sábado, 26 de dezembro de 2015

Hora de virar a página

"Um ano difícil!". A maioria das pessoas devem estar terminando 2015 e afirmando isso. São diversos problemas, os internacionais, a crise mais política que econômica no Brasil, as coisas individuais. Neste momento, não confunda, carx leitorx, trata-se de uma avaliação em retrospectiva deste ser que vos escreve. Perdão pelo individualismo.
 
2015 foi um ano mais difícil que eu imaginava. Entrei nele com a perspectiva de iniciar um ano nas melhores condições de trabalho possíveis, especialmente quando comparado aos inícios anteriores. Mesmo que viessem coisas ruins, um ponto importante para mim estava minimamente resolvido: um trabalho regular e com o que gosto de fazer. Enganei-me, para variar. Termino 2015 sabendo que é impossível controlar a vida em duas caixas: a maior para as coisas de trabalho; a menor para as questões emocionais. Mas, assim, menor a ponto de escondê-la embaixo da cama ou do tapete, como sempre fiz.
 
 
Ainda que o trabalho andasse, e muito bem, por sinal, ao longo do ano, com publicações e viagens já no primeiro semestre, sentia um mau humor crescendo junto com a falta de paciência. Cada dia, cada semana, cada mês maiores. Isso me incomodava. Em junho, veio a resposta a tudo. O corpo deu TILT. Foram duas semanas de azia, disenteria, dor de cabeça, corpo mole e que só saía da cama por conta de alguma atividade. Poderia viver dias ali, sem comer, sem ir ao banheiro, sem tomar água.
 
Nunca ocorrera de eu ficar sem conseguir escrever nem no "automático". A única coisa que conseguia era ler e li muito quando a cabeça deixava. Foi um ano emocionalmente complicado, entretanto este Anderson nunca deixou isso se sobrepor. Quando ocorria, era por raros momentos, nada a ponto de atrapalhar o dia a dia de trabalho. Desta vez, não.
 
Sabia que terapia era uma opção que iria procurar. Conheço-me bem para saber disso há alguns anos - além do histórico familiar. Mas foi preciso quase desabar ao fundo do poço emocional para que eu procurasse em julho a ajuda que para mim é quase impossível pedir para as outras pessoas. Ainda em julho, em meio às atividades de comando local de greve, o falecimento da minha avó trouxe outros problemas emocionais em paralelo. Mais pela forma de algumas pessoas não se preocuparem comigo. Percebi que é culpa minha. Não deixo ninguém se aproximar e mesmo quando deixo, e quero, as pessoas não se aproximam.
 
 
Afetou-me fisicamente para além daquelas semanas. Uma taquicardia em Vitória, do nada, que me fez pedir a palavra depois para saber se era por nervosismo, e não era. Esse problema voltou em outros momentos, do nada, sem jogo de futebol ou nervosismo provocado. No início de dezembro foi o contrário, a sensação do coração quase parar, batendo bem fraco, antes de dormir. Uma noite que não consegui dormir. Sabia que quando estou preocupado com muitas coisas sofro de insônia e dor de barriga, mas coração, a quem tanto coloco à prova?
 
Creio que foi o acúmulo de uma vida sem saber dizer não, de me isolar com medo de me frustrar com as pessoas ou de causar frustração a elas, de não me preocupar comigo, de diminuir a carga de trabalho num momento em que fazer melhor é mais importante que fazer mais.
 
Sei que tive a gota d'água para extrapolar tudo de onde mais acreditava que poderia ter forças para mudar o que apontei no parágrafo anterior, mas não foi por isso. Lidar melhor com frustrações, experiências que passam a ser ruins, passa a ser um processo menos traumático quando se tem um acúmulo também nisso. Saber lidar com pessoas diferentes e mudanças de uma pessoa só pode vir quando eu aprender a querer me aproximar delas para além do trabalho. Conversar, rir, sair, divertir-se com outrxs, algo que tenho dificuldades enormes mesmo tentando mudar desde 2011.
 
Vem sendo um processo em que há semanas que estou super empolgado e outras em que estou deprimido novamente - como vem sendo estes dias de recesso na universidade. Até pegando o que aconteceu a partir de 2012 - que contei aqui no ano passado -, era para eu estar melhor, mais regular e isso me incomoda.
 
Um ano de muitas dúvidas desde o início. Como mudar em Maceió, lugar em que as pessoas se acostumaram com um Anderson que não sai? Como mudar se quem mais você esperava apoio e entendimento sobre mal percebeu que você vem tentando? Será que dá? Será que vai mudar algo mesmo?
 
Avancei este ano na pesquisa sobre direitos de transmissão de torneios esportivos, depois de quase ter parado após a dissertação. Perdi a força de determinadas parcerias que eu apostava muito, sendo um ano de muito trabalho sozinho de novo - com raros momentos de exceção. Voltei a respirar fundo e tentei, no que pude, entender o porquê de ser tão difícil trabalhar com outras pessoas.
 
É algo que também sempre gerou agonia. Tive problemas sérios no período mais importante do ano, quando temos mais próximos os deadlines de eventos da área, e ainda assim consegui com muita dificuldade dar conta. Tenho um monte de coisas a fazer, a lidar, e recebi muitos contatos em que se dizia que "não pude fazer antes porque tenho uma série de atividades". E eu?
 
Enfim, 2015 foi um ano de aprendizado na marra, de o meu corpo mostrar que já passei a algum tempo dos meus limites e não dá mais para viver passando o limite aceitável da paciência e da mente. Que não há maneira de se estar bem no trabalho se eu não estou bem. Não dá mais para esconder os problemas.


Dezembro, apesar de uma preocupação que permeou este mês e sobre a qual não pude fazer nada, acabou me dado um fôlego para focar no que tenho a fazer já para os meses iniciais do ano que vem e serviu para eu tentar diminuir certas pressões para acontecimentos que (não virão).

Na sessão final do ano, a terapeuta me pediu para escrever uma lista das coisas que deixo em 2015 e outras que pretendo levar a 2016. Na falta de um aspecto que foi comum nas nossas conversas no ano, ela me perguntou se eu deixaria ou levaria. Não soube responder. Seria desonesto comigo mesmo ter algo fechado sobre, porque não há. Estou pensando nisso há mais de uma semana - talvez em grande parte do ano - e por mais que o racional me diga que o melhor talvez seja deixar, o emocional não concorda. Essa é uma guerra que quem mais perde sou eu, mas que me ensinou a entender que não há divisões possíveis, daí o "talvez" do racional neste momento.

Por mais que seja comum eu escutar que a mudança de ano é só de uma data, é importante para avaliar determinado período que passou e tentar melhor no período seguinte. A ideia de virar a página não só do calendário, mas de algumas coisas da própria vida. Para alguém que gosta de controlar as coisas, como eu, é algo inevitável. Do mesmo jeito que sei que é impossível exercer tal controle, vide este texto tão disperso. O eu completo e complexo é o grande desafio que tenho para 2016.

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