domingo, 31 de outubro de 2010

O que será do Brasil após o Halloween eleitoral?

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Vivemos um processo eleitoral dos mais baixos desde que eu acompanho disputas eleitorais. Acredito ter ficado com pouquíssimas propostas fundamentadas dos candidatos na cabeça, já as acusações...

Da disputa presidencial, fica na memória, especialmente, os agressivos ataques à campanha de Dilma Rousseff. Ouvi de tudo, que ela era "a favor do aborto", que não "era de Deus", que se ganhasse a eleição, o filho do Michel Temer, que seria um adorador do diabo, faria com que ela morresse para o pai assumisse, que ela apoia as invasões dos sem-terra - é, ainda tem um pouco disso. Enfim, coisas que me fizeram concluir que esta foi a pior campanha de PSDB e cia. para presidente.

É claro que os marqueteiros petistas conseguiram devolver de forma ríspida os ataques sofridos. O segundo turno foi determinante para a mudança de atitude da própria candidata, que passou a atacar antes de ser atacada nos debates, o que surpreendeu o seu adversário, acostumado a ver o atual presidente "dar a cara à tapa".

Dilma venceu, como a maioria de nós esperávamos, devido principalmente à popularidade de seu padrinho político, que sai fortalecido por montar uma candidata. Colocou-a neste posto antes mesmo de o partido aceitar, afinal era de origem pedetista, fez evoluir sua imagem até então desconhecida do eleitorado e ainda a defendeu quando necessário. A defesa foi até para o futuro, em que Dilma não terá que enfrentar enquanto presidente Heloísa Helena, César Maia ou Tasso Jereissatti em cargos políticos em Brasília.

Confesso que não espero muita coisa deste Governo que virá, até mesmo bem menos do que esperava da segunda gestão de Lula. Acredito em muitas dificuldades, especialmente com o PMDB, partido de seu vice, e a sombra da facilidade que seu antecessor tinha para "esconder" problemas na hora de falar à imprensa. Será a hora da presidenta Dilma Rousseff e não da ex-ministra do Lula.

Recebi a árdua sugestão para escrever sobre as expectativas quanto às questões comunicacionais no seu governo e não espero muita coisa diferente do que vimos nos últimos oito anos, especialmente porque o discurso de "eu vivi a ditadura, logo sei o quanto é importante a liberdade de imprensa" ou de "prefiro mil vozes dissonantes que o silêncio" serviu como amansador dos grandes meios de comunicação.

ALAGOAS
Em Alagoas, tivemos uma eleição no segundo turno, decisão muito apertada, só que a posse da máquina pública acabou sendo determinante. Teotonio Vilela Filho termina essas eleições como um nome fortíssimo, após derrotar um "Frentão" com Ronaldo Lessa, Fernando Collor e Renan Calheiros.

A campanha conseguiu ser pior que a para presidente, só que com menos terrorismo barato e mais acusações do tipo "eu tenho um processo contra mim, mas você tem mais de cinquenta". Ri muito com frases como "Teozinho no País das Maravilhas" e com as artimanhas comparativas utilizadas nos antes amigos de infância e agora inimigos de toda a vida.

Politicamente, irrite-me com a situação também. Imagino todos os problemas que Alagoas tem, e eles são muitos, e os dois principais candidatos mostram o que fizeram e prometem um monte de coisas em segundo plano para manter a preferência ao ataque pessoal e aos pedidos de direito de resposta.

Aliás, Lessa mostrou que fez muito por Alagoas; Téo mostrou que fez muito por Alagoas, mas o Estado continua com os piores índices sociais do Brasil. Como gostaria de conhecer essa "outra" Alagoas, que cada vez me fica mais impossível...

Eleições agora só em 2012, para prefeitos e vereadores dos municípios. A expectativa local é para a mudança do prefeito de Maceió, Cícero Almeida, que com alta aprovação popular terá de partir para novos rumos políticos por não poder se candidatar a um terceiro mandato. Outra coisa a se observar é se Heloísa Helena tentará se manter como vereadora, se é que ela ainda será do PSol e se é que ela não desistirá de vez da política.

Só nos resta esperar para ver o que Dilma fará/continuará e o que Teotonio fará/continuará. O meu pessimismo só aumenta a cada eleição...

domingo, 10 de outubro de 2010

O problema do Brasil virou só um

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Incrível o potencial da Igreja Católica. Mesmo após tantos anos de Martinho Lutero "abrir" as escritas bíblicas e se seguir a partir de então várias religiões de origem cristã; mesmo depois de tantos anos sob a batuta do sistema capitalista, onde o individualismo é bem mais importante; mesmo sem toda a onipotência e onipresença no Brasil. Mesmo depois de tudo isso, ainda vemos numa eleição um tema jogado por esta Igreja passar a ser o foco. Num processo com duas pessoas que sofreram as agruras da ditadura e, ao longo do tempo, partiram para um caminho bem diferente daquele que estavam.

O enredo é simples, o pessoal do PSDB entrou em estado de desespero após a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas a partir deste ano. Todos eles reclamavam que Serra estava demorando a começar a campanha - enquanto Dilma passeava a um bom tempo ao lado de Lula pelo país -, pois quando ele assumiu a candidatura, a sua adversária deslanchou.

Resolveram, na campanha, apelar para algo que não tem nada a ver com o tucanato e se deram mal. A favela virtual só apareceu no primeiro dia. No fim da campanha do primeiro turno a mídia tentou colocar o caso da Receita Federal. E nada! Aí o desespero cresceu a ponto de virem as promessas eleitoreiras. Primeiro foi o aumento do salário mínimo. Nada! Depois, o aumento do salário dos aposentados e pensionistas. Só não foi mais uma promessa jogada fora graças à história da Erenice Guerra, braço direito da Dilma, e, principalmente, graças ao "ecocapitalismo" de Marina Silva.

Veio o segundo turno e o primeiro assunto prático posto é saber se os candidatos apoiam ou não o aborto. De repente a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil meio que impõe que os candidatos se posicionem sobre o assunto. Depois, surge a história do padre de uma emissora católica que pediu para que não se votasse em candidatos do PT por serem a favor do aborto.

Dilma corre para dizer num evento em Minas Gerais, se não me engano, que, "como mulher, sabe o quanto o aborto é ruim, por isso é contra o aborto". José Serra se põe totalmente contrário ao procedimento, mesmo consciente de tal fator ser permitido por lei em casos de estupro. Coisas que nem mesmo Marina Silva, pertencente à igreja protestante, havia dito no primeiro turno - ela defendia um plebiscito.

Simplesmente acabaram com os problema sociais ligados à divisão de classes no Brasil para discut... quer dizer, nem isso fizeram, para impor ao Brasil que todos sejam contrários ao aborto. E os problemas com habitação, falta de empregos, trabalho infantil, violência cotidiana, comando de traficantes em algumas comunidades, deficiências do sistema público de saúde, ...

Além de tudo isso, o principal, identificar no problema do aborto (como está inserido oficialmente) suas reais condições. Entender porque as mulheres precisam passar por este procedimento é uma questão a ser analisada. Em alguns casos é falta de instrução, mas não é só isso.

Perceber que os dados oficiais só contam os casos de aborto com as filhas de pobres, que não tem condições para viajar para fora do país para realizar o procedimento e têm que fazê-lo em clínicas clandestinas. Com problemas, elas têm que procurar o SUS, entrando para a estatística oficial. Assim, só descobrimos os casos que geram problemas, os casos das mulheres que não vão a "super-clínicas".

A preocupação não está nessas mulheres, que representam um grande número de pessoas que não tem acesso aos (já deficientes) planos de saúde, que tem que acordar cedo para enfrentar uma fila de posto de saúde ou de hospital e geralmente não ser bem tratado.

A preocupação não está no fato de elas não poderem gerar o filho porque não terão condições financeiras e psicológicas para criá-los; que, na melhor das hipóteses, terão que parar os frágeis estudos para cuidar dos filhos, enquanto que o pai parará para trabalhar - se conseguir emprego. Caso contrário, terão que sobreviver com o pequeno Bolsa Família.

Os casos de estupro então... É melhor sequer comentar sobre questões psicológicas. É como se não vivêssemos num planeta que há pessoas desequilibradas e que geram filhos em suas filhas. Como se não existissem pessoas que resolvem dar cinco reais a frágeis crianças em troca de saciar devaneios psíquicos.

O direito de poder escolher entre ter ou não ter não é feito com a ajuda de psicólogos, familiares ou quem quer que seja. Não se pode ter direito sequer à discussão do assunto. Tem que ser segundo o preceito que existe há muito tempo e por isso TEM que ser assim. "E se não obedecer, nossos discípulos não votarão 'democraticamente' em você".

Em resumo: um absurdo definir o tema desta forma. Um absurdo transformar o (frágil) processo eleitoral em quem é "a favor da vida" ou não quando vários outros problemas estão aí à espera para serem resolvidos.


(Já discuti aqui o tema do aborto. Ver minha opinião aqui e aqui).