domingo, 26 de agosto de 2012

Não inventaram palavras para descrever

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Passei o dia muito cansado, sem vontade de fazer muitas coisas por conta de (mais) outro problema recente, mas não poderia deixar de escrever sobre os 98 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras. Falava outro dia que sou apaixonado por esportes, sou um amante inveterado de esportes e aprendi a amar o Centro Sportivo Alagoano nos últimos anos, mas para o que sinto em relação ao Palmeiras acredito que não inventaram ainda palavra para descrever.

Quando criança, foi paixão à primeira vista, ainda que via tela de TV. Para quem nasceu na era de glórias da  parceria com a Parmalat era vencer ou vencer. Segundo lugar, jamais. E como "incorporei" isso, o quanto vibrei das alegrias da época, perturbei a irmã corintiana e o quanto também briguei e esperneei a cada derrota, a cada perda de título. A criança geralmente quieta virava o menino nervoso, de pés e mãos geladas, de corpo quase trêmulo a esperar o gol de tantos craques que passaram na década de 1990 e torcendo para que os nossos grandes goleiros salvassem os dia novamente.

O título da Libertadores de 1999 veio nos pênaltis e eu não lembro como comemorei. Seria o marco para uma mudança de comportamento. Ufa! Não precisava brigar com o mundo, por mais que o mundo não tenha vindo naquele jogo, por conta daquele rara falha, de Marcos.

Posso até ter acreditado num "São Marcos" por muito tempo, venerá-lo, acender vela virtual, emocionar-me com um cara muito simples e que ganhou fãs de várias torcidas no Brasil, mas as outras divindades caíram com o tempo. Afinal, onde havia justiça de ver seu time vencer por 3 a 0 e levar uma virada histórica, em casa, numa final de campeonato sul-americano? O que adiantava rezar para tudo e para todos para não perder para o Vitória e jogar a Série B no ano seguinte?

Mas superstições às vezes continuam independente disso. Quantas vezes não pensei que, por conta da frequência, sempre deveria ter cuidado para não usar camisa nova do time em clássicos ou partidas decisiva, porque perdíamos. 

Na Série B resolvi pagar uma aposta para mim mesmo antes da partida que seria a decisiva para voltarmos, contra o Sport. Quando levamos o primeiro gol no segundo tempo e tivemos um jogador expulso em seguida, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi "maldita camisa" - ainda que escondida no armário. Depois, o gol de empate saiu de Magrão, o jogador que usava a 8 que estava impressa na última verde que tinha na loja. Só foi esperar o jogo terminar, com direito a corte de transmissão da Record nos últimos minutos, vestir a camisa e voltar a chorar como até anos antes.

Depois disso, pouca coisa. O time só disputava, num modelo à lá Barão de Coubertin. A minha vida seguia o mesmo ritmo e em paralelo fomos em busca de vitórias que, quando vinha, eram para lá de difíceis, mas sempre com muitos obstáculos à frente. Em 2008 veio o Paulistão e esperávamos que tudo mudaria para melhor. Não. Dois fracassos seguidos em Brasileiros e o time voltou à fuga do rebaixamento nos anos seguintes.

Até que veio este 2012, ano que está a inventar uma categoria acima do péssimo. Jogo a jogo, parecia que o passado se repetiria. Eliminação precoce no Paulistão, time muito desfalcado e prejuízos da arbitragem a rodo. Para o meu lado, só problemas, dos mais variados tipos e exageros. Um sentimento para além do "não é possível, mais um ano assim"; não, CRB campeão alagoano e Corinthians campeão da Libertadores me mostravam, para além das demais milhares de coisas, que seria bem pior.

A partida inicial contra o Grêmio, pelas semifinais da Copa do Brasil, tinha dado a indicação de que ao menos nisso poderia ser algo bom. Mas só no sofrimento mesmo. No final, o título veio com um grande número de dificuldades, mais que qualquer um poderia imaginar. Afinal, nem o mais otimista dos palmeirenses, se é que esse ser existe, imaginaria ganhar um título nacional com Barcos machucado por apendicite e Betinho (!!!) de titular, quando mais com este marcando o gol que quebrou um tabu de 12 anos.

Naquele dia, voltei a tremer, com muita ajuda do frio. Voltei a ver lágrimas caindo. Num ano que nem esse, nem sei como estaria se tivéssemos perdido o título da Copa do Brasil para o Coritiba. Ainda bem que não.

Não me importa se alguém queria interpretar que sou mais um viciado no "ópio do povo", que se tivéssemos a mesma vontade para as causas sociais o mundo seria diferente ou qualquer besteira deste nível - até porque não se aplicaria à maneira que vejo a sociedade e o futebol nela. Que fujamos o quanto antes desta possibilidade maldita de rebaixamento e sigamos à nossa vida como o maior campeão nacional que de fato somos.

É incrível pensar hoje que são, pelo menos, 18 anos palmeirenses, destes 24 anos de vida. A relação parece ser para além disso. Vem de séculos antes do nada - desculpem-me Nelson Rodrigues e o Fla-Flu - e deve seguir para depois da vida, mesmo que eu não acredita em vida além da morte. Porém, se eu acredito que o que sinto pelo Palmeiras é para além de qualquer palavra conhecida, se eu "adorei" um santo vivo por tantos anos, posso tentar acreditar que isso continuará, nem que seja pelos textos sobre este clube que eu escrevo na internet.

Mais que um parabéns, obrigado Palmeiras/Palestra Itália por existir para mim e para tantos milhões de torcedores há 98 anos!


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

[Por Trás do Gol] Para ajudar o Sapucaiense

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O que faz com que cerca de cem pessoas enfrentarem um super calor, mais de 30º em pleno inverno gaúcho, para ver uma partida de uma Copa criada para manter os times do Rio Grande do Sul atuando? Ah, do lado do time da casa, o saldo de um rebaixamento em 2012 da Divisão de Acesso (segunda divisão) para a Segunda Divisão (terceira divisão)? Calor no inverno do Sul, segunda divisão que é terceira...

Enfim, aparentes contradições à parte, havia decidido voltar a olhar os torneios em andamento da Federação Gaúcha de Futebol, 2ª Divisão e Copa Hélio Dourado, para assistir algumas partidas dos times próximos. Por conta de outros compromissos, não pude acompanhar o Aimoré, aqui de São Leopoldo, na sua primeira partida no Estádio Cristo Rei pela estreante Terceirona gaúcha. Porém, vi que o Grêmio Esportivo Sapucaiense, da vizinha Sapucaia do Sul, jogaria numa quarta-feira à tarde contra o São José, de Porto Alegre.

Para quem não pode conhecer o clube, o Sapucaiense disputou a Copa do Brasil deste ano, empatando com a Ponte Preta no Passo D'Areia, em Porto Alegre, a partida de ida por 0 a 0 e perdendo em Campinas por 5 a 2 na primeira fase da competição nacional.

Achava que seria na quarta da semana passada, mas percebi que seria só no dia 22, mas iria. Ainda que não soubesse informação alguma da partida, para além que aconteceria às 15h de hoje no Estádio Artur Mesquita Dias. O clube não tem site oficial, ao menos eu não o encontrei, e não havia nada na internet sobre o assunto. Procurei no regulamento da Copinha e vi que a FGF obrigava que o ingresso fosse, no mínimo, R$ 5,00, e eu não imaginaria que cobrassem caro - por mais que o time deva precisar muito.

O ESTÁDIO
O Estádio Artur Mesquita Dias fica em frente à placa,
que avisa que os sócios precisam pagar
Tinha visto pelo Google Maps onde ficava o estádio, bem perto da Estação Sapucaia de trem, é só descer pela Avenida Mauá e seguir reto da praça mesmo. Além disso, também tinha visto como era a entrada, praticamente sem identificação e com um estádio "típico" de clube de bairro. Só isso já garantiria uma nova experiência para mim.

Chegando lá, confirmo a imagem que tinha na internet e o preço mais barato: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia para estudantes e idosos). R$ 5,00 pagos e entrei sem precisar passar por roleta, só entregando parte do ingresso, e, melhor ainda, sem precisar ser revistado pelos dois policiais que estavam ali até aquele momento.

Realmente uma cancha pequena. Do lado de cá, o bar (que vende cerveja mesmo em dias de jogos, sem problema algum!), que também serve como museu de troféus do clube. Andando mais um pouco, à direita, estava o espaço destinado aos torcedores do time visitante, uma arquibancada de madeira. Do lado esquerdo, alguns espaços para guardar as coisas do clube, um banheiro sem qualquer presença de vaso sanitário, com uma árvore frondosa em frente. Um pouquinho mais adiante, um jogo de arquibancadas de cimento e outra menor, de madeira/ferro, mas coberta. "Espaço destinado aos sócios" e com faixas da torcida organizada deles, a "Camisa 12".

Sócios estes que hoje, como avisava um papel na entrada do estádio, teriam que pagar a entrada caso quisessem ver o jogo. Era "para ajudar o Sapucaiense". Um senhor de idade, sócio do clube, tentava convencer alguém a ir ao jogo também: "Ah, você sabe que eles decidiram que sócio também tem que pagar né? Eu até poderia, como idoso, pagar cinco pila, mas paguei 10 para ajudar o Sapucaiense".

Voltei para perto da entrada e enquanto os jogadores "aqueciam", um torcedor, sentado numa cadeira de plástico atrás do gol para aproveitar a sombra de uma árvore, dizia ao outro: "E precisa fazer aquecimento? Tá tudo queimado já!". Não parei de ouvir reclamações com o estranho calor em pleno agosto durante todo o resto da partida, afinal, poucos eram os lugares cobertos.

Antes de iniciar a partida, ainda deu para ouvir uns gritos de "Vâmo, Zeca!" vindos da entrada. Torcida organizada do São José, também conhecido como Zequinha, que saíra de Porto Alegre para acompanhar o time, que atualmente disputa a 1ª Divisão gaúcha, na Copinha. Como imaginava, eram cinco jovens rapazes que gritavam o tempo inteiro - inclusive, arranjando uma discussão com outros três, sapucaienses, que assistiram ao primeiro tempo em cima de um muro atrás do outro gol. Torcida organizada com faixa, vários gritos de incentivo e xingamentos hilários à "bergamota" que apitava o jogo: "Os Farrapos".

PARTIDA
Fiquei ao lado da torcida do Sapucaiense. Crianças, mulheres, pessoas mais velhas e muito mais novas. Sem problema algum, com direito a um "boa tarde" quando uma senhora chegou no estádio e várias conversas de famílias que têm nas partidas do clube um ponto de encontro. Tivemos até o goleiro catando as sandálias no chão de um dos rapazes em cima do muro durante a partida. ESPETACULAR!

Mas indo ao jogo, o primeiro tempo foi bem movimentado. Ainda que com muitos bicões para um lado e para o outro, e com um sol escaldante, Sapucaiense e São José criaram chances reais de gol. Numa delas, por volta dos 23 minutos, o Sapucaiense fez excelente jogada na direita, com Rafinha cruzando para o atacante Paraíba só empurrar ao gol, a dois metros da linha. O que ele fez? Mandou no travessão e a bola subiu.

Deixo os comentários de dois senhores que estavam sentados à minha frente:
- Se apavorou.
- Viu que tava tão fácil. A goleira desse tamanho ainda...

Aos 35 minutos, o Sapucaiense teve que fazer uma substituição porque um dos jogadores pareceu ter recebido um tapa ou um soco no rosto e, aparentemente, perdeu algum dente com isso. No final da etapa inicial, após uma jogada errada do ataque rival, o São José armou um bom contra-ataque e o lateral-esquerdo apareceu sozinho na frente dos zagueiros, driblou o primeiro, viu o goleiro adiantado e chutou por cobertura. A bola raspou o travessão e foi para fora.

O gordinho e sua prancheta
Nem os quatro minutos anunciados pelo gordinho que cumpria as funções de quarto árbitro e de delegado da partida deram jeito de mudar o marcador - que eu não reparei se existia. O primeiro tempo terminou mesmo em zero a zero e com todo mundo correndo para pegar algo para beber. Só um dos gandulas que não parava, um senhor que seguia com seu show de embaixadinhas na linha central do gramado. Antes de iniciar a partida ele deu mais de uma volta em torno do campo sem deixar a bola cair!


A segunda etapa teve mais lances curiosos. Primeiro, que todo mundo, dos cinco torcedores organizados do São José - a torcida deles devia ter cerca de 25 pessoas hoje - aos demais do Sapucaiense reclamando bastante do trio de arbitragem. Um torcedor do Sapo passou a "cornetar" todo mundo também, a ponto de um jogador do time olhar para o lado e pedir mais calma.

Melhor lugar não há para cornetar o auxiliar
Aos 15 minutos, o São José, que tinha jogadores aparentemente mais fortes que o rival, principalmente a dupla de ataque, fez boa jogada pela esquerda e após um cruzamento forte viu o seu centroavante perder um gol na frente da trave (ou da goleira, como queiram).
O jogo seguia brigado, inclusive com gente cornetando o árbitro e seus dois auxiliares, até que aos 29 minutos o Sapucaiense realizou uma boa jogada pela esquerda e Rafinha recebeu na frente do goleiro rival. Sapo 1, São José 0.

Confesso que eu comemorei o gol. Por mais que o São José-POA seja azul e branco como o CSA, basta eu ver o patrocínio da empresa do presidente da FGF na camisa que me dá raiva. Foi esse, inclusive, o motivo para eu ter comprado a camisa do Cruzeiro e não a deste clube de Porto Alegre na semana passada. Ah, o presidente que se preocupa em realizar cruzeiros para aprontar a temporada seguinte, mas parece esquecer os clubes "menores".

Deixei de me escorar no muro, que balançava a cada passada de vento ou encosto de uma perna, e passei a  experimentar a sensação de torcedor de cancha, propriamente dita. Entre fotos e filmagens, terminei nos últimos minutos no alambrado, vendo a pressão do São José, em especial numa série de faltas próximas à área do Sapo. O goleiro do Sapucaiense saiu muito bem do gol e fez boas defesas ao longo da partida.

No final, já na casa dos 40 minutos, ainda deu tempo para a "bergamota" marcar uma falta na entrada da área para o Sapucaiense. Bateram a falta, a bola desviou no meio do caminho e entrou mansamente no gol. Muita comemoração, com direito a coisas como: "vai continuar a marcar faltas para eles, juiz"; "ô bandeira, avisa ao Noveletto (presidente da FGF)".


Sapucaiense 2, São José 0. Placar que não mudou nem com os mais de cinco minutos mostrados pelo 4º árbitro/delegado da partida. Os jogadores da casa têm o vestiário ao lado da torcida e pararam para cumprimentar amigos e familiares. Algo muito incomum para os dias atuais e que comprovam que foi muito boa a escolha de sair de casa nessa tarde de forno gaúcho. Olha que eu devo ter esquecido de algumas boas histórias [Veja aqui mais fotos e aqui mais vídeos].


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Para além de uma crítica aos jornalistas

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É curioso observar que, quando se trata de “deturpação pela grande mídia”, o primeiro alvo de ataques costuma ser não os grupos empresariais proprietários de meios de comunicação, mas os jornalistas que produziram as respectivas matérias. Este artigo não pretende fazer uma defesa escancarada e sem críticas à profissão, mas abordar que o conteúdo informativo produzido é apenas o final de uma cadeia produtiva que precisa ser mais considerada. Há vários estudos sobre a mudança nas rotinas de produção jornalística, porém devido à separação que ainda persiste entre a produção acadêmica e a sociedade, mesmo para movimentos sociais, poucos conseguem reconhecer a produção de informação realizada pelos jornalistas enquanto trabalho e o quanto este também foi modificado nas últimas décadas.

Do mesmo jeito que em outros setores industriais, a automatização também entrou nas redações, o que fez com que houvesse uma redução de pessoal e, consequentemente, uma precarização da atividade profissional. É cada vez mais comum, especialmente nas universidades, ouvir que um jornalista deve saber trabalhar bem em qualquer meio de comunicação, independente de “aptidão”. Há, inclusive, grupos empresariais que resolvem juntar as redação de impresso e internet ou rádio e internet, de forma a cortar custos, mesmo que se trate, ou deveria se tratar, de diferentes formas de se transmitir uma informação.

Para citar um exemplo mais prático, basta lembrar que há correspondentes internacionais trabalhando sozinhos para TVs brasileiras em outros países. Acumulam-se várias atividades em torno de si: produzir, fazer a reportagem (entrevista, texto e gravar os vídeos), e pré-editar. Ou seja, uma pessoa só sendo o produtor da matéria, o repórter, o cinegrafista e o editor. A matéria vem ao Brasil e aqui pode ou não ser reeditada.

O ponto forte
Um dos casos bem interessantes para se abordar é o do concurso “Passaporte SporTV”, que contrata profissionais recém-formados e deixa claro que o intuito é ter alguém que possa trabalhar nas diferentes esferas de produção de notícia, podendo alimentar o site e os programas desta emissora de TV, fechada durante um ano. É um período de “experiência”.

Esta “multiplicidade de atividades” acaba por prejudicar, inclusive, profissionais mais antigos, que precisam se readaptar aos novos tempos de notícias a serem dadas de forma rápida e na maior quantidade possível, principalmente no caso da Internet; em que os erros, quando são corrigidos, já espalharam o seu rastro pela sociedade. Afinal, quem tende a olhar uma mesma matéria por duas vezes?

Quando vemos problemas, “manipulações” e coisas do tipo em notícias e reportagens, especialmente quando se trata de movimentos sociais, caso de protestos estudantis e greves de trabalhadores, por exemplo, há de se pensar que há toda uma cadeia de valores a ser percorrida para que a informação seja transmitida daquele jeito e não de outro. O ponto mais forte desta cadeia é o que se chama de “linha editorial” do grupo empresarial. Por mais que as grandes empresas de comunicação no Brasil tentem propagar uma impossível neutralidade no passar das informações, há assuntos que podem e que não podem ser divulgados. Só para citar um exemplo, infelizmente comum, poucas são as emissoras de TV que tratam de processos por questões trabalhistas contra as concorrentes. O motivo é simples: também há problemas trabalhistas nas outras.

Redações multitarefas
Este assunto expõe ainda um grande problema da situação atual da profissão: a precarização. Os jornalistas de redação têm que conviver, em sua maioria, com uma rotina muito cansativa, com alguns casos em que sequer há o respeito do mínimo de onze horas entre as duas jornadas de trabalho e/ou a carga horária de trabalho semanal (cinco ou seis horas por dia), por um salário cujo piso é baixo e diferente em cada estado, partindo de R$ 1.100 (Sergipe) a R$ 2.437 (Alagoas).

Além disso, a produção da notícia, de forma geral, vai além do jornalista, fotógrafo e/ou cinegrafista. Editores, chefes de redação, diretores de jornalismo e, quiçá, a alta cúpula da empresa; são várias as formações socioculturais envolvidas. Por mais que opiniões político-ideológicas possam ser bem parecidas, todos veem o mundo conforme a sua formação social, que é única. Daí que não se pode imaginar que não haverá mudanças num texto ou reportagem ao longo deste “tortuoso” caminho.

Claro que o intuito não é dizer que todos os jornalistas têm uma forte preocupação social. Infelizmente, a preparação universitária e os “exemplos” na vida profissional, com redações formadas por pessoas cada vez mais novas e com multitarefas, não se apresentam como garantia de um trabalho que “honre” a formação básica em Comunicação Social, antes de qualquer habilitação específica.

Poder político
Na Academia, caminha-se para a separação das habilitações, com graduação específica em Jornalismo, seguindo as definições de um grupo de pesquisadores e profissionais experientes formado pelo Ministério da Educação nos últimos anos. A questão é que se hoje já se tem uma forte preocupação em educar para o mercado, numa segmentação voltada a atender à prática profissional, talvez isso piore. Uma boa formação com demais disciplinas das Ciências Humanas e Sociais, como Antropologia, Filosofia e Sociologia, ajuda, ao menos, a instigar outras preocupações no lidar com um fato ou pessoa antes e durante o produzir informação. Preocupar-se com o Outro, não apenas em cumprir o roteiro de pautas, é fundamental, por mais que as estruturas de poder da profissão nem sempre permitam isso.

O principal ponto deste texto foi mostrar, portanto, que é bom ter muito cuidado ao apontar a culpa para outro trabalhador, quando, na verdade, o problema é na Indústria Cultural, que carrega a ideologia da classe dominante. Por mais que estejamos cheios de exemplos ruins de atitudes profissionais, caso da jornalista do Brasil Urgente-BA e de tantos outros programas policiais – feitos até, em alguns casos, por pessoas que mal têm formação jornalística –, ou nas “tradicionais” matérias que envolvem pessoas com ideologia um pouco mais à esquerda.

A “luta” não deve ser entre os trabalhadores, todos com precarização profissional, baixos salários e condições de trabalho cada vez mais insalubres, mas contra quem permite que isso ocorra: esferas de poder político constituídas e os grupos empresariais, sejam comunicacionais ou não.

>> PS: Este texto foi escrito no final de junho. O professor Valério Cruz Brittos, que se recuperava de um sério problema de saúde por conta de uma pneumonia, acabou por falecer no fim do mês seguinte. Jornalista, formado em Comunicação Social na Universidade Federal de Pelotas, trabalhou na profissão por alguns anos, cobrindo, dentre outros assuntos, a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente da República como repórter político da sucursal de Brasília do jornal Zero Hora.

***

[Valério Cruz Brittos (in memoriam) e Anderson David Gomes dos Santos são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e mestrando no mesmo programa]

Originalmente publicado no Observatório da Imprensa.

sábado, 18 de agosto de 2012

O senhor com um carrinho de lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro

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Ele se aproximava cada vez mais. Opa! Será que não me viu aqui? Um senhor com carrinho de lixo. Mais um dentre tant@s outr@s que ganham a vida num centro de capital. Porém, alguém diferente. Em meio a tantos "Severinos", sempre há de ter algo para te destacar. Afasto-me um pouco do lugar em que estava encostado, mas demoro a sair porque ele parou. Quer dizer, eles.

O senhor com um carrinho catando lixo e mais dois cachorros. Um estava acompanhando o dono a pé, enquanto o outro estava em cima, uma mistura de vira-lata com raceado que o faria facilmente ser pertencente a alguém de classe média, seja lá isso o que for. Quer dizer, eram três, já que outro saiu de dentro, uma espécie de dormitório sob o material a ser trocado por dinheiro.

O senhor com um carrinho catando lixo e mais três cachorros. Quer dizer, ainda tinha mais. Era um senhor que repetia o seu ritual de tirar as coleiras dos cachorros para que desfizessem de seus lixos naturais, como quaisquer um de nós, num espaço reservado. Um pouco de areia acima da linha normal de tráfego das pessoas. Não incomodariam. Só que dentro do carro havia uma pessoa.

Um jovem que não saía do lugar e que despertava a curiosidade de quem passava por perto. O senhor carregava, ao menos, mais um grande filho ali dentro. A redenção do homem, este ser que não pode carregar ninguém dentro de si, desenvolver o que no futuro será uma nova vida, carregando uma vida já com algum passado.

O senhor com um carrinho catando lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro. Já seria curioso por todos esses detalhes. O primeiro cachorro já estava no espaço de areia, era hora do segundo, o de cima. Ele se aproxima e o cão abre os braços como uma pequena criança que quer sair. Um peralta que não parava.

Afastei-me para a frente do carrinho. As pessoas até olhariam como "sempre", ou seja, fingindo que o "outro" não existia, mas este "outro" carregava "outros", e de uma forma diferente. Mas o curioso virou trágico.

O segundo cachorro foi levado para baixo, mas danado que só ele, dava piques, evitando que o senhor com um carrinho de lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro pudesse pegar a coleira e jogá-lo para cima. 

Ele chama o cachorro para perto. O cachorro se aproxima num pique e na mesma velocidade parte para o lado direito. O senhor com um carrinho de lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro grita novamente. Eu vi de frente, como um espectador que optaria por não ser nada privilegiado da cena seguinte.

(Se você for muito emotivo, pare por aqui).

Um terminal rodoviário. O cachorro pulou numa correria para a rua, cheio de felicidade. O sinal estava aberto e um ônibus passava ao lado na mesma hora. Tod@s viram e devem ter torcido para que atravessasse a rua, mas era uma espécie de criança, provavelmente não estava acostumado à liberdade longe dos "responsáveis". 

Ele não atravessou. Seguiu reto, assim como o ônibus, que nem tinha como parar. Veio o som do impacto! A certeza veio quase que automaticamente. Uma senhora na minha frente empalideceu. Só me restou colocar a mão na cabeça e acompanhar o trajeto do senhor com um carrinho catando lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro.

Ele correu para depois do ônibus, falava sozinho mais que xingava. "Mexesse com tudo, mas com um cachorro, com um cachorro!". 

Não parou de repetir isso. Quando aproximou-se, ainda deu para o cão mexer um pouco o rabo de felicidade pela aproximação do dono. O rabo baixou. O senhor com um carrinho catando lixo, mais três cachorros e, ao menos, um filho dentro puxou o cachorro pelas duas patas dianteiras e pelas duas traseiras. Dizia algo como "vou levar".

Passou novamente na minha frente com algo que não sai da minha cabeça até agora. A figurinha que corria alegre não demonstrava nenhum sinal de vida, com a cabeça balançando ao léu. O corpo ficou no espaço de areia, sem qualquer sinal de respiração. A vida já tinha ido, não adiantava ninguém se aproximar.

O senhor com um carrinho catando lixo, ao menos, um filho dentro, agora só seguia com outros dois cachorros, que o acompanhavam em seu árduo trabalho ao lado.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

[Em busca do El Dorado] Acorda, Levanta, Resolve!

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algum tempo que sabia que precisava começar a fazer algo para desestressar um pouco. Como diriam dois amigos, separados por 4.000 Km de distância, sou alguém que tenho muitos problemas porque trato as coisas com muita seriedade, acabo por me preocupar demais. Como não consegui encontrar alguém que jogue futebol ou futsal com regularidade por aqui - este mal da Comunicação -, resolvi na semana passada que ia começar a treinar boxe uma vez por semana.

Já tinha visto dois campeonatos com o pessoal da CLD Viamão em Canoas e um treino deles há duas semanas. Acompanho boxe desde antes de Acelino Popó Freitas, com as decisões dos pesados aos sábados de madrugada na Globo, nas tentativas de Mike Tison voltar a ser um fenômeno dentro do ringue. 

A era Popó então, lembro do meu primeiro cachorro, que se chamava Bob e eu apelidei de Bobó por ser meio bobo para algumas coisas. Assistindo às lutas, gritava "Vai Popó" e o cachorro aparecia correndo de onde estivesse achando que era com ele. Além disso, o sucesso brasileiro no UFC, com a mudança de ponto forte para a luta em pé, mais do que o jíu-jítsu inventado pela família Gracie, também dá uma fortalecida neste esporte. Destaque para o treinador Luís Dórea, o mesmo de Popó e Júnior Cigano.

Mas eu não podia começar no sábado, do nada. Sempre gostei de caminhar, andar, a ponto de achar que uma distância de 2 km não é nada. Costume de família. Meus pais moram em Maceió a 20 minutos a pé do Centro/Mercado e há 10 ou 15 minutos do Estádio Rei Pelé. Foram muitas as vezes que eu percorria caminhos com estas distâncias, até mesmo porque em determinados momentos era necessário poupar passagens.

Aqui em São Leopoldo eu, de vez em quando, vou ao Centro a pé, deve dar uns 15 minutos. Tempo parecido para eu chegar no bloco de Comunicação caso eu siga pelo caminho do Centro 1, Ciências Humanas. Além disso, o apartamento fica no 4º andar do prédio, então dá para imaginar a quantidade de escadas que temos que subir e descer diariamente.

No início da semana, um amigo, que treina boxe, disse que o espaço para atletismo da universidade era aberto o dia inteiro e tinha três vestiários para quem quisesse usar. Preparei-me para acordar cedo hoje e começar a ter uma vida para além de caminhadas um dia aqui outro ali, que na verdade tem como foco chegar em locais de trabalho, não o de praticar exercício físico.

Os últimos três meses vêm sido muito difíceis, com um problema sobrepondo o outro, acrescentando outros menores quase que diariamente. As exceções vieram das viagens para Montevidéu, Buenos Aires e Rio de Janeiro, ao menos em alguns dias dessas viagens a trabalho. O que adianta eu reclamar dos problemas, que nunca irão parar de aparecer em grande quantidade para mim, e ficar quieto? Vamos extravasar com algo útil. Garantir a vida, ao menos, até o final do mestrado. Depois eu não sei mesmo o que vou fazer.

A minha ideia era revesar uma volta de caminhada na pista de atletismo com outra de corrida até completar meia hora. Consegui fechar seis voltas assim. No final da sexta, percebi que ainda não estou ainda com a respiração ideal e fiz a sétima e 3/4 da oitava caminhando. Iniciei a nona com o celular na mão para tirar fotos da pista e de uma obra que tem do lado e encerrei os 25% que faltavam correndo.

Fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que caminham ali. Quando cheguei, tinham 13. Algumas saíram, outras voltaram e, ao menos, creio que fui um dos que mais andou. E, sério, se eu com 24 anos andasse menos que as senhorinhas que davam voltas em meio a um vento gélido de manhã leopoldinense...

O primeiro dia já foi, o que geralmente nem é o mais difícil. Minha programação é usar a pista de atletismo de segunda a sexta, treinar boxe no sábado e pensar depois como fazer no domingo - se é que terei fôlego para o sétimo dia. Hora de cambiar as coisas para valer.

*O título deste post é o nome da gestão de Diretório Acadêmico que eu participei no curso de Comunicação Social da UFAL, trecho da música "A árvore dos encantados", do Cordel do Fogo Encantado. Brigamos muito, provavelmente por conta da imaturidade de jovens na casa dos 20 anos, alguns um pouco e mais e outros um pouco menos. Porém, sabíamos, e sabemos ainda hoje, que todos remam para o mesmo barco contra hegemônico.

sábado, 11 de agosto de 2012

[Londres 2012] Ganhar o ouro era obrigação?

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ERA e sempre foi. Ao menos nestes 24 anos em que o Brasil mal conseguiu chegar a uma final de Jogos Olímpicos no futebol masculino - o feminino chegou a duas seguidas, 2004 e 2008. Mais de 86 mil pessoas viram em Wembley hoje o que marca a Seleção brasileira neste ciclo Mano Menezes. Um time novo, com mais nome que bola, mas que parece que vai chegar a algum lugar. Só parece.

Assisti poucas partidas do futebol masculino e ainda assim com o mínimo de atenção, por vário motivos, a maioria deles pessoais. Porém, o principal é que não há como torcer para uma equipe comandada por um malufista, que dá todo o apoio possível e imaginado para apenas uma modalidade, enquanto que o feminino só piorou neste ciclo olímpico. Para justificar, basta lembrar o que o Ney Franco fez com as categorias de base. Trabalho excelente.

Na primeira fase, os outros dois favoritos caíram. A Espanha, e o seu estilo de jogo "característico", não venceu ninguém. Comentários dão conta que não havia jogadores fora da média, casos de Xavi e Iniesta, para desequilibrar uma partida quando fosse necessário. O outro eliminado foi o Uruguai. Com dois títulos nas suas únicas duas participações na história, 1924 e 1928, os uruguaios só ganharam uma partida e ficaram no meio do caminho.

O Brasil iniciou a campanha parecendo que o trio Oscar, Neymar e Leandro Damião dariam show, com rápidos três a zero sobre o Egito nos primeiros 25 minutos de jogo. O segundo tempo veio e um apagão chegou. A fragilíssima defesa deu o ar da graça. Após isso, foram mais duas vitórias e sufoco contra Honduras nas quartas de final, passando por 3 a 2, com um 12º jogador dentro de campo.

A semifinal eu vi pouco, estava na universidade, com um novo problema por dia e mexendo em outras coisas em paralelo na internet. O 12º jogador, o árbitro, entrou novamente na cancha e os 3 a 0 contra a Coreia do Sul, com show de Leandro Damião, faziam parecer que este time ganharia fácil de qualquer um. Entretanto, por mais que tenha feito 3 gols em cada partida até aqui, o time não fez uma partida boa sequer.

O México vinha sem o seu principal jogador, Giovani dos Santos, filho de ex-jogador brasileiro Zizinho, mas com uma equipe que atua junto há algum tempo, com dois títulos de mundial sub-17, um deles por 3 a 0 contra o Brasil. Eles sempre nos deram trabalho nos últimos 20 anos, não seria diferente agora.

Mano escalou um time com dois laterais-esquerdos, creio que para tentar reforçar a marcação no setor, já que Marcelo é mais um ponta-esquerda, por mais que seja titular de time europeu e todos os blá, blá, blás decorrentes disso - que na Europa se evolui taticamente, etc. Com 28 segundos, falha na saída de bola pelo lateral Rafael. Por que não ensinaram a ele que no sufoco o melhor é dar bico para lateral e reposicionar a defesa - mais um criado na Europa, no Manchester United. Roubaram a bola e Peralta tocou para o gol, que o fraco Gabriel nem chegou perto de tocar.

Os primeiros 20 minutos foram de México marcando muito bem e Brasil sem saída de bola. Sandro e Rômulo inexistiam em campo, a não ser para errar passes fáceis. Os zagueiros davam bicão para frente para que, com sorte, Damião conseguisse algo.

Aos 31 minutos, Mano resolveu sacar Alex Sandro e colocar Hulk, o que abria a lateral esquerda, mas que aumentava a ofensividade, o que de fato ocorreu. Porém, não o suficiente para empatar o jogo e dar tranquilidade para o segundo tempo, que veio com um Brasil bem melhor, mas sem conseguir marcar. Mau presságio: Leandro Damião teve chance mas a bola não entrava, bem diferente das outras partidas, que ele só precisava de uma.

Oscar participava mais das jogadas e Neymar resolveu esquecer a ajuda ao time, armando mais as jogadas, que afunilando em direção ao gol, mas não o suficiente. Geralmente estava marcado por até quatro jogadores e sem ninguém para aproveitar. Vamos à matemática: se quatro marcam ele alguém há de sobrar, não é mesmo?

Depois, aos 29, falta estranha de Marcelo, o outro lateral, Peralta se movimenta sem qualquer marcação e cabeceia para o gol. 2 a 0 e desespero brasileiro à vista. Peralta entra para o rol de Kanu e Zidade.

Pressão inócua, gol impedido do rival, briga entre Rafael, o novo Felipe Mello, e Juan, e um gol de Hulk no final, aos 46 minutos, só para garantir uma emoçãozinha de um esporte que cada vez mais se distancia disso, por mais que tenha cinco títulos mundiais. Para fechar o caixão, cruzamento na área e Oscar cabeceia sozinho, mas para fora. México 2 a 1 e título inédito, para eles.

Sigamos com José Maria Marín e caindo no ranking da FIFA, vejamos o que ocorre com Mano Menezes e sintamos saudade de um passado não tão recente. Ao menos com Dunga víamos alguém do futebol brasileiro brigar com a Rede Globo...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Grandes Capitães da Areia

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dois ou três anos eu li Capitães da Areia (1937) e fiquei encantado com a história de Pedro Bala e os demais meninos que moravam no velho trapiche à beira-mar. Depois de 1984, de George Orwell, creio que seja o livro que mais me marcou após a leitura, porém, nunca tive tempo para poder escrever, nem que fosse um pouco, sobre ele. Só lembrei disso hoje porque é o dia em que o escritor baiano Jorge Amado completaria 100 anos.

Jorge Amado foi eleito deputado federal em 1945, representando o Partido Comunista Brasileiro (PCB) de São Paulo, mas foi destituído do cargo com o decreto de clandestinidade do Partidão, partindo para a França num "exílio voluntário" em 1948. Por conta destes fortes traços políticos, o autor consegue representar muito bem as contradições do sistema e foi isso que muito me marcou em Capitães da Areia em particular.

Confesso não ser um leitor habitual de Jorge Amado - como sou de seu contemporâneo Graciliano Ramos. Antes deste, só havia lido trechos de Gabriela, cravo e canela (1958). A minha referência de sua obra estava restritas às transcriações para a TV e para o cinema que, além de Gabriela - que voltou ao ar pela Globo este ano -, também contou com Tieta do Agreste (1977) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966). Portanto, referenciais bem menos políticos que outras obras. Tenho aqui comigo Farda, fardão, camisola de dormir (1979), mas não tive tempo para ler 

PEDRO BALA E UMA NOVA SOCIEDADE
Por conta da distância temporal, creio que a voracidade que escreveria naquela época não seja a mesma, mas a história me tocou pela forma de organização dos meninos, ainda que com uma liderança formal estabelecida, através de Pedro Bala - com forte relação com o líder dos estivadores, João de Adão, com quem sempre conversava.

Apesar disso, todos os personagens além dele têm o seu espaço para que possamos conhecer sua história e tenhamos relativa pena por terem chegado naquela condição, mas não um sentimento simples, descolado da realidade, mas algo que cresce com uma revolta em torno das condições materiais da sociedade. Sentimos pelas habilidades de desenho de Professor, o único que sabe ler e escrever e desenha muito bem, apesar de ser sempre pessoas tristes, já que não conhece os alegres; Gato, que se enamora e tenta se aproveitar das mulheres; e Sem Pernas, que usa sua deficiência para furtar famílias, mas sempre pensando que poderia fazer diferente só por uma vez e ser criança como qualquer outra.

A liderança de Pedro Bala só entra em xeque com a chegada de Dora e seu irmão, Zé Fuinha. Os capitães da areia ficam atordoados com a presença de uma mulher dentre eles e fica difícil de controlar num primeiro momento, com direito a acusações sobre o seu líder. A proteção de Pedro Bala vira um afeto por Dora ao longo da história.

O trecho mais emocionante, para além das brigas com os grupos de crianças de ruas rivais, talvez seja quando o parque chega e eles têm um dia para serem mais que meninos obrigados a crescer muito rápido, mas deixam refletir a necessidade de uma infância. O carrossel gira, gira e ali, por alguns momentos, não estão os capitães da areia.

O final do livro é de "vamos à luta" - e isso nem chega perto de ser um spoiler. Destaco abaixo o único trecho que registrei em arquivos de texto. Trata-se de uma conversa entre Pedro Bala e Professor, sobre um desenho que o último fizera numa das calçadas de Salvador:

"Pedro Bala apontou os telhados da cidade baixa: 
- Tem mais cores que o arco-íris... 
- É mesmo... Mas tu espia os homem, tá tudo triste. Não tou falando dos rico. Tu sabe. Falo dos outros, dos das docas, do mercado. Tu sabe... Tudo com cara de fome, eu nem sei dizer. É um troço que sinto... 

Pedro Bala não estava mais espantado: 
- Por isso João de Adão faz um bocado de greve nas docas. Ele diz que um dia as coisas vira, tudo vai ser de vice-versa... 
- Também já li um livro... Um livro de João de Adão. Se eu tivesse tado numa escola, como tu diz, tinha sido bom. Eu um dia ia fazer muito quadro bonito. Um dia bonito, gente alegre andando, rindo, namorando assim como aquela gente de Nazaré, sabe? Eu quero fazer um desenho alegre, sai o dia bonito, tudo bonito, mas os homens sai triste, não sei não... Eu queria fazer uma coisa alegre. 
- Quem sabe se não é melhor mesmo fazer uma coisa como tu faz? Pode até dá mais bonito, mais vistoso".

FILME
Ano passado foi lançado o filme Capitães da Areia, que apesar de muita vontade para ver, não pude por problemas de saúde e muito trabalho - ou o inverso, já que a tendência é de eu ter ficado gripado por conta da quantidade de trabalho. A minha curiosidade continua grande, já que ele foi dirigido pela neta de Jorge Amado, Cecília Amado. Mas isso tentarei resolver dentro de poucas horas.

Li hoje que uma versão feita por estadunidenses, que só foi exibida no Brasil uma vez para cerca de 50 pessoas, é um sucesso histórico na Rússia, então União Soviética. The Sandpit Generals foi rodado em Salvador e teve que ser dividido em dois para fugir à censura mesmo nos EUA, por ter sido taxado de "socialista" e "hippie". 

Salve, Jorge!

Referência
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 122. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

[Londres 2012] Desilusão, desilusão/ Danço eu, dança você

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Eu sou fascinado por esportes desde criança, a ponto de lembrar algumas poucas coisas da vitória brasileira no vôlei masculino em 1992 e, com toda certeza, saber que graças a Atlanta 1996 que tive os primeiros sinais de que queria ser jornalista, a ponto de anotar coisas de uma decisão de terceiro lugar na disputa individual do tênis.

2012 não vem sendo igual aos outros anos olímpicos. Quer dizer, vem sendo bem pior que os outros anos. Por mais que eu tenha mais condições de acompanhar os Jogos de Londres, tanto por ter mais tempo quanto por ter acesso à internet com boa velocidade - e ver várias coisas por um site apenas, o Terra -, estou num ponto em que vem faltando vontade até para ver futebol nas quartas e nos domingos.

Enfim, não é (só) disso que trata a desilusão do título deste texto, trecho "roubado" de "Dança da Solidão", do grande Paulinho da Viola. Vamos às decepções brasileiras até que nestes jogos de verão: Diego Hipólyto, Fabiana Murer, César Cielo, Felipe França, revezamento 4X100m livre masculino, Maurren Maggi, Leandro Guilheiro, Tiago Camilo, Juliana e Larissa, etc.

Provavelmente devo ter esquecido algo/alguém nesta lista. Não incluo o futebol feminino porque a culpa da eliminação ainda nas quartas de final, contra o atual campeão mundial Japão, está na conta do técnico Jorge Barcellos, que amplificou os erros do seu antecessor, Kleyton Lima, ao inventar nas escalações. Defendo a hipótese de que neste ciclo olímpico outras equipes cresceram e o Brasil parou no tempo, com uma Marta já não tão excepcional, até por conta do avanço da idade, do que antes, o que aumentava a responsabilidade de uma melhora em termos coletivos.

COMEÇANDO COM O HANDEBOL
Recuso-me à colocar uma "legenda feita" (Foto: EFE)
Nesta terça-feira, resolvi acordar cedo, às 6h, para ver as brasileiras do handebol contra a Noruega, atuais campeãs olímpicas e mundiais, que passou em 4º lugar para pegar um caminho "mais fácil" - e este só foi um caso. Com uma campanha muito boa na primeira fase, na liderança de seu grupo e apenas uma derrota, o Brasil me trazia esperanças também por conta da excelente campanha no Mundial passado, em São Paulo, quando perdeu a vaga para as semifinais frente a Espanha numa falha pontual no último minuto de jogo.

O tempo de ligar o computador me fez perder alguns minutos e já estava 5 a 3 para o Brasil. Seguimos mantendo uma boa diferença no primeiro tempo, que terminou 12 a 9, com grande atuação da goleira Chana - a quem o narrador do Terra teimou a chamar assim, por motivos óbvios, optando por Masson até o segundo tempo. O técnico dinamarquês Morten Soubak vem fazendo um trabalho muito bom e fora da quadra acompanhava e gritava o tempo inteiro

O início do segundo foi animador, com três gols brasileiros e duas grandes defesas de Chana, com direito a pegar um tiro de sete metros. Parecia que aqueles "apagões" que eu sempre vi que ocorria com o nosso time de handebol em partidas de torneios importantes tinha ficado no passado. Parecia. Até os 21 minutos o Brasil ficou na frente, mas deve ter passado mais de dez deles parado nos 18 gols até que a Noruega virou e não saiu mais da ponta do placar, vencendo o jogo por 21 a 19.

É bom destacar também que a goleira reserva da Dinamarca, Grimsbo, fez defesa até como se estivesse num campo de futebol, pegando chutes no canto, com muita força. Porém, o time de handebol continua a esperar aquele (bem) pouco mais que ainda falta para se colocar em termos de resultados como uma das principais forças do esporte, o que na prática dos confrontos já se mostra claro e evidente.

Eu fiquei muito agoniado, já que por conta da hora não podia gritar, mas ficava falando em defesa e ataque o tempo inteiro, comemorando cada jogada perdida pelas adversárias e cada gol nosso. Creio que deveríamos ter permissão para superar qualquer problema com companheiros de apartamento ou vizinhos em casos de Jogos Olímpicos, Copas do Mundo e decisões de campeonato de futebol...

É SÓ A CADA QUATRO ANOS!
Até o Zé Roberto!!! (Fonte: Terra)
Mas o dia e a tensão não pararam por aí. O time de vôlei feminino veio de uma primeira fase ruim, com duas derrotas e classificação só na última rodada. Muito pouco para as atuais campeãs olímpicas. Para piorar, a barreira de muitos torneios, a Rússia, já nas quartas de final. E que jogo!

Comecei a vê-lo em casa, com a Rússia vencendo o primeiro set e o Brasil o segundo. Saí para a universidade no final do terceiro e cheguei na sala do grupo de pesquisa para ver o quarto, e a nossa vitória. Um colega de trabalho estava lá, nervoso, olhando e gritando com o time como se tivesse na quadra. Juntei-me à torcida. Vencemos o quarto set e veio o tie-break.

O Brasil vencia por 13 a 10 mesmo com um erro bizarro da arbitragem momentos antes. Parecia que as meninas não iam se descontrolar como em tantas outras vezes. Parecia. A Rússia virou para 14 a 13 e teve seis match points a favor. Eu já estava em pé quando o jogo estava lá pelos sete pontos para o Brasil, mas nesta hora comecei a andar em torno do computador. O meu colega já estava a ponto de comer um pedaço de plástico. Isso porque batia na mesa, batia com os pés no chão, gritava "vai, gurias!" e tudo o mais.

Num momento ele até que me disse que tinha gente trabalhando no andar de baixo e eu respondi que não havia problemas, Olimpíadas só a cada quatro anos. Fora que uma partida que nem essa não sei quando irá se repetir.

Após as seis manutenções de jogo, quatro delas com a espetacular (e linda) Sheilla, Fernanda Garay acertou um ace e Fabiana confirmou o contra-ataque seguinte. 21 a 19 que fez até José Roberto Guimarães a dar dois peixinhos na quadra e quebrar o relógio. Parecia um título, mas foi uma enorme espinha retirada do pescoço, já que as russas nos tiraram da final olímpica em 2004 e dois títulos mundiais, 2006 e 2010.

Meu colega de trabalho gritou, pulou e me deu um abraço muito forte. Mas nós merecíamos uma emoção (boa) daquelas, dados os acontecimentos das últimas semanas.

Ainda lá, pude acompanhar os erros da arbitragem e a vitória tranquila do Brasil contra a Coreia do Sul por 3 a 0,  com enorme destaque para o "sempre ele!" Leandro Damião, autor de dois gols. O time brasileiro não vive um grande momento em Londres, mas chegou à final. No sábado, o "título que nos falta" vai ser disputado contra o México, que em muito evoluiu na última década, com alguns títulos mundiais em categorias de base.

Para fechar o dia, peguei o final da derrota da dupla Juliana e Larissa para a segunda dupla dos Estados Unidos e frustraram o que seria uma final histórica, contra a melhor dupla do vôlei de praia feminino de todos os tempos, Walsh e May.

BRASIL X ARGENTINA
Esta quarta-feira marcava dois importantes confrontos contra os hermanos. Tudo bem que por conta da viagem recente por lá e a fascinação pelo país que eu não tenho tanta raiva deles, mas...

Para começar, uma fácil vitória no vôlei masculino, pelas quartas de final do torneio olímpico. 3 a 0 muito tranquilos, num jogo que expôs a diferença de nível entre as duas equipes, com o Brasil muito superior. Mas haveria no final da tarde um jogo de fortes emoções, em que o favoritismo invertia, só que no basquete masculino.

Antes disso, acompanhei a decisão do bronze no vôlei de praia feminino. Juliana e Larissa tinham levado uma "surra" no primeiro set, por 21 a 11 (!) e iam perdendo o segundo por 19 a 16, o que seria um final trágico para a melhor dupla da contemporaneidade. Com Larissa no saque, a dupla virou para 21 a 19 e venceu o jogo no tie break, para muitos palavrões e gritos desde que vos escreve.

Até o doodle de hoje ajudaria os brasileiros...
No basquete, o trabalho era mais duro. O confronto era "só" contra nomes como Scola e Ginóbili do outro lado, com um título olímpico (2004) e uma medalha de bronze (2008). Ainda assim, com grande atuação de Marcelinho Huertas, que fez 13 pontos (3 bolas de três), o Brasil venceu por 26 a 23. No segundo, o time cochilou um pouco e perdeu o primeiro tempo por 46 a 40. No terceiro quarto, o Brasil deixou para jogar quando faltavam apenas dois minutos, o que acabou evitando uma catástrofe, 64 a 54.

No último quarto, a Argentina abriu bem, chegando a uma diferença de 14 pontos, até que Leandrinho resolveu aparecer, acertando lances de três pontos e reduzindo a diferença para três com posse de bola nossa, faltando pouco mais de um minuto. Mais uma vez parecia que iríamos nos superar. Parecia. Perdemos a bola e a Argentina começou a acertar todos.

A vaga na semifinal ficou na atitude ridícula da Espanha, que perdeu de propósito para pegar uma chave mais fácil. O Brasil precisa urgentemente treinar lances livres, já que o índice de acertos foi risível, e isso fez muita diferença numa partida decisiva e tão equilibrada. No final, Argentina 82, Brasil 77. Pelo menos valeu para voltarmos a ser uma das forças do basquete masculino mundial. Torço para que os dirigentes da CBB continuem o bom trabalho que vem sendo feito, com grande destaque para o técnico Rúben Magnano.

Ah, não poderia esquecer que acompanhei o boxe também. Torci bastante para a Adriana Araújo conseguir a vaga na final, mas a juizada ajudou muito a russa, que levou. Mas valeu a bronca que ela deu no presidente da Confederação Brasileira de Boxe. Treinada por nada mais nada menos que Luiz Dórea, ela disse que o presidente da CBB chegou a desmerecer o que ela fazia e a medalha era uma prova de que o trabalho é certo.

Por fim, enquanto escrevia este texto, Yamaguchi Falcão venceu o atual campeão mundial Julio de La Cruz e garantiu, pelo menos, mais uma medalha de bronze. Ele se junta ao irmão Esquiva Falcão na busca por um inédito ouro olímpico na categoria, que não via medalhas desde 1968 e garantiu três em 2012.

Triste, chateado, frustrado, decepcionado e cada vez mais solitário. Mas, como dizem os gaúchos, "não tá morto quem peleia". Seguimos peleando...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

El Grande Circo apresenta: Saturno de José!

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"Respeitável público! El Grande Circo apresenta: Saturno de José!". Dois homens passeavam com suas bicicletas nas ruas de uma cidade do interior brasileiro a gritar a principal atração do circo recém-chegado. A população começou a ficar ouriçada, afinal, o que seria Saturno de José, quem é esse tal de José? Para aumentar a ansiedade, a apresentação só ocorreria a partir das 22h30.

Todos e todas da cidade se espremeram nas arquibancadas do Grande Circo. Crianças, jovens, adultos e idosos, todo mundo curioso para saber o que tanto os rapazes gritavam na tarde daquele sábado. Mais estranho ainda era perceber que a tenda do circo estava aberta por cima. Por que aquilo? E se chovesse? Será que o que viria apenas roubaria a alegria sentida antes, com todas as apresentações anteriores?

Eis que o pandeiro toca por exatos 17 segundos e adentra um homem, um José, como diria Drummond, que é sem nome, que faz versos, que parece mais amar e protestar. Mas que não zombe de todos aqueles que estão ali. Até mesmo porque o prefeito da cidade se deslocou com a sua nova esposa para assistir a apresentação que tanto chamou a atenção de seus eleitores.

Do nada, José faz um movimento e desce algo ovalado e com uns anéis em torno. Mas de onde desceu? Como desceu? Onde está preso? Afinal, será mágico esse tal de José? 

O professor de ciência das crianças grita: "É SATURNO!!! O planeta Saturno!"

Ouvi-se um OOOOOOOOOHHHHHHHH!!! do público, mesmo daqueles que mal faziam ideia que existiam outros planetas além da Terra.

Eis que José faz os anéis se movimentarem e um som sai dali. O que seriam? Duas guitarras e duas baterias? Mas como há de se fazer música, se é essa a intenção só com estes instrumentos?

O som se multiplica a seguir. Logo aparece uma flauta, o teclado vem logo a seguir e algumas letras atravessam o ar, causando frio na barriga de algumas pessoas presentes. As palavras escutadas, não se sabe de onde, já que vinham de todos os lugares, questiona a amargura das criaturas ali presentes. As pessoas que ouviam quietas passam a se movimentar, mesmo sem se aperceber. Os idosos vão para frente como se retomassem a juventude...

♪Quer sentir o universo se expandir na minha pele? Pois saiba que nós vamos envelhecer devagar/ Devagar para dar tempo de relembrar/ A Fonte da Juventude é o frio na barriga!♪

Neste clima de êxtase, o céu escureceu de repente, com a lua ficando encoberta por nuvens, mas não era chuva. O vento batia forte nos varais em volta, com as roupas fugindo dele. A nuvem que encobria a lua dá uma piscadela só para fazer com que as pessoas pulassem de alegria por realmente não chover. Realmente:

♪A Fonte da Juventude é o frio na barriga!♪ 

Um suspiro sobe na espinha até dos mais novos. Até José parece ter sentido esta, afinal também é mais um José, como tantos outros que o viam agora trocando o espanto pela alegria. Ele só pensa que: ♪Se ela sorrir... Se ela sorriiiiiiirrrrr♪.

Os instrumentos voltam se misturar. É o fim da primeira música! O público ficou tão extasiado que mal consegue aplaudir. Na verdade, mal consegue piscar os olhos. Os anéis fazem outra dança. É hora de algo que adoce a vida daqueles que estão presentes. O amargor visto inicialmente vai se dissipar de forma derradeira.

♪Chegou a hora de brincar/ Correr, cair, saltar, voar♪

José olha novamente para o público e já tem plena certeza de onde conhece a mulher. A história estava nas palavras que não paravam de o circundar. Os cafés tomados, sempre com a sua lembrança de que não esquecesse o açúcar, os beijos trocados nos papeis de cartas, os sonhos que ele escreveu e, principalmente, da noite em que viram um cometa passar.

♪E quando você atingir o céu para nos fazer feliz/ Por favor, não se esqueça da gente/ Por favor, não se esqueça de mim♪

Era a hora do final do espetáculo. Mágico bem diferente dos outros, José acaba de cair na sua própria ilusão. Os anéis de Saturno voltam se movimentar. Um triângulo se junto aos outros instrumentos e novas vozes aparecem em todos os lugares. A música diz que se vai seguir paciente, soberano. 

José percebe que o amor de sua vida era a "mais nova mulher do prefeito". O que fazer? O que dizer? A canção fala por si:

♪Eu não sou santo para andar pendurado em chaveiro de fazendeiro ou de madame/ O caminho é aberto para todos♪

O José que ama e que protesta aparece e as letras circundam todo o circo, este castelo que o protege de qualquer coisa, a ponto de dizer que:

♪O nosso tempo ainda não passou e eu ainda estou a ti...♪

Inebriados pela apresentação, ninguém percebe o que estava realmente acontecendo ali, por mais que o "mágico" estivesse cantando junto às outras vozes de seu Saturno. A música volta a garantir paciência, que ela não tenha dó do dele, não tenha dó dos dois. Eis que vem a última parte e o fim do espetáculo. A revelação ocorre:

♪O nosso tempo ainda não passou e eu ainda estou a ti ESPERAR!♪

José pega na mão dela, sobe em seu Saturno e deixa a cidade ainda cercado da curiosidade que marcou a sua chegada àquela cidade. As pessoas custam a entender quem seria mesmo aquele José e agora para onde ele foi, ainda mais com a esposa do prefeito. Não importava tanto saciar os curiosos, a felicidade já havia chegado...

SATURNO DE JOSÉ
As músicas "Fonte da Juventude", "Adoçar" e "Soberano", cujos trechos ajudaram-nos a contar a história do "mágico" José está entre as seis que a banda Saturno de José gravou, mixou e masterizou no Estúdio Music Box para o seu primeiro EP, que foi produzido por Alexandre Birck (Graforréia Xilarmônica), sendo financiado pelo Funproarte SMAC/Prefeitura Municipal de Esteio.

Para quem tiver a curiosidade de conhecer mais o tal do Saturno de José e seus efeitos sobre o público, a banda formada por Daniel de Bem, Gibran Vargas, Hiozer Rezoi, Ivan Lemos e Thiago Sudatti, estas vozes e instrumentos que vêm de "todo o lugar", lançará o EP no próximo sábado, 11, no Espaço 711 PUB, na cidade gaúcha de Esteio.

A entrada custa R$ 7,00 e o lançamento do EP contará ainda com as apresentações de Cataventos de Bolso e de Os Diletantes.

Serviço:
O quê? Show de lançamento do EP da Saturno de José (mais Cataventos de Bolso e Os Diletantes)
Quando? A partir das 22h30 do dia 11 de agosto (sábado)
Onde: Espaço 711 PUB, Av. Dom Pedro, 711, Esteio-RS.
Quanto?R$ 7,00.

Saturno de José
Integrantes: Daniel de Bem, Gibran Vargas, Hiozer Rezoi, Ivan Lemos, Tiago Sudatti