quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tirar a sorte?

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Imagem: Graham Franciose (Proj. One a day)
Relógio biológico ainda refletindo os efeitos da bagunça com o sono no domingo. Levantar uma hora depois do previsto para resolver algumas pendências ainda de manhã para, quem sabe, ir para uma rodada dupla no cinema. Banho e saída já com a mente, como sempre, pensando que não daria tempo, que o cinema, se ocorresse ainda esta semana, só poderia ser na quinta-feira e, ainda assim, um filme. Abre a porta, fecha a porta e saída.

Na descida das escadas do prédio, a zeladora diz que precisava mesmo me encontrar. Na cabeça, instantaneamente, vem: 

"Como posso dizer que agora não posso. Será que é para tirar a lâmpada que ela não alcançou na semana passada e só não me pediu para fazê-lo porque já tinha jogado fora a água para limpá-la?"

Nada disso. Tinha chegado um livro para mim e ela tinha esquecido de aproveitar que estava limpando o bloco para me entregar. Acerto de pegar quando voltasse da universidade. Ela me diz que era só bater na porta da sala dela que me entregava. Eu até sabia qual era o livro, nem precisar perguntar e nem era tão urgente assim.

Caminhando entre o sol e as sombras do caminho para a universidade, entre o friozinho desses últimos dias, ainda que com o céu limpo. Universidade preparando-se para o seu ritmo normal e, para a minha surpresa, a primeira das coisas a fazer foi rápida. Já a segunda... Corrige aqui, confere dali, corrige de novo acolá e o tempo economizado antes foi gasto além da conta depois.

Tudo resolvido, encontro com o professor da segunda. Uma troca de "tudo bens" até eu responder que sim, tudo bem. E rapidez para a voltar em casa. Antes, aquela batida na porta, interrompendo o almoço da zeladora, pego o livro (revista acadêmica) e sigo para correr dentro de casa para não sair atrasado. Para piorar, só na hora do almoço percebi que uma das coisas tinha acabado e precisaria de mais tempo só para ela. O jeito foi usar mais espaços do fogão.

Consigo sair em tempo hábil. Música nos ouvidos. Trem chega. Sentar e ler as páginas iniciais do livro que compara a exposição midiática de Garrincha e Pelé. Senta uma mulher ao lado, que dá o lugar para outra, que desce antes do terminal final. E lá se foram as páginas introdutórias.

Ciente de estar em tempo, mas ainda assim andando rápido. Praça Montevidéu. Uma pessoa olhando documentos, afinal o primeiro papel estava com uma rubrica em baixo. Pela primeira vez me dou conta que as grades em frente à prefeitura podem ser para evitar que os moradores de rua tomem banho na fonte da praça.

Olho para a esquina e vejo um carro esperando as pessoas passarem. As pessoas passam e são interpeladas por uma senhora estendendo a mão. Penso:

"Será que é daquele tipo de mulher que pede dinheiro assim, do nada, ainda que bem vestida?"

Nada disso (2). A resposta vem a seguir, na minha direção:

- Tirar a sorte, senhor?

A cabeça balança de forma negativa. Ela se afasta. Eu atravesso a rua e não tenho como deixar de pensar:

"Não conheço nenhuma sorte, senhora. Não sei se poderia tirar mais de algo que talvez já nem tenha".

Ah, consegui ver a rodada dupla no cinema.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

[Em busca do El Dorado] Enfim, mestre!

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Foi tanto tempo pensando no que iria escrever após a defesa de dissertação, tantas vezes imaginando o que deveria relatar após estes quase 2 anos de Rio Grande do Sul, quase dois anos de Mestrado, que na hora que já podia fazer isso, acabei adiando. Eis a hora de escrever sobre a experiência acadêmica - não ainda sobre a experiência geral de vivência nestas terras, isso fica para depois.

Alegria, orgulho, alivio, tranquilidade e, sendo justo, um pouco de frustração. Vários sentimentos passaram por mim após a leitura da avaliação da minha dissertação pelo orientador. A primeira reação foi não ter praticamente reação alguma. A minha velha mania de não demonstrar sentimentos em público. Vá lá que também por aquele tempo que se demora para a "ficha cair".

Por mais que eu tenha passado por vários problemas, muitos dos quais inimagináveis e concentrados em 2012 - especialmente de maio a agosto -, com aquele turbilhão de mudanças com a morte do orientador da pesquisa, do líder do grupo e de um dos principais pesquisadores e articuladores da linha teórica trabalhada antes mesmo de se ter algum professor para acompanhar a rotina de estudos, a minha preocupação era com o passado.

FRUSTRAÇÃO PASSADA
Meu processo de produção da monografia do TCC foi muito difícil. Optei por ficar um a mais na graduação por conta de um projeto de pesquisa que em nada tinha a ver com o que me propunha para a monografia. Além disso, trabalhava em dois lugares e ainda tinha um núcleo de estudos cuja coordenação sobrou para mim. Ao menos de maio a outubro era trabalho das 6h30 até às, em média, 20h de segunda a sábado. Como se isso não bastasse, não contava com boas condições para me concentrar em casa - por vários motivos, os quais não quero explicitar.

O meu TCC foi sobre a experiência de um telejornal da TV estatal alagoana. O que seria, na proposta inicial, a análise de discurso do telejornal a ser criado, virou, por conta do ano de mais influências da EPC, na tentativa de se entender o porquê deste jornal ter durado apenas 4 meses, analisando o contexto da comunicação não comercial no Brasil.

Li várias coisas sobre o assunto e, inclusive, busquei uma possível (co)orientadora ainda em maio de 2010. Lembro de naquela primeira reunião dizer a ela que gostaria de fazer o trabalho aos poucos e, se possível publicar os capítulos ao longo da produção, de maneira a poder extrair algumas sugestões durante o percurso. Acabou sendo tudo diferente. Devo ter dito outras duas reuniões de orientação no ano seguinte, principalmente por conta de tantas atividades, e apareceu - e é esta a palavra - a possibilidade do Mestrado numa universidade privada gaúcha que havia visitado em 2007.

Saí da rádio em outubro para terminar a monografia, mas não conseguia escrever. Passou outubro, passou novembro e só conseguia fazer o que estava no "automático", caso do rastreamento das edições do telejornal que poderia utilizar. Vim fazer a entrevista de seleção do Mestrado com pouquíssima coisa escrita, apesar do muito que sabia sobre o assunto. Aqui, em menos de uma semana, devo ter escrito metade dela. Boa parte em folhas de rascunho, com uma parte delas conseguindo passar para o computador ainda no Rio Grande do Sul.

Voltei a Maceió e consegui manter certo ritmo para terminar na semana seguinte o trabalho. Tive problemas de agenda dos professores para conseguir marcar a banca, virei a noite revisando o TCC e fui trabalhar sem dormir. Quando cheguei, a impressão dava erros. Fui ao ponto de ônibus e este não passava. No meio do caminho, um engarrafamento de uma hora que fez com que eu dormisse e acordasse praticamente no mesmo ponto um pouco antes da Av. Fernandes Lima. Chegando à universidade, o professor orientador já não estava. Ficaria para a segunda-feira seguinte.

No dia da apresentação, um professor resolveu pegar o datashow mesmo este tendo sido reservado para a banca. Tive que esperar um do Instituto ao qual o curso faz parte para apresentar. Ainda bem que cheguei com certa antecedência e, de qualquer modo, poderia apresentar sem ele. No fim, a apresentação que deveria durar, no máximo, 20 minutos, terminou com 37. E, honestamente, foi ela que me salvou.

Tudo bem. Eu sempre me cobrei muito e mais do que qualquer outra pessoa, mas me daria 9 pelo texto. Falo isso, inclusive, porque voltei a ele para publicar artigos e vi que tinha muita coisa a ser melhorada. A apresentação ajudou para demonstrar que eu tinha muito conhecimento sobre o assunto. No final, veio o 10 da banca, com correções a serem feitas. 

Aquilo ficou registrado em mim até esta segunda-feira.
ALÍVIO
Sabia da dificuldade de conseguir apresentar algo com o triplo do tamanho da qualificação, mas com 50% a mais de tempo. Acabei por cortar algumas informações que sabia que na apresentação não seriam tão essenciais, principalmente porque a comissão examinadora leu o texto. Ah, se a anterior teve uma semana para analisar o material produzido, esta teve um mês a mais.

Depois de muito tempo (ao menos cinco anos), consegui ter mais de uma semana de folga. Enviei a dissertação ao orientador no dia 03 de janeiro, com um alívio imenso, e depositei no PPG no dia 17. Depois daquele período só voltei a olhar em qualquer coisa de trabalho depois do carnaval. Vivi quase como um náufrago. Barba crescendo, livros sendo lidos, textos sendo escritos apenas para este blog - e uma ou outra coisa "mais séria" a fazer em determinado momento.

Se eu consegui isso foi por conta de um processo bem mais tranquilo. A bolsa permitiu dedicação total aos estudos e aos projetos que apareceram ao longo destes anos. Além disso, optei por me focar mais nos estudos da Comunicação e, principalmente, em coisas que tangenciassem a pesquisa principal. Por fim, um esquema de orientação que tinha um ritmo que eu gostava. A qualificação foi com menos de 8 meses de pesquisa e a entrega do material só não foi um ano depois por conta da morte do orientador, agregada a outros problemas. 

Ainda assim, entreguei o trabalho com folga de tempo. Porém, o principal era saber que, não só por se tratar de um objeto que sou fissurado desde criança, este foi até aqui o trabalho da minha vida. Por mais que eu soubesse que os membros da banca costumam ter elevados índices de exigência com trabalhos acadêmicos, tranquilizava-me por saber que desta vez fiz o melhor possível.

Volto a frisar que não foi um período fácil. Por conta do meu jeito de ser quase solitário, com um silenciosamente quase que total quando estou me sentindo mal, só eu sei pelo que passei neste período. Os momentos de insônia provocados pelos problemas que eu custava a acreditar, as lágrimas que caíram pelo reconhecimento de que certas coisas não deveriam ocorrer, ou outras que ocorriam normalmente com as demais pessoas, comigo sempre eram extremamente mais complicadas e infinitamente trabalhosas; instantes que fizeram com que eu conhecesse um Anderson que muito me preocupou. Ainda assim, foram aqueles momentos que me fortificaram para o que viria depois, mesmo tendo que aprender a duras penas que para certas coisas não se têm como correr atrás - nem num ritmo de Usain Bolt.

Chegar à banca de maneira tranquila e com a confiança de ter um trabalho em que fiz o máximo que podia me trazia o alívio, independente da avaliação da banca. Fora a felicidade de me sentir assim estudando futebol. Ter apagado o receio de misturar o lazer de sempre com o trabalho de alguns anos. Ter a certeza que é isso mesmo que eu quero estudar; que o prazer em pesquisar só aumentou.
ORGULHO
A apresentação deveria durar 30 minutos e, creio eu, deve ter terminado com 38. Levando em consideração o quanto demorei na monografia, foi um avanço daqueles (risos). Apesar dos cortes e da rapidez ao final, creio que consegui explicar a pesquisa, especialmente para o agradável público que se deslocou para a universidade numa segunda-feira de manhã na primeira atividade acadêmica pós-férias.

Foram algumas críticas - dentre elas, um número razoável que imaginava que poderia aparecer -, algumas sugestões para polimento do trabalho pensando numa publicação futura e elogios que em muito me envaideceram. Escutei dos professores que o trabalho estava "acima do nível das dissertações normais", que se tratavam de sugestões para "polir um diamante" e que as críticas, que exigiam novas leituras para determinados pontos que eu não me aprofundei, eram justamente porque sabiam da minha seriedade com a pesquisa. São coisas que ficarão marcadas.

Se naquele 20 de dezembro de 2010, eu comemorei a aprovação com nota 10 - ainda que em pouco tempo, já que devia correr para conseguir entregar a monografia e colar grau a tempo de fazer a matrícula no Mestrado -, neste 25 de fevereiro, pude retirar um peso enorme de mim. Por mais eventos que tenha ido, por alguns artigos aprovados inclusive em revistas científicas, pelo orgulho que dá ter hoje muito bom contato com excelentes pesquisadores renomados, eu sabia que precisava ter um resultado que me trouxesse um imenso alívio. O alívio de olhar para trás e ter a certeza de que se naquele momento não saiu o trabalho dos meus sonhos, foi porque não pude me dedicar ao máximo a ele.

Vou falar algo que eu não gosto de explicitar, mas o momento merece. Só quando cheguei em casa é que as lágrimas caíram, que as comemorações boleiras vieram junto. Como já disse, sempre me exigi muito, por isso que sempre trabalhei muito - por conta também do excesso de falta de sorte que eu tenho - e ter o resultado atual é a garantia que valeu a pena.
Imagem: Graham Franciose.(Projeto One a day)
Frustração
Claro que em meio a essa autocobrança exacerbada fica ainda certa frustração de não ter conseguido construir algo viável a curto prazo. A incerteza do futuro vem tirando o meu sono há alguns meses e deve seguir pelos próximos. A frustração por ter feito muito, especialmente nestes dois anos, mas de não ter sido o suficiente. De, provavelmente, ter de pela segunda vez na vida ser "obrigado" a voltar a um lugar. Não que eu o odeie, só não o queria por agora; voltar noutras (e melhores) condições.

Eu sei, eu sei. Não deveria estar pensando nisso, que com título de mestre é outra coisa. Mas só eu sei de onde eu vim e do que me espera. Do quanto parece até outra realidade, já que o convívio é com pessoas que pensam muito diferente, cujos modelos de vida geravam questionamentos irritantes e intragáveis.

Realmente tenho muito a comemorar. Sou neto de avós paternos analfabetos. A primeira pessoa a entrar numa universidade (federal), entre os parentes paternos e maternos, foi o meu pai, e isso aos 40 anos - eu o auxiliando para o vestibular e nos trabalhos acadêmicos e num péssimo momento familiar. Ao menos nos últimos 13 anos tive que separar as coisas de trabalho com as coisas familiares, não misturar os problemas, não deixar que um transparecesse no outro ambiente.

Enfim, já falei de mais das "coisas que eu não sigo". A hora agora é de entregar a criação para o mundo - por mais que alguns filhotes, em forma de artigos, já estejam por aí há algum tempo. Como costumo dizer, eu sei muito tem que problemas para mim não vão deixar de aparecer, que eu não deixarei de reclamar deles, de tentar entender porque para mim as coisas parecem ser muito mais difíceis, mas também nunca vou parar.

Ah, inclusive, se eu parasse nunca teria chegado aqui, já que a universidade não queria aceitar a minha inscrição naquele processo seletivo. Depois, consegui colar grau (e um salve à UFAL!) apenas três dias depois de requerer o processo, nos primeiros dias de janeiro.

Sigamos lutando!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

[Em busca do El Dorado] AGRADECIMENTOS

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Todo trabalho acadêmico deve ter a parte de "Agradecimentos", espaço onde amplia-se a dedicatória, geralmente dedicada a uma pessoa. Ainda assim, para mim sempre é difícil fazê-los. Afinal, muitas pessoas passam ao longo de uma jornada de dois anos; várias pessoas passam ao longo da vida. Cada contribuição, apoio, companhia, parceria, diálogo, dos mais complexos e teóricos aos mais simples e corriqueiros, são importantes para a formação individual. A minha pesquisa é sobre um tema que perpassa a minha vida desde criança e, mesmo que não o fosse, os agradecimentos tentam levar em consideração este aspecto. Abaixo, as minhas opções para este momento. Reproduzo os agradecimentos da dissertação "A consolidação de um monopólio de decisões: A Rede Globo e o Campeonato Brasileiro de Futebol".

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que, através do Programa de Recursos Humanos em TV Digital (RH-TVD), apoiou esta pesquisa com o pagamento dos custos do Mestrado e a bolsa de estudos a este pesquisador. 

Agradeço ao professor Valério Cruz Brittos pela oportunidade cedida a este alagoano, com uma orientação acima do esperado, sempre com sugestões e com o respeito às decisões teóricas realizadas por mim, além das demais oportunidades de trabalho no convívio direto de pesquisa através do grupo de pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS). 

Agradeço também ao professor Ronaldo Cesar Henn pelo acompanhamento do período final da dissertação após o falecimento do professor Valério Brittos. Num momento complicado, o professor Ronaldo sempre mostrou respeito ao eixo teórico-metodológico já trabalhado, ainda que não fosse o que ele utilizasse em sua prática acadêmica, e com sugestões pontuais que acabaram sendo relevantes para a finalização desta dissertação. 

Agradeço à minha família, especialmente aos meus pais Antônio e Ana pela paciência com um filho que resolve sair de casa para um lugar a 4.000 km de distância e que só fala com eles uma vez por semana, visitando-os apenas uma vez em dois anos. Ao meu pai ainda, muito valeram as palavras de tranquilidade nos momentos complicados por aqui. 

Aos amigos Paulo Mitt e Diego Polese pela parceria para além da divisão de gastos com moradia. A amizade do cotidiano, em meio a atividades e histórias diferentes de vida, sempre esteve por aqui. 

Um agradecimento também a Rafael Cavalcanti, por me apontar a UNISINOS como uma possibilidade de estudo para o Mestrado, e a Bruno Lima Rocha, pelo apoio naquele momento inicial e pela amizade e parceria em várias coisas durante o Mestrado. 

Um agradecimento acompanhado de admiração aos companheiros do grupo de pesquisa CEPOS, acostumados a muito trabalho, mas que tivemos e estamos a conviver a partir de 2012 com perdas irreparáveis nos mais diversos sentidos. Neste âmbito, opto por destacar as participações de Paola Madeira e Alexon Gabriel João pelo árduo trabalho no setor administrativo do grupo. Além deles, aos amigos conquistados ou que passaram pelo CEPOS, mas cuja relação foi para além dos movimentos realizados pelo grupo, casos de Eduardo Menezes, Ivan Lemos, Dijair Brilhantes, Elsa Olaizola e Naiá Giúdice. 

Aos colegas e professores da Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos pelas discussões e contribuições que sempre temos no ambiente acadêmico, mas, principalmente, pelo respeito sempre demonstrado nas salas de aula pelas opções teóricas e metodológicas escolhidas. Um agradecimento especial, dentre os colegas, a Luciano Gallas, parceiro de CEPOS e de jornada com um objeto sob a luz da EPC. 

Agradeço também aos colegas pesquisadores de outras universidades do Rio Grande do Sul e do país, sejam da Economia Política da Comunicação ou dos estudos sobre o futebol e a mídia, geralmente propícios ao debate, para dar e ouvir sugestões e, principalmente, por formatarem ambientes amigáveis de diálogo e convívio. Por fim, aos colegas e amigos com quem tive contato em Maceió e que de alguma forma se preocuparam em saber como andava a minha jornada em terras gaúchas, especialmente ao amigo do sofrimento cotidiano de ser palmeirense Victor Alves.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

[Por Trás do Gol] Para a Polícia vale o mesmo que para o árbitro

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Menos de dois meses concluídos no ano e a polícia vai conseguindo aparecer no noticiário esportivo mesmo com a primeira fase do Campeonato Alagoano muito disputada e o sucesso do ASA na Copa do Nordeste. Mesmo de longe, já soube de três casos em que este agente (repressor) surgiu no ano. Tudo bem, metade dos casos é por conta de outro problema: certos torcedores (?) organizados.

30 de janeiro
União e CSA disputaram naquela tarde de sábado mais um jogo do Alagoano, em sua 6ª rodada. Enquanto o time azulino vinha de goleada por 6 a 0 contra o Sport Atalaia, a equipe da terra do Quilombo dos Palmares também vinha de goleada, mas sofrida, para o Corinthians por 4 a 1.

Ao contrário do que se imaginava naquela tarde, o CSA sofreu para arrancar um ponto no Estádio Orlando Gomes, com Mendes empatando aos 44 minutos do segundo tempo. Acompanhei a partida pela internet e depois segui com as minhas atividades rotineiras. Só depois é que soube e vi do que houve após a partida.

Integrantes da maior organizada do CSA pularam o alambrado e foram retirar e rasgar a faixa da torcida organizada do União - sim, elas existem mesmo para clubes tão novos e no interior. Membros desta também pularam o alambrado e partiram para a briga.

Após algum tempo, policiais do BOPE aparecem e, com a singeleza de costume, saíram batendo em todos que apareciam pela frente, mesmo aqueles que não esboçavam nenhuma reação. Chutes, cacetadas, socos, intimidação. Pessoas jogadas ao chão. Torcedores nas arquibancadas até tentaram protestar, mas nada mudou a atitude dos policiais - será que a gente usa aspas ou interrogação aqui também?

Tanto Ministério Público quanto o comandante da Polícia Militar indicaram abertura de procedimento administrativo par averiguar a responsabilidade tanto dos torcedores quanto dos policiais. A esperar...


06 de fevereiro
CRB e Santa Cruz se enfrentavam pela última rodada da fase inicial da Copa do Nordeste. De um lado, o Santa Cruz já estava classificado, lutando para manter a primeira posição do Grupo D. Do outro, o CRB já estava eliminado, tentando vencer mais uma partida no Estádio Rei Pelé. Intervalo de jogo e o clube alagoano estava alcançando este feito, 2 a 1.

Integrantes de organizadas de Santa Cruz e CRB pularam para o anel inferior, a arquibancada baixa, e se encontraram no meio do caminho para protagonizar mais uma de suas batalhas de socos e pontapés. Quem conhece minimamente as torcidas organizadas sabe que a do Santa é parceira da do CSA e, consequentemente, "inimiga" da arquirrival local. Basta ver que no meio das bandeiras em jogos azulinos haverá uma coral e, se não me engano, no meio da torcida do Santa haverá uma da azulina.

Essa parceria entre torcida percorre o Brasil inteiro - veja matéria do Yahoo! de anos atrás explicando essas divisões, parcerias e recolocações. Eu já fui a estádio em dia de CSA X Santa Cruz, com Rei Pelé dividido quase metade-metade e não ter problema algum. Assim como já tive a desagradável experiência de estar dentro de um carro no estacionamento do estádio e ver torcedores de CSA e ABC brigando assim que o ônibus da torcida potiguar chegou, com a polícia também sendo pega de surpresa.

No caso do dia 06, creio discordar de qualquer justificativa para a polícia demorar tanto a aparecer. Não é surpresa para ninguém não só a rivalidade entre estas torcidas, até mesmo pela proximidade de Pernambuco e Alagoas, como também que pessoas pular para o anel inferior mesmo quando este está fechado ou fazem o caminho inverso, subindo para a arquibancada alta.


A foto acima, de Caio Lorena, para o Globoesporte.com AL, chega a ser inacreditável. Policiais olhando a bagunça abaixo. Depois de muito tempo é que policiais apareceram ali. Por conta disto, algumas pessoas ficaram machucadas, tiveram que ser levadas a campo para tratamento dos médicos do estádio e a ambulância precisou sair para o Hospital Geral - que fica em frente ao estádio. Resultado: a partida ficou paralisada por mais de dez minutos porque não havia ambulância.



Rodada adiada
A tabela do Campeonato Alagoano já não trazia jogos para o fim de semana de Carnaval. Apesar de a capital ter a festa na semana anterior à data, algumas cidades do interior promovem festejos. A 9ª rodada teria um jogo na quarta-feira de cinzas, CSA X União, e as demais partidas na quinta-feira.

A Polícia Militar alegou ainda estar acompanhando o final das festas e a volta da população para as cidades de origem para dizer que não teria efetivo para a partida de quarta-feira, no Rei Pelé. Por conta disso, a Federação Alagoana adiou a rodada para que tivesse dois jogos na segunda-feira seguinte (18) e outros dois na terça (19). Além disso, criaria-se uma "monstruosidade" na tabela, já que a 10ª rodada que ocorreria com um jogo no sábado (16) e outros três no domingo (17), foi recolocada toda para o sábado, com a 10ª rodada vindo antes da 9ª.

No sábado, enquanto me preparava para acompanhar a segunda derrota consecutiva do CSA no torneio, contra o Sport, em Atalaia, vi um tuíte da assessoria do clube informando que a partida marcada para a segunda-feira teria sido adiada para a segunda-feira seguinte (25).

A Polícia Militar informou à FAF no dia anterior que não teria como garantir efetivo para o jogo do dia 18 em Maceió. O presidente da federação informara que não podia fazer nada, já que qualquer alteração contrariaria o Estatuto do Torcedor, já que os ingressos teriam sido colocados à venda pela diretoria azulina. Até agora não sei qual a justificativa para a falta de efetivo ontem - quer dizer, há os índices alarmantes da segurança pública no Estado, mas isso é, infelizmente, cotidiano.

Pela quarta vez, temos o futebol alagoano tendo a participação com destaque da polícia. A tabela ficou mais estranha ainda, já que o CSA agora jogará três partidas seguidas em casa e se ganhou maior folga, junto ao União, após o final de semana, perderá dias na semana que vem.

Problemas
Se após o primeiro problema do ano com as torcidas organizadas tentamos estabelecer um debate apresentando certo contraditório, aqui não será diferente. Um torneio de futebol profissional é organizado por uma entidade paraestatal, com associações privadas em disputa. Do mesmo jeito que a presença da ambulância nos estádios não é um compromisso de órgãos governamentais - em alguns casos o que ocorre é parceria com secretarias de saúde -, a segurança nos estádios também não é, como pode se perceber com seguranças de empresas sendo contratados para prestarem a proteção a árbitros.

Os policiais geralmente não ganham nada a mais para trabalhar nestas partidas. Indiretamente, trata-se de um trabalho com presença de funcionários públicos para garantir a segurança de um evento privado, que o Estado não ganha e não perde recursos, independentemente de se ter 100 ou 10 mil pessoas presentes. Pelo que sei, o que ocorre na prática é que policiais têm acesso livre às partidas quando estão de folga e ainda tentam colocar familiares e amigos de graça para dentro do estádio. Além disso, alguns responsáveis por estádios podem dar lanches antes das partidas.

O próprio Estatuto do Torcedor diz que cabe ao promotor da partida a responsabilidade pela segurança, não só para combater a violência de integrantes de organizadas, mas também no que tange à estrutura do espaço e de forma geral e irrestrita, ao "torcedor comum" - a quem sobra a rispidez na hora de passar pela revista antes do jogo e algum cacetete "desenfreado" em algumas partidas.
Quando fui ao Beira-Rio, ano passado, lembro que a segurança nas arquibancadas era privada. Cabendo à Brigada fazer a vistoria antes do acesso às rampas e a presença do batalhão especial dentro do campo.

Seguindo ao Estatuto, ele determina no Artigo 14 que cabe ao promotor do evento:

"I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos."

Além disso, este artigo ainda afirma algumas necessidades sobre o quesito segurança, que é direito do torcedor (e de todo "cidadão") antes, durante e depois da partida:

"§ 1o Os planos de ação de que trata o caput serão elaborados pela entidade responsável pela organização da competição, com a participação das entidades de prática desportiva que a disputarão e dos órgãos responsáveis pela segurança pública, transporte e demais contingências que possam ocorrer, das localidades em que se realizarão as partidas da competição. (Redação dada pela Lei nº 12.299, de 2010).
I - serão elaborados pela entidade responsável pela organização da competição, com a participação das entidades de prática desportiva que a disputarão; e
II - deverão ser apresentados previamente aos órgãos responsáveis pela segurança pública das localidades em que se realizarão as partidas da competição.
§ 2o Planos de ação especiais poderão ser apresentados em relação a eventos esportivos com excepcional expectativa de público".

Como comentamos ironicamente em outro momento deste texto, somos cientes dos elevados índices de violência no Estado, mesmo com alguns programas pela paz propagados recentemente e da presença da Força Nacional. Exigir que a polícia foque a sua atuação em determinado evento em detrimento ao resto de uma cidade de cerca de 1 milhão de habitantes, como é Maceió, seria esquecer dos problemas cotidianos.

Os casos relatados aqui mostram, no essencial, a necessidade de uma maior preparação dos policiais, para que tenhamos neles não o medo corriqueiro ao vê-los, mas a garantia de que podemos apenas torcer nos estádios, sem ter que nos preocupar em atitudes violentas contra nós ou outras exageradas contra quem realmente mereceria ser detido ou advertido - por mais que sejam torcedores organizados.

No futebol para a Polícia vale o mesmo que para o árbitro: quanto menos aparecer nas notícias após as partidas melhor.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Pode fechar a porta

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Alguém que se dedica tanto ao trabalho que mal consegue perceber que a vida está indo ladeira abaixo. Filhos crescendo e sem maior ligação com ele, mulher que não está satisfeita com a relação, separa-se e arranja outro companheiro, até redundar na mudança de casa. Ah, com direito à morte do pai, a quem renegava. Muita dedicação ao labor diário, que requer ajudar outras pessoas a resolver seus problemas, e pouca, ou nenhuma, às questões internas.

Lendo assim, parece ser algo muito comum e cotidiano. Ainda mais nos tempos atuais, em que homens e mulheres têm - as mulheres até mais - que se esforçar cada vez mais, física e mentalmente, para o que paga as contas. Com os problemas mentais tornando-se também mais normais, em especial através de doenças como estresse e depressão. In treatment nos aproxima de cenários que na verdade já são de nosso convívio.

Cheguei a In treatment por indicação. No início do ano passado, uma das três séries que eu assistia tinha acabado, a outra acabaria ainda no primeiro semestre e uma pessoa me sugeriu a série estrelada por Gabriel Birne, vivendo o psicanalista Paul Weston. A série produzida pela HBO era uma das cerca de 30 versões criadas para a israelense Be Tipul e foi um sucesso de crítica durante as três temporadas que durou, apesar de não ter alcançado uma audiência razoável - no Brasil, a primeira temporada de "Sessão de Terapia", dirigida por Selton Mello, duplicou a audiência da GNT no horário de exibição.

Um modelo diferente era apresentado. De segunda a sexta-feira, no caso das duas primeiras temporadas - baseadas no que foi produzido em Israel -, víamos sessões de terapia. Sala fechada, cheia de livros e de barcos, com uma cadeira de frente ao sofá. Variações de câmeras com predominância do close em quem falava, fosse o psicanalista ou o paciente. Além de uma ou outra cena para mostrar o lado externo. Simples e, aparentemente, barato de se criar.

Ao contrário das séries que acabavam, uma cheia de aventuras nerds e outra com diagnósticos que garantiam vários efeitos especiais, In treatment teve como principal arma para atrair o espectador as relações humanas. Creio que partia de uma questão primordial: como será que aquele que tato escuta e sugere lida com os seus problemas?
PRIMEIRA TEMPORADA
A minha relação com a série foi conflituosa, especialmente na primeira temporada, a qual demorei para acabar de assistir. Não simpatizava com o protagonista por ser muito duro às vezes e por certa cegueira que a situação demonstrava, pela dificuldade de mudar a própria vida - como se eu fizesse isso facilmente... Se de segunda a quinta acompanhávamos as sessões de outros pacientes, cada um com um problema em particular, na sexta era a vez dele ser consultado. Ali, em frente à mentora Gina, a arrogância e destemperamento ecoava. E meus ouvidos não gostavam daquele som.

A personagem do terceiro dia da semana me chamou a atenção - e de várias pessoas que assistiram a série. Sophie (Mia Wasikowska) era uma ginasta estadunidense, com toda aquela pressão que parece ser "natural" para desportista desta idade naquele país e para este esporte. Pais separados. Devoção ao pai fotógrafo, que abandonara a família para trabalhar e conquistar modelos, e raiva da mãe, que sofreu com aquilo e nada teria feito para evitar. Acresce-se a isso uma relação que se mostra o tempo inteiro "estranha" com o treinador. Resultado: descobrimos que ela tentara cometer suicídio ao andar de bicicleta.

As mudanças de humor da garota ocorriam em questão de minutos à cada sessão. Paul demonstrava um carinho com a menina que estudava na mesma escola que a filha, mas sabia enxergava quando estava sendo testado. Aliás, esta é uma série que demonstra o quanto os psicanalistas são testados emocionalmente pelos seus pacientes - a última temporada tem um exemplo extraordinário de manipulação.

Só depois de algum tempo, ainda na briga para continuar a ver In Treatment é que me dei conta que a atriz que interpretava Sophie tinha feito Alice, na regravação de Tim Burton. Surpresa que serviu para admirar as diferenças de interpretação. Somos levados a um encantamento com Sophie, apesar de todos os problemas que podem surgir. Ao final, resta a saudade - na série, ela retornaria na fala de outra paciente na segunda temporada.

A primeira temporada também traz Laura (Melissa George), mulher atraente, com problemas em relacionamentos por conta da origem familiar e que declara-se a Paul, exigindo que ele retornasse aquela paixão em quase todo o instante, a ponto de se relacionar com um cliente de outro dia. Laura aparece justamente quando os problemas do casamento de Paul se exacerbam e ele fica na dúvida da traição ou não, em especial por conta dos limites da profissão - e do mal exemplo paterno que marcara a sua infância e, consequentemente, formação.

O desfecho, que aparece no episódio final da temporada, é interessante e muito surpreendente, principalmente porque Laura já não era sua paciente. Ela também "volta" na temporada seguinte através de outra paciente que provoca bastante o psicanalista e de outra na terceira temporada. Ainda que não sejam casos de "transferência" tão explícitos como com Laura, este é um elemento comum ao longo da série, mesmo que em momentos diferentes.

Por fim, as personagens chatas. O insuportável casal Jake e Amy, que o procuram para tirar a dúvida se querem ou não um novo filho após tanto tentarem e que causam sérios problemas a Paul, que tem muitas dificuldades em compreender o que ambos querem com a relação. Visivelmente um encontro de casal com um psicanalista dá muito trabalho, já que este precisa reconhecer cada um primeiro para depois entender como estes dois seres se relacionam.

Além deles, há Alex, piloto de caça estadunidense que acaba errando o alvo numa das guerras que o país se mete. Alex chega a ter um café jogado na cara após extrapolar os limites de provocação com Paul e ao final ainda coloca Paul numa situação que segue sendo explorada até a temporada seguinte, que gera dúvidas se o psicanalista tem mérito ou não para seguir na profissão, com direito à ação judicial.
SEGUNDA TEMPORADA
Não acompanhei a segunda temporada inteira porque com o fechamento do Megaupload ficou bem mais difícil conseguir achar as coisas pela internet, com os episódios do meio sendo perdidos. O modelo segue com os cinco dias e cinco sessões diferentes. Só que Paul já se separou de Kate - a quem tenta consulta com Gina, em casal, no final da temporada anterior - e se muda para o Brooklin, morando sozinho e com o fantasma do que ocorreu com Alex junto.

Desta vez não achei nenhum personagem muito irritante quanto os citados da temporada anterior. Mia é quem tenta provocar o homem Paul Weston, por já tê-lo conhecido muitos anos antes. É uma executiva de sucesso, mas que não teve filhos e viu seus pais terem um casal de gêmeas dez anos depois de seu nascimento. Problemas aos milhões em conseguir desenvolver uma vida social. Mais raiva à mãe e adoração ao pai e uma vida de novas buscas (erradas). Não cheguei a ver o que deu errado nas décadas anteriores entre ela e o psicanalista, mas foi algo que retornava sempre

April é uma jovem que busca ajudar várias pessoas, mas se isola quando mais precisa. Diagnosticada com câncer, não diz nada sobre a amigos e nem aos pais, transformando Paul no contato emergencial e no amigo que talvez precisava. Seguindo sua função, ele tenta manter os limites da relação de tratamento, mas, como sempre na série, acaba exacerbando por conta da necessidade emocional, constituída desde a infância, em ajudar os outros. Ainda assim, consegue ajudar April a sair das obrigações constituídas.

Oliver é outro personagem que coloca o emocional em prova. Os pais estão em processo de litígio e o menino crê que é por culpa dele. Realmente, se eu disse que não havia personagens tão irritantes nesta temporada, esqueci dos pais de Oliver. Entende-se a revolta do garoto e de Paul nas sessões em que ambos aparecem e nos fazem crer que importava mais a vida de cada um que o que o filho pensava. A série caminha para nos mostrar que nem sempre é possível ajudar determinados pacientes. Há coisas que fogem do controle do consultório.

Por fim, Walter é um CEO de uma empresa que se envolve num grande problema. Ele, olha a característica "comum" aí de novo!, dedica-se plenamente à empresa e vê que isso não foi o suficiente quando uma grande crise apareceu. Só que em vez de culpar os patrões a quem tanto ajudou, opta por se culpar, entrando um processo de depressão que bate as portas do suicídio. Além disso, Walter se culpa pela morte do irmão quando criança.

Ah, a temporada marca também o final da relação conturbadíssima de Paul com Gina, importante para que nós conhecêssemos e até entendêssemos Paul Weston, mas que não garantiu a porta aberta para ele voltar no futuro.
TERCEIRA TEMPORADA
A derradeira temporada é mais curta. Paul começa um novo relacionamento, mesmo sem ter certeza do que está a fazer, recupera-se da morte do pai - sem ele por perto - da temporada seguinte, vê o filho mais novo optar por morar com ele e fingir que não gosta do novo padrasto até deixá-lo na casa dele em definitivo e, além disso, se vê às voltas na dúvida de ter o Mal de Parkinson que acabou com a vida do pai. Vida conturbada? Imagina com os pacientes que vieram junto e com uma nova psicanalista.

Frances, a atriz retomando a carreira no teatro, mas que não consegue apresentar as falas nos testes, é irmã de uma antiga paciente de Paul, que está em estágio terminal de câncer de mama. Narcisista assumida, está separada do marido e tem inveja de Patrícia, porque a filha dela prefere sua irmã a ela, com quem pouco fala e muito exige. Frances tenta extrapolar os limites com Paul, que sempre reage negativamente. Um dos motivos seria o ciúme da irmã, por quem, talvez, ele tivesse sido apaixonado. Ainda assim, é a personagem que mais apresenta avanços significativos na temporada.

Jesse é um adolescente homossexual com distúrbio de atenção. Criado por pais adotivos, odeia a mãe, a quem destrata todas as vezes e tem medo do pai. Tende a desviar ao sexo os problemas do cotidiano, que se agravam com a dificuldade financeira em entrar numa faculdade de artes e ao recontato com os pais biológicos. Mais um final indesejado.

Sunil, indiano morando na casa do filho e da nora após a morte da esposa, é aquele personagem que no início parece que vai nos conquistar facilmente, assim como faz com Paul, mas que mostra outros lados não tão legais até o ápice do surpreendente final. A violência permeia o personagem. Seja a da relação entre os clãs indianos, que não permitiram que ele ficasse com um amor da juventude. Seja a de ser submetido a uma cultura diferente. Seja à relação com a nora, a quem desconfiava sempre e detestava. Seja, principalmente, o efeito de uma mente capaz de produzir uma história que eu confesso não saber onde estava a verdade e onde estava a mentira naquilo tudo - e olha que eu já tinha lido sobre o que ele iria fazer, mas não como seria.

As disputas com Adele são mais interessantes. É Paul que faz a "transferência" aqui e ela controla, desde o primeiro momento, a relação entre psicanalista e paciente. De início, Paul se surpreende pela jovialidade da profissional e faz questão de mostrar que Gina é excepcional. Depois, ele começa a ler o livro escrito pela sua mentora e pensa que um dos personagens foi baseado nele e passa a odiá-la, responsabilizando-na pela situação emocional que ele ficou.

Nos momentos finais, vemos um galanteador Paul e uma Adele irredutível em contar, mesmo que um pouco, sobre as suas relações pessoais, algo tão comum com ele - ainda, é verdade, em poucos momentos. O mistério e a segurança dela chegam a ter a nos causar dúvidas no final sobre o que ela acharia daquilo, mas os psicanalistas é que retornam esta pergunta nestas horas.

Se foi algum spoiler no meio do caminho, eu não sei, mas acho que quem acompanhou a série por inteiro ficaria agradecido se alguém desse o grande spoiler: o que ocorreu com o Paul após "fechar a porta" no final da conversa? Abandonou a profissão? Conseguiu se libertar e mudar?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

À sombra das chuteiras imortais - Autoestima

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Zizinho, Puskas, Didi, Garrincha, Pelé, Zagallo, Nilton Santos, Dida, Leônidas, Almir Pernambuquinho, Julinho Botelho, Gilmar, Amarildo e Tostão. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, União Soviética, Bulgária, Rússia, Suécia, Inglaterra. Mas também Flamengo, Botafogo, Santos, Honved (Hungria), Manchester United (Inglaterra), Milan (Itália) e, claro, o Fluminense. Ah, ainda tem coisas sobre o massagista Mário América, juízes, bandeirinha e técnicos como Vicente Feola e João Saldanha.

Quando optei por ler no período de folga pós-dissertação À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol, de Nelson Rodrigues, até imaginei que teria muita coisa interessante, muitas frases inteligentes, irônicas e/ou perspicazes sobre alguns dos momentos do futebol nacional. Surpreendi-me com a quantidade.   Olha que a seleção realizada por Ruy Castro compreende o período de 1955 a 1959 (Manchete Esportiva) e de 1962 a 1970 (O Globo), com tantos anos e personagens a se passarem até a morte do escritor, em 1980. E tantas crônicas sobre futebol publicadas antes disso pelo jornalista "tricolor de coração".

No mesmo ano de À sombra..., 1992, foi publicado outro livro de crônicas, A pátria sem chuteiras e em 2002, só que editado por Nelson Rodrigues Filho, O profeta tricolor: cem anos de Fluminense. Além desses livros, com crônicas apenas de Nelson, Oscar Maron Filho e Renato Ferreira organizaram, em 1987, Fla-Flu... e as multidões despertaram, com textos sobre o clássico também do irmão dele, Mário Filho, jornalista destacado na profissionalização do futebol na década de 1930 e que, não por acaso, é o nome do Maracanã desde a década de 1960.

Isto foi explicitado para demonstrar que o autor de tantos romances, muitos adaptados para teatro e televisão, com obras de um realismo social impressionante, era também apaixonado por futebol. Como alguns dos principais escritores brasileiros do período, espaço para crônicas em jornais sempre existia. Se Drummond também escreveu em grande quantidade sobre o esporte bretão, são frases e personagens de Nelson Rodrigues que melhor povoaram as mentes dos torcedores, especialmente os cariocas. Afinal, quem nunca ouviu o tal do "complexo de vira-latas", personagens como "Sobrenatural de Almeida" ou a frase que sempre aparece em Fla-Flus, este clássico que "começou 40 minutos antes do nada"?

Até separei algumas das frases, novas conhecidas, que me faziam rodar imagens na cabeça para produzir desenhos ou, quem sabe, em forma de quadrinhos. Mas dada a falta de condições, deixo isso para outros momentos.

Para agora, ainda na esteira do centenário de Nelson Falcão Rodrigues, comemorado no dia 23 de agosto do ano passado, optamos por trazer algumas citações e comentários sobre algumas das crônicas publicas em À sombra das chuteiras imortais divididos em algumas fases, tendo como base as Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1966. Para início, um tema bem recorrente pós-Copa de 1950: a confiança do brasileiro.
A FRÁGIL AUTOESTIMA BRASILEIRA
Uma das coisas que achei curioso ao ler as crônicas foi que conhecido por denominar como "complexo de vira-latas" o que sofreria o escrete brasileiro em momentos decisivos, Nelson Rodrigues sempre acaba por se mostrar otimista  com a seleção - sabe-se lá se em alguns momentos com certa ironia. Bronca em comentaristas, jornalistas, políticos, torcedores e colegas escritores. Ninguém é perdoado de suas críticas quando fala mal de jogadores como Pelé e Garrincha ou não confia na Seleção brasileira.

No caso dos torcedores, ele critica a atitude de vaiar o selecionado durante uma vitória sobre a Inglaterra, no Maracanã, contra a Inglaterra:

“Dirão vocês que nas arquibancadas e gerais, o povo quis ajudar o escrete. O diabo é que o povo vaia sem querer, vaia automaticamente. Sim, o povo morreria de tédio e frustração se não pudesse vaiar qualquer coisa, inclusive o minuto de silêncio. E portanto o povo, a um só tempo bom e crudelíssimo, ora vaiava, ora aplaudia. Mas eu falo dos que, nas perpétuas, tribunas e cativas, torciam, com o mais límpido, translúcido despudor, pelo inimigo” (149 – À sombra dos criolões em flor – 17/6/69).

Justo o torcedor, a quem Nelson acreditava ser "uma das potências do futebol brasileiro", como escrevera 11 anos antes: “Parece um pobre-diabo, indefeso e desarmado. Ilusão. Na verdade, a torcida pode salvar ou liquidar um time. É o craque que lida com a bola e a chuta as acreditem: - o torcedor está por trás, dispondo” (49 – O quadrúpede de 28 patas – 17/5/58).

Além disso, há outro ponto, que ainda persiste: Nelson destaca algumas vezes o verdadeiro desejo dos "entendidos do futebol" que a prática brasileira seja igual ao que se faz na Europa: “Vou concluir: - o ‘entendido’ só não se torna abominável porque o ridículo salva” (183 - 10/6/70). Olha que ele escreve num bom período para o Brasil, com títulos nas Copas de 1958, 1962 e 1970.

Sobrou também para comentarista ex-jogador. Leônidas da Silva apareceu em alguns momentos por criticar determinados jogadores. Segundo Nelson, era inveja, como destaca neste texto sobre o alagoano Dida, que atuava no Flamengo:

“Só hoje, passado o impacto da Copa do Mundo, é que se compreende a ferocidade de Leônidas. Craque do passado, ele quer ser ainda ‘o maior’. Sofre com os ‘diamantes negros’ ou ‘brancos’ ou ‘morenos’ da atualidade. A glória alheia, em futebol, o ofende e humilha. E, por isso, meteu o pau em Dida. Era como se dissesse: - ‘Ah, meus tempos, meus tempos!’” (69 - Cem por cento Dida – 30/8/58).

Ainda em 1959, quando o Flamengo goleou os húngaros do Honved, sob comando de Puskas e cia., no Maracanã, Nelson relembrou o nosso potencial na disputa do esporte normatizado na Grã-Bretanha:

“O brasileiro gosta muito de ignorar as próprias virtudes e exaltar as próprias deficiências, num inversão do chamado ufanismo. Sim, amigos: - somos uns Narcisos às avessas, que cospem na própria imagem. Mas certas vitórias merecem um total respeito. Por exemplo: - a de sábado. A garotada rubro-negra deu-nos uma lição maravilhosa, que é a seguinte: - o futebol brasileiro, jogando o que sabe, observando as suas verdadeiras características, é o melhor do mundo” (30 - Irresistível Flamengo – 26/1/57).

Além do otimismo, Nelson Rodrigues aqui e acolá tenta deixar crer que o futebol praticado no passado era melhor que no presente. Como dirá em 1955, talvez porque "o passado sempre tem razão". Ironias, muitas, é claro. Segue um exemplo:

“Mas o sol potencializava o jogador e o protegia contra o tifo, a malária e a peste bubônica. Sim, bons tempos em que o Brasil não era ainda tropical ou por outra: - não sabia que o era! O craque usava bigodões imensos, carapuça e mais: - seus calções escorriam até as canelas. Lindo, lindo. E assim, encouraçado de sol, abarrotado de claro, o craque ou o perna-de-pau eram uma bastilha deslumbrante de saúde” (118 – Encouraçado de sol – 13/4/64).

Parte deste jeito de pensar seria por conta do "complexo de vira-latas" que permearia o inconsciente coletivo, subconsciente ou o que quer que seja do brasileiro, principalmente quanto ao futebol. Mas este é um assunto para o texto seguinte, em que trataremos de como o trauma de 1950 sucede os anos e segue permeando o consciente do próprio Nelson Rodrigues.

REFERÊNCIA
RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol; seleção e notas de Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cadê a Amélia?

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"Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2013.

71 carnavais! Há 71 carnavais que tenho que ouvir a mesma reclamação. 

Ouvir que eu sou exigente. Que nunca viu alguém fazer o que eu te fazia.

Há 71 carnavais que eu tenho que ouvir de você que tem saudades da outra, da sua ex, daquela tal de Amélia.

Enquanto eu sequer tenho o meu nome citado, com uma série de reclamações na parte inicial da música, você dedica título e o resto dela a enaltecer a 'mulher de verdade', como se eu nunca tivesse existido.

Há 71 carnavais que eu tento entender o porquê de não ter consciência. Qual o problema de eu querer o que vejo e pensar em luxo e riqueza? Quem não quer viver com o melhor possível?

Onde já se viu achar bonito não ter o que comer e achar normal ficar com fome? Beber nos botecos onde dizia que ia fazer samba você sabia né? Para isso não tinha problemas em gastar dinheiro!

Já passaram 71 anos, não percebeu que ter vaidade não me torna uma mulher de mentira? Que fazer comida, lavar roupa, limpar casa e dar banho no cachorro não torna a 'mulher de verdade', e sim a torna uma escrava? Ninguém deveria trabalhar sem receber nada!

Por isso que toda vez que te via contrariado, dizia que podia te ajudar, arranjar um trabalho, mas não, você nunca deixava. Meu filho, havia muito o que se fazer!

Ah, 71 carnavais depois e eu gostaria de saber: se a Amélia é que era mulher de verdade, cadê a Amélia, que não continuou contigo?

Assinado: Aquela que você não teve coragem de dizer o nome!"

Ai que saudade da Amélia foi escrito durante o governo Getúlio Vargas por Mário Lago e Ataulfo Alves, grande sucesso do carnaval de 1942. Boatos, não confirmados, diziam que Getúlio teria encomendado um samba diferente para Ataulfo, que não fizesse uma reverência à figura do malandro. Eles teriam escrito a música em homenagem a uma empregada da cantora Aracy de Almeida. 71 carnavais depois, imaginamos que a resposta era mais que merecida.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

[Por Trás do Gol] Bem pior que o Nobre esperava

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13 de junho de 2012, Barcos fazia de cabeça o segundo gol no Olímpico. Grêmio praticamente eliminado da Copa do Brasil. É, se este fosse um texto de um gremista, esse seria o início, falando sobre um "quem imaginaria que sete meses depois ele poderia ir ao tricolor gaúcho?". Mas não é.

A data a ser lembrada é 21 de janeiro de 2013. Após dois anos de uma péssima gestão, Arnaldo Tirone finalmente saía da presidência do Palmeiras. Em seu lugar, Paulo Nobre, de 44 anos, assumia o clube num momento ruim. Apesar do título da Copa do Brasil, o time disputaria em 2013 a Libertadores e a Série B do Brasileirão, torneios praticamente opostos quando se toma em consideração a história da Sociedade Esportiva Palmeiras.

Na entrevista coletiva após a posse, Nobre não quis falar sobre as dívidas do clube até que a equipe pudesse conhecê-las de fato. De qualquer forma, assumia o ônus de ter visto a diretoria anterior não ter renovado com Marcos Assunção, um dos poucos ídolos recentes (e salvador com suas bolas paradas) do clube. Além disso, no melhor estilo "político brasileiro", Tirone encaminhara um acerto com Riquelme, com seus 34 anos e mais de seis meses sem jogar e, reconhecidamente, um atleta ruim de grupo.

Dias depois, José Carlos Brunoro, o homem da Parmalat no Palmeiras de 1992 a 1996, no início da gloriosa parceria. Riquelme seria descartado. O salário era alto e a situação do time não permitiria gastar tanto com apenas um jogador. Conta também, e nós sabemos disso, que se Valdívia não recebeu boas propostas para sair já bastava um jogador com problemas no elenco e, no final das contas, para a mesma posição e forma de jogar, sem ajudar muito na marcação - por mais que o Mago tenha tentado fazer isso nas primeiras partidas pelo Paulistão.

O PIOR ESTAVA POR VIR
Paulo Nobre sabia que a situação financeira do Palmeiras não era boa. Nós, torcedores do Verdão, também. Mas era em pior que qualquer um poderia imaginar. Logo no início, soubemos que Tirone e cia. haviam antecipado receitas de 2013 para pagar dívidas do ano anterior. R$ 75 milhões a menos para se trabalhar este ano. É muita coisa para um time que não tinha R$ 1,5 milhão para fechar de vez o pagamento do principal jogador da equipe - voltaremos a isso depois.

Ainda que de forma tímida, soubemos em seguida que os jogadores estavam com parte dos salários atrasados. Os famosos "direitos de imagem", que surgiram com a Lei Pelé em 1998 e ajudam a mascarar o salário real e o consequente pagamento de impostos, não estão sendo pagos há três meses. Informação exata ainda não confirmada.

Veio outra grande e essa, permita-me o exagera, uma imensa bomba a explodir no colo da nova direção. O  contrato com o patrocinador master do clube, a Kia Motors, acabaria em 31 de janeiro deste ano, e não em 2014, como foi divulgado no acerto ano passado. Confirmando um boato do ano passado, a montadora quer reduzir pela metade o valor que era pago para um novo contrato. Nobre ofereceu um espaço menor na camisa. Não sabemos se a história teve um final. O fato de estar na Série B não justifica a redução e lembramos inclusive do arquirrival que conseguiu arranjar um patrocinador a pagar mais justamente no ano desta competição.

Durante a semana, finalmente vimos novos reforços para o clube para além do goleiro Fernando Prass e do lateral-direito Ayrton. Marcelo Oliveira e Charles chegando por empréstimo de um ano na troca por Luan - negado aqui, mas disputado por clubes de porte de Cruzeiro e Internacional, pelo menos. Em seguida, a confirmação de Ronny, jovem meia ex-Figueirense, e Kleber, que ainda precisará de um tempo por estar em processo final de recuperação de lesão. Ah, não se assuste torcedor palmeirense, apesar de algumas coincidências, não é o que saiu para o Grêmio - olha ele aqui de novo - no ano passado. Este vem por empréstimo do Porto e, inclusive, foi convocado por Mano Menezes para a Seleção.

Brunoro admitiu que este primeiro semestre seria de arrumar a casa no lado financeiro e que só no semestre que vem é que poderia tentar grandes contratações. Algo claro pela dificuldade em começar a gestão com torneios em andamento e com poucos (e muito caros) jogadores disponíveis no mercado. Mas ainda poderia ser pior....

BARCOS
Depois de tanta enrolação, vamos à notícia que deixou todos nós palmeirenses tristes, revoltados, enraivecidos. Eu e tantos e tantas soubemos hoje de manhã que Barcos teria recebido uma boa proposta do Grêmio e estaria quase tudo certo para vir ao Rio Grande do Sul. Como eu escrevo este texto sem a confirmação oficial da negociação, eram envolvidos de 4 a 5 jogadores gremistas mais uma compensação financeira e o pagamento da dívida do Palmeiras com a LDU.


Sim, a diretoria anterior ainda deixou esta surpresinha extra para o colo dos que assumiram agora. A parcela final da compra de Barcos, US$ 750 mil, não foi paga à LDU, que ameaçou esta semana recorrer à FIFA. De início, Brunoro disse que o jogador não só não voltaria ao time equatoriano, como também não sairia do Palmeiras - reproduzo o Twitter de ontem.

Porém, como o atacante argentino deixou bem claro desde o ano passado, se aparecesse uma proposta que fosse boa para ele e para o clube ele poderia sair. Afinal, como deixou ainda mais claro o seu irmão e empresário, jogar a Série B não estaria nos planos de alguém que pretende ser um dos 23 convocados para a Copa do Mundo do ano que vem. Para piorar, a primeira convocação da Argentina para 2013 não trouxe o seu nome.

O jogador vem se mostrando bastante arredio nas entrevistas, criticando a diretoria por não contratar bons jogadores e justificando assim a pressão da torcida pelo baixo rendimento da equipe em alguns momentos de jogos ou em partidas completas. Ontem, mais uma vez, foi um desses dias, em que ele justificou a falta de gols à falta de alternativas para chutar, tendo que voltar para armar as jogadas, algo que, definitivamente, não deveria ser ele a fazer, por melhor qualidade técnica que possua.

VAMOS LÁ
Eu me irritei, esbravejei e quase não acredito no que está ocorrendo. Não concordo em deixar mais um ídolo ir embora, muito menos se confirmar que no Palmeiras basta jogador querer sair que a diretoria faz qualquer negócio para permitir que isso ocorra. Seja lá qual diretoria e qual jogador (Vagner Love, Diego Souza, Kleber, Luan, ...).

De certo, aparentemente, estão as vindas do zagueiro Vilson e do atacante boliviano Marcelo Moreno. Os outros nomes envolvidos seriam os do volante Léo Gago, do meia Marco Antônio e do atacante Leandro. Destes, Vilson já negociava com o Palmeiras independentemente deste caso, foi praticamente demitido do Grêmio e poderia ser contratado sem maiores dificuldades, creio eu, sem isso. Um grande erro. Dentro de campo, com força de vontade, vejo-o do mesmo nível do Maurício Ramos. De qualquer forma, mal temos zagueiros para reserva, então...

Marcelo Moreno é um bom atacante, mas vive uma fase ruim e não poderia jogar pela Libertadores. Barcos mesmo em fase ruim ajuda muitíssimo mais o clube que ele, por, como ontem, sair para tentar alguma coisa. De qualquer forma, há a chegada de Kleber, que precisa ser melhor observado inclusive por mim, que pouco o acompanhei pelo Porto, enquanto dupla de ataque. Maikon Leite, mais uma vez, perderia espaço, principalmente por ser um mau finalizador - e estou sendo gentil com um "mau".

Dos outros nomes, acabam de chegar Marcelo Oliveira e Charles para o meio. Léo Gago chuta bem de fora da área e o que mais? Já é muito mais que o Márcio Araújo. O Marco Antônio viria para concorrer com Wesley, mal por enquanto, para a primeira vaga de meia armador. Não o vejo com potencial para ser "o" meia do clube, mas tem mais experiência que o Patrick Oliveira. Por fim, recuso-me a falar do Leandro ou Rondinelli, prefiro os garotos da base.

Se forem só dois nomes ou só alguns por empréstimo é muito ruim, porque liberamos o principal jogador do time e recebemos pouco em qualidade e em quantidade de tempo. Caso não, melhora, sinceramente, o elenco do clube em quantidade, algo que nem sequer temos em 2013. Além disso, cancela duas dívidas do clube, com a LDU e de salários, e entra dinheiro no caixa.

Sinto raiva momentânea do Barcos, mas ele não enganou ninguém. Cumpriu com a promessa de gols mesmo quando a própria diretoria caçoava disso e deixou claro que sairia se a proposta fosse boa para ambos. Sem receber salários então...

A diretoria admitiu a imensa dificuldade com contratações e acaba se desfazendo de jogadores ou apostando em empréstimos de razoáveis para formar o elenco, que se não é o dos "sonhos" pode ser daqui a um ou dois meses melhor que o do ano passado e, o principal, abre alternativas para Gilson Kleina. Por exemplo, não dá para imaginar que o clube só tenha os dois laterais titulares convocados para as partidas. Ratifico que falo isso sem saber quais os jogadores virão, principalmente se alguns deles mal servem para o time RESERVA gremista.

#FORATIRONE
Se temos que criticar, xingar, expurgar da vida social do clube é Arnaldo Tirone e companhia. Assumiram o clube reclamando das dívidas da gestão Belluzzo, dizendo que não poderiam contratar os "camarões" pedidos, que era difícil pela situação financeira que encontraram e muito mal fizeram ao Palmeiras. Como é que economizaram tanto para pagar dívidas, ou seja lá o que fizeram, e deixaram tantos problemas e de grande magnitude para a gestão seguinte?

Falta só aparecer daqui a pouco e dizer que "agora sabem o tamanho do problema do clube", que "eu fiz o melhor que eu pude" e blá, blá, blá. Alguma imagina o pior desse sujeito?

Esperemos para o que virá no futuro. Ainda que com as expectativas cada vez mais em baixa, eu sigo cantando 

"EU SOU PALMEIRAS ATÉ MORRER!"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A morte e a morte de Quincas Berro Dágua

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Joaquim Soares da Cunha. Funcionário público, pai de família, respeitado pela vizinhança, se é que ingeria álcool isso ocorria numa noite aqui ou acolá dentro de casa. Tão quieto que ouvia todos os berros da esposa sem pestanejar. Tão quieto que a filha não lembrava de nada sobre a convivência com este, para elas, digníssimo homem.

Quincas Berro Dágua, tão especialista em cachaça que quando voltou a ingerir água, por um descuido mediante ao desejo de estar perante uma garrafa com um líquido límpido num bar, ganhou o apelido que servia para coroar a fama dos boêmios dos diferentes bares, mesas de carteado, com baianas de acarajé, pescadores, rodas de acarajé e viventes de farra de todos os tipos. Era o "reizinho" da gente marginalizada, "o maior vagabundo da Bahia" e a vergonha da família que preferia declarar sua morte que garantir o convívio.

Lendo assim a caracterização de ambos parecem até duas personagens diferentes. São e não são. Trata-se do protagonista de A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, história escrita por Jorge Amado (1912-2001) em uma semana sob pedido de Carlos Scliar para a primeira edição da revista Senhor, em 1959. O livro foi adaptado ao cinema, sob direção de Sérgio Machado e com Paulo José sendo o protagonista, em 2011.
Fonte: Casa de Jorge Amado
DUAS VIDAS
O relato começa com o grande confronto que marcará o livro: quando o defunto morreu? Teria sido numa madrugada qualquer, num cômodo sem chave na ladeira do Tabuão, mas na tranquilidade do sonho de quem trabalhou a vida inteira e teria ressurgido no final da vida? Ou após a maior das farras que Salvador já viu, no mar que tanto elogiava como seu lar mesmo nunca ter sido marinheiro?

Joaquim Soares da Cunha morrera para a família no dia em que deixou de ser o homem silencioso e que atendia a tudo ao que a mulher Otacília, mandona, pedia. Até o dia em que ele perde a paciência e resolve viver sem quaisquer amarras. Largar aquela vida sem qualquer destaque e se assumir como o Quincas, o homem que todxs na Bahia conheciam:

“A verdade é que Joaquim só começara a contar em suas vidas quando, naquele dia absurdo, depois de ter tachado Leonardo de ‘bestalhão’, fitou a ela [Vanda, a filha] e a Otacília e soltou-lhes na cara, inesperadamente: 
- Jararacas! 
E, com a maior tranquilidade desse mundo, como se estivesse a realizar o menor e mais banal dos atos, foi-se embora e não voltou” (42).

Depois desse dia, a família só sabia notícias de Joaquim quando ele era preso ou qualquer outra atividade negativa. A filha Vanda não deixava sequer que os filhos o conhecessem. Para eles, morreu no dia em que ele xingou a todo mundo, inclusive o genro Leonardo, e depois foi viver outra vida.

Como Quincas, que só bebia cachaça, recebeu o nome de Berro Dágua é uma história muito engraçada, que vale a pena registrar:

“Sobre o balcão [do espanhol Lopez] viu uma garrafa, transbordando de límpida cachaça, transparente, perfeita. Encheu um copo, cuspiu para limpar a boca, virou-o de uma vez. E um berro inumano cortou a placidez da manhã no mercado, abalando o próprio Elevador Lacerda em seus profundos alicerces. O grito de um animal ferido de morte, de um homem traído e desgraçado: 
- Águuuuua!” (50-51).
Fonte: Rafa Rosa
TRÊS MORTES
Já falei da primeira morte, a da família. Mas ao receber a notícia da morte de Joaquim Soares da Cunha por um santeiro, o único que lembrava ter ouvido falar nos familiares de Quincas em meio a uma de suas bebedeiras, a preocupação de Vanda, Leonardo e os irmãos Marrocas e Eduardo era que os vizinhos não descobrissem que ele não tinha morrida anos antes. A sensação de vergonha teria voltado e aumentou ao ver onde e como ele tinha morrido, num lugar qualquer, deitado com o dedo escapulindo da meia furada.

Depois de dúvidas sobre como e quanto gastar com o defunto, resolveram enterrá-lo com certas honrarias, gastando com paletó e sapatos novos - enquanto Leonardo tinha que reformar os dele por tantas vezes... Assim, na hora da morte, ressurgir o funcionário público caseiro:

“Essa a tese da família, aplaudida por vizinhos e amigos. Segundo eles, Quincas Berro Dágua, ao morrer, voltara a ser aquele antigo e respeitável Joaquim Soares da Cunha, de boa família, exemplar funcionário da Mesa de Rendas Estadual, de passo medido, barba escanhoada, paletó negro de alpaca, pasta sob o braço, ouvido com respeito pelos vizinhos, opinando sobre o tempo e a política, jamais visto num botequim de cachaça caseira e comedida” (18).

Enquanto esteve com o pai, até a noite já que era muito perigoso para as senhoras andarem por aquela região, ela viveu um grande conflito. Seguia ouvindo os xingamentos a ela, à mãe já morta e ao marido. Além do tradicional "saco de peidos" para a irmã Marrocas. Passou o dia inteiro ouvindo Quincas falar essas coisas em meio a um sorriso que não saía do rosto do defunto em nenhum momento. Apesar que, antes dela sair, parecia que Vanda cumpriria sua missão e resgataria a família:

“Vanda pensou que Otacília sentir-se-ia feliz no distante círculo do universo onde se encontrasse. Porque impunha-se finalmente sua vontade, a filha devotada restaurara Joaquim Soares da Cunha, aquele bom, tímido e obediente esposo e pai: bastava levantar a voz e fechar o rosto para tê-lo cordato e conciliador” (40).

Os amigos de noitada e que conheciam o grande Quincas Berro Dágua não acreditaram naquilo. Final das festas à noite, nada de rodas de capoeira e pouco movimento nos bares. A notícia se espalhava pela cidade e ninguém acreditava principalmente pela promessa durante a vida: 

“Não proclamara, peremptório, e tantas vezes Quincas Berro Dágua, com voz e jeito capazes de convencer ao mais descrente, que jamais morreria em terra, que só um túmulo era digno de sua picardia: o mar banhado de lua, as águas sem fim?” (48).

Os quatro amigos mais íntimos de Quincas, Curió, Negro Pastinha, cabo Martins e Pé-de-Vento, vão se encontrando e descobrindo a notícia. Para aliviar a tristeza, uma garrafa de pinga vai ficando no caminho até a ladeira do Tabuão. O "maior vagabundo da Bahia", que quase desistira até do seu sorriso, reapareceu com a chegada dos companheiros de farra:

“Quando Vanda começava a acreditar o pai vencido, disposto finalmente a entregar-se, a silenciar os lábios de sujas palavras, derrotado pela resistência silenciosa e cheia de dignidade por ela oposta a todas as suas provocações, de novo resplandecia o sorriso na face morta, mais do que nunca era de Quincas Berro Dágua o cadáver em sua frente” (65).

Os amigos são deixados cuidando do defunto por Eduardo e resolvem fazer uma nova festa em homenagem a Quincas. Tiram a roupa de funcionário público para não sujá-la com a pinga que deixava cair da boca. O vagabundo aparece cada vez mais e, para eles, resgata a vida. Após tanto discutirem quem ficaria com Quitéria dos Olhos Arregalados e sentirem a raiva do amante, ainda ali presente, saem do casebre com Quincas à tiracolo e andam pelas ladeiras de Salvador em busca de mais bebida, comida e farra.

Tudo vira festa. Quitéria, chorosa, fica feliz da vida e xinga Quincas por tê-la enganado. Os bares voltam a encher e eles resolvem enfrentar uma tempestade para rever o mar. Para não contar as cenas derradeiras, voltamos ao problema inicial:

“O que nos leva a constatar ter havido uma primeira morte, se não física pelo menos moral, datada de anos antes, somando um total de três, fazendo de Quincas um recordista da morte, um campeão do falecimento, dando-nos o direito de pensar terem sido só acontecimentos posteriores – a partir do atestado de óbito até seu mergulho no mar – uma farsa montada por ele com o intuito de mais uma vez atazanar a vida dos parentes, desgostar-lhes a existência, mergulhando-os na vergonha e nas murmurações da rua” (15).

Como ele teria dito na sua terceira morte: “Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há". Mas ele não deixou se enterrar em "cova rasa no chão".
Fonte: Casa de Jorge Amado
REFERÊNCIA
AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua; posfácio de Affonso Romano de Sant’Anna. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.