sexta-feira, 10 de março de 2017

Como trabalhar?

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Desde o primeiro dia que voltei à UFAL como professor que trago como elementos fundamentais duas palavras: orgulho e responsabilidade. Minha graduação poderia ter sido bem melhor se as condições ofertadas tivessem sido bem diferentes - problemas que seguem, ainda que com algumas tentativas de melhora. Não repetir aquele padrão é uma meta primordial para mim, especialmente aqui.

Estar coordenador acadêmico foi uma escolha pela segunda via, a responsabilidade. Ainda que uma pessoa tenha achado que me convenceu a isso, estava na mente a possibilidade, não à toa que me dispus a isso sem contratempo, mesmo com uma vida acadêmica (o tripé básico) bem cheia. E como venho relatando/reclamando de vez em quando por aqui e pelo Facebook, vem sendo um processo bem complicado. Trabalhar em unidade descentralizada do interior tem o grande problema da falta de condições de trabalho, ser gestor escancara ainda mais isso - ainda que eu, por perfil, sempre acabe me preocupando com uma visão geral do lugar em que estou -, mas nada é tão desgastante quanto acompanhar os momentos de disputa pela disputa. Costumo dizer que são tantos problemas que temos, porém gastamos mais em brigar com outras pessoas que em resolvê-los.

Um dos grandes problemas que eu tenho é tentar ser responsável, até demais. Acrescido à tentativa de fazer as coisas da forma mais certa possível, o ser "certinho" ou "formal", que tanto me apontaram no ano passado. Ainda que nem sempre isso seja possível. Primeiro porque eu sou ser humano como qualquer outrx, passível de erros - ainda que eu odeie errar, e ainda mais repetir o tipo de erro. Segundo, que muita coisa não depende do que eu faço - está aí a minha vida para sempre me provar isso.

2017 começou num ritmo frenético para mim. Janeiro e fevereiro foram meses em que só pude respirar durante o carnaval, ainda assim, tendo que escrever artigo, para além de descansar e dormir adequadamente. Para piorar, venho de uma sequência de experiências não tão boas, cujas surpresas negativas só aumentam a cada semana. Em novembro rolou tentativa de intimidação após uma reunião, que não deu certo, porque eu repeti a mesma fala na reunião da semana seguinte. Nos últimos meses coisas "estranhas" vêm acontecendo, cuja sequência me faz crer que não são acasos, fazendo com que eu tenha ainda mais cuidado com o que assino, dependendo de que lugar venha; e, o que vem me deixando ainda mais irritado, são as falas, conversas e boatos que vêm baseados em generalizações e reclamações, de diferentes partes - algumas até de quem deveria conhecer melhor o meu jeito de pensar as coisas - que se acentuam devido a determinado acontecimento político. Fora o fato de se pular a comunicação às instâncias devidas, que também aconteceu por diferentes partes, ainda que uma esfera tenha preponderado - e uma ameaça de processo por e-mail por falta de entendimento de uma preocupação.

Nunca gostei de participar de campanhas políticas, mesmo na época de movimento estudantil e sendo um dos candidatos Sempre me pareceu que a disputa se impunha em relação à importância do cargo e frente aos desafios do mesmo. A experiência enquanto professor só ajuda a ampliar esta reflexão. Primeiro que a política acadêmica, em diferentes níveis, pode ser pior que a partidária. A disputa do poder pelo poder pode superar até as dificuldades claras que aparecem e que caracterizam os problemas em se se gerir a educação em qualquer esfera no Brasil, especialmente no atual contexto, e para isso pode-se ter de tudo - tipo, colocar como lema, dentre outros elementos, ser "decente". Deixando claro que há casos de preocupação real, com propostas e planejamento. Mas às vezes tenho a impressão que o bem coletivo nem sempre é prioridade. A adrenalina gerada pelas batalhas podem superar mesmo as pessoas mais comprometidas, imagina aquelas que estão só pelo status.

Curiosamente, na unidade em que trabalho, o coordenador-geral, o que se afastou há algumas semanas e o atual, votou numa candidata à reitoria e eu na outra, e não houve/há diferença nenhum de diálogo para fazer as coisas no nosso local de trabalho. Assim como, meu principal parceiro de trabalho internamente é alguém que brinco que a única coisa em comum é o nome, porque até no futebol ele torce para o CRB e para o São Paulo, porém é alguém que gosta de pesquisa, quer desenvolver o local de trabalho e é comprometido. Enfim, na minha cabeça, comprometimento, respeito e responsabilidade não são características exclusivas de escolhas teórico-metodológicas ou posicionamentos político-ideológicos.

A prova desse incômodo é que as sessões de terapia deste ano são muito mais para eu falar do trabalho do que qualquer outra coisa. Arriscaria em dizer que metade das 8 sessões deste ano foram inteiramente dedicadas a isso, olha que o final do ano, em termos pessoais - para além do título do Palmeiras - foi ainda pior que o anterior.

Como disse, não gosto de errar, até porque minha mente foca mais nas experiências negativas que nas positivas, então sempre busco erros parecidos no passado para me irritar por ter voltado a cometê-los. Mas tento aceitar as críticas, até mesmo para tentar não cometer determinado erro indicado novamente. Só que odeio ainda mais quando se encaminha algo para mim sem eu ter nada a ver. Demonstração irritação num espaço ao saber de algo assim mês passado.

De forma geral, em quase um ano de coordenação acadêmica - cargo eleito, não indicado por quem quer que seja na universidade -, vem sendo de muito trabalho e muitas vezes tendo que ser também de outros cargos. Poderia muito bem dizer que "isso é com fulanx, não comigo", mas não consigo ser assim. Minhas críticas e meus elogios nesses espaços surgem quando acho devido, sem nenhuma restrição a amigxs ou pessoas mais distantes, tentando seguir os meus princípios de avaliação, algo que surpreendia os meus colegas de trabalho, porque isso não é comum.

Importante frisar que eu venho falando mais nãos e estabelecendo limites de paciência e trabalho - meus amigos de grupo de estudo daqui de Alagoas e de Sergipe sabem bem disso por experiências recentes. Além de tudo, sinto-me bem em tentar melhorar a instituição em que trabalho, cujo papel é tão importante para a vida de tantas pessoas - só eu devo ter tido 300 estudantes em 2 anos e meio como professor. Comemoro as pequenas vitórias de ordem coletiva que aparecem como se fossem gols do Palmeiras ou do CSA.

Mas não dependo de cargo algum para viver. Ser professor da UFAL era uma meta da época da graduação por poder tentar fazer o melhor possível para a instituição que foi e é muito importante também para mim; é uma profissão (ainda) estável, que me dá a possibilidade de fazer coisas que eu gosto, como pesquisar e viajar para eventos. Se tem algo que eu ache importante para mim, individualmente, é estar como secretário-geral da minha entidade de pesquisa, o que imaginava que poderia ocorrer, mas bem mais à frente. Então não teria problema algum em deixar cargo algum se alguém puder fazer melhor, manteria-me fazendo o meu trabalho da mesma forma, ou seja, da melhor maneira possível. Desde que se fale isso comigo e mostre o que se quer.

Sentir-me supervisionado  ou que querem me prejudicar só porque eu votei em a, b ou z; ou porque eu sou muito novo - como falaram, num outro contexto, para uma colega de trabalho; ou porque eu me posiciono em qualquer espaço, mas sempre mantendo o respeito e a educação; ou porque eu sou palmeirense e torcedor do CSA, sei lá...  Isso é muito estranho para mim porque não é o meu bom ou péssimo trabalho que está em jogo. Talvez seja por isso que tanta gente, comprometida, desiste de trilhar certos caminhos. Ainda bem, talvez não para mim, que eu sou teimoso.