sábado, 3 de agosto de 2013

O choro do nadador mais rápido do mundo

Li em algum livro que brasileiro gosta  mesmo é de futebol, o outro esporte que aparecer será aquele que outro brasileiro estiver ganhando. Acabou o domínio, diria até mesmo que os principais campeonatos internacionais, e o esporte é um pouco escondido. A ginástica viveu isso, com as falhas de Daiane dos Santos e de Diego Hypólito. A natação tem histórico maior, mas César Cielo acaba de retorná-la, merecidamente, aos holofotes.

Ricardo Prato, Fernando Scherer, Gustavo Borges e o contemporâneo Thiago Pereira, estes são alguns dos nomes nacionais que se destacaram na natação. Nenhum deles chegou ao ápice da carreira como César Cielo, com ouros olímpicos e em mundiais, além do recorde da prova mais rápida da natação, os 50m livre.

Lá se vão quase 5 anos das medalhas olímpicas de Pequim: o bronze nos 100m e o ouro nos 50m. Os melhores resultados após a geração de Gustavo e de Fernando. O jovem paulista conseguia os melhores resultados da história do esporte e antes de Thiago Pereira, com maior experiência em finais e (então de) maior sucesso por conta do tanto de medalhas em Pan-Americanos, mas que só conseguiria medalhas nos principais torneios nos Jogos seguintes e no mundial deste ano.

Grandes equipes de futebol passaram a patrocinar nadadores, casos de Flamengo e Corinthians, novos projetos apareceram posteriormente. A natação masculina brasileira passou a ter mais apoio e apresentar ainda mais resultados - com outros nomes de destaque em piscina curta. A feminina segue sua evolução, ainda que a braçadas menores.

Já no mundial de 2009, ouros nos 50m e nos 100m livre e com recordes mundiais em ambos, marcas que seguem até hoje por conta da proibição do uso dos super maiôs a partir da temporada seguinte.



PEQUENA QUEDA

A trajetória primorosa, com direito à vanguarda na criação de uma equipe com os principais nomes da natação brasileira, teve um primeiro baque em 2011, quando foi encontrada a substância furosemida no exame anti-doping realizado durante o Troféu Maria Lenk. Após meses de espera sobre possível punição, às vésperas do mundial, César foi absolvido pelo Tribunal Arbitral do Esporte. Dentro das piscinas, o bicampeonato dos 50m livre e outro ouro, desta vez nos 50m borboleta.

Favoritíssimo para os Jogos Olímpicos de Londres, com o então melhor tempo do ano, Cielo optou por não disputar a prova dos 50m borboleta para se poupar. Soubemos depois que ele sentia dores há algum tempo, mas não dava para parar. Na final dos 100m livre, apenas o 6º lugar.

Mas a final esperada era a dos 50m livre, que dominara no ciclo olímpico de 2008 a 2012, conquistando o melhor tempo das semifinais. Na prova, em meio a outros adversários, quem bateu primeiro foi o francês Florent Manadou, até então irmão de uma nadadora campeã. Cielo chegaria só em 3º e não escondeu a sua frustração.

Sem pressão de se manter em primeiro, optou por realizar a cirurgia que necessitava. Para o mundial deste ano, apesar da defesa do título, o peso do favoritismo não lhe recairia. 2013 representa o recomeço da carreira.


A VOLTA
Ainda que a natação tenha contado também com uma medalha de prata de Thiago Pereira nos 200m medley, o esporte perdeu alguns dos apoios conquistados no ciclo anterior e, seguindo ao que foi comentado no início do texto, saiu dos holofotes.

Não à toa, é em difícil encontrar vídeos na internet da disputa do Mundial deste ano. Provavelmente a SporTV comprou apenas os direitos para a TV fechada. No primeiro dia de medalhas, os vídeos das provas até apareceram no Globoesporte.com, mas foram rapidamente retirados. Mesmo o Jornal Nacional só mostrou fotos das conquistas.

Barcelona viu ótimos resultados na maratona aquática, com ouro e prata nos 10km com Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha; prata e bronze de ambas nos 5km; além de outro bronze na disputa mista de equipes. Além disso, Felipe Lima ganhou o bronze nos 50m peito.

No mesmo dia de Felipe conquistar a primeira medalha nas piscinas, César Cielo disputaria a final dos 50m borboleta. Nicholas Santos fizera o melhor tempo das semifinais, nadou metade da prova à frente, mas Cielo o passou nas braçadas finais, conquistando o bicampeonato mundial da prova. Nicholas chegaria em 4º.

Antes da aguardada prova dos 50m livre, Thiago Pereira entraria na piscina para conquistar o bronze dos 200m medley, quebrando a última barreira de sua carreira, já que algumas vezes em campeonatos importantes chegara em 4º lugar, batendo na trave pela medalha.

Hoje, César entrou na piscina contra os seus antigos e novos concorrentes. Dada a largada, os nadadores das raias finais se destacaram dos demais. Ele, na raia 6, puxava o grupo. 21s32 depois, César ganharia o inédito tricampeonato da prova, ultrapassando nomes como o de Alexander Popov, que lhe entregaria a medalha dourada depois. Além disso, é o melhor tempo da era pós super maiôs.

César comemorou muito ao ver o resultado e proporcionou um dos momentos mais emocionantes da história da natação. Se antes de tocar o hino brasileiro, ele já se segurou para evitar o choro, quando ele tocou isso foi impossível. O público reagiu aplaudindo-o durante todo o tempo de execução do hino nacional, cuja primeira parte foi tocada por inteiro.

O choro repassa todo o sacrifício de uma carreira num esporte ainda de difícil apoio no Brasil e de uma série de mudanças que realizou para avançar ainda mais. César Cielo já estava na história do esporte no Brasil, acrescentou mais páginas douradas ao seu capítulo.


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