quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mutantes na música, secos na organização

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Falarei aqui sobre um assunto em que sou um aprendiz de primeiro grau: música.
Recentemente pude ouvir e conhecer melhor duas bandas que revolucionaram o campo das artes: Os Mutantes e Secos e Molhados. Apesar de a segunda ter surgido exatamente após a dissolução da formação original da primeira, além da mudança na maneira de fazer música no Brasil, outro fator aproxima as duas, a organização hierarquizada.

Os Mutantes integraram a guitarra à música oriunda do já velho (?) banquinho e violão oriundo da Bossa Nova, surgida na década anterior, a de 1950. Apesar de apresentar críticas ao sistema vigente em algumas de suas letras, principalmente quando lembramos o contexto histórico brasileiro (a ditadura), a banda foi acusada de trair os ideais brasileiros já que a guitarra era um instrumento típico dos Estados Unidos.

O grupo, formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, surgiu de festivais estudantis que existiam em São Paulo na década 60 e sua música está entre as melhores já produzidas em todo o mundo. Inclusive, um dos fatos que me levaram à sua busca, foi o livro “1001 discos para ouvir antes de morrer”, algo parecido com isso.

Já Secos e Molhados foi formado na década seguinte, 1970, e teve como grandes transformações as composições musicais irreverentes e, principalmente, a diferente forma de se apresentar no palco. Com pinturas, plumas e paetês, João Ricardo, Gerson Conrad e o inconfundível Ney Matogrosso – além de outros instrumentistas – com apenas um disco produzido entraram para a história da discografia e da apresentação artística nacional.

O elo que une as duas bandas está justamente no motivo delas terem seu sucesso interrompido: as cisões do grupo. Tais divergências ainda dão o que falar nos dias de hoje quando os principais atores dos processos são entrevistados.

No caso d’Os Mutantes, segundo o que conta Rita Lee, ela apareceu num dia de gravação de disco, isso em 1972, e foi informada por Arnaldo Baptista que não integrava mais o conjunto. Assim, de forma sumária e sem discussão, já que Rita não tinha ainda a capacidade de resposta que tem hoje e nem a importância solo.

Quanto aos Secos e Molhados há divergências quanto à dissolução da primeira formação da banda – tiveram outras formações, mas sem sucesso. Segundo dizem Ney Matogrosso e Gerson Conrad, o dinheiro da parte deles era diminuído para a formação de um escritório do grupo; quando este escritório estava formado, João Ricardo colocou o pai como chefe e mandara um contrato para os outros dois para chamá-los para trabalhar para a empresa que, teoricamente, seria deles.

João Ricardo afirma que existia um acordo informal entre eles em que caso um quisesse sair bastaria informar aos demais. Segundo ele foi assim que Ney teria saído: falara com ele num dia e não houve problemas. É fato, porém que, exatamente após a gravação do segundo disco, os dois saíram da banda.

Independentemente das versões o certo é que apesar de toda a criatividade musical, a organização continuava, e continua, sendo primária; no melhor jeito capitalista: alguém chefiando a todos que, apesar de colegas e tão capazes quanto, são tratados como meros empregados.

Um exemplo atual de organização centralizada quase que numa pessoa e muita criatividade é o grupo circense/musical Teatro Mágico. Fernando Anitelle é quem gerencia a trupe, que faz sucesso em todo o país e que surgiu e continua sendo uma banda alternativa na produção, nos shows, na oferta gratuita das músicas; menos na hierarquização do poder.

Porém, a diferença é que neste caso todos sabem quem manda, afinal o projeto de criação e o investimento feito n’O Teatro, pelo que me consta, foi dele. Enfim, é importante que isso seja passado logo de início, para evitar problemas como os que ocorreram com tais grandes bandas.
Se isso ocorre quando os próprios músicos gerenciam, imaginem o que não deve ocorrer nos casos em que as carreiras são entregues a empresários e gravadoras!