domingo, 1 de novembro de 2015

"É o tal do tecnobrega"

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A definição mais usada para os estudos em EPC diz que a economia política se preocupa em estudar as relações de poder que envolvem a produção, a distribuição e consumo dos bens simbólicos. Um audiovisual que melhor reflete essa definição, com a transformação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação no produzir cultura, é Brega S/A.

Na turma de Economia Política da Comunicação, em Economia na UFAL, foi um dos primeiros vídeos que separei para que s estudantes vissem e comentassem. Em Lógica, Informática e Comunicação, não deu tempo de mostrá-lo nos semestres anteriores e talvez não dará neste também, por forte concorrência com outros filmes/documentários.

Eu o "descobri" zapeando e vendo na (saudosa) MTV Brasil que estava passando um documentário sobre a indústria da música. Fiquei, revi depois e mais uma vez hoje. Dirigido por Gustavo Godinho e Vladimir Cunha, apresentado em 2009 no Youtube e no Vimeo, o documentário está cheio de comentários sobre na internet - basta procurar no Google para perceber -, pois trata de um modelo de negócio surgido na periferia do Brasil.

Isso, por sinal, era o que me interessava provavelmente desde antes do documentário, quando em meados dos anos 2000 via uma propaganda do novo CD da Banda Calypso, com a marca da Som Livre, mas com o anúncio do preço: R$ 10. Acostumado a ver os shows do forró eletrônico em que a venda de CDs por R$ 5 era comum, achei interessante que a ida de uma banda do Pará para uma importante gravadora não mudasse tanto o preço do CD. Modelo este, por sinal, até hoje não repetido.

Nunca me aprofundei, até por estudar a indústria da televisão, neste caso, mas Brega S/A ajuda a explicar que para as 2 mil, 3 mil bandas do Pará é mais interessante esse novo modelo, ainda que Calypso seja de uma geração anterior ao que é mostrado no doc. O tecnobrega tira qualquer instrumento acústico, basta um teclado, um computador e alguém para gravar. Nos shows, playback e o cantor e olhe lá - casos das aparelhagens.

Se por um lado barateou a produção, com música sendo feita em 20 minutos, retirou do negócio instrumentistas que veem nestas bandas a chance de tocarem - mesmo que não necessariamente gostem das músicas que toquem. A popularização veio, entretanto com novos controles, caso da necessidade de venda de músicas para empresas pequenas e para as equipes, que controlam o que será tocado nas aparelhagens do Estado. Contradições (re)aparecem mesmo com a mudança de modelo de negócio, que tende a baratear e popularizar o acesso às músicas.

O filme abre espaço para uma série de comentários a partir do eixo teórico-metodológica da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC), sobre trabalho, produção cultural, consumo, etc. Entretanto, para não me prolongar muito na análise, deixo aqui um player com Brega S/A e abaixo frases que saí retirando hoje: 


- "Nesse mercado tem que ser polivalente"

- "A gente tem que sugar o que tem que sugar deles [sucessos descartáveis]"

- "É a fuleiragem que pega"

- "Ele ganha dinheiro com show. Quanto mais música, mais show ele faz"

- "Aparelhagens são boates itinerantes"

- "Nós vamos voltar para  música da Idade da Pedra"

- "As bandas só ganham dinheiro fazendo música para as equipes e com shows"

- "A pirataria se propagou muito pelas aparelhagens"

- "O mercado tem a necessidade de sempre ter uma coisa nova"

- "A música de massa sempre vai existir, mas problemas, como a falta de qualidade, também"

- "No Pará, o Vetron [quem faz as coletâneas piratas] é mais potente que a Globo"

- "O tecnobrega surgiu com a pirataria" "um divulgador gratuito"

- "Quando a gravadora empurrava os Dominó da vida ninguém reclamava"

- "A grande fonte do sucesso hoje é o mercado informal"