sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Flamengo X Globo: processo aberto pelo clube acentua problemas na transmissão do Brasileirão

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Após a recusa em vender os direitos de transmissão de suas partidas no #Carioca, o Flamengo acirra a disputa com a Globo, passando para a justiça o contrato do Campeonato Brasileiro de Futebol. Como não vi o processo, comentarei o que é possível a partir do que foi publicado por repórteres esportivos.

A base dos problemas apontados pelo Flamengo está no contrato que começou em 2019 e vai até 2024. É o primeiro para o Brasileiro que divide o pagamento de cotas por critérios: 40% igualitários, 30% jogos transmitidos e 30% classificação (50-25-25 para a Turner). Mas só para as TVs, não inclui o pay-per-view (ppv).

Os contratos foram assinados sob sigilo. Então vamos para as informações de Rodrigo Mattos e Leo Burla, no UOL.

1. Mais jogos no ppv

Vejo como movimento natural da Globo botar mais jogos de Corinthians e Flamengo no ppv por 2 motivos: é o valor flexível, com a empresa podendo lucrar mais; e é onde, na mudança da divisão dos valores pagos por mídia, passou a pagar mais.

Até 2018, o peso da TV aberta era muito maior, assim, fazia sentido para a Globo distribuir os jogos das duas equipes nesta mídia. A mudança no contrato em vigor considera a nova divisão das cotas (que mantém o benefício a alguns clubes a partir do ppv) e a nova concorrência.

2. Prejudicar a Turner

Movimento super natural da Globo, que já fazia algo semelhante quando sub-licenciava os direitos para Record e Band. A escolha dos jogos na TV aberta sempre foi da detentora dos direitos, na lógica do “quem paga a festa define o horário”, problema não exclusivo do Brasil num momento em que os mercados europeus querem audiência da China, por exemplo.

O Athletico soube compensar a saída do ppv nisso. Acreditando que ganharia menos nesta plataforma do que mereceria, o clube resolveu não assinar. Isso forçou a Globo a exibir mais jogos do clube de forma gratuita - justificando investimento nesta mídia e a briga contra a Turner (no jogo contra outro clube que assinou com ela).

Mas concordo com a reclamação em se incluir jogos transmitidos pela Turner na TV fechada para o cálculo da cota por exibição. Não faz sentido porque os contratos são diferentes. Os clubes da Turner, por exemplo, resolveram dividir igualitariamente o valor da classificação em 2019 – menos o Fortaleza, prejudicado por um contrato assinado quando ainda estava na Série C e que definia valor fixo (na prática, R$ 14 milhões a menos que os demais na TV fechada).

3. Outros pontos

Outros elementos do que consegui ver do Pedro Torre no Instagram:

O clube fala que o pagamento seria num fluxo mensal. Do que li para o meu livro, o pagamento seria em partes (início, 40%; meio do ano, provisório dos 30% de exibição; e final do campeonato). Mas, volto a dizer, não tive acesso aos contratos. Estou relatando o que li durante o processo de negociação e as notícias do ano passado informando que os clubes estavam com a corda no pescoço, com balanços parciais no vermelho, justamente pela mudança.

Outro ponto novo relatado por Torre é que a Globo passou a descontar despesas dos custos de viagens no valor das cotas, o que não ocorria antes. O Flamengo reclama disso, mas admite que o ponto não estava no novo contrato. Numa proporção, daria R$ 1,5 milhão a menos no ano.

É importante ressaltar, da mesma forma que Bahia, Athletico e Palmeiras ano passado, a disputa é puramente individual. O Flamengo quer ganhar mais porque acha que merece e não está preocupado com os demais, não à toa o processo foi aberto só por ele – nem o Corinthians, de situação semelhante, entrou.

Ratifico meu posicionamento que as "falhas" que eu concordo no que foi apontado é justamente pela falta de um acordo coletivo – o que não deve ocorrer tão cedo. Além disso, os clubes repassavam TUDO para a Globo Esportes sobre o Brasileiro. A empresa é que se desfez de algumas coisas, caso da negociação por placas, transmissão internacional e, pelo visto, a estrutura de viagens.

Foi necessário o Flamengo, assim como estavam Palmeiras e Athletico, ser menos dependente dos recursos do broadcasting para tentar confrontar o grupo comunicacional, que, desde a gestão de Manuel Pinto e o aumento da concorrência, resolveu mudar o discurso sobre equilíbrio.

Por fim, registre-se que a divisão não se dá pelo broadcasting/espaços de mídia, como na Premier League ou na Copa do Brasil, com a liga/CBF buscando as receitas e repassando os valores a partir de determinado planejamento. Logo, problemas hão de aparecer (também na Turner).

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

2020.5 Memória das Olimpíadas no Brasil (vol. 1)

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O primeiro volume de "Memórias das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares" é um dos produtos do projeto "Preservação da Memória das Olimpíadas: processos e ações" (http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/index.htm) realizado de junho a dezembro de 2016 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Ganhei os dois volumes do livro de uma das organizadoras e coordenadoras do projeto, Eula Dantas Taveira Cabral, e o escolhi para retornar às leituras para o doutorado, ainda que entendendo que iria separar poucas citações - tendo em vista que minha pesquisa se volta mais ao futebol.

O livro conta com capítulos de quem participou do projeto, incluindo nomes conhecidos da discussão sobre esportes no Brasil, casos de Gilmar Mascarenhas (falecido ano passado), Victor Andrade de Melo e Bernardo Buarque. Destaco ainda os relatos de quem viveu os Jogos Olímpicos a partir da resistência às desocupações, casos de Sandra Maria Teixeira e Gizele de Oliveira Martins.

CALABRE, Lia; CABRAL, Eula Dantas Taveira; SIQUEIRA, Maurício; FONSECA, Vivian (Orgs.). Memória das Olimpíadas no Brasil: diálogos e olhares. Rio de Janeiro: Fundação de Casa Rui Barbosa, 2017.


sábado, 25 de janeiro de 2020

2020.1 A Casa dos Espíritos/ 2020.2 tempus fugit/ 2020.3 Garrincha e a Flecha Fulniô das Alagoas/ 2020.4 Terra das Mulheres

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Sempre passei perto dos livros de Isabel Allende nas livrarias e deixava para depois. Em novembro, minha companheira perguntou se eu já tinha lido algo dela e comprou "A casa dos espíritos" primeiro e clássico livro da autora chilena. Logo depois, li "Inés de Minha Alma" por causa do Leia Mulheres Maceió.

Apesar do nome, o romance trata da história da família Trueba, percorrendo também a história política do Chile até a ditadura militar, com uma boa representação de como o apoio das elites econômicas da América do Sul para os golpes militares da região gerou surpresa também na classe mais alta, dadas a violência e a perpetuação no poder (ver citação abaixo que poderia muito bem servir para os tempos atuais brasileiros). Ainda que este elemento histórico-político apareça mais para o fim do livro, mantém o perfil histórico presente no outro livro que li da autora.


Além disso, o romance anda por si ao longo dos anos e das personagens femininas que passam por poucas e boas. Na narrativa, há elementos que Esteban Trueba assume, como interessante contraponto ao que é narrado.

Ganhei "Tempus fugit" de uma vizinha, trata-se de um livro de crônicas de Rubem Alves. Apesar de gostar de crônicas, não gostei tanto deste livro, que traz algumas referências externas e elementos religiosos sobre o "tempo que voa".

"Garrincha: a flecha fulniô das Alagoas - mestiçagem, futebol arte, crônicas pioneiras", de Mário Lima, foi um dos poucos livros que comprei na Bienal do Livro de Alagoas do ano passado. Sob edição própria, mas impressão da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, o livro é dividido em partes que podem ser lidas em separado. Do que mais poderia me interessar, me incomodou que o autor assume a discussão da importância da "mestiçagem" para o futebol brasileiro, ainda que com algumas ponderações aqui e acolá.

Vale ressaltar que Garrincha é descendente dos índios fulniô, que fugiram do sertão pernambucano para o alagoano do fim do século XIX para o século XX. Algumas "justificativas" sobre o temperamento de Garrincha foram publicadas devido a isso - o que, em meu ver, pode ser muito complicado.

"Terra das Mulheres", de Charlotte Pergins Gilman, foi o livro discutido em janeiro pelo Leia Mulheres Maceió. O coletivo já havia discutido anos atrás "Papel de Parede Amarelo", da mesma autora, mas com forma de narrativa muito diferente.

Terra das Mulheres foi publicado em 1915 e conta a partir de uma narrador a chegada de três homens a um país isolado que só tem mulheres, com divisão social do trabalho e controle de natalidade. Sem homens há 2 mil anos por conta de eliminações sucessivas por guerras, elas passam a procriar por partenogênese aos 25 anos. Quase sem defeitos, a grande discussão é sobre a hierarquia religiosa a partir da divindade feminina de uma "Grande Mãe" e como a decisão de quem será mãe é feita, tanto no sentido de quem pode parir quanto de quem pode cuidar das crianças após 1 ano de idade.

A comparação com o "nosso" mundo é pesada, ao mesmo tempo que expõe uma das grandes críticas a modelos ideias societários, como o comunista, que é o de como ficariam as individualidades em meio a uma defesa tão forte do desenvolvimento coletivo.

Fica a curiosidade deixada ao final do livro da viagem de uma dessas mulheres aos Estados Unidos do início do século XX, obra publicada em seguida pela autora, mas ainda sem tradução no Brasil.