sábado, 26 de dezembro de 2015

Hora de virar a página

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"Um ano difícil!". A maioria das pessoas devem estar terminando 2015 e afirmando isso. São diversos problemas, os internacionais, a crise mais política que econômica no Brasil, as coisas individuais. Neste momento, não confunda, carx leitorx, trata-se de uma avaliação em retrospectiva deste ser que vos escreve. Perdão pelo individualismo.
 
2015 foi um ano mais difícil que eu imaginava. Entrei nele com a perspectiva de iniciar um ano nas melhores condições de trabalho possíveis, especialmente quando comparado aos inícios anteriores. Mesmo que viessem coisas ruins, um ponto importante para mim estava minimamente resolvido: um trabalho regular e com o que gosto de fazer. Enganei-me, para variar. Termino 2015 sabendo que é impossível controlar a vida em duas caixas: a maior para as coisas de trabalho; a menor para as questões emocionais. Mas, assim, menor a ponto de escondê-la embaixo da cama ou do tapete, como sempre fiz.
 
 
Ainda que o trabalho andasse, e muito bem, por sinal, ao longo do ano, com publicações e viagens já no primeiro semestre, sentia um mau humor crescendo junto com a falta de paciência. Cada dia, cada semana, cada mês maiores. Isso me incomodava. Em junho, veio a resposta a tudo. O corpo deu TILT. Foram duas semanas de azia, disenteria, dor de cabeça, corpo mole e que só saía da cama por conta de alguma atividade. Poderia viver dias ali, sem comer, sem ir ao banheiro, sem tomar água.
 
Nunca ocorrera de eu ficar sem conseguir escrever nem no "automático". A única coisa que conseguia era ler e li muito quando a cabeça deixava. Foi um ano emocionalmente complicado, entretanto este Anderson nunca deixou isso se sobrepor. Quando ocorria, era por raros momentos, nada a ponto de atrapalhar o dia a dia de trabalho. Desta vez, não.
 
Sabia que terapia era uma opção que iria procurar. Conheço-me bem para saber disso há alguns anos - além do histórico familiar. Mas foi preciso quase desabar ao fundo do poço emocional para que eu procurasse em julho a ajuda que para mim é quase impossível pedir para as outras pessoas. Ainda em julho, em meio às atividades de comando local de greve, o falecimento da minha avó trouxe outros problemas emocionais em paralelo. Mais pela forma de algumas pessoas não se preocuparem comigo. Percebi que é culpa minha. Não deixo ninguém se aproximar e mesmo quando deixo, e quero, as pessoas não se aproximam.
 
 
Afetou-me fisicamente para além daquelas semanas. Uma taquicardia em Vitória, do nada, que me fez pedir a palavra depois para saber se era por nervosismo, e não era. Esse problema voltou em outros momentos, do nada, sem jogo de futebol ou nervosismo provocado. No início de dezembro foi o contrário, a sensação do coração quase parar, batendo bem fraco, antes de dormir. Uma noite que não consegui dormir. Sabia que quando estou preocupado com muitas coisas sofro de insônia e dor de barriga, mas coração, a quem tanto coloco à prova?
 
Creio que foi o acúmulo de uma vida sem saber dizer não, de me isolar com medo de me frustrar com as pessoas ou de causar frustração a elas, de não me preocupar comigo, de diminuir a carga de trabalho num momento em que fazer melhor é mais importante que fazer mais.
 
Sei que tive a gota d'água para extrapolar tudo de onde mais acreditava que poderia ter forças para mudar o que apontei no parágrafo anterior, mas não foi por isso. Lidar melhor com frustrações, experiências que passam a ser ruins, passa a ser um processo menos traumático quando se tem um acúmulo também nisso. Saber lidar com pessoas diferentes e mudanças de uma pessoa só pode vir quando eu aprender a querer me aproximar delas para além do trabalho. Conversar, rir, sair, divertir-se com outrxs, algo que tenho dificuldades enormes mesmo tentando mudar desde 2011.
 
Vem sendo um processo em que há semanas que estou super empolgado e outras em que estou deprimido novamente - como vem sendo estes dias de recesso na universidade. Até pegando o que aconteceu a partir de 2012 - que contei aqui no ano passado -, era para eu estar melhor, mais regular e isso me incomoda.
 
Um ano de muitas dúvidas desde o início. Como mudar em Maceió, lugar em que as pessoas se acostumaram com um Anderson que não sai? Como mudar se quem mais você esperava apoio e entendimento sobre mal percebeu que você vem tentando? Será que dá? Será que vai mudar algo mesmo?
 
Avancei este ano na pesquisa sobre direitos de transmissão de torneios esportivos, depois de quase ter parado após a dissertação. Perdi a força de determinadas parcerias que eu apostava muito, sendo um ano de muito trabalho sozinho de novo - com raros momentos de exceção. Voltei a respirar fundo e tentei, no que pude, entender o porquê de ser tão difícil trabalhar com outras pessoas.
 
É algo que também sempre gerou agonia. Tive problemas sérios no período mais importante do ano, quando temos mais próximos os deadlines de eventos da área, e ainda assim consegui com muita dificuldade dar conta. Tenho um monte de coisas a fazer, a lidar, e recebi muitos contatos em que se dizia que "não pude fazer antes porque tenho uma série de atividades". E eu?
 
Enfim, 2015 foi um ano de aprendizado na marra, de o meu corpo mostrar que já passei a algum tempo dos meus limites e não dá mais para viver passando o limite aceitável da paciência e da mente. Que não há maneira de se estar bem no trabalho se eu não estou bem. Não dá mais para esconder os problemas.


Dezembro, apesar de uma preocupação que permeou este mês e sobre a qual não pude fazer nada, acabou me dado um fôlego para focar no que tenho a fazer já para os meses iniciais do ano que vem e serviu para eu tentar diminuir certas pressões para acontecimentos que (não virão).

Na sessão final do ano, a terapeuta me pediu para escrever uma lista das coisas que deixo em 2015 e outras que pretendo levar a 2016. Na falta de um aspecto que foi comum nas nossas conversas no ano, ela me perguntou se eu deixaria ou levaria. Não soube responder. Seria desonesto comigo mesmo ter algo fechado sobre, porque não há. Estou pensando nisso há mais de uma semana - talvez em grande parte do ano - e por mais que o racional me diga que o melhor talvez seja deixar, o emocional não concorda. Essa é uma guerra que quem mais perde sou eu, mas que me ensinou a entender que não há divisões possíveis, daí o "talvez" do racional neste momento.

Por mais que seja comum eu escutar que a mudança de ano é só de uma data, é importante para avaliar determinado período que passou e tentar melhor no período seguinte. A ideia de virar a página não só do calendário, mas de algumas coisas da própria vida. Para alguém que gosta de controlar as coisas, como eu, é algo inevitável. Do mesmo jeito que sei que é impossível exercer tal controle, vide este texto tão disperso. O eu completo e complexo é o grande desafio que tenho para 2016.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Avaliação da prática docente

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Ao final das atividades de aula, antes dos seminários, tanto de Lógica, Informática e Comunicação (1ºs períodos de Contábeis e Economia) quanto de Economia Política da Comunicação (eletiva do 8º período de Economia), montei um questionário no Drive para que xs estudantes me avaliassem. Obtive 24 respostas em LIC (quase 50% dxs estudantes) e 6 respostas de EPC (pouco mais de 50%). Aproveitarei as respostas para me avaliar também. Assim, farei este texto com algumas considerações iniciais gerais e depois divido entre LIC e EPC, por se tratarem de disciplinas diferentes.


Metodologia da pesquisa
A ideia de fazer uma avaliação da minha prática docente surgiu ainda nas primeiras turmas que peguei ao chegar na UFAL, o mês final de 2014.1. Preocupava-me por se tratar de um período que teve greve docente e troca de professores na disciplina. Deixei um dia para entregar os trabalhos/dar as notas e que avaliássemos em conjunto aquele semestre. Quando houve, tirando um caso, as respostas foram "foi bom". No semestre seguinte acabei não fazendo, pois presencial não rolou.

Em 2015.1, participei de um curso para usar a plataforma Moodle da UFAL e dentre as atividades iniciais estava uma avaliação da prática docente. Fiz um questionário no Drive após o primeiro terço da disciplina de LIC, obtendo 34 respostas. Repeti o modelo para a avaliação final e também para a eletiva, sem ter a necessidade de identificação - dando liberdades axs estudantes para serem honestxs -, só ampliando, no caso da disciplina do tronco inicial, as questões, trazendo também uma avaliação por parte da disciplina dentre as perguntas com respostas de 1 a 5. Por fim, uma pergunta direta: "O que devo mudar na minha prática pedagógica?".

Prelúdio
Antes de partir para os dados, é importante dizer que foi um semestre também irregular. Tivemos greve docente e de técnicos por 4 meses, tempo de um período, que chegaram na metade das disciplinas. Ainda que, especialmente em LIC, a divisão que está no nome da disciplina me permitiu não interromper conteúdo, atrapalha o desenvolvimento enquanto universitárix por se tratar de pessoas que acabaram de entrar na universidade - e no ritmo de leituras que o tronco inicial exige. Então, mais que um semestre distinto, foi quase que um ano dentro dele, iniciando em março e terminando em dezembro (um Brasileirão mesmo rs).

Para mim, foi um ano muito complicado, convivendo com uma depressão que fez meu mau humor crescer a cada mês, especialmente do primeiro semestre, junto com uma maior falta de paciência - algo que normalmente tenho até demais. Com estresse acumulando também, tive uma crise grande em duas semanas de junho que, para minha sorte, foi o primeiro mês de greve. Consegui controlar mesmo tendo participado de algumas atividades naquele período.

O segundo semestre, tirando um momento de outubro, foi particularmente mais tranquilo. Iniciei terapia em julho e apesar do cansaço de trabalhar ainda mais durante a greve, vem servindo para eu avaliar certas coisas. Mesmo assim, tive que conviver com problemas frequentes de domingo para a segunda (insônia, indisposição, etc.). Lembro de uma noite em específico de fechar os olhos, respirar fundo e querer sair da sala. Felizmente, ou não, a responsabilidade venceu e eu continuei.

É o tipo de coisa que não exponho, até porque antes de tudo há essa responsabilidade com xs estudantes e com o meu trabalho. Além de não servirem como justificativa para alguma aula ruim. Isso pode acontecer mesmo quando achamos que preparamos "a" aula.

LIC
As disciplinas do tronco inicial têm horas de aula semanais, quatro num dia e duas no outro, o que abre mais espaço para recursos multimídia e um pouco mais de tempo para algum debate a ser preparado. Não haviam "respostas obrigatórias" para fechar o questionário, então haverá perguntas com mais  ou menos respostas que outras. Vamos aos dados...

- Figura 1 - Prática Docente e Ação Didática
Algo a melhorar é a descrição dos tópicos, mas creio que a ideia era de a "prática docente" ser algo relativo ao conjunto da obra, por assim dizer. A avaliação foi de regular a excelente. Os demais comentários servirão para pensar uma melhor prática docente também.

Da segunda pergunta, uma resposta "ruim". Realmente tenho algumas coisas a melhorar. Há aulas que consigo trazer mais outros elementos - para além do futebol rs -, mas em alguns tópicos fica muito o conteúdo pelo conteúdo, o que pode se mostrar cansativo. Consegui incluir um segundo momento de debate este período e esse é um caminho que instiga xs alunxs a participar. Uma ferramenta importante para seguir sendo utilizada na didática nos próximos semestres. Ah, uma coisa que o semestre anterior me fez reparar, a quantidade de expressões repetidas (enfim, então, etc.). Dei-me conta do exagero na primeira aula após a greve, ao menos do "enfim". Estamos tão acostumados ao nosso próprio discurso que não percebemos isso - e tive professorx a falar "né" centenas de vezes também.

- Figura 2 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente
Vou pular a parte de "construção do conhecimento", até porque o problema identificado no ponto anterior sirva para cá também; partindo para a resposta com mais problemas, "Relação professor-discente", que de certa forma até me assusta. Minha "briga" desde o início do semestre é fazer com que entendam que a relação tem que ser a mais horizontalizada possível, porém, com os dados limites que cada lugar que ocupamos gera, até mesmo pelos processos que existem na universidade.

Este semestre tive algumas reclamações sobre as avaliações realizadas para compor a primeira avaliação, querendo perguntas com alternativas ou de Verdadeiro ou Falso. O problema, como voltei a identificar na dinâmica do capítulo inicial de "A Galáxia da Internet", é a dificuldade de interpretação de uma construção isolada; acaba sendo pior para xs estudantes que texto dissertativo. Além disso, há a necessidade identificada de fazê-lxs escrever, algo importante independente de curso. Outra reclamação foi sobre o tempo dos seminários, de 20 minutos. É o tempo médio das apresentações acadêmicas e saber lidar com ele é algo que vai para além da universidade - podemos ter poucos minutos para vender um produto ou ideia. E do mesmo jeito que tento não ser autoritário dada a minha posição de docente, não posso aceitar diálogos mais agressivos, como ocorreu em alguns momentos nestes meses. Deixar mais clara as possibilidades dessa relação é um aprendizado importante para mim.

- Gráfico 1 - Métodos de avaliação
Outra questão mais equilibrada para baixo. Neste semestre incluí maior participação, com pontuação extra, da participação em sala de aula. Deixando claro os dias em que este processo seria mais observado. Ainda que as atividades escritas e seminários não sejam suficientes para avaliar o aprendizado, continuam sendo ferramentas importantes. Continuar na observação da atenção e diálogo presenciais é algo importante, ao mesmo tempo de propor avaliações que explicitem melhor a importância de apreender o conteúdo e relacioná-lo com a prática do cotidiano, algo que ainda é de muita dificuldade para quem vem de uma forma de aprendizado mais ligado ao decorar conteúdo que aprendê-lo.

- Figura 3 - Avaliação de conteúdos de Lógica e Comunicação
As duas partes da disciplina lecionadas antes da greve, por isso incluir o "lembra" na questão. Respostas parecidas, mas com comunicação com um "ruim" a mais. Processo normal de uma disciplina que brinco ser "Frankstein", quase que fatia em três partes. Um desafio é criar mais perspectivas de união entre os três trechos, algo que fica mais presente na transição Comunicação e Informática - prejudicado este ano pela distância temporal.

- Figura 4 - Avaliação de conteúdo de Informática e utilidade da disciplina
O único "péssimo" do questionário me surpreendeu. A parte de informática foi a última e é uma temática muito mais presente que as anteriores no nosso cotidiano, algo que tento puxar com memes e trabalhos voltados ao uso e à apropriação de mídias sociais e seus conteúdos. Importante que eu revise no semestre que vem para entender quais os grandes problemas.

Por fim, a utilidade da disciplina. Importante dizer que o modelo de tronco inicial é exclusivo dos campi do interior, obrigatório, ao menos até 2016.1, para todos os cursos, independente de eixo. Tenho colegas que não veem sentido em ele existir, creio ser importante para os casos de formação básica precária e a introdução ao espaço acadêmico, possibilitando discussões e interpretações do cotidiano que a especificidade de alguns cursos não permite. Resultado importante.

- Figura 5 -  Algumas respostas de "O que devo mudar na minha prática pedagógica?"
Separei as respostas do que deveria mudar. A primeira é "pedir para o pessoal conversar menos", um problema recorrente desde que aula é aula e estudante é estudante. Para não ter de gritar, costumo falar mais baixo ou me aproximar de alguém que quer comentar algo e não consegue pelo barulho alheio. Normalmente xs colegas diminuem a voz. Uma ou outra vez que é necessário dar bronca.

Da segunda, achei engraçado, pois acho até que incluo poucos conteúdos de futebol nas aulas e atividades. É fato que adoro futebol e, para além disso, este é o meu principal objeto de estudo nos últimos cinco anos. Acaba sendo natural eu trazer exemplos dele porque é o que está mais próximo, mas terei o cuidado de não ser "só futebol".

Por fim, o perfeccionismo que realmente é um problema meu, mas eu me cobro muito mais que às outras pessoas. Minhas notas costumam ser nas casas decimais até para ter mais justiça na diferença de avaliações entre xs estudantes, além de ter tido meio ponto no primeiro e um ponto no segundo extras, inviabilizando arredondamentos. Ainda assim, este semestre dei dez a uma equipe em LIC e a outra em Seminário Integrador, só que mais porque achei que foram muito bem que por ter relaxado na avaliação - vide outras equipes. Não defendo o "dez é do professor".

EPC
O caso de EPC foi diferente por ter sido o primeiro semestre que eu lecionei a disciplina, voltada ao oposto de estudantes que costumo trabalhar, do 8º período, por ser a área em que eu pesquiso e pela diferença de carga horária - 40 horas presenciais e 20h não.

Depois de dois dias de aula, muitas vezes após 16h de aula, EPC servia como um relaxamento, em que creio ter brincado bem mais que com o pessoal do primeiro período, com alguns problemas de ter sido flexível quanto a alguns textos, que debati menor. A disciplina foi sendo construída ao longo do semestre, com a escolha dos textos tentando dialogar com os curtas e/filmes que pedia para elxs assistirem e comentarem como complemento da carga horária fora de classe. Vamos às avaliações...

- Figura 6 - Prática Docente e Ação Didática

- Figura 7 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente

Esta figura expressa alguns dos problemas. O efeito da greve em EPC é maior pela distância dos conteúdos de base iniciais, voltados à Economia Política de forma geral, e a parte específica, das análises dos mercados comunicacionais. Assim como estar na reta final de curso, com outras demandas entre artigos, TCC e disciplinas.Por fim, representado no último gráfico da Figura 7, há a distância natural de eu não ter sido o professor delxs no tronco inicial. Só a partir de novembro que o 1º período subiu para o espaço ocupado pelos demais, então há muitos estudantes que nunca me viram, apesar de eu estar há um ano e meio na unidade.

- Gráfico 2 - Métodos de Avaliação
Acabei tendo problemas nesta parte no segundo bimestre da disciplina. Percebi que falta um maior cuidado em formar para produção acadêmica, além das dificuldades normais de primeiros artigos. Da minha parte, estabelecer relações melhores do conteúdo para o trabalho final, pois na maioria dos artigos temas tratados na disciplina apareceram, mas sem referências usadas em sala de aula, mesmo que algumas encaixassem bem e até facilitassem a escrita. Talvez para um futuro seja não pedir o artigo, mas algo num formato menor, mantendo a apresentação.

- Figura 8 - O que devo mudar na minha prática pedagógica?
Das sugestões, concordo com a primeira crítica, como apontei acima. Senti dificuldade em estabelecer atividades que justificassem as outras 20 horas. Da apresentação com slides, fiz na primeira aula e não senti que tenha funcionado bem, pois fiquei muito preso a ela, além dos comentários terem sido nulos sobre o texto, por isso optei por não usar nas demais. Mas vejo ser necessário usar de didática semelhante da que trabalho no primeiro período, agora com maior noção sobre como dar 2 horas/aula por semana, e não 6.

Da segunda, a ideia de círculos de debates é boa, pedir para alguém apresentar os textos em vez de mim, apesar de ter pedido comentários gerais já na segunda metade, o que gerou um pouco mais de participação. Mas falta, talvez um problema na formação da unidade, mostrar melhor como relacionar o conteúdo com objetos de estudo práticos, como comentei acima. Sobre a quantidade de textos, é difícil ter a noção do ritmo de leitura por se tratar de estudantes que estão no 8º, mas com disciplinas também de outros períodos. Não acho que um artigo por semana seja muito, mas pode ser quando se tem outras disciplinas pedindo o mesmo tanto. Uma possibilidade é saber quantas disciplinas xs estudantes estão para além da eletiva.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

[Viagem] Vai para Cuba, sim!

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Ao contrário de algumas outras pessoas de esquerda, eu não tinha nenhuma vontade de ir à Cuba por achar que seria um "paraíso revolucionário". Minha vontade era de ir e tentar observar as deficiências de um modelo político centralizado, mas prestando a atenção para as diferenças positivas, que normalmente são escamoteadas quando se trata do país, uma das quais passou a aparecer aqui no Brasil após o Programa Mais Médicos.

Quando surgiu a possibilidade a partir de uma atividade de trabalho, o congresso da ULEPICC, comecei a me preparar financeiramente para a viagem e coloquei o evento como um dos que iria em 2015. Financeiramente foi ainda mais necessário pelos cortes de verbas na educação este ano. Havia pedido só diárias no início do ano para um congresso internacional em São Paulo e nada consegui, imagina passagens e/ou diárias para outro país...

Como tive problemas emocionais este ano, com uma forte crise derivada de estresse em junho, meu calendário de produção acabou atrasando e por diferentes momentos decidi por não ir à Havana. Pela primeira vez não consegui escrever o trabalho a tempo, mas depois prorrogaram o prazo. Havia desistido novamente porque o grupo que ia desistiu devido ao aumento do dólar e, consequentemente, do valor da passagem para lá. Mas fui convencido em outubro da necessidade de ser mais uma vez brasileira no evento.

Como ir
Para ir à Cuba, o visto pode ser pedido nas embaixadas no Brasil, com cópia das primeiras páginas do passaporte, comprovante das passagens e endereço do local em que se vai ficar. Se presencialmente, o retorno é na hora. Por Sedex, tempo de ir e vir, mais um prazo de 72h na embaixada. Fiz por Sedex e foi tranquilo, recebendo a tarjeta de turista. Além disso, recomenda-se tomar vacina contra febre amarela e ter seguro de saúde, apesar que não cobraram nenhum deles por lá - e felizmente eu não precisei.

Optei por hotel por não conhecer ninguém por lá, mas há muitas casas de famílias que alugam quartos. Depois que reservei o hotel é que tive uma oferta de ajuda para uma destas casas, entretanto acabei mantendo a ideia inicial até pela praticidade por conta do evento. O hotel era à beira da praia, num trecho não desfrutável, com estrutura antiga - dois dos três elevadores sempre quebrados -, mas próximo do Palacio de Convenciones de La Habana, onde ocorreria o evento; entretanto, distante de Habana Vieja, ponto turístico.

Dos voos, há pela Copa Airlines e pela Avianca. Fui pela segunda e escolhi um trajeto que demorasse menos tempo tanto na ida quanto na volta devido à reta final do semestre, que me fez também estar lá só nos dias do evento. O cansaço é ainda maior porque tive que pegá-lo em São Paulo. Então foram três voos seguidos com algumas horas nos aeroportos entre um e outro, o que cansa bastante. A diferença de fusos - sair de -3 para -2 e depois chegar em -5 - não fez tanto impacto. Colegas tiveram problemas de atraso da Avianca na ida via Lima. Comigo não houve problema.

Houve também quem conseguiu uma promoção de última hora, em novembro, e pagou cerca de R$ 1700 saindo de Recife. Então, planejar e ficar de olho em promoção até o último instante é uma boa. Com o aumento do dólar, só houve promoção para lá em julho e esta inesperada de novembro.

Economia
Sabia do embargo econômico promovido pelos Estados Unidos que, com a fragmentação da União Soviética, piorou a situação de manutenção do país. Nestes dias de mudanças na América Latina, em alguns momentos percebia-se a incerteza sobre o que pode ocorrer caso os parceiros que existem fossem governados por políticos não bolivarianos.

Não pude tirar dúvidas sobre como o governo paga, dá a ração básica aos locais. Mas uma das funcionárias do hotel falou de ter um filho estudante Medicina nos Estados Unidos e uma amiga brasileira comentou que no caso dos médicos cubanos no Brasil, mesmo com a contrapartida ao governo, eles ganhavam muito mais que lá, podendo enviar dinheiro às famílias.

A cidade e a população conta bastante com o turismo. E eram vários de diferentes países, mas com uma presença pequena de brasileiros no dia a dia da cidade. A outra língua era o inglês, "porque todo mundo fala em inglês". Perguntei a uma garçonete se brasileiros não iam muito por lá e a resposta foi não. Quando dizíamos que éramos brasileiros a resposta era algo como "gosto muito do Brasil. Samba, Ronaldo, Neymar Júnior". Segundo a garçonete, vão lá italianos, franceses, europeus de forma geral e estadunidenses em menor quantidade.


Sobre a moeda, o diferencial é que o impacto da estrangeira é ainda maior. Em peso cubano tudo é muito barato, por exemplo, você vai ao cinema pagando algo em torno de R$ 0,50. Como há o peso conversível (CUC), quase que a 1 dólar por CUC, a diferença é imensa. Para turista, o ideal seria conseguir trocar por peso cubano, mas isso é muito difícil de se conseguir. Em CUC, a viagem acaba ficando um pouco mais cara, ainda que se consiga procurar comidas não tão caras e transportes colectivos locais - destaque aos Ladas cheirando à gasolina e tremendo em cada parada -, em que se paga bem menos que em transportes privados. Ônibus que vi, geralmente lotados e sem qualquer preocupação de entrar mais outra pessoa.

Do que me incomodou, a ofensiva ao turista. Quando fui com colegas ao Museu da Revolução, houve uma aproximação para ajudar a tirar fotos. Fomos a um forte à beira-mar e tinha mais cubanxs querendo oferecer ajuda que turistas. Eu particularmente não gosto de aproximações deste nível de desconhecidxs, mesmo nas cidades turísticas brasileiras. Além das ofertas por olhar das mulheres, algumas menores de idade, em Habana Vieja. Ainda que tais características sejam de áreas turísticas. 

Algumas mulheres brasileiras reclamaram bastante de assédio: "cosita muy linda" e alguém dizer que tem dois sonhos, o Brasil e ver os seios. Os preconceitos específicos seguem mesmo com uma formação educacional muito boa e acaba demonstrando outros problemas que deveriam ser pensados e discutidos. Quanto a homossexuais, vi bem poucos casais nas ruas de lá, mas houve uma reclamação no evento para que a Universidad de Habana e o Ministério da Educação se preocupasse mais com a diversidade de fato.


E isso era uma curiosidade que tinha: como são as críticas ao governo? No evento, algumas apareceram e ninguém reclamou ou foi autoritário, como muita gente acredita no Brasil quando manda alguém ir à Cuba como algo depreciativo. A infraestrutura de internet é, em especial, muito criticada, por faltar políticas ideais para isso. Para se ter uma ideia, a proposta do governo é de até 2020 metade da população ter acesso à banda larga, que lá equivale a 256 kps.

Há uma defesa do processo revolucionário e do governo, mas de forma crítica. Professorxs que tiveram maior contato com estudantes da universidade se surpreenderam com o alto nível de formação educacional. Entende-se que a educação é fundamental, ainda mais num país que precisou formar médicos, arquitetos, engenheiros e demais "profissões nobres" após a revolução, já que a elite cubana fugiu para os Estados Unidos.

Do dia a dia, uma experiência interessante foi quando um amigo professor pediu o crachá de uma cubana que estava num evento paralelo no Palacio, da indústria farmacêutica, para pegar um refrigerante do coffee break deles. Ela disse que precisava de um ticket, mas dividiu o dela com ele. Depois, todxs do círculo de sofás dividiram conosco o refrigerante Uma solidariedade que me impressionou.


Para turista ver
Havana é uma cidade belíssima, com várias construções mantidas há décadas e com cuidado em se reformar - igrejas nelas incluídas -, alguns carros antigos muito bem conservados e uma série de museus. Apesar de imaginar que não conseguiria sair, na terça à tarde e à noite andei bastante por Habana Vieja, conhecendo o Museu da Revolução, em especial, além de outros locais. Há a história passo a passo do processo revolucionário, mas pouco destaque para a participação feminina nele - parece que há outro local em que elas aparecem. Fiquei impressionado com a montagem em tamanho real com Che Guevara e Cienfuegos (na foto acima).

Saímos para o Museu de Arte Contemporânea, mas estava fechando, e ficamos apenas no térreo, com obras interessantes, com destaque para uma reprodução de cela de prisão, que ao lado contava com uma sala de aula, para que o visitante sentisse na pele a prisão antes da revolução. A ideia de não esquecer as agruras do passado, que no Brasil pouco incentivamos.

Cheguei a passar por duas vezes pela La Bodeguita del Medio, bar/restaurante mais conhecido de Havana, com assinaturas dos visitantes nas paredes e uma série de fotos com pessoas de todos os lugares do mundo, incluindo Lula e artistas brasileirxs, de quando visitaram o lugar. Além disso, quase sempre há música ao vivo na entrada do bar, com as pessoas cantando junto.

Isso é algo interessante de apontar, culturalmente também é fantásticos estar em Cuba. Música e cinema, em especial, são coisas bem presentes no dia a dia. Estava em andamento o Festival de Cinema da cidade, não pude acompanhar ou conhecer cinemas por lá, mas me disseram que há salas com capacidade de até 700 pessoas e filas enormes de cubanos para assistir aos filmes do festival - dentre os quais estava "Que horas ela volta?". Sessões muito baratas.

Vai para Cuba!
Parando por aqui porque já falei demais, mas há muita coisa para se ver e analisar em Havana. Há uma representação sociocultural bem diferente da que vemos em outros lugares do mundo e aproveitar a estadia lá é algo muito bom e tranquilo - não há violência, nem meninxs de rua, nem pedintes, no máximo alcoólatras, que não mexem com ninguém.

Eu fui a trabalho, que cumpri, mas deu vontade de voltar e saber ainda mais da cidade. Além disso, por se tratar de um evento, faz parte da parte boa os encontros e reencontros, que para mim fizeram valer ainda mais o tanto que eu gastei com a viagem.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Gritemos, choremos. Somos campeões!!!

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Na chuteira direita do Fernando Prass estava a vontade dele ser campeão, mas também a minha, que não vi os minutos iniciais por culpa da Globo/horário de verão e passei a ver voltando do trabalho no interior a partir do smartphone; era a vontade do amigo de filhos e filhas à neta recém-nascida palmeirenses; do grande amigo, com quem fui ao nosso estádio pela primeira vez, mas com que não pude dialogar por mensagem porque iria descer para ver de mais de perto; era dos camaradas de Santana, do segurança/aluno que gosta de apostar e fica nervoso três dias antes de final, do outro que compra camisa do time para dar a professor italiano e do que é casado com uma tricolor paulista. A vontade dos quase 39 mil dentro do renovado Palestra Itália, dos tantos milhares que ficaram de fora e dos milhões no resto do mundo.

O grito que veio depois foi do Prass e de cada um de nós. Os meus foram bem escutados pela vizinhança. Que seja! Os xingamentos vieram logo em seguida e creio que também de muita gente, não só do Dudu dentro de campo. As lágrimas então, nem se fala. Ano passado estávamos gritando, xingando e chorando graças a um resultado alheio que nos mantinha na primeira divisão do Brasileiro. Este ano é por um título e que final!

Como já disse em alguns textos aqui neste espaço, minha relação com o Palmeiras é especial. O futebol em si é o que me faz sair do controle tradicional, da seriedade exacerbada. Não à toa que recebi parabenizações e li comentários de pessoas de diferentes Estados e de convívios comigo em distintos momentos da minha vida. Palmeiras, minha vida é você! Faz parte de mim desde a infância.


Os gritos a mais foram também por um ano complicado, instável. No meu caso, o melhor ano em termos profissionais, com direito a presença em meios de comunicação para falar da minha pesquisa, algo que sempre sonhei. Mas o pior em termos emocionais. O corpo entrou em TILT por conta de estresse, coração sinalizando problemas físicos e esses problemas interferindo num melhor desempenho nas questões de trabalho pela primeira vez na vida.

O Palmeiras viveu um ano com melhor estrutura graças ao retorno do estádio próprio e de um time de verdade em campo. Ainda assim, quando pensávamos que ia seguir em frente, voltava, tropeçava. O melhor dos últimos anos sempre tinha uma pedra no meio do caminho. Gabriel e Arouca lesionados, defesa levando gols a rodo, time sem armação de jogadas, etc. Tudo o que sabemos e que justificaria o favoritismo do Santos nas finais da Copa do Brasil.

O título era muito importante para mim. Nos pênaltis pedia até para morrer do coração, mas que saíssemos campeões - parafraseando o Marcos na preleção da partida final do Paulista de 2008. Posso morrer, mas sejamos campeões! Fomos, somos campeões! Eu que havia gritado bem no segundo gol e já tinha abalado a voz, detonei de vez após o último pênalti do Prass. Nunca gritei tanto e acho que nunca chorei tanto também. O Palmeiras precisava. Eu ainda mais.


Minha terapeuta acha curioso que eu consiga ter uma relação tão livre quando se trata do Palmeiras, mas que seja totalmente diferente quando se trata do meu relacionamento com pessoas. Impossível de explicar! Palmeiras é minha vida bem ou mal, longe ou perto.