, mas nos surpreendemos pelo quanto ele melhorou a imagem do brasileiro mundo afora - a saber apenas do caso dos argentinos, que se surpreenderam porque nós "odiamos" eles para além do confronto direto.

Como disse em texto anterior, nada tira a série de benefícios dados à FIFA e cia. durante a Copa, inclusive à empresa acusada de participar do esquema ilegal de cambismo. Nada tira os mortos nas obras e as más condições de trabalho a eles oferecidas. Mas o resultado fora de campo foi muito grande, bem superior ao que vimos dentro dele.

Aproveito este último texto para agradecer quem curtiu e comentou os textos produzidos nestes dias sobre a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, também àqueles que passaram a me seguir no Twitter por conta das informações sobre o mundial e que dialogou conosco em diferentes redes sociais, inclusive presencialmente. Esta foi a Copa em que mais assisti jogos, 58 ao vivo dos 64, e foi muito legal ver tantas informações sobre o evento.


sábado, 12 de julho de 2014

[Copa] Tudo estranho

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Jogo estranho. Antes mesmo da partida começar e a sensação era de que era menos um jogo que qualquer outro, menos até do que o Van Gaal (argh!) afirmou. Primeiro que a Copa daqui estava acabando e daquela forma melancólica ao extremo. O que foi o hino à capela, cantado trôpego, numa última tentativa de olhar para si e dizer "é, eu sou brasileiro", ainda que sem todo aquele orgulho e aquele amor de outrora.

Eu via tudo em silêncio, como geralmente não costumo fazer nem para a mais simplória partida de Campeonato Carioca que num domingo de início de ano sou obrigado a assistir em casa. Uma piada, um xingamento, uma risada. Nada disso por hoje.

Primeira chance para a Holanda, David Luiz marcando lá na intermediária, enquanto Thiago Silva estava sozinho, puxando o braço do excelente Robben. Meu vizinho gritava "vai, vai!", naquela revolta herdada do jogo de terça-feira. Gritou o gol de Van Persie e tudo. Aliás, por aqui tudo voltara ao normal. Eu com a minha camisa do Palmeiras e o filho deste vizinho com a camisa do Corinthians.

Faço uma pausa para algo que tomou alguns momentos do meu pensamento. O Palmeiras levou 6 a 2 do Mirassol no ano passado pelo Paulista. Lembro ter chegado em casa com o placar já assim num primeiro tempo e esperar para ouvir de novo, pois não acreditava. Não defendia a saída do então técnico porque naquela altura não havia nada melhor. Recuperamos, fizemos uma bola Libertadores com elenco limitado, inclusive.

Fui também a um jogo de volta de mata-mata de Série D cuja ida nos deixara um prejuízo de 5 gols, justamente em 2010 - era como se fosse um time de Copa atuando contra um de pelada, era o comentário. Primeiro tempo, 30 minutos, 2 a 0 para os rivais e pênalti perdido pelo nosso atacante. Uma multidão deixou o estádio. Meu pai e eu ficamos. Empatamos e pela quantidade de chances perdidas até poderíamos ter visto um resultado histórico. Não foi.

Isso para dizer que realmente a sensação é diferente, o sentimento é diferente. Uma coisa é acreditar nas limitações que existiam e estávamos/estamos acostumados, outra em ver o que deveria ser o suprassumo de um futebol tantas vezes campeão apanhar sem demonstrar força alguma.

E lá foi a Holanda marcar o segundo, meu vizinho gritar novamente. Enquanto isso, não sei se na mesma casa ao lado, gritos passaram a surgir a cada rara ameaça brasileira e a cada tentativa de chegada holandesa. Eu permanecia quieto, apesar de tuitar. Como ter raiva, xingar, brigar por aquilo? Não teve nem Olodum para "animar" a torcida antes do jogo (ns).

Veio o segundo tempo, o Jô continuava lá. E aí não tinha como permanecer quieto. Muito erro de posicionamento, jogador pulando como se fosse uma piscina, erros de passes simples e o Jô lá de titular, atuando por 90 minutos com a camisa da CBF numa Copa do Mundo e eu vendo pela TV. Não tinha como permanecer calado, ainda que falando e xingando muito menos que o normal. Enquanto a torcida, como sempre foi de se esperar quando se sabia que a Copa era aqui, tinha vergonha de vaiar, de gritar um tradicional "time sem vergonha".

Até que veio o terceiro gol. As minhas palmas surgiram para a Holanda, cujo futebol burocrático, baseado no se fingir de morto até a hora do bote, mas com um Robben espetacular, ainda que mergulhador, a levara para uma campanha invicta até ali e com todo o merecimento, enquanto que do outro lado os números mostravam 3 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, com a defesa mais vazada da história da seleção canarinho, a mais desde 1986 em Copas do Mundo.

Não à toa vi tantas camisas da Argentina nos camelôs por aqui. Como em 1998, independente do resultado da final amanhã, veremos mais brasileiros torcendo por outras seleções desde o início nos próximos mundiais. Curioso é ver em alguns comentários, e até posts de jogadores de outros países, pessoas que nos lembram da nossa história, dos nossos craques. Só lembramos do Pelé, o grande detentor do legado futebolístico desta Copa para os de amarelo, e porque os argentinos não nos deixam esquecê-lo.

Como comentei no Twitter, não gosto de festas, muito menos fico até o final delas, mas hoje eu entendi o que significa o tal "clima de fim de festa". A "Copa das Copas" foi cruel com quem a organizou. Resta ver como limparemos a bagunça.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

[Copa-Comentários] Jornalismo ousadia & alegria

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Nem ia tratar disso, mas vamos lá. Ontem teve a entrevista do Neymar na Granja Comary e várias coisas foram apontadas até agora. O óbvio de que ele assumiu uma responsabilidade que deveria ser dos dirigentes da Seleção. A constatação de que finalmente tivemos um Neymar Jr. menos treinado e com respostas que fugiram do seu normal e, além disso, de que se dentro de campo bater o último pênalti contra o Chile mostrou que ele estava preparado para pressão, ser o alvo de jornalistas ávidos por respostas mais reais confirma que capacidade de liderança não está atrelada à idade.


Mas aí vem o segundo ponto, este que eu quero destacar agora. Ao final da entrevista, os jornalistas aplaudiram Neymar. Eu confesso que não havia percebido porque estava conectado ao Twitter para ver a reação às respostas dele. Até que alguns tuitaram sobre o ocorrido, bem poucos, na verdade. Uma crítica aqui e uma defesa acolá, baseada no "jornalista não estava lá e quer criticar os colegas".

O que me incomodou foi quando determinado repórter lembrou das crianças que ficaram tristes com a lesão do atacante, acho que usou como exemplo o filho dele. Como resposta, Neymar perguntou o nome e mandou um abraço para ele. Respirei fundo e lamentei a perda da oportunidade de ter feito outra pergunta.

Revi depois as palmas dos jornalistas. Percebi que foram além de palmas, coisas como "Vâmo garoto!" foram ditas por alguns. Só faltou puxar o "Olê, olê, olê, Neymar, Neymar". Por conta disso que tuitei o que pode ser visto na imagem acima. Fico imaginando quantas vezes batem palmas ou incentivam políticos ou pessoas "normais" após as entrevistas...

Tratei antes da Copa de como a tal da "neutralidade" inventada pelo jornalismo nas bandas de cá torna explícita as contradições quando se trata do futebol. Há exageros, sendo o exemplo maior oriundo do maior grupo de comunicação do país. O nacionalismo exacerbado de outrora vira "é só um jogo" quando a derrota está presente.

Repito o que disse antes, inclusive por ser alguém que buscou o jornalismo pela paixão pelo futebol, é muito difícil não sentir emoção vendo uma partida de um clube ou da Seleção que se gosta - ainda que o segundo caso não signifique que todos os brasileiros torçam pela Seleção, há muitos que só torcem por seus clubes de coração, não seria diferente com jornalistas. Mas há momentos e momentos para externar isso. Puxar saco de técnico e de jogador não me parece ser algo plausível, até mesmo porque no dia seguinte você poderá ter que criticá-lo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

[Copa] Da tragédia à farsa

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Conheço quem não conseguia torcer para a Seleção Brasileira por conta do comando diretivo da CBF; quem não o fazia por não gostar de futebol; e quem optou por torcer pela Argentina, após a final da Copa de 1998, e/ou porque os argentinos sempre entregariam tudo em campo, independente do resultado. Mas nenhum deles imaginaria ver o Brasil levando 7 a 1 numa partida de futebol.

A partir disso, começo o texto. Seria muito fácil falar que nenhum de nós imaginaria estar falando sério se há algumas semanas, mesmo após as atuações ruins do time, que o Brasil sofreria uma goleada deste tamanho numa partida que fosse, quanto mais numa semifinal de Copa do Mundo FIFA. Como sempre, fala-se muito. Os profetas aparecem e até os ufanistas viram críticos de algo que estava aí à espreita, mas que se mostrou de maneira monstruosa e arrasadora.

Até pensei ontem que seria oportunismo da minha parte aproveitar este momento para escrever qualquer coisa, já que inevitavelmente iria para críticas. Até posso dizer que as minhas expectativas não eram nada boas com a volta dele e do Parreira, uma decisão digna do malufismo que deixaram de presente (de grego) no comando do futebol nacional; mas seria hipocrisia pura dizer que pensava a mesma coisa ao longo deste pouco mais de um ano. Não só eu, como quase todo mundo concordou com os convocados dele, independente de um ou outro questionável - uma quarta opção na defesa ou um veterano que não atua bem há anos.

É claro que a responsabilidade é do Felipão, não à toa que não tem como responsabilizar um jogador em particular após a partida de ontem. A fala de Thomas Müller afirmando que não imaginava que os alemães teriam tanto espaço diz por si e os jornalistas esportivos não vão cansar de dizer isso, apontando o atraso tático do comandante da Seleção.

RESETAR
Aproveitando sim a oportunidade, se oportunistamente ou não fica a critério do leitor, é preciso e altamente necessário repensar toda a trajetória, aproveitando inclusive os 100 anos da entidade que rege o football association no Brasil.

A CBF passou por dois momentos graves em sua história. O primeiro foi na década de 1980, com o futebol praticado no país ás mínguas, em meio a uma série de descalabros, com pouquíssimo dinheiro para os clubes enquanto se pagava ingressos para presidentes de federações viajarem com suas esposas para Copas do Mundo FIFA na maior naturalidade. Enquanto isso, o país amargava a maior temporada sem títulos mundiais de sua história - ainda que tenha havido a geração de 1982 e todo o saudosismo gerado.

O segundo foi a Copa de 1998, até então a mais vexaminosa derrota do Brasil em mundiais. Naquele momento, bizonhamente optou-se por fazer uma CPI para ver se a Nike tinha vendido a Copa, enquanto que, como mostraram as investigações, havia muito mais coisas a serem observadas. O ápice foi 2001, com a derrota para Honduras na Copa América e o limite de não se classificar pela primeira vez para um mundial. Nos bastidores, a Globo estava em conflito com a CBF, com direito a Globo Repórter sobre os bastidores do futebol nacional.

A primeira "solução" veio com a modernização implantada por Ricardo Teixeira, apoiado por João Havelange, com o título de 1994 dando o alívio necessário para a tomada de poder que duraria mais de duas décadas. Por mais críticas que se possa fazer, é preciso observar que foi o período que financeiramente a CBF passou a melhor aproveitar a marca Seleção Brasileira.

A segunda não veio. Mesmo no auge das acusações sobre RT, não houve solução real à disposição. Num país com milhões de técnicos, não apareceu um ser humano com capacidade de peitar os poderosos que estão no entorno do futebol e tentar a candidatura. Todos podem lembrar de Romário, mas o sistema eleitoral da entidade - assim como o da FIFA - praticamente torna impossível uma candidatura alternativa, pois depende do apoio de cinco clubes da Série A e 8 federações. A opção que pareceu mais real foi Andrés Sanchez, com todos os seus amigos e um histórico recente dentro da própria CBF e com MSI/Corinthians que falam por si.

O Bom Senso FC surpreendeu ano passado, mas não a ponto de radicalizar o suficiente. E mesmo as desavenças entre a presidenta Dilma Rousseff e a CBF, com a vontade de Dilma de tentar tornar as coisas menos opacas nas entidades esportivas, têm os bloqueios legais da legislação nacional e da FIFA, e os políticos dos representantes do setor no Congresso Nacional.

Assim, sendo pessimista, como sempre, não vejo uma mudança radical, que neste terceiro momento de abismo, talvez o maior deles quando se trata em resultados dentro de campo, se faria necessário.

CONVOCADOS
Voltarei aos convocados. Como quase sempre nestes momentos aparecem especialistas de tudo o que é lado, a ponto de eu ver alguém perguntar a ex-jogador se não daria para ter trabalho uma turma de 13 anos há 7 anos para montar um time de bons jogadores. Isso deveria ser exigido para os esportes olímpicos - e aqui eu acrescentaria o futebol feminino -, estes sim dependem muito mais de projetos para se manterem e gerar grandes atletas e coletivos.

Claro que há o exemplo da reinvenção alemã nos anos 2000, mas lá foi necessário mudar o estilo de jogo deles, enquanto que aqui este foi perdido - se dá para definir estilos de jogo, o que colegas pesquisadores do futebol identificam como mais uma invenção, representada no epíteto "país do futebol", que realidade. Volto à tecla, não havia melhores opções.

Numa condição normal, não haveria expectativa para a seleção atual, que sofre o hiato da geração de possíveis líderes experientes que caíram de produção, casos de Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano. O hiato que se desenhava com a velha geração que Dunga levou a 2010 se confirmou agora. Mas, para além disso, jovens promessas como Ganso, Pato e, forçando a barra, Leandro Damião, não se desenvolveram. Não havia alternativas.

De um lado, podemos dizer que o momento foi ruim. Por outro, e aqui vale o exemplo alemão, resta rever toda a estrutura do futebol nacional. Entender como se dão as escolhas nas categorias de base, com quais critérios, e quem as faz. Afinal, os jogadores seguem como pés de obra mesmo após a Lei Pelé. Se antes o patrão era o clube, agora é o empresário.

Daqui a quatro anos poderemos ter Neymar e Oscar mais experientes. Outros jogadores podem aparecer, como geralmente aparecem, ainda que não na qualidade e na escala quase industrial de outros tempos. Vejo agora a experiência do Palmeiras com argentino Ricardo Gareca algo de ainda maior interesse, para além dos meus. Aponto que o grande problema dele pode ser o preconceito com o estrangeiro, no mito de que não precisamos aprender com ninguém. Porém, não é difícil ver que enquanto técnico brasileiro só faz sucesso no Japão e talvez nos Emirados Árabes, os argentinos treinam times e seleções que surpreendem. E isso não é problema de dificuldade cultural e de idioma. 

Trato disso não para diminuir o peso em Felipão, mas para dizer que o Mano Menezes vive um momento muito ruim da carreira e é relativamente novo - Muricy e Luxemburgo então... Pode-se falar em Tite, mas ele atuava no Corinthians num modelo que se mostrou ultrapassado, o da Espanha de se ganhar por 1 a 0 - ainda que o legado do tiki-taka esteja aí, a posse de bola, mas bem mais ofensiva.

Mas será que terá alguém com coragem para mudar tudo isso? Honestamente, as relações de poder são gigantes e as barreiras são enormes. Como costumo dizer, o futebol tem uma estrutura arcaica, reproduzindo diversos preconceitos e estruturas antigas de poder que fazem inveja aos Estados-Nação mais autoritários.

PS: Eu ia esquecer disso. Não comparo esta derrota com 1950. As condições são diferentes. Vir de duas goleadas e jogar por um empate na final, perdendo por virada, é diferente de levar goleada vindo de atuações ruins contra um time técnica e taticamente superior. É por isso que, parafraseando Marx, a tragédia de 1950 será esquecida, porque a história nos rendeu algo bem pior, mais comparado com uma farsa.

sábado, 5 de julho de 2014

[Copa] "Então está tudo errado!"

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Durante o jogo de ontem eu já vinha pensando no que iria escrever. O texto da passagem de fase seria para negar a fala de Felipão na entrevista coletiva. A história de que apenas jogos contra Argentina, Uruguai e até o Chile eram mais pegados que a Colômbia não se mostrava verdadeira. Afinal, o jogo estava com muitas faltas (teve 54 no total) e especialmente os jogadores colombianos catimbaram muito, reclamando bastante do árbitro. Mas aí veio a confirmação da notícia do Neymar e tudo muda.

Não é segredo para quem me acompanha por este blog e nas mídias sociais e chegou a conhecer meu fanatismo pessoalmente, sou fascinado por futebol e fatos dele me influenciam - ainda que bem menos que na época de criança. Exemplos recentes foram em 2012. Prometi deixar o bigode caso o Palmeiras fosse campeão da Copa do Brasil, algo que odeio, com todos os problemas do mundo (para mim e para ele) e mais alguns - e deixei, ainda bem que estava com a barba bem curta, bem diferente de agora. Peguei um resfriado daqueles porque com temperatura baixa resolvi largar o abrigo de lado porque a camisa tinha de ficar à mostra. No final do ano, com a quase confirmação do rebaixamento no jogo contra o Fluminense, o resfriado virou uma gripe forte.

Ontem foi mais um dia desses. Uma lesão deste nível no Neymar era o que todos temíamos, como muitos disseram ontem. Ainda que eu não seja tão torcedor do Brasil quanto do Palmeiras, especialmente pelas questões políticas (leia-se CBF), Copa do Mundo é diferente. Copa do Mundo no Brasil ainda mais. Especialmente para alguém fascinado pelo mundial de 1950. Perder o principal jogador do time antes dos dois jogos finais é muito tenso.

Não escrevi nada depois. Optei por não escrever. Curti uma ou outra coisa e li muitos comentários sobre no Twitter e no Facebook desde ontem. Várias coisas passaram pela cabeça. Muitas informações, muita opiniões, extremistas para os dois lados. Enfim, vou tentar elencá-las rapidamente e chegar numa que foi pouco comentada e que para mim levanta uma questão fundamental, pois relaciona o que o futebol representa para a nossa sociedade em comparação com outros fatores.

ARBITRAGEM
Óbvio ululante: o árbitro espanhol foi péssimo. Os colombianos colocaram ontem à noite nos TTs "RoboAColombia", provavelmente por conta do gol anulado quando o jogo estava 1 a 0, a não expulsão de Júlio César no pênalti e Fernandinho ter saído ileso de cartões apesar de "milhares" de faltas. Foi um jogo curioso para o padrão que a FIFA sugeriu para a arbitragem nesta Copa.

Se é para deixar a bola rolar, o árbitro parou muito, dando inclusive faltas que não foram - Cuadrado se jogou algumas vezes, inclusive. Além disso, foi claro que ele não deu os cartões que devia. O Zuñiga, famoso, deixou as travas no lado do joelho do Hulk no primeiro tempo para parar contra-ataque. Gutiérrez deu um chute na barriga do David Luiz noutro lance, que só não foi falta porque o zagueiro brasileiro optou seguir o lance. James e Cuadrado reclamaram o jogo inteiro e nada.

Nunca vi na minha experiência de acompanhar futebol dizer que as exageradas conversas deste mundial, em que ao menos um lance de bola parada terá o árbitro falando por um minuto, fazem a partida ser controlada. Num jogo com tantas faltas, 31 a 24 - não vejo uma diferença abismal, como alguns -, dar amarelo no início é prática básica. Se o negócio piorar a punição também será pior.

No famigerado lance, discordo sobre um possível erro do juiz ao deixar o jogo seguir - não lembro se ele deu a vantagem ou não vira a falta. O Brasil seguia com Oscar e Ramires contra dois marcadores colombianos. Só que algo que falo a Copa inteira e não vou catar no Twitter porque dá trabalho. Quase nenhum árbitro está parando o jogo para atendimento médico para dar prosseguimento ao jogo. Espera-se que alguém jogue a bola para fora.

COMITÊ DE ARBITRAGEM
O caso do Suárez já deixava isso claro. Ele mordeu o Chiellini, recebeu uma cotovelada de "troco" e nenhum dos quatro árbitros viram o lance! Várias falhas de arbitragem durante o torneio, mesmo em lances "fáceis", ordem para que o jogo corresse mesmo com faltas mais duras e jogadores caídos e essa falta de cartões para não suspender jogadores importantes chegando ao absurdo desta partida - confirmado por um dos comentaristas de arbitragem da Globo sobre um mundial em que participou. 

Foi quase que unanimidade que a dura punição veio porque houve muita pressão. Dias antes o Song, de Camarões, pegou três jogos por um soco - de tão estranho que está sendo monitorado quanto a manipulação do jogo - e ninguém falou sobre. O Comitê atua sob pressão pública.

Incrível. A gente reclama do Brasil, mas o trio brasileiro é um dos que sai mais ileso do torneio. Se errou, foi por questões de centímetros. Além disso, é obrigatório realizar sorteio dos árbitros aqui no país, enquanto que a Copa depende de livre e espontânea vontade dos membros do comitê de arbitragem, podendo ter árbitro europeu num confronto decisivo entre europeu e sul-americano (Argentina X Bélgica), por exemplo.

Lembrava lá no início da Copa, quando a CBF reclamou da escolha do Nishimura para a primeira partida. Ricardo Teixeira chegou a ser presidente deste comitê, mas pelo jeito não tinha dado seguimento para o Del Nero quando este assumiu as responsabilidades brasileiras na entidade internacional. Deixo aqui o link com os nomes deste comitê. Quem os escolhe e sob quais critérios para punir ou não alguém? Quais foram as indicações aos trios de arbitragem?

Ah, o Nishimura na dúvida marcou pró Brasil e depois daquele jogo praticamente todos os lances duvidosos foram marcados contra o Brasil porque muita gente chiou. Inclusive o técnico da Holanda, que viu seu time ter lances a favor - como hoje, contra Costa Rica.

DESCULPAS E VERGONHA
Julgamentos mil para o Zuñiga. Os 200 milhões de técnicos, que foram 200 milhões de psicólogos durante a semana e eram por algumas horas 200 milhões de especialistas em coluna também foram especialistas do Direito esportivo e para além disso. Claro que havia ironias, mas era um de não deixá-lo sair do país; de expulsá-lo do football asociation e tantas coisas que cansa.

Opiniões de todos os tipos. Gente dizendo que "era do jogo", quando não foi. Afinal, o que geralmente ocorre é "matar" o jogador no peito, não chegar destrambelhado com o joelho e deixá-lo ainda assim quando há outro atleta entre ele e a bola - só goleiro costuma sair com joelho alto. Do mesmo jeito que não dá para dizer que o colombiano mirou na terceira vértebra lombar para fraturá-la e tirar o Neymar da Copa. Quando ele diz que não tinha a intenção de tirá-lo do torneio é verdade. Óbvio que foi inconsequente e, até pelo lance já comentado antes, deveria ser expulso. Vantagem nunca eximiu o agressor de tomar cartão, isso é beneficiá-lo e na Copa queremos ver gols, os craques fazendo o seu melhor. As alternativas da FIFA estão erradas pois quebram um conceito básico do esporte.

Ver jornalistas esportivos desatando a falar de "crime" na ocasião é demais. Pior ainda é a perseguição ao jogador em seus perfis em mídias sociais, com direito a ameaças de morte e demonstração clara de xenofobia e racismo. Contradição incrível, além de isso sim ser crime, falar que "só podia ser um macaco" a acabar com o sonho do "nosso" ídolo cujas origens étnicas são parecidas. Mas exigir coerência em casos assim parece ser demais...

Ia esquecer dos que falaram que "foi merecido porque o Brasil entrou para bater" ou de quem foi para a "fama" de cai-cai de Neymar, que não foi justificada nestes 5 jogos, ou quem aproveitasse para destacar a importância dos hospitais para o país. Qual jogador espera ter um problema de fratura de vértebra lombar? Qualquer lesão na coluna é séria, pois impede qualquer tipo de movimento - não à toa ele disse que não conseguia se levantar. Num exemplo simples, eu já tive torcicolo e sei o que é não poder mexer a cabeça, imagina o tronco.

#FUERZA NEYMAR
Dos dois lados o clima de "guerrinha" particular entre argentinos e brasileiros vem tomando a Copa do Mundo por aqui. Nós acabamos "nascendo" com o tal do "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor", inclusive em outros esportes, mesmo quando a diferença é muito grande entre os dois.

A Argentina tem menos disso, é quase que exclusivo ao futebol e vários pesquisadores (Álvaro do Cabo e Ronaldo Helal aqui e Pablo Alabarces de lá) já estudaram essa rivalidade entre os dois países, chegando ao denominador "os brasileiros adoram odiar os argentinos" e estes "odeiam amar os brasileiros". Do lado deles, o "sentimento" teria sido estimulado especialmente pós Maradona e com a criação do Olé.

Mas o marco teria sido a eleição da FIFA no início dos anos 2000 do melhor jogador de todos os tempos. Como pelo voto deu Maradona, a entidade criou outro tipo de escolha para dar um prêmio a Pelé. A mobilização lá foi bem maior que aqui porque a relação com estes ídolos é bem diferente. Curiosamente, do lado de cá, o Pelé vem sendo resgatado justamente por conta das provocações argentinas de "Maradona é más grande que Pelé" - O "Pelé debutó con un pibe", faixa que estava hoje no Mané Garrincha, inclusive, quase não faz sentido algum por aqui. Gritos com "Mil gols, mil gols" e que eles ganharam um título a menos que o Pelé, no ritmo do cântico deles, cada vez ganha força.

Enfim, no meio disso, com a saída do Neymar, o TT deles é tomado com "#FuerzaNeymar". Algo espetacular, que provavelmente não ocorreria aqui caso tivesse ocorrido com o Messi - talvez a hashtag aqui fosse parabenizando o agressor, sejamos honestos. O que pode ser utilizado como uma confirmação do que os pesquisadores indicaram. Eles querem ser melhores, mas querem mostrar isso num confronto direto. Nós, provavelmente, preferíamos que eles parassem antes.

O ÍDOLO E O (QUASE) ESQUECIMENTO
Para este relevante tópico, tomo a liberdade de reproduzir os diálogos de uma conversa com uma também jornalista que me instigou sobre um ponto que pode ser que eu tenha lido um post sobre ontem, mas que pouco se comentou. Um detalhe importante é que tal ponto não veio de quem acha que o "futebol é o ópio do povo", pelo contrário, é tão apaixonada por este esporte como muitos de nós.

A ordem vai um pouco misturada porque acabei comentando duas vezes ao que ela tinha postado inicialmente. Aproveito para pedir para que quem vir a ler este texto que dê sua opinião - inclusive pode discordar de todos os outros tópicos também, ou incluir outras coisas que viram desde ontem.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

[Copa] Muda tudo

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Bravo, Júlio César, Ospina, Ochoa, Enyema, M'Boulhi, Navas, Benaglio e HOWARD! Para completar os onze, Neuer e Courtois. A Copa vinha com muitos gols, com destaques individuais de Robben, Neymar, Messi e Rodríguez, até que vieram as oitavas de final e quem resolveu se destacar ainda mais? Os goleiros. Tem gente até dizendo que está é a "Copa dos goleiros". Como pode?

Tudo bem, a emoção que circulou por 7 das 8 partidas das oitavas de final, que fez 5 delas ir para prorrogação - quebrando o recorde do chuchu de 1990 -, e duas para os pênaltis, onde eles realmente já aparecem, é dos goleiros. Mas daí a afirmar, antes do final da Copa que esta é deles é exagerado. Quem não lembra de Oliver Kahn, o melhor de 2002 que falhou quando não podia? Goleiro e árbitro só se elogia quando acaba. Além disso, James Rodríguez, Neymar e Messi seguem.

Passaram os 8 primeiros na fase de grupos, algo inédito. Porém, ninguém esperava que seria do jeito que foi. Só a Colômbia se classificou com certa folga, nos 2 a 0 contra o Uruguai. A França, que repetiria o placar, só o abriu depois dos 30 da etapa final e isso após levar sufoco no primeiro tempo contra a Nigéria. E o que falar da Alemanha contra a Argélia? Quem imaginaria aquilo?

Jornalistas de confiança
De certa forma, o equilíbrio das oitavas tirou um pouquinho do peso do Brasil, afinal todos suaram para passar. Em parte eu concordo, já que imaginava que seria um dos confrontos mais equilibrados, pensando no nível médio para cima das seleções - desconsiderando, logo, Costa Rica X Grécia e Bélgica X Estados Unidos, que, para variar neste mundial, surpreenderam-me.

Daí é que entra o segundo tema de hoje. Primeiro achei estranho. Felipão, Parreira e Murtosa chamando cinco jornalistas "de confiança" - depois um sexto, para representar a mídia do Rio de Janeiro - para uma conversa de bastidores? Pedir a opinião deles? Dizer que se pudesse teria mudado a convocação? Pedindo para a mídia brasileira pegar no pé do Robben e aliviar o Brasil sobre a arbitragem?

Não acreditei, até que todo mundo confirmou depois. Bizarrice extrema no meio de um campeonato deste nível. Disseram que Parreira teria feito o mesmo em 2006 - e pelo resultado que tivemos, não deu certo. Criou um clima estranho no elenco e um maior ainda entre os mais de 800 jornalistas que acompanham a Seleção. Enquanto isso, o assessor que deu dura em jornalista na coletiva de imprensa, pega um jogo por suposta agressão em jogador rival e viu o colega que assessora Felipão ultrapassá-lo. Vai ver que é gostar de se por em dúvida...

Como jornalista, penso que uma "proposta" de reunião com o técnico do Brasil em plena Copa do Mundo é ordem. Óbvio que não existe de conversa em off num caso assim, é ingenuidade acreditar nisso e criticar os colegas da profissão. Mas fica difícil depois reclamar que certa emissora tem o privilégio de conversar, que o tratamento deve ser igual e blá, blá, blá. Ô categoria! Parece que reclamamos porque não somos os beneficiados com a exclusividade...

Além disso, se estes são os de "confiança", os outros são denominados como? Leio/vejo Juca e PVC, dentre os que foram à reunião, com certa frequência e não discuto idoneidade, mas nestes casos é preciso frisar que a relação do jornalista com uma fonte vai além de possíveis amizades. Confiar no repórter é uma coisa, pedir dicas para ele é outra.

Entenderam sim
Comentei no dia 16 de junho: "Por exemplo, a Budweiser é uma marca histórica dos Estados Unidos, mas foi comprada pela Inbev (associação de Brahma/Antarctica - Ambev - com um grupo belga). Ainda que nos últimos dois anos a publicidade referente à cerveja estadunidense tenha aumentado, com ela indo aos poucos para as prateleiras de supermercado e bares, podia-se pensar que nos jogos do Brasil passasse a publicidade da Brahma. Ah, além disso, a Inbev comprou a Quilmes, na Argentina. Então, coloca-se propaganda da Quilmes no jogo da Argentina. Entenderam o problema?".

Antes de mais nada, agradeço a  audiência do pessoal do marketing da FIFA e da Inbev. Óbvio que eles não leram o meu texto, mas estava lá a Brahma no jogo do Brasil e a Quilmes no da Argentina. Infelizmente, imagino que até pelo posicionamento dos fotógrafos nos estádios, não achei nenhuma foto com a marca brasileira, mas acima está com a da Quilmes, para ninguém me chamar de mentiroso.

As placas fixas, as que pouco aparecem nas transmissões de TV, por ficaram no lado dos bancos, seguem com a Budweiser como patrocinadora - inclusive na hora dos hinos, quando todas marcas são apresentadas nas placas eletrônicas. Não sei se ocorreu nas outras Copas, mas daria um bom estudo de caso para quem é do marketing, especialmente saber se vale a pena a especialização num evento de alcance mundial.

Ah, da próxima vez que seguiram uma "sugestão", podem comentar por aqui - pelo menos...