sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mídia tosca

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Na postagem de número 200 do blog, o "Mídia Tosca" traz erros que dão agonia de se ver. Além da tradicional falta de fotos, há equívocos de datas - o que deixa qualquer pauteiro em dúvida - e erros que... É melhor não falar ainda.

E essa edição especial é dedicada à apresentadora de um programa de variedades local. Ao anunciar hoje uma entrevista com uma banda "do momento" em Alagoas, ela veio com esta frase: "a letra da música não é tão bem feita, mas o ritmo faz dançar".

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PROGRAMAÇÃO Matéria da Agência Alagoas informa possível programação da visita do governador ao município de Arapiraca, mas não a colocou.

AUSÊNCIA Mais um daqueles erros por falta de atenção. O Primeira Edição fez questão de colocar entre parêntesis que havia uma foto do volante do CRB Jonnatann, mas não havia.
AUSÊNCIA 2 O Cada Minuto cometeu erro semelhante ao anunciar: "Ao lado, presidente do BC argentino [...]".
TROCA A troca de datas na fonte acabou causando o erro do Tudo na Hora. É que dia 26 foi terça-feira, e não quarta, e 27 foi quarta, e não quinta, como também consta no site da Prefeitura de Maceió.

TROCA 2 Erro semelhante apareceu na Agência Alagoas. O curiosos é que logo acima do "quarta-feira (28)" há "terça-feira (26)". A contagem pulou um dia.

EXCESSO Enquanto uns pecam por falta, o Cada Minuto reaparece aqui por repetir um aviso do texto.
DIREÇÃO Acabei ficando sem saber de quem é a direção do filme Contatos de 4º grau. Aparentemente, o autor do Tudo na Hora não sabia e esqueceu de procurar e acrescentar a informação.
TOP 3 A partir de agora surgem erros que fazem tremer a Língua Portuguesa. O Gazetaweb veio com "Jovem é adolescente são assassinados [...]". Prova do quanto um sinal gráfico é importante.
TOP 2 Já o Primeira Edição veio com o seguinte: "Lula se conversará com Campos [...]". Imaginem o momento de contemplação do presidente sendo visto pelo governador de Pernambuco...
TOP "Diagnóstico [...] garantem [...]". Não precisa de comentários.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mídia tosca

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Nem o aparente início de gripe, com o corpo parecendo um vulcão prestes a entrar em erupção, nos impedem de trazer os erros toscos da mídia "virtual".

E a edição de hoje, com tantos erros assustadores que foi difícil escolher qual era o pior, reclama do auê da imprensa no Haiti. Além de ninguém ter se preocupado com o país quando ele estava no fim do túnel, a quantidade de repórteres é incrível. Mais ainda os que querem se tornar herois e desejam encontrar alguém pedindo socorro.

"Destaco" a exclusiva descoberta de uma mulher pela reportagem Lilia Telles, da Globo. O "Jornal Nacional" deixou para passar a matéria no final do telejornal e vimos o show em que foi transformado o resgate. E ninguém mal se deu conta de que pisando justamente em cima do local em que ela estava soterrada poderia cair algo. No mínimo, irresponsabilidade.

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VÍDEO Erro tradicional mais uma vez na coluna. O Gazetaweb informa "veja os gols da partida no vídeo ao lado".
DIRARIO Sem acento e escrito errado. Só no Tudo na Hora você tem Diário escrito assim.
CRASE Acento ao contrário e desnecessário na formação "como candidato á senador" no Cada Minuto. Até o Blogger está vendo esse erro.

LINKS Outra forma de erro que já apareceu por aqui. O Primeira Edição traz do texto original os links no meio mas sem os links. Acaba misturando tudo.

CIRCO A MOTOR Uma notícia digna de "Circo a Motor" veio parar no "Mídia Tosca". Se ser segundo ou terceiro colocados já é ruim, imagina ser o sexto. O texto do Globoesporte.com reproduzido na Gazetaweb acha que foi algo "bem-sucedido".
CRACK Acabamos de ver um jogador de futebol, ex-Botafogo, sendo punido por fumar crack. Na mesma semana, o Gazetaweb publica uma pesquisa em que uma das alternativas afirma que Ronaldinho Gaúcho "é crack".
EDUCAÇÃO Matéria sobre educação com um erro desses é inadmissível. Prefiro não repetir o que foi publicado pelo órgão oficial de informação do Estado, a Agência Alagoas.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mídia tosca

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O "Mídia Tosca" desta semana traz tipos de erros que já apareceram por aqui antes. É a prova de que não há preocupação com determinadas coisas quando o que interessa é a "agilidade" da informação.

A coluna desta semana deixa aqui também um breve comentário sobre o Haiti. De país mais rico e, consequentemente, mais explorado das colônias americanas, virou um território de guerra já antes do terremoto e bem pior após ele. "Estranho" como milhões são doados para quem claramente precisa e trilhões foram emprestados aos bancos quando da crise que eles mesmos criaram.

ASPAS Como já não bastasse a bizarrice nos títulos, o Cada Minuto continua com o problema no programa que coloca as matérias. Sempre as aspas são substituídas por interrogações, como nos dois casos abaixo.

CADÊ? A não ser que o jogador Aldo seja personagem de um desenho não vi foto alguma dele na matéria do Alagoas em Tempo Real.

ONDE? Além de o artigo publicado na Gazetaweb sobre a falta de potencial olímpico brasileiro não ter assinatura, apesar de ser um artigo, apareceu um "Clique aqui" sem link.

CÓPIA O Alagoas 24 horas esqueceu de depois de colar tirar o "Enviar por e-mail" oriundo do site Agência Alagoas.

BLITZ Tudo bem que a Blitz já possuiu algumas formações, mas acredito, ao contrário do Primeira Edição, que a que participou do Rock in Rio foi apenas uma.

ÚLTIMAS... No título da Gazetaweb não coube complemento. Ainda não sei se o principal agente causador da diarreia mudou nas últimas semanas, nas últimas horas, nas últimas pesquisas...

CINEMA Se o cinema brasileiro aumentou a bilheteria em 2009, parece que o espaço para texto do Cada Minuto diminuiu e eu fiquei sem saber a importância das distribuidoras no assunto.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A condição pós-moderna segundo Lyotard

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O francês Jean-François Lyotard trata em A condição pós-moderna (1979), principalmente, da nova maneira de se entender o saber, produção científica, no avanço da sociedade capitalista no mundo, sob a nova forma do neoliberalismo e da pós-modernidade. O autor utiliza-se das mais variadas fontes, especialmente as contemporâneas, para discutir a questão da produção do saber na contemporaneidade.
Para Lyotard, a pós-modernidade, que faz o saber mudar de estatuto, “designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX” (2000, p. xv).
Se Karl Marx e Friedrich Engels já disseram na Ideologia Alemã que a concorrência universal “destruiu em geral a naturalidade, tanto quanto isto é possível no interior do trabalho, e dissolveu todas as relações naturais em relações monetárias” (1986, p. 94), não seria diferente na forma de estudar e pesquisar nas instituições de ensino superior, cada vez mais dependentes dos financiamentos privados: “O saber é e será produzido para ser vendido, e ele é e será consumido para ser valorizado numa nova produção: nos dois casos, para ser trocado. Ele deixa de ser para si mesmo seu próprio fim; perde o seu ‘valor de uso’” (2000, p. 05).
Assim, o homem se vê mais uma vez alienado em relação ao que produz. O cientista passa a ser mais um a ajudar o capital a obter maior lucro, afinal de contas, como diz Lyotard, o saber será elemento fundamental na competição mundial pelo poder, numa espécie de “guerra intelectual” como a que ocorreu entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria.
Neste novo contexto a diferença consiste na perda de força dos governos nacionais perante o mercado financeiro. Com a desregulamentação propiciada pelo neoliberalismo, muda-se a classe que decidirá as ações: “A classe dirigente é e será a dos decisores. Ela já não é mais constituída pela classe política tradicional, mas por uma camada formada por dirigentes de empresas, altos funcionários, dirigentes de grandes órgãos profissionais, sindicais, políticos, confessionais” (2000, p. 27).
O que traz outros problemas para a produção científica. Primeiro, como definir o que é ou não saber e, principalmente, quem poderá definir isso? Enfim, qual o discurso que deve ser utilizado pela ciência para que se faça entender e, desta forma, demonstrar a quem investe nela que os resultados estão sendo obtidos em curto período, no caso de patrocínios de grupos empresariais, e, em médio a longo prazo, nos casos das universidades?
A legitimação virou um grande problema, pois não é considerada como uma fraqueza do jogo científico:
A ‘crise’ do saber científico, cujos sinais se multiplicam desde o fim do século XIX, não provém de uma proliferação fortuita das ciências, que seria ela mesma o efeito do progresso das técnicas e da expansão do capitalismo. Ela procede da erosão interna do princípio de legitimação do saber. Esta erosão opera no jogo especulativo, e é ela que, ao afrouxar a trama enciclopédica na qual cada ciência devia encontrar seu lugar, deixa-as se emanciparem (2000, p. 73).
Como colocado anteriormente, a pressão por resultados das pesquisas aumentou consideravelmente. Assim, é necessária que a explicação dos resultados seja a mais simples possível quanto à linguagem utilizada. Lyotard aponta isso como outro problema da ciência que se vê obrigada a recorrer a outro saber para que seja comprovada enquanto tal “cai assim no que ele condena, a petição de princípio, o preconceito” (2000, p. 53).
Como solução, oriunda do processo para legitimar politicamente a classe burguesa, aparece a narração, não mais como um lapso de legitimação, mas como um apelo ao relato na problemática do saber. Entretanto, o grande relato (de especulação ou de emancipação, perdeu sua credibilidade, o que pode justificar até mesmo a crise nos ideais de transformação social:
Não deve causar espanto que os representantes da nova legitimação pelo ‘povo’ sejam também os destruidores ativos dos saberes tradicionais dos povos, percebidos de agora em diante como minorias ou como separatismos potenciais cujo destino não pode ser senão obscurantista (2000, p. 55).
Além disso, a pesquisa científica adquiriu a forma de produção em série, com a necessidade de resultados que fazem com que as investigações sejam rasas, cujos pontos falhos podem ser descobertos com maior aprofundamento sobre as questões. As tarefas de pesquisa se fragmentaram a ponto de ninguém dominá-las, como ocorre no processo do operário uma fábrica, que trabalha numa pequena parte da produção sem saber como se dá todo o processo.
Como uma nova indústria, a linguagem científica acaba por ser melhor assimilada por quem tem condições de aplicar maior quantidade de dinheiro em todas as etapas de produção e, com as novas tecnologias, na divulgação dos seus resultados. Os cientistas passam a brigar entre si por mais investimento, em vez de discutir o que pode ser feito de melhor na sua área. É assim que, segundo Lyotard (2000, p.83),
O Estado e/ou a empresa abandona o relato de legitimação idealista ou humanista para justificar a nova disputa: no discurso dos financiadores de hoje, a única disputa confiável é o poder. Não se compram cientistas, técnicos e aparelhos para saber a verdade, mas para aumentar o poder.
[...]
Este não é somente o bom desempenho, mas também a boa verificação e o bom veredicto. O poder legitima a ciência e o direito por sua eficiência, e esta por aqueles. Ele se autolegitima como parece fazê-lo um sistema regulado sobre a otimização de suas performances. [...] Assim, o crescimento do poder e sua autolegitimação passa atualmente pela produção, a memorização, a acessibilidade e a operacionalidade das informações (pp. 83-84)”.
Desde o início desta nova sociedade, com a revolução industrial, percebe-se que riqueza e ciência estabelecem uma relação intrínseca, com o crescimento de uma dependendo do desenvolvimento da outra. Até que chegamos ao estágio social atual, onde “é permitido representar o mundo do saber pós-moderno como regido por um jogo de informação completa, no sentido de que os dados são em princípio acessíveis a todos os experts: não existe segredo científico” (2000, p. 94).
É justamente desta última premissa apontada pelo autor francês que mora um dos problemas para novas pesquisas e mudanças em “descobertas” científicas. Quanto mais pré-estabelecido for o “lance”, com grande consenso, mais difícil será mudá-lo, por mais provas que se tenha. Afinal, a ciência pós-moderna muda o sentido da palavra saber, voltada agora à produção do desconhecido, com uma legitimação voltada ao falso raciocínio (paralogia), definível pelo sistema sócio-econômico. Segundo Jean-Fraçois Lyotard (2000, pp. 17-18):
Não existe nenhuma razão de se pensar que se possa determinar metaprescrições comuns a todos esses jogos de linguagem e que um consenso revisável, como aquele que reina por um momento na comunidade científica, possa abaixar o conjunto das metaprescrições que regulem o conjunto dos enunciados que circulam na coletividade. É ao abandono desta crença que hoje se relaciona o declínio dos relatos de legitimação, sejam eles tradicionais ou ‘modernos’ (emancipação da humanidade, devir da Ideia). É igualmente a perda desta crença que a ideologia do ‘sistema’ vem simultaneamente suprir por sua pretensão totalizante e exprimir pelo cinismo de sue critério de desempenho (pp. 117-118).
Mesmo escrito no início do processo de informatização, Lyotard estabelece dois rumos para a exigência dessas novas máquinas, capazes de juntar todos os dados das pesquisas desenvolvidas – o que faz todos serem experts. Do mesmo jeito que poderia ser uma fonte infinita de dados e, consequentemente, poder gerar discussões em qualquer parte do mundo, “ela pode tornar-se o instrumento ‘sonhado’ de controle e de regulamentação do sistema do mercado, abrangendo até o próprio saber e exclusivamente regido pelo princípio de desempenho. Ela comporta então inevitavelmente o terror” (p. 120).
O que se vê hoje, mais de trinta anos após o que foi escrito, são as várias tentativas, inclusive o Brasil, de cercear o acesso e a divulgação através de uma imensa rede de dados, transfigurada no que conhecemos hoje como Internet. Todos os pontos do mercado podem ser controlados de um mesmo local da mesma forma da produção científica, com seus inúmeros métodos de ranqueamento de desempenho.
Silvano Santiago, no posfácio escrito em 1990, chega à seguinte conclusão:
Pode concluir Lyotard que, nos últimos decênios, o saber tornou-se a principal força de produção. Tanto a busca do saber (pesquisa) quanto a transmissão do saber (pedagogia) fundam a circulação do capital na sociedade pós-moderna. O saber não está desvinculado da questão maior do poder econômico e político, em suma, ele é a moeda que define na cena internacional os jogos de hegemonia (entre as nações, entre as empresas multinacionais) (2000, p. 129).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Trad. Ricardo Corrêa Barbosa; posfácio: Silviano Santiago – 6. ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. Título original: La condition postmoderne. (1979)).
ENGELS, Friedrich & MARX, Karl. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1986. Título original: Die deutsche Ideologie: Kritik der neuesten deutschen Philosophie in ihren Repräsentanten Feuerbach, B. Bauer und Stirner, und des deutschen Sozialismus in seinem reuschieden Propheten.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A mulher de (quase) trinta anos - Honoré de Balzac

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De todos os livros escritos por Honoré de Balzac (1799-1850), A mulher de trinta anos é o que mais ouvimos falar, já que é graças a ele que existe o termo “mulher balzaquiana”, como forma de descrever a mulher que está na transição da juventude para o amadurecimento.

Não que apenas por isso eu esperava um grande livro, mas tendo lido outros dois (A obra-prima ignorada e Eugênia Grandet) e gostado muito de ambos, esperava que o “clássico” fosse, ao menos, do mesmo nível dos anteriores.

Antes que os críticos literários com maior experiência e possibilidades de análise façam as suas críticas, vejam (e discutam, se quiserem) os meus motivos para não achar A mulher de trinta anos um livro tão bom quanto os outros de Balzac.

OS PROBLEMAS

Escrito em 1844, o livro é divido em seis partes, cada uma percorrendo uma parte da história, da juventude da protagonista Júlia à sua velhice, com um ou outro trecho em que se destaca outra personagem da história, sua filha Helena.

Não sei se é por ingenuidade da minha parte, mas o título do livro nos levaria a entender que ele trataria de características das mulheres “balzaquianas”, afinal, “a fisionomia das mulheres só começa a ter significação aos trinta anos” (p. 208). Suas dificuldades com a transformação física e psicológica junto à necessidade de se possuir um novo papel numa sociedade que prometia “liberdade, igualdade, fraternidade”.

Esse tema até que aparece no livro, e é até recorrente, mas a história ficou bastante fragmentada com tantas passagens de tempo, o que prejudicou, ao menos numa primeira leitura, o entendimento de determinadas partes ou tornou banais eventos que poderiam trazer mais conteúdo.

A primeira parte do livro ainda ocorre na era napoleônica. Júlia assiste com o pai a um desfile dos guardas que irão para a guerra e se apaixona por um deles, por mais que o pai a advirta sobre a grande possibilidade de se tornar infeliz.

A seguir, já numa França pós-napoleônica, ela aparece casada com o tal soldado, agora marquês Vitor D’Aiglemont – que já nem lembra mais do antigo imperador. Júlia se mostra arrependida de não ter ouvido os conselhos do pai. No mesmo instante que descobre um possível amante inglês.

Nos trechos posteriores, essa relação com o lorde Grenville se intensifica a partir do momento que ele promete ajudar a seu marido tirá-la da situação triste que ela vivia – através de tratamentos psicológicos.

É assim que numa parte posterior o narrador entra na história e vê este casal com duas crianças. A menina, sem muita atenção da mãe, e o menino, cercado de carinhos. Até que, sem querer, Helena faz com que o irmão sofra um acidente terrível, que não deixou possibilidades de socorro nem pelo narrador, que se aproximou da cena.

E é este menino que deixa a primeira dúvida: será que ele realmente existiu? Afinal, nas partes seguintes Júlia não mostra nenhum remorso em relação a este filho – apesar de, supostamente, ser do seu grande amor (já morto) -, além de ter outras três crianças. Sua raiva com Helena já existia antes e parecia vir do fato de a menina ter impedido que ela pudesse largar tudo para viver com o inglês.

Porém, Helena se mostra sempre preocupada com algo que possa ter feito de errado. Além de não ter o amor da mãe, sempre aparece chorosa, mesmo sabendo do envolvimento da sua geradora com outros homens.

MACHISMO

Neste entremeio, com a personagem no, teórico, auge (30 anos), Balzac traz através de Júlia, nas conversas com um padre – que passa algumas páginas por aqui -, suas críticas à sociedade, que dá direito aos homens e obrigações às mulheres:

- Obedecer à sociedade?... – tornou a marquesa deixando escapar um gesto de horror. – Ora, senhor, todos os nossos males provêm disso. Deus não ditou uma única lei da infelicidade; mas os homens, reunindo-se, falsearam sua obra. Nós, as mulheres, somos mais maltratadas pela civilização do que pela natureza. A natureza nos impôs penas físicas que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles burlam incessantemente. A natureza sufoca os seres frágeis; os senhores os condenam a viver para os abandonar a uma constante desdita. O casamento, a instituição a qual se apoia a sociedade, só a nós faz sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade, para a mulher deveres. Devemos consagrar aos homens toda a nossa vida, eles nos consagram apenas raros instantes. Oh! Ao senhor posso confiar tudo. Pois bem! O casamento, tal como hoje se pratica, parece-me ser uma prostituição legal. Daí nasceram meus sofrimentos. Mas entre tantas criaturas infelizes irremediavelmente consorciadas, só eu devo guardar silêncio! Só eu sou autora do mal, porque quis meu casamento. (pp. 100/101).

Antes mesmo disso, ela já tinha “ganho” uma discussão com o marido quando ele tentou fazer gracejos físicos. Quando Vítor reclamou da falta de respostas, Júlia mostrou as cartas de uma senhora com quem o marido tinha caso amoroso. Afinal, mesmo sabendo disso, ela cumpria o seu “papel de esposa”.

Se em A obra-prima ignorada há questões sobre a arte e em Eugênia Grandet há questões sobre as transformações no homem numa nova sociedade, este livro traz o questionamento quanto às diferenças de gênero e a manutenção dos limites para as mulheres.

OUTRA CARACTERÍSTICA

A mulher de trinta anos traz também outra característica importante para se entender a obra balzaquiana. Há personagens que são apenas citados, tais como: Sra. Firmiane, De Marsay, O Pequeno d’Esgrignon, sra. De Listomère. Todos eles aparecem em outros livros que constituem trechos do que o autor francês queria constituir como A Comédia Humana.

Georg Lukács (1969, p. 123) explica muito bem o porquê dessa efemeridade: “O princípio balzaquiano da construção cíclica [...] deriva da ideia artística de que todas essas figuras não perfeitamente realizadas e construídas, constituirão depois o centro de outras obras, nas quais a atmosfera o ritmo de vida permitirão atribuir-lhes uma posição central” (123).

DEMAIS PARTES

O final do livro traz uma boa história sobre o destino de Helena, com direito a fuga com assassino, falência do pai, navio pirata, conciliação e morte do pai – esta apenas citada – e, por fim, a tragédia que deveria unir mãe e filha.

A seguir, vem a derradeira parte da obra. Forçando-me a não contar o final, basta dizer que o óbvio para acontecer não acontece, apesar de sermos induzidos (talvez devido ao costume) a ele. A mãe vê a outra filha, Moína – nome bastante curioso para uma francesa – com um destino pecaminoso graças a uma de suas paixões anteriores.

É assim que ficamos na sensação de que faltou algo, que a história não foi completa. Além do principal: A mulher de trinta anos é só um trecho – mesmo que um pouco mais da metade – do livro.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALZAC, Honoré de. A mulher de trinta anos. São Paulo: Editora Três, 1974. (Biblioteca Universal, 16).


LUKÁCS, Georg. Ensaios sobre Literatura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. (Biblioteca do Leiro Moderno – volume 58).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Dez anos de Maceió (ou "Quero ir para casa")

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Manhã de sábado. Dali a poucos minutos, parte da família viajaria. Não que fosse algo incomum, afinal o percurso Aracaju-Maceió era feito quase que de quinze em quinze dias. Porém, desta vez era diferente, quase que definitivo. Significava nunca mais voltar ao que outrora fora o lar.

O filho mais novo, no que é possível para alguém com 11 anos, despede-se de cada cômodo da casa, como se fossem pessoas que deixara ali após uma convivência de tanto tempo. Por mais que voltasse uma vez ou outra para a cidade, sabia que nunca mais veria sequer a frente da residência - verde com calçada vermelha e portão azul.

Nada de garagem para jogar bola sozinho, do quintal para rachar os dedos nas sextas à noite em jogos com o pai. Nada dos corredores para andar de bicicleta passando por obstáculos ou para correr atrás do cachorro - com uma sandália na boca. Nunca mais estaria ali.

E pensar que um pouco mais de um ano antes poderia ter ocorrido algo que evitaria tudo aquilo. Por pouco a ligação material da família com a cidade natal seria vendida. Mas não foi. E o que importaria? Nem mesmo sete ou oito meses antes daquele 8 de janeiro de 2000 havia a decisão da volta a Maceió. Talvez até fosse impensável.

Mas o tempo passa, algumas pessoas nascem e outras morrem, mas geralmente a situação só "pesa" mesmo quando chega ao fim alguma vida próxima - e como, por infeliz coincidência, eu sei disso neste momento. Tudo muda.

Por mais que dissesse que quando tivesse idade suficiente se mudaria para Maceió para cursar Jornalismo por lá, a mudança era muito cedo e, provavelmente, não tentaria essa aventura de morar na casa da avó ou de tias.

Além disso, viver quase dez anos num local é criar apego o suficiente para não querer sair de lá. Por mais feias que fossem as praias sergipanas, por mais feia e pequena que fosse Aracaju, o garoto se sentia parte dela. Por mais que fosse tímido, tinha a família de amigos que eram mais amigos que a própria família.

Mas já não adiantava mais. A escolha havia sido feita pelos pais e mesmo qualquer resmungo - e foram muitas reclamações depois - não adiantaria nada. Bastava agora mudar, da mesma forma que aconteceu com os móveis, com o cachorro, com a família.

O passado não daria facilidade nenhuma. Pelo contrário, seria uma vida nova. O que significaria, na opinião dele, uma mudança de atitudes. Aquele menino estudioso, tímido, mas chorão e mimado para caramba tinha que ter uma postura melhor.

Dez anos já se passaram daquele dia e a criança virou adulto - outra porcaria que o tempo nos traz. Individualmente, o crescimento - não só na altura - foi imenso. As responsabilidades assumidas no fazer parte dos problemas financeiros da casa, os próprios problemas financeiros antes inimagináveis, em termos de estudo então, nem se fala. Entretanto, foram principalmente os problemas de ordem de saúde familiar que o fizeram se desenvolver.

E essas problemas familiares...

(Antes de qualquer outro comentário, é bom que se explique que a partir de agora se entende família como as pessoas com laços sanguíneos que moram com ele; o resto é parente - que enche bastante a paciência! Você só sabe o quanto podem ser insuportáveis quando está mais perto deles.)

Hoje, 08 de janeiro de 2010, o garoto, agora um rapaz de 21 anos, continua palmeirense - sem o fanatismo daquela época -, tornou-se torcedor azulino de fato - e como isto o fez/faz sofrer. Os exemplos da vida paterna o transformaram em alguém sem qualquer vontade de estabelecer amizades, um grande chato.

Enfim, não posso garantir que o rapaz estará nesta cidade nos próximos dez anos - mal posso garantir que estarei vivo amanhã, imagina garantir que alguém continuará em Maceió -, mas é certo que ao longo dessa década se pegou muitas vezes pensando na frase "quero ir para casa" mesmo não quando não tinha motivo objetivo algum para isso.


Mídia tosca

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Após ausência nas últimas semanas de 2009, "Mídia Tosca" volta. Não queria que chegasse 2010 e esses oito primeiros dias, terríveis, provam-me que estava certo.

Bem, como o assunto aqui não é o que vivo, a edição desta semana tem uma dedicatória em especial. É em homenagem ao ilustríssimo [sic] apresentador Bóris Casoy. Esperamos que ele consiga levar sozinho o seu lixo para o aterro sanitário!

FUTURO Como algo acontece às 17h30 de um dia e a notícia aparece num site vinte e três minutos antes? Vai ver que é por isso que o Gazetaweb apresenta "o melhor e maior conteúdo de Alagoas"

SÍMBOLO Já viu bolas de futebol na Justiça Comum? O Alagoas 24 Horas conseguiu a proeza de colocar o símbolo do Superior Tribunal de Justiça Desportiva como se fosse o do STJ. Sem comentários...

EM SÉRIE "Lojas Rener [sic] abre [sic]". O Primeira Edição conseguiu num só título errar a grafia do nome da loja e, de forma horrível, a conjugação do verbo.

IMAGEM Tudo bem que o cabelo grande do Richarlyson ficou ridículo, mas se coloca a possibilidade de ver no link que se coloque um link, Tudo na Hora!

IMAGEM 2 Do jeito que as coisas vão, de repente bem que seria bom que o Mr. Bean presidisse a UE. Se a Itália pode ter o Berlusconi, por que não o Bean? O Cada Minuto anunciou uma imagem que não existia.

IMAGEM 3 Este erro foi enviado por e-mail por Fernanda Café - uma das Fernandas que eu conheço. O Maceió Agora! estreia por aqui após pedir para olhar a foto "acima" inexistente.