segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ser palmeirense é ter vivido estes 99 anos

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Na (muita) agonia das muitas atividades dos últimos meses, acordei, tomei banho e já tinha uma camisa qualquer da minha coleção quando lembrei o dia de hoje: 26 de agosto. Tirei a camisa e coloquei a que realmente importa. Lembro que há 6 ou 7 anos, ainda no finado Orkut, surgiu a "Tsunami Verde", que provavelmente hoje teria uma hashtag antes e seria escrita junta. Dia de aniversário da Sociedade Esportiva Palmeiras é dia de sair de casa vestido com o manto.

Pensei muito se escreveria algo este ano, afinal o texto de 2012 foi bem emocionado, como seria todo aquele ano. Realmente sigo acreditando que Não inventaram palavras para descrever o que eu sinto por este clube. Algo que perpassou a minha cabeça o dia inteiro foi que representa uma loucura que me garante a sanidade.

Não estava em São Paulo, impossível, no 26 de agosto de 1914 quando imigrantes italianos resolveram criar o Palestra Itália, nem mesmo quando Bianco marcou o primeiro gol, em janeiro de 1915. Não estive no primeiro título sobre o arquirrival, com mais anos em disputas do Paulista, motivo o qual a relação é tão antagônica. Não vi Romeu Pellicciari ser jogador de futebol, sendo um dos maiores artilheiros da nossa história, mas também de basquete, ser treinador e até juiz, mas li muito sobre. Da mesma forma, não estive na primeira vez que o time, com a bandeira do Brasil, entrou no gramado enquanto Palmeiras, em 1942.

Não vi o título da Copa Rio em 1951 nem mesmo a primeira academia, que em plena década de 1960, com o timaço do Santos comandado por Pelé e o timaço do Botafogo comandado por Garrincha, o Palmeiras recebeu o apelido de "Academia" porque no gramado os jogadores de verde davam aula de futebol. Se não vi um time com Djalma Santos, também não veria Ademir da Guia e toda a sua classe, como também não pude ver a "segunda academia" e o bicampeonato brasileiro em 1972 e 1973.

Não vivi o período do tabu, com direito a perdas de títulos para Guarani (brasileiro) e Inter de Limeira (paulista). Nasci em 1988, em meio a esse período turbulento, que tão logo se seguiu com a hoje tão famosa (e saudosa) "Era Parmalat". 

Vi outro bicampeonato nacional, em 1993 e 1994, zombando da irmã torcedora do rival; enfureci após a cobrança de falta daquele camisa 7 deles em Presidente Prudente em 1995; admirei o "ataque dos 100 gols", virando fã do Djalminha, em 1996; sofri com o duplo empate com o Vasco em 1998, com o último jogo sendo em dia de formatura na escola. 

Comecei a admirar goleiros, primeiro o Velloso. Saí correndo como um louco a deslizar no chão da casa de amigos após o gol de Oséas na Copa do Brasil de 1998; vibrei com a Mercosul quase invicta daquele mesmo ano; e me acalmei tanto com a Libertadores de 1999, com o chute do Zapata para fora que sequer lembro qual foi a minha reação naquele momento.

Até que na mesma semana veio nova partida contra o arquirrival e enquanto os jogadores se digladiavam no Morumbi, eu enfurecia na casa da avó, vendo depois umas bolinhas pelo corpo que indicariam a aquisição de uma catapora. Ainda me irritaria contra Deus e qualquer divindade existente ao ver o meu ídolo Romário fazendo o impossível na Mercosul de 2000. Olha que naquele ano, com um time modesto, ganhamos Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões aqui em Maceió, por mais que não tenha conseguido ir ao Rei Pelé naquele dia. Fora a imagem que todo palmeirense que se preze lembra muito bem. A histórica defesa do Marcos na Libertadores.

Rezei para tudo o que era santo e divindade para viramos o jogo contra o Vitório e chorei como antes da Libertadores por conta do rebaixamento. Comprei camisa antes da hora em 2003 e sofri ao ver o time levar o primeiro gol e ter um jogador expulso, crendo não ter dado azar. E não, o empate sairia do jogador com o número da camisa, única verde, que tinha na loja naquele sábado.

Reclamei muito, como bom palmeirense, em todos os momentos seguintes. Dos quase títulos às campanhas decepcionantes. Ouvindo piadas dos mais diversos gostos, irritado, mas não tanto quanto criança. Vieram mais camisas, um título do Paulista em 2008, e conhecer o grande ser simbólico de uma vida. Fui um dos primeiros torcedores a visitar o já em reforma Estádio Palestra Itália e vi o time, numa das últimas partidas do Marcos, em 2011. Aí veio 2012, este ano muito marcante para a minha vida.

Tremi como nos tempos de criança após o título com gol de Betinho - dificultando a vida de ateus alviverdes - na Copa do Brasil do ano passado e acompanhei, inclusive no estádio, o calvário até a confirmação matemática do rebaixamento. Cheguei a ver um resfriado virar uma gripe, com direito a febre por dois dias após uma das derrotas desta trágica jornada.

2013 veio com toda a incerteza do mundo. Só aos poucos, com muita garra dos jogadores que ficaram e dos que vieram é que renovamos a nossa fé nesta camisa. Por mais que digam que a Série B deve ser fácil para nós, só os palmeirenses sabem o quanto estar nela, de novo, é difícil. Mas ser palmeirense não é, ainda que seja inexplicável.


sábado, 24 de agosto de 2013

Mucho fútbol, mucho fútbol

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Empeza la lectura: "Gustos: Le encanta el fútbol, ..."

Todo lo que vendría después no importaría, no le llevaría bien con alguién así. 

- Mucho fútbol, mucho fútbol.

Pero dice, allí en final, que es generoso, que le gustan las películas. Ver una película, no?

- No, no me gustan los documentários.

Hay también allí que le gustan los animales y también la música.

- Tampoco la música, a mí no me gusta el rock.

Pero el principal era mismo el fútbol. ¡Aún tenía que una de sus aficiones es coleccionar camisetas de equipos de fútbol! ¿Como puede, Dios mío? jajajaja

Y allí fue el modelo ideal...

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

E se em 1934...

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Um evento esportivo para mostrar a superioridade de uma "raça" ou país. Eis uma frase que ainda se repetiria algumas vezes e com os mais variados motivos, mas que deixou na memória histórica mundial demonstrações de que o melhor para todo o mundo sempre seria respeitar o Outro e não preocupar-se em dominá-lo, apesar de até hoje essa lição não ser colocada em prática.

A Copa do Mundo de 1934 talvez tenha sido a primeira tentativa disso. Sob o regime fascista de Benito Mussolini a ideia era que a Itália mostrasse seu poderio em todos os campos, inclusive no futebol. Além de montar um grande time, com direito a cinco estrangeiros, outras coisas de bastidores ocorreram de maneira muito estranha.

Primeiro, o cartaz inicial (ao lado), que fazia referência à saudação feita a Mussolini e teve que ser modificado por ordens da Fifa, que temia uma reação dos demais países. 
Além disso, a desistência da Suécia na disputa para ser sede do segundo Mundial de futebol. A Argentina, vice-campeã da edição anterior, optou por não ir à Copa por não ter sido escolhida como sede.

27 equipes tentaram uma vaga através das eliminatórias, o que mostrou a força do evento. Porém, o atual campeão Uruguai resolveu não disputar a Copa para se vingar dos europeus, que não foram, em sua maioria, à edição anterior. Foi a única vez que um campeão não defendeu seu título. Já o continente africano estreou com a presença do Egito.

O Brasil mais uma vez sofreu, ainda sob embate de profissionais e amadores. Enquanto o amadorismo seguia como opção da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Rio e São Paulo já haviam aceitado a profissionalização e criado a Federação Brasileira de Futebol - Vargas também tinha colocado no bolo das leis trabalhistas o reconhecimento do jogador profisisonal. Os defensores do profissionalismo da FBF chegaram a isolar jogadores para não serem chamados para Copa que, do Estado, só contou com atletas do São Paulo da Floresta.

Como resultado disso tivemos o pior resultado na história das Copas: um jogo, uma derrota. E o estranho fato de ter um técnico que não poderia exercer seu papel em campo porque também era árbitro do torneio.

>> E se em 1934...

Com dezesseis seleções escolhidas, a Fifa mudou o regulamento do Mundial e todo jogo era decisivo, num sistema de mata-mata: oitavas-de-final, quartas-de-final, semifinais e final. Em todas as partidas estava na arquibancada "Il Duci" (o comandante), com o mito ao longo do tempo sugerindo, inclusive, que ele distribuía sósias para garantir sua "omnipresença".

O Brasil enfrentou a Espanha nas oitavas-de-final. Com gols de Irragori (pênalti) e dois de Lángara, o selecionado espanhol nos venceu por 3 a 1. O único gol brasileiro foi marcado por Leônidas da Silva. O "Diamante Negro" viria a se destacar quatro anos depois e é reconhecido como "inventor" da jogada de bicicleta.

Outros destaques daquela delegação foram o goleiro Roberto Gomes Pedrosa, que se tornaria presidente da Federação Paulista de Futebol e daria o nome a um torneio nacional pré-Brasileirão; e o atacante Waldemar de Brito, o responsável por levar Pelé ao Santos.

Brasil à parte, a seleção italiana teria que vencer a Copa do Mundo, ninguém sabia o que poderia ocorrer caso viesse um resultado negativo. Os especialistas dizem que era o melhor time de 1934, com destaque para o atacante Giuseppe Meazza, que fez 38 gols em 53 jogos com a camisa da seleção e se tornou um dos maiores ídolos da Internazionale de Milão, sendo agraciado com o nome no estádio em que o time joga (San Siro para os milanistas).

Além dele, a Itália convocou cinco descendentes de italianos que nasceram, e alguns até jogaram, em outros países. Foram eles: o brasileiro Filó, jogador do Corinthians; e os argentinos Guatia, DeMaria, Orsi e Monti, este último que jogara o mundial quatro anos antes.

Nas oitavas-de-final uma vitória fácil sobre os Estados Unidos por 7 a 1 garantiu a classificação para enfrentar os algozes do Brasil.

Num jogo duro pelas quartas-de-final, o goleiro espanhol Zamora - consagrado como um dos maiores do mundo - defendeu muito. O placar acabou no um a um, com a Espanha fazendo o primeiro, através de Reueiro, e os donos da casa empatando ainda no primeiro tempo, com Ferrari. Como o empate prosseguiu na prorrogação e não existia disputa de pênaltis, a partida iria para um jogo extra no dia seguinte.

Sem Zamora, que saiu machucado da partida anterior, a Itália conseguiu a classificação nas semifinais com um gol de Meazza aos 11 minutos da partida desempate. Tanto o árbitro belga da primeira partida, Luís Baet, quanto o árbitro suíço da segunda, René Mercet, seriam expulsos dos seus respectivos países por supostamente facilitarem a vida da turma de Mussolini.

A semifinal foi contra o "Wunderteam" (time-maravilha) dos especialistas, a Áustria, que até hoje guarda o recorde de ver seu goleiro defender dois pênaltis em Copas durante o tempo normal das partidas. Num San Siro com aproximadamente 60 mil pessoas, Guaita marcou aos 19 minutos do primeiro tempo o gol da vitória.

Na final, a Squadra Azzurra enfrentaria a Checoslováquia, que passara pela Alemanha (nazista) nas semifinais por 3 a 1. Uma final entre as seleções de países comandados por Hitler e Mussolini poderia ser uma representação histórica e cruel daquele tempo.

Mais uma vez com a arbitragem do sueco Ivan Eklind, a partida foi emocionante para a torcida da casa. O jogo foi no Stadio Nazional PNF (iniciais de Partido Nacional Fascista,) e teve um público menor que o da 
semifinal, cerca de 45 mil pessoas.

Num jogo com chances de gol desperdiçadas dos dois lados, apenas aos 31 minutos do segundo tempo é que a bola estufou as redes.

Puc fez o gol tchecoeslovaco, que calou a torcida italiana, que ficou na espera de uma reação do time, que já tinha conseguido empatar contra a Espanha.

Minuto a minuto e a bola teimava em não entrar. Aos 36, numa das blitz italiana na área rival, a bola sobrou para Orsi encher o pé. Porém, a bola, caprichosamente, raspou a trave e irritou "Il Duci" que via tudo das arquibancadas.

Depois dos 40 minutos até o árbitro sueco torcia, e influenciava, para que o donos da casa ao menos empatassem e que a partida seguisse para a prorrogação. O técnico tchecoeslovaco coçava a cabeça preocupado com a pressão italiana e com o que poderia acontecer com ele e seus atletas caso o resultado prosseguisse. Afinal, Mussollini criara até outro troféu (Copa Del Ducce) para agraciar os melhores do mundo, com a certeza que o título seria dado pelos seus compatriotas.

E Ivan Eklind adiava o final do jogo. Quando o relógio já apontava a marca de 50 minutos, foi a vez de Schiavo perder uma grande oportunidade.

Aos 52 minutos, como não dava mais para continuar a partida além disso, o árbitro sueco se aproximou da saída de campo, apitou e correu, acompanhado pelos jogadores da Checoslováquia, que não se preocuparam sequer em pegar os seus materiais no banco. Mais uma prova que o esporte pode detonar ideias de superioridade de "povos" ou "raças".

* A Copa do Mundo foi entregue pela Fifa, quando ela conseguiu pegá-la, seis meses depois da final em Praga. O governo de Mussolini puniu alguns atletas, mas o povo italiano passou a ver com "outros olhos" o fascismo.


* Relembrando, caso apareça algum desavisado: os textos da série E Se... não tem nenhuma intenção de se tornar referência histórica, ou seja, não adianta comentar, como fizeram no outro espaço, que eu estava errado. Eu não só sei disso, como afirmo que a intenção é esta. Sejamos criativos, amig@s! Como dizia no primeiro texto, a coluna E se... não chegou para mudar a história do futebol, mas para contar o seu principal evento de uma forma diferente. Leia as duas edições anteriores: http://terrainteressados.blogspot.com.br/search/label/Se.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Coleção - Camisa Nº 5

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De volta a Maceió em 2000, dentre os colegas da nova escola havia um que morava bem perto da casa da minha avó materna, perto do Rei Pelé. Lembro que logo na primeira semana de aulas, ele tinha comentado que morava perto do Trapichão. Eu, ainda sem saber do apelido do estádio, disse que minha avó morava no Trapiche...

Enfim, sempre íamos juntos ao ponto e às vezes pegávamos o mesmo ônibus. Depois descobri que a mãe dele tinha trabalhado com a minha madrinha. Fato é que em 2000 ele me convidou para a comemoração do aniversário dele. Pedi aos meus pais para comprarem um presente, como ele era torcedor dos futuros mandantes do Itaquerão, compraram uma camisa do arquirrival. Ainda bem que eles aproveitaram e compraram uma réplica (bem pirata) da camisa de treino do Palmeiras. 

O interessante nesta é que em 2000 ganhamos o Torneio Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões, esta aqui em Maceió. Além disso, foi a última temporada com a Parmalat, que já neste ano era apenas patrocinadora, não mais parceira, e Felipão em setembro daquele ano já tinha juntado as malas rumo ao Cruzeiro, mas não sem antes classificar o time para uma nova final da Libertadores - aquela da HISTÓRICA defesa do pênalti pelo Marcos do então ídolo deles na semifinal.

Ah, no dia do aniversário haveria um jogo do Brasil contra a Bolívia pelas Eliminatórias da Copa. Fiquei agoniado porque era na mesma hora da comemoração do aniversário e, honestamente, até pensei em ir depois do jogo. "Sério demais" como marca registrada, acabei indo no horário certo, ele gostou da camisa, mas não é que faltou energia pouco tempo depois do jogo começar?

Quando ela voltou a fatura já estava quase liquidada. Sob comando do profexô Luxemburgo, o Brasil vencera a Bolívia por 5 a 0 no Maracanã, com um show do já veterano (e meu ídolo) Romário, que marcou 3 gols, dos quais provavelmente só tenha conseguido ver um.

Camisa 5
Sociedade Esportiva Palmeiras
Réplica - Treino
2000
Adquirida em Maceió-AL
Valor: R$ 10,00

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Uma vida sem histórias

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No banco mais alto, com uma trança, procurando o que olhar.

O banco mais alto do corredor sem ninguém. Olhada rápida. Senta-se, pega o livro e começa a ler, ainda que prestando a atenção ao lado.

Mexe na bolsa, tira um pacote de biscoitos. Antes de abri-lo, as alças da bolsa caem e resvalam ao lado. Um toque sem querer e um olhar rápido sobre o livro e sobre os olhos que liam o livro. Agonia.

Biscoitos rapidamente comidos. Horário de almoço. Pacote jogado pela janela como se ninguém tivesse visto. Mas os olhos que estavam no livro seguiam com a atenção redobrada e viram. 

Nova olhada para o lado e os olhos alheios seguiam no livro. Restou mexer no celular, o que desvia rapidamente os olhares do outro. Rápida troca de olhares e eles voltam cada um para o seu objeto, o celular, que voltaria para dentro da bolsa, e para o livro.

Nenhuma palavra. Nem mesmo na hora de descer. E lá se foram os olhos agoniados, a trança na cabeça, a camiseta preta.

Os olhos sobre o livro indicavam uma frase de outro autor: "Vida sem histórias não vale a pena ser vivida".

sábado, 17 de agosto de 2013

"Eu sabia que tinha que ter ficado em casa"

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As perguntas sobre o time que eu torço sempre aparecem e já contei algumas delas por aqui. Esta semana foi a vez de não deixar dúvida alguma: às vezes uma camisa é só uma camisa, mas em (pouquíssimas) outras vezes ela é mais do que parte de uma coleção, é uma representação em tecido de um sentimento inexplicável.

Saindo com o meu cachorro na terça-feira, acabei encontrando com um colega jornalista que mora a duas ou três ruas da minha. Outro dia, só que à noite, eu estava com a camisa do Fluminense e ele me perguntou se eu torcia pelo tricolor carioca, quando disse que não, que ela fazia parte da minha coleção. Desta vez eu estava com a do Palmeiras, um modelo que tenta simbolizar a bandeira da Itália. Enquanto o Baleia me puxava, o diálogo foi diferente:

- Com camisa de time. Mas você torce por algum?

- Torço para o Palmeiras - disse eu, apontando para o escudo no peito. Inclusive, essa aqui tem o meu nome, para não deixar dúvidas - e apontei para a barra da camisa.


CÚMPLICES
Hoje acabei tendo conflito de agendas clubísticas. Ainda que muito cansado - ou até por conta disso - fui para o jogo de despedida do CSA na Série D, só que este começava às 17h e o Palmeiras enfrentava o Paysandu a partir das 16h20. Como já tinha ingresso comprado há algum tempo, fui, mas mantendo o "ritual" desta Série B: vestido com uma camisa do Verdão.

Como levo o smartphone para escutar o jogo, acabo tendo só opção de rádio FM e desta vez nem a partida local seria narrada pela única rádio que tem transmissão esportiva em frequência modulada. Na CBN, nada também, já que o sinal sai do Rio de Janeiro, que só transmitiria as partidas da Série A.

Eu sei que em frente ao Rei Pelé - muro da Veleiro - há um bar que assina TV fechada e sempre tem jogo ali. Atravessei a rua para conferir o placar, ao mesmo tempo que um rapaz numa moto estacionava. O amigo dele informou antes de eu conseguir conferir o placar: "O Palmeiras já tá perdendo". Olhei para tirar a dúvida e ainda deu tempo para ver, aos 16 minutos, Juninho chutar com perigo.

A vantagem de então em pontos não me preocupava. Não pretendo contar (ao menos agora) sobre o jogo do CSA, mas a minha agonia em não ter informações sobre o jogo do Palmeiras. Ah, por algum motivo inexplicável, o chip que uso não consegue conectar a internet por pacote de dados no smartphone.

Intervalo do jogo aqui e a desgraça do serviço de som do Rei Pelé anuncia os placares da Série B. Para começar, derrota da Chapecoense para o Paraná por 2 a 0. Bom, pensei eu, basta um empate que já abrimos mais um e tiramos a diferença do aproveitamento por conta dos jogos a menos deles. Só que ao final até que o Palmeiras foi anunciado com 1, mas o Paysandu tinha 2. Olhei a hora e percebi que o jogo no Pacaembu já deveria estar no fim.

Minutos depois, do nada, uma gritaria. Como quase sempre, todo mundo olha para saber se a polícia estava fazendo o que sabe fazer de melhor: batendo em algum torcedor "como se não houvesse amanhã". Só que não era nada disso. Houve alguém comentar que o Palmeiras tinha empatado, mas queria uma informação "oficial". Como estava perto da hora de começar os jogos da Série A, liguei na CBN, mas só falavam dos quatro do Rio de Janeiro.

Até que, em meio à minha agonia, uma mulher que vendia copos d'água parou um pouco abaixo e perguntou quanto estava o jogo.

- Estava 2 a 1 para o Paysandu, mas não tenho certeza.

- 2 a 1 para o Paysandu? Eu sabia que tinha que ter ficado em casa hoje. Se tivesse lá, não tava perdendo. E a Chapecoense? - mostrando-se entendida no assunto.

- Estava perdendo de 2 a 0 para o Paraná.

- Ainda bem. Se a gente empata, coloca 6 pontos neles.

Um senhor tentou entrar na conversa, mas ficou surpreso pelo fato da Chapecoense estar próxima, ao que ela respondeu:

- A Chapecoense é um time bom, só não está melhor que o Palmeiras, mas tá ali perto.

Eu expliquei que o time catarinense estava com 2 jogos a menos e que tinha virado contra o Sport em plena Ilha do Retiro em rodadas anteriores, enquanto o Palmeiras perdeu - vá lá que com uma IMENSA ajuda da arbitragem.

Até que um dos meninos que estava ao meu lado me confirmou, finalmente!, que o Palmeiras tinha empatado. Passei a informação para a ambulante e ela vibrou. Saindo logo em seguida para continuar a vender seus copos d'água.

Minutos depois da conversa, ouvi outro grito alheio no meio da torcida. Logo pensei: "Viramos!". Mas e a confirmação? A desgraça do serviço de áudio do estádio não falou mais nada depois do intervalo. Quer dizer, durante o jogo só tratou de anunciar o hino nacional e os resultados da Série B, quando estávamos perdendo.

Segui sofrendo com o CSA ao vivo e esperando os maledettos da CBN fazerem o plantão. Demorou, discutiram a situação dos 4 grandes na rodada, se o Fluminense só fugiria do rebaixamento, se a patrocinadora ia abandonar o barco, se o comentarista era pessimista, se, se, se... 

Até que a moça falou sobre todos os jogos da rodada. Empates ali, com mais uma buscada no final da Chapecoense, 2 a 2 com o Paraná, mas e o Palmeiras? Palmeiras 3, Paysandu 2. Uma comemoração contida.

Final de jogo no Rei Pelé e enquanto esperava sentado todo mundo sair, um rapaz com um rádio ao ouvido parou mais abaixo e disse:

- Grande vitória a de hoje, hein? Que virada!

Eu sem saber direito como tinha sido, confirmei com a cabeça como se estivesse ciente de todo o sacrifício de levar dois gols em casa e virar com gol aos 49 minutos! A comemoração pra valer ficou para casa, quando revi os melhores momentos do jogo, sofri junto como se não soubesse do placar final. Seguimos líderes da Série B, com mais dificuldade do que alardeiam por aí, e espero que demore um pouco para que me perguntem novamente para que time eu torço.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sobre os direitos de transmissão do futebol em Portugal

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A maioria dos campeonatos nacionais europeus tem a temporada 2013-2014 iniciando em agosto. No dia 16, começa o Campeonato Português, que já apresenta polêmicas em termos de exclusividade na transmissão de seus jogos na TV fechada. Ao menos até agora, a primeira divisão portuguesa só pode ser assistida em TV fechada. Os canais públicos RTP África e RTP Internacional, como já fizeram no ano passado, retransmitirão o torneio para outros países. Por conta disso, centenas de torcedores se queixaram à Associação de Telespectadores (ATV) e à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) por não poderem ver em Portugal as transmissões do torneio pela RTP.

O presidente da ATV, Rui Teixeira da Mota, afirmou que seria uma “obrigação do serviço público” transmitir “um evento que empolga o país”. Entretanto, o presidente da RTP, Alberto da Ponte disse não haver abertura por parte dos detentores dos direitos a vontade de negociar com a TV aberta. O pagamento de recursos públicos para a transmissão de torneios de futebol também não é unanimidade em Portugal, principalmente por conta de um momento de forte crise econômica com graves reflexos sobre o mercado publicitário e na comunicação pública do país, que já causou o fim do RTPN, de notícias, em 2011. Por um lado, diminui os concorrentes no mercado; de outro, diminuía os gastos do governo.

Sobre a transmissão de torneios nacionais de futebol a partir de TV públicas, houve algumas discussões sobre o assunto este ano no Brasil, por conta da transmissão da Série C por parte da TV Brasil (ver, nesteObservatório, “A volta do futebol à rede pública de TV“). Ainda assim, como o tema comunicação no Brasil, muito aquém do que deveria ser publicizado para um debate amplo e irrestrito.

Venda em blocos
Se no caso português não há espaço por conta dos detentores dos direitos, que optam ficar na TV fechada, cobrando pela assinatura do canal de esportes, ainda em julho deste ano, o Tribunal de Justiça da União Europeia deu ao Reino Unido e à Bélgica o direito de exigir a transmissão de importantes jogos internacionais de futebol, caso da Copa do Mundo Fifa, em TV aberta, proibindo a negociação exclusiva por serviço de acesso condicionado. Algo que já gerou indignação das federações europeias e internacional, Uefa e Fifa, que consideraram que tal decisão distorceria o mercado livre neste tipo de negociação, diminuindo a capacidade de se gerar receita para os clubes e demais projetos sociais desenvolvidos.

Recorda-se que se trata do reflexo de um processo que o futebol também sofreu, enquanto produto midiático: a abertura dos mercados comunicacionais europeus a partir das práticas neoliberais da década de 1980. Se no início não aparecia ser financeiramente interessante transmitir os jogos, a reorganização dos torneios nacionais europeus em ligas – e certa elitização do público presente em algumas delas, caso da Inglaterra – alçaram o futebol a um novo patamar financeiro, sendo bastante disputado pelas emissoras de televisão. Também é na década de 1990 que a Uefa Champions League ganha o formato atual, com uma fase de grupos antecedendo as fases eliminatórias, com cada vez mais clubes em disputa.

A partir disso, os órgãos reguladores das relações concorrenciais acabam sendo chamados para decidir sobre esta nova situação. Dependendo do país, há sugestões para que os pacotes de transmissão sejam vendidos por mídia, ou em blocos – um mais atrativo que o outro – etc., mas sempre considerando a liberdade dos clubes de venderem de acordo com os seus interesses. Assim, se a Liga dos Campeões da Europa tem sua venda dividida em dois blocos – o que faz Globo e Esporte Interativo terem um dia cada de transmissão por rodada aqui no Brasil –, Portugal tinha sua transmissão centralizada, mas que deve mudar nesta temporada.

Campeonatos de outros países
A Sport TV, cuja assinatura custa 29,90 euros mensais (cerca de R$ 85), seguirá transmitindo as partidas da primeira e da segunda divisões portuguesas, para além de outros torneios europeus, sul-americanos e nacionais. Porém, está impedida de transmitir os jogos em que o Benfica, um dos três grandes do país, jogar no Estádio da Luz, onde manda suas partidas.

É que a TV do clube adquiriu com exclusividade os jogos realizados por este como mandante. Assim, qualquer torcedor do país que queira ver a partida de seu clube contra o Benfica terá que pagar 9,90 euros pela assinatura mensal do canal. O mesmo vale para o benfiquista, que apesar de ter de pagar pelo canal do clube, que antes constava no cardápio das operadoras de TV fechada, pode dispender menos dinheiro que o fazia com a Sport TV. Por conta disso, o principal canal esportivo fechado de Portugal criou uma versão mais barata, também a 9,90 euros por mês, com transmissão de uma partida da rodada das duas primeiras divisões portuguesas.

A Benfica TV também transmitirá os jogos do Benfica B e os do Farense na segunda divisão, com negociações em andamento com clubes da primeira divisão. Além de contar com os direitos de transmissão dos campeonatos grego, inglês, estadunidense e brasileiro.

Negociação coletiva
Para esta ação inédita no futebol mundial, que já teria rendido quase 1 milhão de euros por mês (números do clube até julho), o canal foi reestruturado, com a contratação de novos nomes para a equipe de transmissão e a melhoria nos estúdios para os programas e as exibições dos jogos.

Para refletir no impacto desta decisão, basta imaginar que o Corinthians, que chegou a ter uma TV própria recentemente e recebeu proposta de R$ 100 milhões por temporada em 2011 para exibição de suas partidas como mandante no Brasileirão, resolvesse transmitir as suas partidas na sua TV e gerar renda própria a partir disso, quebrando com os esquemas informativos e de transmissão do principal mercado nacional, São Paulo, por se tratar do clube de maior torcida do Estado. Algo inimaginável no Brasil, dadas as relações estabelecidas com a Rede Globo de Televisão – capaz de implodir a União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro (Clube dos 13), como ocorreu em 2011 após a ação do órgão pró-concorrência no Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Ainda que a decisão da Benfica TV possa trazer debates sobre como se dará a edição das partidas, com relação à repetição dos lances duvidosos, e ainda mais dúvidas sobre como pode ser entendida a relação dos clubes que jogarem com o Benfica na primeira divisão – em caso de assinarem contrato com a TV do rival, dependendo financeiramente deste –, é um avanço para garantir a real liberdade de negociação dos clubes. Mesmo que se trate de um conteúdo que a negociação coletiva seria melhor para manter maior igualdade na transmissão dos recursos do broadcasting e, consequentemente, maior concorrência no campeonato, o que pode atrair mais público.
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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

domingo, 11 de agosto de 2013

Porque "os da periferia não têm compaixão"

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Como contei da última vez que escrevi sobre um filme, estou tendo problemas para conseguir vê-los, mesmo com várias alternativas e sugestões, algumas reiteradas a cada conversa sobre cinema. Depois de quase um mês, recebi como "dever de casa" da primeira aula de Francês ver Intouchables (Olivier Nakache/Éric Toledano, FRA, 2011). Claro que não para entender o que falam, mas para acostumar com o ritmo e com a língua, a qual não temos tanto contato quanto o inglês, principalmente, no cotidiano.

Primeiro, não devemos confundir Intouchables com o estadunidense The Untouchables (Brian de Palma, EUA, 1987). Em "Intocáveis", a trama é baseada em fatos reais, contando a história de um multimilionário tetraplégico e seu auxiliar de enfermagem. Duas histórias e vidas bem diferentes, que possuem em comum o fato de nenhum dos dois gostar de recuar em decisões e/ou premissas de vida.

Tinha lido a sinopse quando foi para os cinemas que frequentei em Porto Alegre, acho que no final de 2012 ou em 2013, mas optei por ver outras coisas. Como confirmei ao ver o filme, se algo me atraía a vê-lo, havia detalhes que me afastava por conta de certo sinal de lugar-comum, talvez porque os acontecimentos terem sido baseados em fatos reais. Esta foi a hora de vê-lo.
O FILME
Philippe (François Cluzet) só pode mexer a cabeça, por conta de um acidente de parapente num dia de tempestade, para tentar sentir a dor da então esposa. Já Driss (Omar Sy), é senegalês e vive no subúrbio de Paris - como tantos africanos ou descendentes destes, que Sarkozy tanto quis expulsar ao final de seu mandato -, e passou os 6 meses anteriores na prisão.

O filme começa com a polícia perseguindo o carro esportivo em que os dois estão, fazendo com que inventem uma história para os policiais, que acabam por escoltá-los para uma emergência. Na verdade, isso é o prólogo, o longa começa a partir daí.

Driss está entre os candidatos a auxiliar de Philippe, mas não quer o emprego, apenas a assinatura para que, junto a outras duas, possa receber o benefício de desemprego da Previdência Social francesa, algo que o governo brasileiro passou a exigir recentemente - só não sei se na mesma quantidade. Ele passa à frente do candidato a ser entrevistado, por estar esperando por duas horas, e não mostra nenhuma vontade do trabalho, só tem interesse na assinatura e na linda ruiva que ajuda na seleção, Magalie (Audrey Fleurot).

No jeito de vestir, na forma de se colocar, Driss deixa claro que não tem interesse algum por ali, ao contrário dos seus concorrentes, que dão as respostas mais comuns - tentando velar o preconceito com o deficiente físico, mas refletindo num dos candidatos, que é pesquisador, a dificuldade do momento em se conseguir empregos. O curioso na relação inicial é a exposição da diferença entre formações culturais, com o rico sendo mais clássico e o pobre mais pop. Quando falam em Berlioz, Philippe trata do compositor erudito; Driss, do local de Paris. Quando questionado, Driss afirma conhecer o compositor, mas que Philippe não tinha nem conhecimento sobre música tampouco sobre os locais da cidade.

Voltando no dia seguinte, Yvonne (Anne Le Ny), governanta da casa, vai apresentando-o cada cômodo do lugar, mesmo que ele tenha ido lá por conta da assinatura que comprovasse que ele tentou arranjar um emprego. E isso sem dormir de um dia para o outro por ter sido expulso da casa da mãe (que, na verdade, é tia). Noite que também não havia sido dormida por Philippe. Driss só se convence de que aquilo poderia ser uma boa ao ver o imenso quarto que tinha e, especialmente, a banheira só para ele - após ter disputado o pequeno espaço com os "irmãos" menores no dia anterior.


Ri muito nos minutos iniciais do filme. Vemos um humor nada suave, mas que não busca a ridicularização pura de besteiróis cômicos. A diferença entre o auxiliar e o seu cliente são muito grandes e demonstradas não só com as diferentes formas de valorar um quadro ou uma música, mas também a diferentes maneiras de se viver e entender as pessoas que estão em volta de ambos.

Destaco o susto representado na foto acima ao saber que seria gasto tantos milhares de euros com "sangue espirrado na tela", além do merchandising para a empresa de chocolates, ainda que não pronunciada nas falas originais. As formas contemporâneas de valorar a arte, muito com especulação, acaba sendo uma crítica sutil que aparece no longa, com direito a quadro de um estreante sendo vendido a 11 mil euros porque "daqui a um ano valerá o dobro e você dirá 'Eu avisei'".

As pessoas que trabalham com Philippe se impressionam negativamente com o novo empregado da casa, um amigo chega a informar a ele que se trata de um ex-presidiário e que deveria demiti-lo porque "os da periferia não têm compaixão". Ao que o milionário responde que é por isso mesmo que contratou Driss. O preconceito que divide a sociedade francesa sendo exposto de forma efetiva, com o "cuidado com essa gente".

A filha adotada do chefe, Elisa (Alba Gaïa Kraghede Bellugi), acha que pode tratá-lo como escravo, algo que não permite que ocorra, avisando ao pai dela que se continuar assim vai ter que ser, na prática, as mãos dele, forçando que resolva o caso nem que seja "passando com a cadeira de rodas por cima dela". Depois, Driss acaba ajudando a menina com um ex-namorado.

Em meio aos problemas com um dos irmãos, que vai ser essencial para o desfecho do filme, Philippe terá outra surpresa nada agradável ao saber quem fazia companhia a Magalie, tendo uma reação muito comum à situação apresentada. Os momentos entre os dois garantem outras risadas durante o filme.

Ah, sobre o desfecho, não tratando exatamente dele (um spoiler de potência menor, mas pode pular esta parte se quiser), apresenta-se as diferenças entre as classes francesas mesmo para um caso de relação de trabalho entre amigos, para além de chefe e empregado. O problema não esmorece por conta de um filme que em outros lugares teria um final totalmente feliz.

Das inquietudes iniciais, passamos a ver ambos se transformando pela relação de amizade e preocupação mútua constituída. É claro que aparenta ser para Philippe mais importante que para Driss, mas há um tipo de cena que marca a "evolução" da personagem, trata-se das diferentes formas que ele "pede" para não estacionarem em frente à casa por conta da placa.

Ao mesmo tempo, e o decorrer do filme vai mostrar isso, os dois seguirão intocáveis à sua forma, especialmente o milionário. Há detalhes na vida dele que são responsáveis não só pelas marcas físicas, que não o deixam sequer cometer suicídio, como fala no início, mas principalmente emocionais, a ponto de se comunicar por seis meses apenas por cartas com Eleonora, a quem só irá conhecer pessoalmente após nova e derradeira intervenção de Driss.


A dobradinha entre François Cluzet, demarcando muito bem os problemas físicos do personagem - imaginem o que deve ter sido gravar só podendo mexer o pescoço! -, e Omar Sy é muito boa, essencial para transpor a relação que deve ter ocorrido na realidade entre Philippe Pozzo di Borgo e Abdell Sallan.

Passeio às 4h da manhã, fumar maconha, contratar prostitutas para massagear o ponto erótico que ainda possui (as orelhas), namorar, voar de avião e de parapente. Não ter compaixão significava tratar com menos diferença possível e Driss faz isso muito bem e de forma até que escancarada, passando pelas questões físicas sem nenhum pudor - como dançar no aniversário do amigo - e expondo as diferenças culturais que, neste sentido, acabam sendo o grande diferencial na sua mudança.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ônibus, estes geradores de crônicas (e posts no Facebook)

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"Observem estas pessoas que consultam os relógios e verificam pela décima vez a tabela de horário. Ônibus atrasado. Não é possível, este país não anda, precisamos reclamar na BVG, a companhia. O ônibus chega, vou olhar, está dois minutos atrasado".

Provavelmente, quando passei os olhos neste parágrafo de O verde que violentou o muro - livro em que Ignácio de Loyola Brandão conta a sua experiência de viver numa Berlim com um muro que gerou a ilha consumista/capitalista dentro da RDA - não imaginava o que estaria por vir.

Por conta do cancelamento do compromisso das quartas-feiras, tive que dar a volta com o ônibus, o que acabou caindo justamente no horário de pico. Este não importa se é aqui em Maceió, nos trens lá do Rio Grande do Sul ou em São Paulo. Se quem usa transporte próprio reclama de engarrafamento é porque não sabe, ou não se lembra, como é ter de ser levado pela multidão dentro de um ônibus, quando se consegue entrar!

Uma, duas, três paradas próximas ao principal shopping da cidade e lá se foi o vazio daquele transporte público. Quem conseguiu subir com espaços para sentar reclama que esperava há uma, duas, duas horas e meia e nada do "desgraçado" passar. "Não adiantou nem eu sair mais cedo", reclamava uma.

Sabe-se lá o porquê, mas o ônibus era daqueles que não se pode abrir as janelas da metade de cima. As de baixo, mesmo com o vento frio de inverno nordestino, tiveram que ser abertas para ver se algum ar circulava em meio a tange gente.

O ônibus seguia assim, super lotado, até que num dos pontos o motorista resolveu que cabia mais, as sete a dez pessoas que aguardavam, provavelmente também por muito tempo, a vinda de sua locomoção. Um reclamando aqui, outra acolá e começou a bagunça. Foi um tal de "não tá carregando a sua mãe, não, motorista". Outro de xingar o máximo possível. Sobrou até para o cobrador e seu bigode.

O tempo passando e nada do motorista seguir adiante. Mais reclamações. "Motorista, tem gente que ainda tem que fazer o café!". "Se encher mais esse ônibus vira!". E nessa as reclamações ganharam mais fôlego. Ainda mais pessoas reclamavam. 

Havia os que brincavam também. Pessoas pedindo para parar na próxima padaria para que todo mundo tomasse café, afirmando que cabiam ainda umas 30 pessoas lá para trás, que havia cadeiras vazias,... Depois de algum tempo, e desistência dos que estavam no ponto, ele seguiu.

Pela manhã, estive num ônibus em que uma senhora afirmava que tinha até parado na delegacia por exigir que o motorista andasse mais rápido, enquanto reclamava que o daquele dia estava bem lento - afinal, por que parar quando o semáforo para né? À noite, muita gente clamava o contrário, para que ele andasse devagar.

Num ponto depois, não adiantou pedirem para o motorista parar. Ele passou direto e alguém zombou dele, dizendo que deveria parar. No seguinte, ele parou porque desceriam. Mas antes, balançou um pouco o automóvel para lá e para cá. O "uoooouuuuu" coletivo foi seguido de mais xingamentos e pessoas falando que o ônibus viraria daquele jeito.

O medo se propagando e na parada seguinte houve quem descesse, suad@, cansad@ por ter de se equilibrar até mesmo em apenas um dos pés, pois para o outro não havia espaço.

Depois da maioria ter descido, um garoto disse que postaria no grupo do Facebook, recebendo incentivos de uma senhora, para que "colocasse mesmo", e de outro rapaz para que postasse no mural dele.

Eu, que pretendia escrever uma crônica sobre as mazelas de quem anda de ônibus, perdi a vontade urgente. Se andar em transporte público por aqui gera várias crônicas, também gera vários posts nas mídias sociais.

domingo, 4 de agosto de 2013

[Por Trás do Gol] "Esse jogo de hoje é valendo?"

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jogo do Centro Sportivo Alagoano na Série D do Campeonato Brasileiro, time eliminado - apesar da matemática deixar em aberto uma hipótese remota. Nas 5 partidas anteriores, 5 derrotas e nenhum gol marcado. Time desmontado após a 3ª derrota, com jogadores sendo mandados embora e alguns voltando. Técnico "caseiro" para um time da casa. A pior campanha das quatro divisões nacionais.

Ontem, meu pai me perguntou se eu iria para o jogo do CSA contra o Juazeirense neste domingo. Claro que iria, com ingressos comprados antecipadamente, não deixaria passar mais uma chance de visitar o Estádio Rei Pelé. Tudo bem que a minha relação com o maior campeão de Alagoas não é "inexplicável" como a do Palmeiras, mas já fui a jogos de duas edições de Segunda Divisão estadual, jogo de volta quase irrecuperável em Nacional...

Fui a alguns jogos em São Leopoldo com a camisa do CSA, para ver o Aimoré, também azul e branco. Desta vez, resolvi fazer o inverso, indo com a camisa aimoresista, até mesmo para tentar trazer um pouco dos bons fluidos capilés, de um time que saiu da 3ª Divisão para a 1ª em dois anos.

Diferente de outros dias, a movimentação em direção ao Rei Pelé era mínima. Em meio a quadradinhos de oito e músicas bregas tocando em alto volume e sendo dançados na periferia maceioense, poderia se dizer que não haveria partida, ainda mais se tratando do time da então melhor média de público entre os alagoanos em 2013.

No meio do caminho, mesmo eu estando com fones de ouvido, uma moça, vestida de vermelho, parou-me para perguntar o seguinte:

- Ô, moço, e esse jogo de hoje é valendo?

- É, mas o CSA está quase eliminado.

Ela me agradeceu e eu segui adiante.


Chegando ao Rei Pelé, pouquíssimas pessoas no bar em frente ao estádio - para ver as partidas da primeira divisão antes do jogo -; menos pessoas circulando no lado da Av. Siqueira Campos, a ponto de os taxistas seguirem o seu jogo de pôquer em frente a uma das bilheterias; além de não ter ninguém vendendo bandeiras ao lado do Hospital Geral do Estado.

Com a tranquilidade de um péssimo momento, foi mais fácil identificar crianças e mulheres em maior proporção que o normal. Nem mesmo a torcida organizada compareceu, deixando um espaço vazio nas grandes arquibancadas e um silêncio maior que o normal, mesmo para a pressão que deveria ser feita.

Iniciado o jogo, o CSA começou com a pressão possível dado o desentrosamento do grupo, sofrendo com muitas falhas individuais, que geravam sustos nos corajosos torcedores. Ainda assim, Wilson teve duas chances de abrir o marcador, ao receber na frente do gol após erros de posicionamento defensivo dos marcadores baianos, que tentavam fazer linha de impedimento. Em ambas, erros do atacante, que passou a sofrer reclamações de quem estava presente.

Das grandes arquibancadas, um grupo de mulheres tentava, em vão, puxar alguns gritos. No mais, muita reclamação, desorganizada, com os erros dos jogadores e vaias ao final do primeiro tempo. Ao meu lado, algumas pessoas perderam a paciência e saíram. Um senhor, ainda aos 13 minutos, reclamando que tinha perdido os 5 reais dele.

VALEU O ALÍVIO
Veio o segundo tempo e Lino colocou Cassiano no lugar de Alves na lateral direita. De uma hora para outra, um grupo de torcedores resolveu assumir o lugar da organizada e começou a gritar os cânticos tradicionais dela - como o que xinga a do arquirrival. na euforia, conseguiram juntar cerca de 30 pessoas.

Mas se as coisas já estavam difíceis para o time, pioraram com os erros do árbitro da partida. Um deles foi crucial. Aos 13 minutos, o jogador do Juazeirense acertou um carrinho num dos meias do CSA e nada foi marcado. O lateral Thoni pegou a bola e a levou até a entrada da área azulina, arriscando um chute que foi preciso no ângulo.

Eu, que já estava em pé desde o intervalo, segui assim, mas reclamando que, mais uma vez, o time criava mais e o adversário acertava um chute muito difícil. Do outro lado, o pessoal não parou de gritar, soltando um "Azulão ê ô" que ganhava mais força com o pisar sobre os bancos do estádio.

Não sei se isso foi fundamental, mas o que ocorreu dois minutos depois, sim. Bola na lateral direita e Alisson cruzou na segunda trave, para a chegada de Rony. A bola foi, com toda certeza para longe do centro-avante azulino, mas acabou tocando a rede! Gol! Depois de mais de 500 minutos de bola rolando, a sorte que tanto fez falta apareceu. 1 a 1 e a torcida ganhando mais ânimo e um alívio ainda maior.

Aos 20 minutos, a defesa do time baiano errou na saída de bola, Rony aproveitou para adentrar na área e quando se preparava para chutar foi calçado. Pênalti! Até eu, que não costumo comemorar penais, dado o histórico, vibrei. Edy foi expulso pela falta.

Comecei a olhar para o lado de fora do estádio, temendo que a zica continuasse e a bola não entrasse. Mais abaixo, um senhor dizia não aguentar e deu as costas para o gramado. Rony foi para a cobrança, esperou o goleiro cair e bateu no outro canto. CSA 2 a 1!

Com uma a mais, a torcida se empolgou e gritou olé por alguns instantes. Aos 24 minutos, Alex Henrique recebeu em profundidade, tentou passar pelo goleiro, que tocou na bola, mas o meia conseguiu pegá-la e empurrar para as redes. 3 a 1!

Desnorteado, o Juazeirense passou a errar muitas trocas de passe e parar na marcação azulina, que ligava rapidamente para contra-ataques perigosos. O caixão foi fechado aos 38 minutos Novo lançamento em profundidade e Rony passou facilmente pelo goleiro e tocou para as redes. CSA 4 a 1.

Ao apito final do árbitro, que não daria falta num lance em que acertaram o jogador azulino com um chute claro no peito, os corajosos torcedores azulinos saíram aliviados. Ainda em último no Grupo A4 da Série D, agora com 3 pontos, ao menos saiu da campanha vexatória de até então, tendo mais duas partidas para deixar menos ruim este ano do centenário.

sábado, 3 de agosto de 2013

O choro do nadador mais rápido do mundo

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Li em algum livro que brasileiro gosta  mesmo é de futebol, o outro esporte que aparecer será aquele que outro brasileiro estiver ganhando. Acabou o domínio, diria até mesmo que os principais campeonatos internacionais, e o esporte é um pouco escondido. A ginástica viveu isso, com as falhas de Daiane dos Santos e de Diego Hypólito. A natação tem histórico maior, mas César Cielo acaba de retorná-la, merecidamente, aos holofotes.

Ricardo Prato, Fernando Scherer, Gustavo Borges e o contemporâneo Thiago Pereira, estes são alguns dos nomes nacionais que se destacaram na natação. Nenhum deles chegou ao ápice da carreira como César Cielo, com ouros olímpicos e em mundiais, além do recorde da prova mais rápida da natação, os 50m livre.

Lá se vão quase 5 anos das medalhas olímpicas de Pequim: o bronze nos 100m e o ouro nos 50m. Os melhores resultados após a geração de Gustavo e de Fernando. O jovem paulista conseguia os melhores resultados da história do esporte e antes de Thiago Pereira, com maior experiência em finais e (então de) maior sucesso por conta do tanto de medalhas em Pan-Americanos, mas que só conseguiria medalhas nos principais torneios nos Jogos seguintes e no mundial deste ano.

Grandes equipes de futebol passaram a patrocinar nadadores, casos de Flamengo e Corinthians, novos projetos apareceram posteriormente. A natação masculina brasileira passou a ter mais apoio e apresentar ainda mais resultados - com outros nomes de destaque em piscina curta. A feminina segue sua evolução, ainda que a braçadas menores.

Já no mundial de 2009, ouros nos 50m e nos 100m livre e com recordes mundiais em ambos, marcas que seguem até hoje por conta da proibição do uso dos super maiôs a partir da temporada seguinte.



PEQUENA QUEDA

A trajetória primorosa, com direito à vanguarda na criação de uma equipe com os principais nomes da natação brasileira, teve um primeiro baque em 2011, quando foi encontrada a substância furosemida no exame anti-doping realizado durante o Troféu Maria Lenk. Após meses de espera sobre possível punição, às vésperas do mundial, César foi absolvido pelo Tribunal Arbitral do Esporte. Dentro das piscinas, o bicampeonato dos 50m livre e outro ouro, desta vez nos 50m borboleta.

Favoritíssimo para os Jogos Olímpicos de Londres, com o então melhor tempo do ano, Cielo optou por não disputar a prova dos 50m borboleta para se poupar. Soubemos depois que ele sentia dores há algum tempo, mas não dava para parar. Na final dos 100m livre, apenas o 6º lugar.

Mas a final esperada era a dos 50m livre, que dominara no ciclo olímpico de 2008 a 2012, conquistando o melhor tempo das semifinais. Na prova, em meio a outros adversários, quem bateu primeiro foi o francês Florent Manadou, até então irmão de uma nadadora campeã. Cielo chegaria só em 3º e não escondeu a sua frustração.

Sem pressão de se manter em primeiro, optou por realizar a cirurgia que necessitava. Para o mundial deste ano, apesar da defesa do título, o peso do favoritismo não lhe recairia. 2013 representa o recomeço da carreira.


A VOLTA
Ainda que a natação tenha contado também com uma medalha de prata de Thiago Pereira nos 200m medley, o esporte perdeu alguns dos apoios conquistados no ciclo anterior e, seguindo ao que foi comentado no início do texto, saiu dos holofotes.

Não à toa, é em difícil encontrar vídeos na internet da disputa do Mundial deste ano. Provavelmente a SporTV comprou apenas os direitos para a TV fechada. No primeiro dia de medalhas, os vídeos das provas até apareceram no Globoesporte.com, mas foram rapidamente retirados. Mesmo o Jornal Nacional só mostrou fotos das conquistas.

Barcelona viu ótimos resultados na maratona aquática, com ouro e prata nos 10km com Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha; prata e bronze de ambas nos 5km; além de outro bronze na disputa mista de equipes. Além disso, Felipe Lima ganhou o bronze nos 50m peito.

No mesmo dia de Felipe conquistar a primeira medalha nas piscinas, César Cielo disputaria a final dos 50m borboleta. Nicholas Santos fizera o melhor tempo das semifinais, nadou metade da prova à frente, mas Cielo o passou nas braçadas finais, conquistando o bicampeonato mundial da prova. Nicholas chegaria em 4º.

Antes da aguardada prova dos 50m livre, Thiago Pereira entraria na piscina para conquistar o bronze dos 200m medley, quebrando a última barreira de sua carreira, já que algumas vezes em campeonatos importantes chegara em 4º lugar, batendo na trave pela medalha.

Hoje, César entrou na piscina contra os seus antigos e novos concorrentes. Dada a largada, os nadadores das raias finais se destacaram dos demais. Ele, na raia 6, puxava o grupo. 21s32 depois, César ganharia o inédito tricampeonato da prova, ultrapassando nomes como o de Alexander Popov, que lhe entregaria a medalha dourada depois. Além disso, é o melhor tempo da era pós super maiôs.

César comemorou muito ao ver o resultado e proporcionou um dos momentos mais emocionantes da história da natação. Se antes de tocar o hino brasileiro, ele já se segurou para evitar o choro, quando ele tocou isso foi impossível. O público reagiu aplaudindo-o durante todo o tempo de execução do hino nacional, cuja primeira parte foi tocada por inteiro.

O choro repassa todo o sacrifício de uma carreira num esporte ainda de difícil apoio no Brasil e de uma série de mudanças que realizou para avançar ainda mais. César Cielo já estava na história do esporte no Brasil, acrescentou mais páginas douradas ao seu capítulo.