domingo, 29 de dezembro de 2013

Possibilidades de estudos da EPC para o jornalismo (esportivo)

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Numa temporada de respostas negativas, aos 45 minutos da última rodada - e sem direito a recorrer ao tapetão - apareceu a última publicação: um capítulo de livro. Tipo de tento isolado nas marcas finais do ano, o capítulo trata de um estímulo a mais estudos sobre o jornalismo esportivo tendo em vista a utilização da base teórico-metodológica da Economia Política da Comunicação.

A proposta para escrevê-lo surgiu numa conversa com uma colega de grupo de pesquisa CEPOS que é professora na Universidade Federal do Piauí, Jacqueline Lima Dourado, quando eu fui para Teresina (re)apresentar os resultados da minha dissertação - esta que foi a grande coisa do ano, que me possibilitou a viagem e o capítulo de livro. Teria algumas semanas para produzir algo a tempo de entrar no livro que já estava prestes a ser fechado para ir à editora. A sugestão foi de tratar de algo sobre o jornalismo esportivo.

Como não era exatamente a minha área de trabalho acadêmico, apesar do convívio cotidiano de toda uma vida com o tema, optei por pesquisar artigos que se autodenominassem a partir da Economia Política do Jornalismo, que trata o livro como um todo, para embasar as minhas análises. Depois disso, juntei reli trechos da dissertação/fichamento mais históricos sobre o jornalismo esportivo no país; além de buscar um ou outro texto que me recordava ter escrito para o Observatório da Imprensa sobre o assunto. Fora isso, usar a memória do acompanhamento do fascinado por esportes.

Na base, a surpresa de perceber a necessidade de constituir um texto mais prolongado sobre a Economia Política do Jornalismo, por ter encontrado mais aplicações em objetos (caso de telejornais) que uma proposta metodológica de estudo de uma maneira mais geral. Quer dizer, encontrei um texto publicado/apresentado no encontro da Compós de 2006 que propunha bases para uma EPJ, ainda que não se assumindo enquanto tal (escrito por Sonia Serra, mas que não encontro mais o link). Além dele, há um artigo escrito por duas referências da EPC, César Bolaño e Valério Brittos sobre os reordenamentos jornalísticos, publicados na E-Compós, coincidentemente também em 2006. Mas muita coisa mudou de lá para cá.

A partir disso, na primeira parte tento demonstrar o local da EPJ nos estudos sobre as indústrias culturais, percebendo a necessidade de uma espécie de "guia" de estudos para o tema - assim como temos para TV livros como "Mercado Brasileiro de Televisão" e um trecho de "Indústria Cultural, Informação e Capitalismo", ambos de César Bolaño, que demonstra a estruturação dos mercados de TV e as divisões por meio de comunicação, respectivamente. Enfim, algo que em meio às incertezas do presente podem voltar depois.

Afinal, a minha intenção pós-dissertação era me voltar mais ao jornalismo, ainda que contextualizado nas mudanças do mercado de comunicação, inclusa aí a participação das mídias sociais e as novas possibilidades de difusão de informação. Negativas à parte, pode ser um tema que posso voltar a tratar - se eu tiver a oportunidade de fazê-lo.

Depois disso, há um rápido histórico sobre o jornalismo esportivo, e até mais futebolístico, no país, com sua importância para o próprio jogo, num processo de importância que demonstrei em outros artigos e na dissertação. 

Por fim, estabeleço na última parte, a partir de casos em diferentes indústrias culturais, possibilidades de estudo que estão claros e postos a quem se interessar em estudar o jornalismo esportivo, especialmente se tomar por base a Economia Política da Comunicação e esta nova vertente constituída/a constituir que é a Economia Política do Jornalismo.

O livro foi publicado pela Editora da Universidade Federal do Piauí e provavelmente estará à venda no próximo congresso do Capítulo Brasil da ULEPICC, que deverá ser realizado em 2014 naquela universidade. Quem tiver interesse nele antes disso, sugiro mandar um e-mail para a organizadora (que posso passar a quem me pedir) ou à editora livrariadaufpi@hotmail.com. E para quem se interessar pelo artigo em si, posso mandar a versão em pdf do arquivo que foi enviado para publicação. Abaixo a introdução, que foi relativamente curta.

Introdução

Estamos num excelente momento para pensar academicamente os esportes no Brasil, com os principais eventos esportivos a serem realizados por aqui. Pensar como o jornalismo trata este assunto, tanto através de meios criados especialmente para isso quanto nos programas de mídias generalistas é uma tarefa importantíssima para este assunto que cresce aos poucos nas Ciências Sociais e Humanas.

Este artigo tem a ousada proposta de articular novas possibilidades para o estudo do eixo teórico-metodológico da Economia Política da Comunicação, tendo como partida a especialidade da Economia Política do Jornalismo e como foco a atuação dos grupos midiáticos nacionais, especializados ou não, sobre os esportes no país, inicialmente enquanto (re)transmissores de informações sobre estas atividades.

Para isso, apresentar-se-á inicialmente a importância de se estudar o Jornalismo a partir da Economia Política da Comunicação, através de sua vertente recente, a Economia Política do Jornalismo. Neste passo inicial, a preocupação é localizar a EPJ em meio aos estudos da comunicação e as preocupações das pesquisas através dela.

Em seguida, o artigo se movimenta para o jornalismo esportivo, apontando a relação intrínseca entre meios de comunicação de massa com os esportes desde os primórdios de ambos, descrevendo marcos desta especialidade jornalística no país.

Por fim, debate-se algumas das propostas imaginadas para a análise de uma Economia Política do Jornalismo Esportivo, caso das discussões atuais que acabam por contrapor jornalismo e entretenimento nos programas esportivos da Rede Globo de Televisão.

domingo, 22 de dezembro de 2013

A consolidação de um monopólio de decisões: a Rede Globo e o Campeonato Brasileiro de Futebol

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Após meses de espera, finalmente a minha dissertação está disponível na biblioteca virtual da Unisinos. Ainda que durante este longo tempo, eu a tenha repassado para quem me pediu, finalmente as pessoas podem achá-la na internet. Deve ter sido postada em outubro ou novembro, mas na correria destes dias só agora pude postar por aqui.

O link segue abaixo:

Relembrando que a trajetória do (saudoso) período está relatada neste espaço na coluna "Em Busca do El Dorado", com direito à apresentação feita no Prezi, que repito aqui o link: http://terrainteressados.blogspot.com.br/2013/02/a-consolidacao-de-um-monopolio-de.html

Políticas públicas para transmissão de esportes: Análise de dispositivos legais sobre o desporto e a comunicação

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Em meio a um forçado (e extremamente desgastante) período sabático para tudo o que eu gosto de fazer, ainda há resultados de trabalhos feitos anteriormente. O artigo "Políticas públicas para transmissão de esportes: Análise de dispositivos legais sobre o desporte e a comunicação" foi publicado na quarta edição da Revista Brasileira de Políticas de Comunicação, ligada ao Laboratório de Políticas de Comunicação da UnB (LaPCom-UNB).

Como a revista é nova, não tem uma classificação boa (Qualis B5). O meu intuito era aproveitar que já tinha um trabalho sobre o tema políticas de comunicação e aproveitar que o espaço específico para publicar o artigo que surgiu durante a pesquisa do mestrado, com o aditivo em relação à dissertação de ter uma análise sobre a Ley dos Medios da Argentina no que se refere às transmissões esportivas. Além disso, honestamente falando, mirava a possibilidade que se tivesse de mudar de opções, uma porta de conhecimento sobre o meu trabalho já estaria um pouco aberta.

Tenho uma lista de possíveis revistas/dossiês que posso ter/fazer artigos para publicar e as que eu enviei e responderam ou não. Uma revista aprovou um artigo, mas ele ainda não foi publicado, então com alguma frequência confiro no site dela se saiu algo. Por via das dúvidas, acabo por olhar também nas revistas e no sistema de que enviei e não recebi resposta. Este foi o caso. Para a minha felicidade, estava lá a edição e o artigo, que não tive resposta, publicado. É algo que já tinha ocorrido com uma amiga, então passei a ficar mais esperto quanto a isso.

Segue abaixo o resumo do artigo que pode ser lido/baixado no site da revista: http://rbpc.lapcom.unb.br/index.php/revista/article/view/47

Resumo

Este artigo discute os dispositivos legais que discorrem sobre o desporto e a comunicação. O objetivo é demonstrar através da legislação já existente os direitos dos torcedores/telespectadores e os deveres para os meios de comunicação e as entidades que organizam o esporte no Brasil. Como material de análise, opta-se pela Constituição Federal; o Código Brasileiro de Telecomunicações; a Lei do Audiovisual, por se tratar da mais recente forma de regulação; o Estatuto de Defesa do Torcedor; e a Lei do Esporte. Até como uma “alternativa” à situação brasileira, estabelece-se ao final um diálogo com a Ley de Medios da Argentina.

sábado, 23 de novembro de 2013

A autobiografia do Edson... ops, do Pelé... quer dizer...

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Em meio a tanta discussão sobre biografias, pairou nas minhas mãos uma autobiografia. Quer dizer, uma biografia com ghost-writeres, que nem foram tão assim, afinal estão ali indicados os nomes de Orlando Duarte e Alex Bellos. Mais curioso ainda, para uma figura brasileira, é que o título original é "My Autobiography" e que o texto, de brasileiro por ghost-writeres brasileiros, tenha sido traduzido ao português.

Não tinha lido nenhuma autobiografia antes e sou/estou muito pragmático para pensar como alguém fala determinadas coisas tantas vezes, como a o respeito/opção religiosa, defende questões morais de maneira tão firme, objetiva, ao mesmo tempo em que apenas passa por questões mais polêmicas. Conta-se, mas não como gostaríamos ou, diria eu, com alguma contradição por ali.

Enfim, o assunto não são as biografias - que devem sim ser liberadas, com os pesares sendo resolvidos onde se deve. Em meio (também) a uma espiral de caos deste atual momento, li até que rápido uma das autobiografias de Pelé, publicada em 2006 pela Sextante. Uma de tantas que deve existir no mercado editorial mundial, inclusive há uma que estava para sair que é edição para poucos. Gigante, caríssima e com número determinado.


Não vou me deter em analisar pontualmente a biografia, dividida com capítulos de acordo com a vida do Edson Arantes do Nascimento, que recebera este nome por conta do Thomas Edison e que, por conta disso, foi registrado como EDISON (vide acima). Depois é que foi modificando/modificado para o que deveria ser o certo. Enfim, Edson ou Edison, o "Dico", como Dona Celeste o chamava, chegaria a ser Gasolina no início do Santos, Alemão para os jogadores da Seleção em 1958, mas tornaria-se conhecido mesmo como Pelé. Quer dizer, acho até que Pelé é uma marca mundial e para sempre na história, virou mais que um homem, um mito.

Ao final do livro ele usa um exemplo, do seu cartão de crédito - cuja marca é sua patrocinadora pessoal - para afirmar a diferença. De um lado, a edição especial com a assinatura do Pelé, do outro, a assinatura do Edson. Para ele, "o Edson representa as coisas simples: família paz, calma, o interior, pescar, cavalgar, ver os filhos crescerem e desfrutar dos netos" (279). O Pelé foi mantido a base do formol, com o mesmo corte de cabelo e as imagens de arquivo para provarem o quanto foi sensacional.

Mas no meio dessa necessidade de equilíbrio entre os dois, houve momentos de problemas. Enquanto Pelé ganhava dinheiro, ainda que em bem menor proporção que os atletas ganham hoje, Edson confiava demais nas pessoas e várias vezes se viu cheio de dívidas e quase em falência. Dos casos mais controversos, ele chega a citar o amistoso para ajudar a Unicef, muito comentado ainda hoje por seus detratores, já que a tal partida nunca se realizou.


Li algumas vezes e é interessante observar o quanto ele era profissional, pensava como tal, mesmo numa era bastante amadora. Imagina-se naquela época o que devia ser sair de uma cidade do interior (Bauru) para uma litorânea (Santos) com apenas 15 anos para morar embaixo das arquibancadas de um estádio, com a sombra do pai ex-jogador em volta. Além disso, começar praticamente no time profissional, atuando com craques. Mais ainda, atuar pela Seleção Brasileira numa final de Copa do Mundo antes dos 18 anos e marcar um golaço contra os donos da casa!

Ele desenvolveu bem as várias características e possibilidades de jogo treinando com o pai e depois dos treinos. Sabia onde tinha que melhorar e assim o fez. Como diria Carlos Drummond de Andrade, e algo que levo em conta para evitar qualquer comparação dele com outro atleta, “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols como Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Diria mais: perder um gol como Pelé. Afinal, três deles (chute da intermediária contra a Tchecoslováquia; cabeçada e defesaça de Banks contra a Inglaterra; e finta contra o Uruguai) na Copa de 1970 seguiram e seguirão reverberando em lances como o "gol que Pelé não fez".

Ganhar três títulos mundiais, o de 1970 no auge da forma física, ser assediado pelos mais importantes clubes do mundo e seguir por 18 anos num mesmo time, dois mundiais interclubes e vários outros títulos com o Santos, rodar o mundo, parar guerras e até expulsar o juiz por pressão da torcida, isso é para um único.

No livro há espaço para a sensação dele em cada momento, críticas à preparação/bagunça de 1966 e a defesa do jogo limpo, com agradecimentos aqueles que o defenderam, como os tchecos que o pouparam em 1962 - época em que não se podia substituir - mesmo quando estava machucado, e críticas aos juízes e aos jogadores que esqueciam disso, caso dos portugueses quatro anos depois.

Há também, como já citado, para as rusgas públicas, como contra João Havelange e Ricardo Teixeira na década de 1990, num momento em que a empresa dele queria comprar os direitos de transmissão do Brasileiro (1994) e teria sido pedido uma propina por parte da CBF. Pelé teria acusado a entidade de corrupta numa revista nacional e no texto aparece negando que ela fosse corrupta...

Várias são as críticas aos políticos profissionais e à bancada da bola no período em que foi ministro do Esporte (1995-1998). A Lei Pelé fora aprovada, mas distante do que pretendia - seguindo o modelo da "Lei Bosman", da Europa - sob forte pressão de um Congresso cujos interesses eram claros. Em contrapartida, ele lamenta que os jogadores brasileiros não tivessem o apoiado em momento algum, clamando por maior união - algo que o momento atual pode ser bastante alentador.

A autobiografia também trata da vida pessoal, caso dos casamentos e da relação com filhos e netos, com destaque para o momento da prisão de Edinho por associação ao tráfico de drogas, anos antes da publicação do livro, e que representou um grande baque para alguém que praticamente nunca bebia ou fumava.

Claro que trata-se da "filha bastarda" Sandra Regina. O relato é rápido e mostra que nunca houve interesse. Ela é definida como oriunda de um relacionamento de uma noite, que, por isso, só reconheceria por DNA, e que a filha teria procurado Dona Celeste claramente interessada no dinheiro dele. Algo que no mundo do futebol, quando aparece, especialmente após a morte precoce de Sandra e a não ida de Edson ao enterro, pesa negativamente em sua história.

Os romances das décadas de 1970/1980 também aparecem, com óbvio destaque para o relacionamento de seis anos com Xuxa. Ele explica que a ajudou na carreira, abrindo porta para filmes (aqueles lá que todo mundo sabe que existem...) e até para capas de revista masculina, que o Edson trocara os filmes originais por entrevista exclusiva na década de 1980...

Enfim, até mesmo porque já me estendi bastante, autobiografias parecem ter a falta daquele detalhe que o autor não queria passar, por mais que diga que a vida possa ser um livro aberto. Além disso, há repetições exageradas, lições mesmo, em determinados pontos. Ainda assim, qualquer coisa sobre Pelé, para quem gosta de futebol, merece atenção. (Quer dizer, não aconselho ouvir as músicas, por mais que haja até dobradinhas com Elis Regina no inícios dos anos 1980...).


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O dilema da TV Brasil para a Série C em 2014

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Numa mesma semana, o destaque por alcançar pela primeira vez a liderança na audiência, ainda que apenas numa única cidade, e a greve dos funcionários que quase parou a emissora. Se TVs comerciais têm seus momentos de dificuldade, as não privadas sofrem ainda mais num país que não desenvolveu este tipo de comunicação. Em meio a isso, a TV Brasil ainda não decidiu se transmite futebol em 2014. São várias as questões a se apontar no investimento da Empresa Brasil de Comunicação – já que as rádios também transmitem os jogos – na Série C. O tema foi discutido, ainda que menos que o ideal, quando do anúncio da volta da transmissão pelo canal público, como nós fizemos neste espaço (ver “A volta do futebol à rede pública de TV“).

Nesta temporada, a TV Brasil vinha conquistando bons resultados de audiência para quem tem dificuldades a chega a 1 ponto nos grandes centros brasileiros. Em Pernambuco, a afiliada TV Universitária chegava a médias acima de 8 pontos com os jogos do Santa Cruz. Na capital cearense, a TV Ceará chegou a médias de 3 pontos mesmo com má qualidade no sinal, nas partidas do Fortaleza. No último domingo, com jogo transmitido no mesmo horário da Série A, a emissora atingiu a média de 11,5 pontos, com picos de 19,4, para a transmissão de Santa Cruz 2X1 Betim, jogo que definiu o último classificado para a Série B de 2014. Enquanto isso, a TV Globo atingiu média de 8,5 com jogo da Série A.

O resultado garantiu a liderança na audiência, representando mais de 200 mil domicílios sintonizados na transmissão da TV Brasil numa partida que teve mais de 60 mil torcedores no estádio do Arruda. Esse caso rompeu também com o discurso antigo de clubes que a transmissão para o local onde é realizada a partida prejudica a bilheteria, o que não necessariamente ocorre, pois depende de outros fatores, como a segurança nos estádios.

A “tradição” em exibições de futebol

Há algumas semanas, noticiava-se que a EBC está em dúvida se deveria continuar transmitindo a Série C no ano que vem, lembrando que em 2011 a emissora desistiu de exibir o torneio meses antes de ele começar. Se dá audiência, o campeonato custa caro. Este ano, estimava-se que R$ 9 milhões seriam gastos entre direitos de transmissão e custos de produção.

Por um lado, há o potencial dos clubes. Santa Cruz, Sampaio Corrêa e Vila Nova, três dos quatro clubes que ascenderam à Série B, são tradicionais nos seus Estados. Com transmissão em TV aberta, mesmo em paralelo com a TV fechada (SporTV), é natural que o torcedor que sabe que a partida de seu clube será exibida que sintonize o canal. Isso também vale para clubes como CRB, Fortaleza, Treze e Caxias, que seguem na Série C no ano que vem, assim como Juventude e Botafogo-PB – que subirão à terceira divisão.

Outro ponto de vista que pode ser analisado neste caso é a qualidade da retransmissão nos Estados, como apontado no caso do Ceará, mas que vem a ser comum nos casos das TVs públicas, sejam elas estatais ou universitárias. A TV Universitária de Pernambuco surgiu em 1968, sendo a mais antiga deste tipo no Brasil. A emissora costuma transmitir jogos dos times locais, ou seja, não é novidade ao público. Casos parecidos com a Cultura do Pará, que retransmite também pela web, e da TV Aldeia, no Acre. Mas, em outros casos, não só falta essa “tradição” em exibições de futebol. Muitas emissoras apresentam sérias dificuldades em manter equipes de jornalismo e produção básicas para fazer conteúdo local, mesmo comparando com a quantidade de programas regionais que se costuma exibir nas afiliadas de TV no país.

O exemplo argentino

Em pleno processo de digitalização da transmissão de TV de forma gratuita no país, há emissoras não comerciais cujo sinal mal consegue abranger toda a capital de seu respectivo Estado. Algo que o projeto de se criar um operador de Rede Pública de TV digital, em estudo/debate a partir do governo federal, pode ser essencial para a resposta a esse grande avanço na tecnologia, que exige equipamentos mais caros e equipe especializada. Há também as dificuldades legais existentes para que TVs não comerciais possam ter a chance de concorrer em mínimas condições no mercado brasileiro. Como se comprova em vários momentos de diferentes emissoras, caso da Rede Minas este ano, há as restrições às contratações, com a necessidade de realização de processo seletivo.

A discussão sobre investimentos públicos num bem cultural que gera tanto dinheiro em torno, como o futebol, também sempre aparece para negar tamanho gasto de uma TV ligada ao poder público num esporte massivo. Ainda que as dimensões do Brasil reflitam também as muitas contradições socioeconômicas vividas também quando o assunto é futebol. Por exemplo, enquanto São Paulo tem quatro divisões, e já foram mais, estados da região Norte têm dificuldade para juntar oito clubes para uma divisão.

O investimento do governo argentino, através do programa Fútbol para Todos, tornou-se caso recorrente. De um lado, a compra dos direitos de exibição de torneios argentinos de futebol – que paga muito mais que a Torneos y Competencias, ligada ao Clarín – permite ao telespectador argentino ver as partidas ao vivo em TV aberta, o que não ocorria antes, ao mesmo tempo em que há a utilização deste programa para fins políticos.

Saber divulgar os outros programas

Voltando ao Brasil, é importante recordar também que este é um momento de reestruturação em, pelo menos, três redes nacionais de TV. Rede TV!, Band e Record vem fazendo mudanças estruturais importantes para readequar custos. Focando no futebol, a Band já informou à Globo que não sublicenciará a Copa do Brasil e a Série B do ano que vem, mesmo com bons resultados de audiência aos sábados com as partidas do Palmeiras na segunda divisão e a possibilidade de outro clube com muita torcida de disputar o torneio em 2014.

No campo não comercial, a TV Cultura de São Paulo também vem num processo de reestruturação para diminuir o prejuízo acumulado nos últimos anos. Este processo chegou ao ápice no cancelamento de Cocoricó, exibido desde 1996. Além disso, gerou a mudança no comando do tradicional programa de entrevistas Roda Viva por conta dos salários do então apresentador Mário Sergio Conti, que foi substituído por Augusto Nunes em meados deste ano.

Como comentei no texto anterior sobre o tema, apesar de vários problemas sobre os gastos na transmissão – que poderiam ser utilizados, por exemplo, para o incentivo de festivais e produtos audiovisuais independentes –, com seis anos de existência, o programa futebol seria algo essencial para atrair a audiência para a TV Brasil. Pelos resultados, isso vem sendo alcançado. Porém, agregado a isso, era e continua sendo necessário saber publicizar os outros programas da emissora, fidelizando o telespectador para outras áreas, como exige o modelo de TV generalista, que ainda prepondera no país.

Uma alternativa real

É claro que para quem gosta de futebol quanto mais transmissões em TV aberta, melhor. Especialmente porque há jogos diferentes de outros canais e na maior parte deste ano num horário alternativo, às 19h, que é bom para quem pratica, para quem está em casa vendo pela TV e para quem vai aos estádios.

Entretanto, em meio aos sérios problemas estruturais que persistem em muitas afiliadas regionais – por interesses variados que exigem estudos específicos em cada Estado, especialmente por diferentes comandos políticos –, e a própria greve dos funcionários/servidos públicos da TV Brasil, há muito para se investir no básico para que uma TV possa funcionar. Eximir-se de concorrer a qualquer custo não significa transmitir para ninguém, mas ser uma alternativa real no mercado de comunicação.

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Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

[Por Trás do Gol] Os proprietários

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Acompanhei a maioria dos jogos do Brasil na Copa do Mundo FIFA sub-17, realizada nos Emirados Árabes Unidos. Uma seleção com bons jogadores, com um esquema tático interessante, mas que acabou voando num grupo facílimo na primeira fase e tropeçando desde as oitavas de final. A derrota numa incrível disputa de pênaltis (11 a 10 após 24 cobranças) para o México não tira os méritos do time comandado por Alexandre Gallo, ainda mais se comparado ao desastre do time sub-20, cuja campanha foi desastrosa no Sul-Americano da categoria. Mas o assunto não é exatamente esse.

O que me surpreendeu durante a campanha, especialmente nas partidas comentadas pelo Neto na Band, foi, além do exagero costumeiro do comentarista-apresentador exigindo não só que determinados meninos fossem aproveitados em seus clubes, mas até o centroavante Mosquito na Seleção principal (!!!), que time era dono de quem por ali.

CLUBES-BASE
Primeiro, há, reconhecidamente, alguns clubes que fazem um bom trabalho de base. No futebol contemporâneo isso vai além de ser formador de jogadores, como Bahia e Vitória foram com força nas últimas duas décadas (Daniel Alves, Hulk e David Luiz que o digam), é necessário ir além, criar garantias para que os jovens atletas possam ficar nos times. Nisso, São Paulo e Internacional são especialistas, a ponto de tirarem atletas da base de grandes rivais. O caso Oscar, que envolveu ambos, é só o exemplo mais estelar. Não à toa, uma série de clubes ameaça não jogar a Copa São Paulo do ano que vem em repúdio à presença do São Paulo, que seria o maior aliciador de atletas do Brasil - por mais que dentre os que ameaçam também haja quem já fora acusado do mesmo. 

Antes de ir para alguns casos curiosos, ver atletas dos dois citados, mais de Fluminense, Flamengo e Atlético-PR em seleções de base acaba sendo cada vez mais comum. O Santos, que vem de duas gerações de "Meninos da Vila", mas que possui contratos grandes com jogadores a partir dos 12, 13 anos, só colocou Gabriel (Gabigol) e Thiago Maia entre os convocados. Confesso que não gostei dos poucos momentos em que ele atuou, já que era reserva do flamenguista Caio, mas não recebeu crítica do comentarista supracitado nem mesmo quando perdeu o quinto pênalti da série, que daria a classificação brasileira às semifinais....

O Corinthians chegou a ter momentos mais profícuos. Basta lembrar que o time é o maior ganhador da Copinha. De jogadores brasileiros no exterior, necessário lembrar que Marquinhos, convocado por Felipão para os últimos jogos do ano, tem 19 anos e saiu (quase de graça) da base corintiana, passando pela Roma e seguindo para o PSG. E se Lulinha e Dentinho não deram certo, William, atualmente no Chelsea, é outra boa referência. Desta vez, ninguém do clube foi chamado, o que deve ser melhor observado.

AS VENDAS
Se minha memória não está falha, um clube só pode assinar contrato profissional com jovens a partir dos 16 anos, como ocorre via CLT. Só que a partir dos 14, pode-se assinar uma espécie de pré-contrato, de maneira a gerar vínculo do atleta com o clube. E é neste período de dois anos que empresários aparecem e prometem mundos e fundos para os jogadores, ainda embriões de promessas. Quando chegam aos 16, alguns pais/empresários querem salários profissionais para seguir, ameaçando com propostas do exterior (este é um caso clássico, matéria no Fantástico e rodando anos depois).

Em meio a sérios problemas financeiros, o Vasco teve como representantes o volante Danilo e o meia canhoto Índio. Danilo foi titular do Brasil durante toda a campanha e joga de forma semelhante a Paulinho, com boa marcação e saída de bola de qualidade. O diferencial é que ele foi vendido por 13,5 milhões de reais para um grupo de empresários portugueses que, assim que ele completar 18 anos, levarão o volante para o Braga, atual terceira força de Portugal.

O clube tinha 60% (!!!) dos direitos do jogador e torrou os seus 8 milhões para pagar o grupo profissional. Danilo foi disputado também pelo Liverpool, que é o destino atual de outra joia da Colina, Philippe Coutinho, que também mal teve tempo de atual pelo time principal cruzmaltino, por já estar vendido à Internazionale. Em meio à forte crise atual, o time foi obrigado a apostar em novos nomes da base, que já atraem investidores estrangeiros.

Outro caso curioso dentre os convocados é o do atual artilheiro da Copa, Boschilla. Atualmente no São Paulo, o jogador foi formado na base do Guarani, mas vendido por R$ 600 mil (!!!) para o tricolor paulista no final do ano passado. A antiga diretoria do clube campineiro teria doado cerca de 15 jogadores para um empresário provavelmente por não conseguir pagar os salários deles (pedidas de R$ 2 mil). Este é só o caso atual, outros jogadores bugrinos saíram com o clube com bem pouco dinheiro. O Guarani, campeão brasileiro de 1978, disputa atualmente a Série C do Brasileiro e a Série A2 do Campeonato Paulista.

PROBLEMAS, PROBLEMAS 
Há vários tipos de problemas neste caso. Óbvio que falar em questões de gerência amadora em meio ao futebol profissional é o mais comum. Um clube que não consegue se organizar para segurar os jogadores formados em casa pode se ver numa situação de não ter com quem jogar e, em meio a dificuldades de mercado para adquirir patrocinador, vender em caso de necessidade.

Lembrando que com a regra da FIFA de destinar percentuais de acordo com os anos de atividade nos clubes na formação, isso pode virar uma fonte de receita importante em negociações futuras. Dinheiro, literalmente, não esperado, mas que ajudaria muito. Quantos mais anos o atleta passar num clube, mais pode render, caso seja um craque, no futuro.

Só que para o futuro chegar, seria importantíssimo que os clubes investissem nas suas categorias de base. Quem sabe até com parte de negociações e com o dinheiro que aparece de "surpresa". O Vasco teve caso de morte de um jovem numa de suas escolinhas credenciadas. A base do Corinthians tem de buscar campos disponíveis porque onde eles treinavam é o local que está sendo erguido o estádio do clube. Isso porque estou citando os times grandes, imagina os "grandes regionais", como CSA e CRB aqui em Alagoas...

Há também problema de ordem jurídica. A liberdade que a "Lei Pelé" imaginava que daria para os jogadores, não necessariamente ocorreu. A fatia dos direitos dos atletas causa várias confusões, como a que deve seguir no caso Neymar, quando o Santos tentou burlar a parceria com a DIS (Grupo Sonda), fechando o recebimento do valor do jogador através de outros meios, como o ridículo amistoso em Barcelona.

Se uma pessoa física não pode ser dona de jogadores, cria-se um clube fantasma (Desportivo Brasil por aqui), registra-se nele e repassa para outro clube. Eu via nos guias da Placar do Brasileirão os casos desses empréstimos. Como imaginar que um clube emprestaria um atleta por 2 anos? Alguém de um nível de um Diego Souza, atualmente na Ucrânia? Não dá.

Como os empresários aliciam atletas desde crianças, prometendo mundos e fundos aos pais, ameaçando clubes, etc. É o tipo de coisa que deveria ter uma união entre os clubes para forçar mudanças. Porém, se um clube tenta se aproveitar da fraqueza do outro para conseguir jovens craques, como isso seria possível? Raposas de diferentes níveis soltas por aí, aproveitando-se do sonho de milhares de crianças e pais.

Difícil imaginar que essa situação mude. Assim, seguiremos vendo os nossos clubes vendendo promessas cada vez mais embrionárias, surpreendendo-nos com o fato de um fulano nunca ter jogado no profissional por aqui e despontar pelo mundo como craque, enquanto que a base só é utilizada quando não há outra solução, já que medalhão, ainda que em má fase, é melhore resposta a momentos críticos. 

Haverá um dia de termos uma seleção sub-17 só com jogadores que atuam "emprestados" por aqui?

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

[Circo a motor] O tetra seguido

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há alguns GPs que Galvão Bueno falava que Vettel entraria na história da F1. A única coisa que me vinha à cabeça era discordar. Como alguém que é o campeão, o bicampeão e o tricampeão mais novo da história, tricampeão mundial (como feras do naipe de Ayrton Senna e Nelson Piquet) seguido, como pouquíssimos, já não estaria na história do automobilismo?

O que as 36 vitórias, 10 delas em 2013, cuja segunda metade da temporada, com 6 vitórias seguidas; 43 poles; e, especialmente, agora 4 títulos consecutivos mostram, na verdade, que ele entrou num patamar para gênios do esporte, independente da qualidade do carro em que se anda. Com 4 títulos só ele, Michael Schumacher, Alain Prost e Juan Manuel Fangio. Com 4 títulos seguidos, só ele, seu  compatriota e Fangio. Ainda assim, ele o fez aos 26 anos e de forma seguida a partir do primeiro.

Ah, e é preciso lembrar que em 2009, ano de sua estreia pela RBR, ele quase chegou ao título, ficando com o vice-campeonato porque a Brawn GP foi a única equipe que soube ler a brecha dos difusores duplos no regulamento, com Button disparando com uma sequência de vitórias logo no início da temporada.


Há quem diga que Adrian Newey e a Red Bull Racing dão a Vettel condições primorosas para ter chegado tão cedo em lugar tão alto. É verdade que falavam algo parecido na supremacia de Schumacher de 2000 a 2004 pela Ferrari. Olha que na equipe italiana, o piloto número 2 claramente era definido, enquanto que na austríaca isso acabou ocorrendo com o tempo, após inúmeras disputas entre seus dois pilotos, inclusive com Webber em melhores condições para o título em 2010. Foi depois daquele ano, e de certo olhar mais voltado ao carro do alemão, que o australiano começou a se desmotivar. Ainda assim, já em 2013, houve uma dobradinha melancólica.

É claro também que se compararmos a F1 dos tempos atuais com os pré década de 1990 e, por que não, da era mais profissional da categoria - com pilotos só pilotando, sem quaisquer pitacos na área de engenharia mecânica -, a situação é bem diferente. O piloto do período anterior era mais um super motorista que hoje. Felizmente, correr também contra a morte é um lema que pouco pode se utilizar para a categoria nos dias atuais. Tudo muda, ainda mais quando se trata do avanço tecnológico das últimas seis décadas, não seria diferente com as necessidades do automobilismo.

Também parece ser algo óbvio que a RBR é uma super equipe, com recursos e capacidade técnica o suficiente para fazer um bom carro e, principalmente, como mostra a temporada atual, que começou equilibrada, desenvolvê-lo. Este ponto, por exemplo, foi a grande falha da Ferrari neste ano, com os resultados da segunda metade sendo muito mais pelos pilotos que pelas condições oferecidas pelo carro.

Neste conjunto de ingredientes, há ainda a sorte. Se o GP de Buddh foi vencido de forma inconteste, ainda que o carro não andasse bem com os pneus macios, a ponto de ter de trocá-los com apenas duas voltas de uso, Vettel só teve ameaças de quebras, seja de câmbio - principal problema do RB9 - ou, na última prova, do alternador, enquanto Webber ficava (ou era forçado a ficar) no meio do caminho.

Resta muito pouco para o resto da temporada, com o mais importante sendo os US$ 25 milhões de dólares a mais para a equipe que ficar com o 2º lugar. Depois do 4º lugar de Massa, mas apenas do 11º lugar de Alonso, a Ferrari perdeu o segundo posto para a Mercedes, que viu Rosberg chegar em 2º e Hamilton em 6º. O placar está em 313 a 309 para a equipe alemã faltando 3 provas para o final.


MALABARES
- Na quarta-feira, o assessor de imprensa de Hélio Castroneves (Indy), o jornalista Américo Teixeira Jr. cravou que Felipe Massa estava por assinar contrato com a Willians. Maldonado, que critica e é criticado na equipe, estaria de partida para a Lotus. A promessa era que a situação de Massa fosse comunicada em questão de horas ou dias, mas não foi. Porém, a negativa que poderia ter surgido também não apareceu;

- Duas coisas. Sobre Massa na Willians, não gosto. Por mais que não seja com investimento, a equipe vem muito mal das pernas nos últimos anos, a ponto de estar beirando a cair de média para as menores da categoria. Bruno Senna e Rubens Barrichello sabem o quanto sofreram, olha que em momentos pouco melhores que o atual. Restaria torcer para que a revolução nas regras ajude;

- Com o Eric Boulier, chefe da Lotus, afirmando para todo mundo que o melhor no lugar de Raikkonen é Hulkenberg, assinar com Maldonado por conta da grana da PDVSA - em meio à crise financeira estatal - seria mais um ponto extremamente negativo para uma F1 com mais da metade das vagas compradas;

- Sorte da equipe poder contar com Roman Grosjean. O piloto francês vem de três pódios seguidos e neste ano está longe do piloto problemático de largadas que chegou a ser sua marca em 2012;

- Voltando à Massa, mas falando de Ferrari. Ele peitou na tática do treino oficial, largou em 5º, chegou em 2º ainda na primeira volta com uma espetacular dupla ultrapassagem sobre os carros da Mercedes, liderou a corrida por 7 voltas, mas viu os italianos errarem na estratégia. Não é possível que com pneus feitos para se desgastar e sem necessidade de reabastecimento, a Ferrari não tenha entendido ainda que se o piloto atrás parar antes, ele passar. Afinal, pneus com menos desgaste fazem o carro andar mais rápido... Em vez de Rosberg, Massa poderia ter chegado em 2º;

- O circo já está colocando a sua lona em Abu Dhabi, o GP do lusco-fusco será neste final de semana.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] 43 anos

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"Quando me vejo assim, com bancos em boa parte de mim, quase esqueço que lá no início era todo mundo em pé. Se hoje cabem, no máximo, 18 mil pessoas, no dia da minha inauguração, um jogo do Santos (de Pelé) contra a Seleção Alagoana, foram mais de 45 mil. O tempo foi passando e a minha capacidade diminuindo. 26 mil em 1992 e para a quantidade atual há poucos anos.

Vi o rei do futebol e recebi o nome dele logo após o tricampeonato mundial. Aliás, bem melhor que ter o nome do governador de então. Também vi a rainha jogando aqui, mas aí era bem mais fácil, já que foi em parentes bem menores e mais pobres que eu que ela pôde iniciar a sua jornada. Até tentaram mudar o meu nome para o dela, mas no final perceberam que não importa se o Pelé veio aqui apenas uma ou duas vezes, mas sim o que ele fez dentro dos gramados pelo mundo, como bem sabe lembrar o Edson, que faz aniversário dias antes de mim.

Quanto ao nome, os mais chegados me conhecem mesmo é como Trapichão. Se o agora remodelado Mário Filho é conhecido pelo nome do bairro onde fica, mantivemos esta tradição por aqui com mais esperteza. Afinal, o Trapiche onde nos localizamos tem tanta coisa importante, o maior hospital do Estado surgiria depois, que a imponência de um gigante de 7 andares, com um gramado no limite do tamanho, tinha de gerar um aumentativo.

Vi muitos sofrerem nas minhas arquibancadas, fossem sentados ou em pé. Vários títulos alagoanos sendo decididos em mim, especialmente pela dupla CSA e CRB, que assim o fizeram este ano numa final por pênaltis inédita entre os clubes no Estadual. Recebi também vários jogos de competições regionais e nacionais, mesmo quando eram de times do interior, casos de Coruripe, Murici e até mesmo o ASA, na última década, quando pegaram clubes como Flamengo e Palmeiras. Até mesmo decisões nacionais e uma internacional, com o lado azul lotando o estádio e ficando no vice-campeonato.

Ah, não poderia esquecer que sediei por dois anos (2000 e 2001) com um parceiro nordestino a Copa dos Campeões. A nata do futebol nacional jogou no meu gramado antes do Campeonato Brasileiro. Alguns vinham só para visitar as praias, mal entrando no gramado, mas muitas emoções nacionais foram vistas nestas arquibancadas e pela transmissão televisiva.

Se ainda não vi título além da esfera estadual, vi a Seleção Brasileira atuar por aqui em quatro momentos. A última vez em 2004, com Adriano, Ronaldo e companhia empatando sem gols com a Colômbia pelas Eliminatórias da Copa.

Mas eu também sofri. Foram 2 anos parado para reforma no início da década de 1990 e um bom tempo funcionando remendado na segunda metade dos anos 2000, até resolverem fazer uma reforma mais adequada. Meu gramado sofreu com uma praga há pouco tempo, mas pouquíssimas vezes alguém pôde reclamar que, por exemplo, ele estava com muita água. Pode chover à vontade que quase sempre a drenagem resolve.

Entre gols, títulos e paradas forçadas para reforma, considero que sou uma das obras mais importantes deste Estado de belíssimas praias. Se nasci com nome de rei, tornei-me mais fundamental que um desses para várias pessoas daqui, independentemente de opções de camisa.

43 anos... Tudo bem que não parece que foi ontem. Até porque nem poderia ser. Relembro cada passe, cada passo, cada pulo do torcedor... Espero que me mantenham com a saúde em dia para eu ver e propiciar ainda mais momentos de alegria".

terça-feira, 22 de outubro de 2013

As tentativas de interatividade da Globo no futebol

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Antes de escrever este texto, recorri ao arquivo deste Observatório para relembrar as vezes em que comentei os problemas que as emissoras de TV têm para se adequar ao processo de avanço tecnológico que propicia maior participação do público. No caso do futebol, a intervenção do torcedor segue sem encontrar parâmetros adequados, entre os extremos da leitura de muitos comentários e brincadeiras em mídias sociais ou abrir um pequeno espaço para que uma pergunta do telespectador seja lida.

A Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos campeonatos de futebol no Brasil, vem tentando diferentes coisas para criar um laço com o público. A emissora que criou um formato de enquetes através de votação telefônica para que o público decidisse o final das histórias do Você Decide, ainda na década de 1990, voltou ao formato para as transmissões deste esporte.

Eu comentei em outro momento (“O novo bate-papo para a transmissão do futebol“) que após uma frustrada tentativa de escolher um vídeo por tempo de jogo para mostrar na transmissão, a emissora, que já via isso como algo ruim – porque o público reclamava da interrupção da narração da partida para mostrar um torcedor “excêntrico” em casa –, teve seu exemplo derradeiro numa partida entre Botafogo e Palmeiras pela Copa Sul-Americana de 2012, quando saiu o gol palmeirense enquanto aparecia um vídeo com um torcedor botafoguense cantando o hino do clube.

Testar a criação de conteúdo

A Globo voltou ao modelo antigo, com a leitura da “pergunta do internauta” em cada etapa, enquanto testou novos formatos do programa Futebol 2013, com o que eu chamei na época de “novo bate-papo para a transmissão do futebol”, em que os torcedores cujas reações eram mostradas eram famosos – algo que continua com menor força durante o Brasileirão.

Em meados do torneio nacional, após a Copa das Confederações, surgiu o Vote agora, em que uma ou duas enquetes são feitas durante as partidas. A pergunta serve também para que o público sirva como comentarista e dê a sua opinião, porém, isso se dá com um formato de interatividade longe do ideal, já que ocorre através de opções já prontas. É o tipo de interatividade voltada apenas à reação, em que opções e realimentações são dirigidas, com mínimo controle do usuário sobre a estrutura do conteúdo. Os narradores globais pedem para que os torcedores que costumam ver os jogos com tablets, smartphonesou notebooks entrem no site Globoesporte.com e façam a escolha. Aqui, há a certeza da presença de outras telas ao lado da TV e se busca manter o telespectador que fica conectado em paralelo às mídias sociais.

Há pouco tempo, as transmissões buscavam antes ou no intervalo pessoas que estivessem assistindo ao jogo pelo celular no estádio, com os locutores pedindo para que acenassem para a câmera mais próxima. Hoje em dia, algumas telenovelas da emissora apresentam pequenas entradas com alguma personagem assistindo um programa pelo smartphone ou tablet. Além disso, algumas propostas na ficção já foram utilizadas para testar a criação de conteúdo específico para outras mídias, complementando a transmissão principal, realizada pela televisão.

Novas alternativas de interatividade

Num texto mais recente (“O problema das TVs com as mídias sociais“), apresentei dados sobre a importância de se manter este novo telespectador, que divide sua atenção entre diversas telas. Permanecendo na análise de programas esportivos, segundo a pesquisa Esporte Clube Ibope Media, divulgada em 2011, das pessoas que assistem esporte pela TV ou na arena no Brasil, 58% o faz de maneira a consumir simultaneamente mais de um meio de comunicação, com maior sobreposição de TV + internet, que representa 30% do valor anterior.

Só que uma das coisas que me fizeram falta neste pedido dos narradores é a utilização da interatividade possibilitada pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital-Terrestre (SBTVD-T), um dos principais argumentos para a opção de aprimoramento do padrão japonês, além da mobilidade do sinal. Se a última vem sendo estimulada, uma simples enquete destas poderia usar o canal de retorno da transmissão digital como mais uma alternativa para a votação, principalmente porque não faria com que o telespectador desviasse a sua atenção para outra tela.

Com o apagão analógico marcado para 2016, parece-me cada vez mais que um dos grandes triunfos sociais para a TV digital segue relegada, vendo o estímulo muito maior para a melhor qualidade do sinal, a mobilidade da transmissão e, consequentemente, para a aquisição de TVs conectadas. Como 2014 é ano de Copa do Mundo Fifa, evento que historicamente num contexto mundial é marcado por inovações tecnológicas na transmissão comunicacional, resta esperar para que o fato de o evento ser no Brasil estimule novas alternativas não só para a exibição – e nas diferentes telas possíveis –, mas também na utilização pelos grandes meios de comunicação da interatividade que é possibilitada pelo SBTDV-T.

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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

E se em 1938...

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1938, a Europa vive um clima politicamente pesado. Se a preocupação de países capitalistas era com o avanço do "ideal" soviético (stalinista) que se espalhava, o nazi-fascismo crescia sob as suas barbas. A Copa do Mundo a ser realizada na França seria a última antes de uma lacuna causada pelos desastres da Segunda Guerra Mundial.

A seleção italiana era a maior prova que o clima já estava tenso. Com a permanência de apenas dois jogadores da campanha da Copa anterior, os atacantes Giuseppe Meazza e Ferrari, e o técnico Vittorio Pozzo. Azzurra foi vaiada em todas as partidas pela torcida francesa, o que deve ter sido ainda maior na quarta-de-final contra os donos da casa, quando jogaram de preto, cor símbolo do fascismo.

Já a Alemanha jogou com o reforço de jogadores austríacos, cujo território havia sido incorporado pelo Reich de Hitler, num processo que foi chamado de "Aunschluss". Não adiantou muito, já que a Alemanha foi eliminada ainda na primeira fase, no jogo desempate contra a Suíça. Mesmo assim, a "decisão" entrou para a história, já que a Áustria é o único país que, classificada para o torneio, não foi. A Suécia ganhou a partida por W.O.

Ainda assim, deu tempo para esta imagem na partida da eliminação alemã...
Após uma péssima campanha no Mundial anterior, o futebol brasileiro acabou com as brigas de direção e começou a mostrar que viria a ser multi-campeão do mundo, através de craques como o marcador Domingos da Guia (pai do ídolo palmeirense Ademir da Guia) e o diamante negro Leônidas da Silva.

O primeiro mundial de futebol transmitido pelo rádio para o Brasil, através da Rádio Club do Brasil, a PRA-3, teve de tudo: gol descalço, vaias aos italianos, goleiro que quebrou partes do corpo num jogo, artilheiros numa partida, W.O., zebra...

* Antes de ir a 1938, aquela velha notinha: os textos da série E Se... não tem nenhuma intenção de se tornar referência histórica, ou seja, não adianta comentar, como fizeram no outro espaço, que eu estava errado. Eu não só sei disso, como afirmo que a intenção é esta. Sejamos criativos, amig@s! Como disse no primeiro texto, a coluna E se... não chegou para mudar a história do futebol, mas para contar o seu principal evento de uma forma diferente. Assim, veja como a Argentina ganhou em 1930 e a Checoslováquia em 1934.

>> E SE EM 1938...
Foram 16 escolhidos num processo eliminatório que envolveu 36 seleções. Apenas 15 países, como vimos acima, disputaram a Copa do Mundo de 1938, que teve uma fórmula das mais simples: mata-mata até a final.

Os destaques das oitavas-de-final vieram do continente americano. Cuba, única representante da centro-América, classificou-se no jogo desempate contra a Romênia com um 2 a 1 - empate de 3 a 3 na primeira partida.

Já os do Sul, o Brasil, mostraram já no primeiro jogo que cada partida seria uma verdadeira batalha. Mesmo sofrendo quatro gols de Wilimowski - o homem que mais marcou contra o Brasil em Copas -, venceu a Polônia por incríveis 6 a 5!

Nesse jogo ainda houve um fato mais incrível ainda. Há uma "lenda", confirmada por seu protagonista, que Leônidas da Silva fez um gol descalço. Como estava chovendo bastante, a visibilidade era péssima e o bico da chuteira direita dele abriu, imediatamente o Diamante Negro jogou para o banco para lhe darem outra. Foi o tempo de uma bola sobrar para ele marcar o quarto gol do Brasil de forma irregular, já que faltava uma peça do vestuário.
O árbitro da partida foi o sueco Ivan Eklind, o mesmo da final entre Itália e Tchecoslováquia, na Copa anterior - e que fora expulso de seu país por beneficiar os donos da casa.

Mas a história do Brasil na Copa de 1938 não parou por aqui. Nas quartas-de-final, uma "batalha campal" contra a Tchecoslováquia a ponto de o jogo terminar empatado em 1 a 1. Além das duras entradas, num chute do botafoguense Perácio, o goleiro tcheco Planicka se chocou na trave e quebrou braço e clavícula. Na partida desempate, o Brasil venceu por 2 a 1.

Os jogos das semifinais eram Brasil X Itália, o confronto do fascismo e rigor técnico italiano/europeu contra a ginga da maioria negra brasileira, e Hungria X Suécia, que vinham de goleadas - 6 a 0 dos húngaros sobre as Índias Holandesas e a de 8 a 0 dos suecos sobre os cubanos.

Enquanto a Hungria venceu a Suécia com mais uma goleada, desta vez por 5 a 1, o confronto entre sul-americanos e brasileiros foi emocionante. Até que alguns jogadores brasileiros tentaram comemorar antes do jogo com muita champanhe, mas os líderes do grupo proibiram até a CBD de comprar as passagens de avião para o jogo da final. A Itália era a única seleção com jato particular.

Na dúvida se deveria poupar Leônidas da Silva para uma possível final, o técnico Ademar Pimenta resolveu escalar o homem que "inventou" a jogada da bicicleta. Pimenta só não esperava que em meio à pressão brasileira no segundo tempo, após um primeiro tempo sem gols, o zagueiro Domingos da Guia fizesse um pênalti estúpido num jogador italiano, que não tinha chances de arrematar - foi daí que surgiu o termo "domingada" para qualquer lance assim no futebol e que foi muito famoso naquelas décadas.

Quando a partida no Estádio Parque dos Príncipes - utilizado em seis partidas na Copa ocorrida na França 60 anos depois - ia se encaminhando para a vitória italiana, Romeu marcou aos 42 minutos do segundo tempo. O jogo ficava nervoso e a torcida francesa era toda do time vestido de branco - uma boa contraposição aos fascistas, numa curiosa oposição quando se leva em consideração os ideais puristas e a ideia que cresceria nas décadas seguintes no Brasil do mestiço como fundamental para o desenvolvimento do seu povo. Num cruzamento da esquerda, Leônidas da Silva deu um voleio espetacular para marcar o gol da classificação para a final.

Assim como ocorrera nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, um negro calou o xenofobismo europeu. Após tantas partidas difíceis, o Brasil partiria para a final com um moral incrível. Já a Hungria vinha de uma campanha com 13 gols a favor e apenas um contra, um futebol espetacular décadas antes da turma de Puskas e cia.

Uma curiosidade, o árbitro da final e da decisão de terceiro lugar foi o mesmo, o belga Langenus. A decisão começou com tudo. Logo aos 7 minutos, Pal Titkos marcou para os húngaros. Após bate-rebate na área, a bola sobrou livre para ele colocar os encarnados na frente.

Já no final do primeiro tempo veio o gol brasileiro. Aos 43 minutos, a zaga húngara falhou e Romeu recebeu bola cruzada da entrada da área para apenas empurrar ao gol. A população brasileira vibrava ouvindo a partida pelo rádio!

O homem que virou marca de chocolate - até hoje existente - e de cigarro, o artilheiro desta Copa, apareceu no segundo tempo. Aos 18, após uma jogadaça de Romeu, que limpou o zagueiro na grande área e tocou para Leônidas. O craque daquele Mundial virou o marcador para o Brasil!

Não contente com isso, aos 28, Leônidas recebeu bola num rápido contra-ataque da seleção brasileira, adentrou na área e tocou no canto do goleiro húngaro. Brasil 3 a 1 e as ruas do Brasil, naquele 19 de junho, já viviam um carnaval fora de época.

Mas como final de Copa do Mundo tem que ter muita emoção, ainda mais se tratando de um adversário de alto nível, como a Hungria, o resultado ficou novamente apertado. Foi a vez de Savosi, aos 35 minutos, receber passe no meio da área e dar chances ao seu país. 

No Brasil, a tensão só aumentava, todos querendo tanto dentro de campo, quanto no banco de reservas, e para os que ouviam com segundos de atraso no país, apenas uma coisa: o fim da partida. E ele veio antes do apito do árbitro.

Leônidas da Silva partiu para a ponta e confundiu a zaga húngara num contra-ataque surgido logo após o segundo gol adversário, aos 37 minutos. O Diamante Negro, autor de oito gols naquele mundial, não foi fominha e tocou para trás, para a chegada do "quebrabraço" Perácio marcar o tento que colocava de vez o nome do Brasil na história do futebol mundial.
BRASIL, CAMPEÃO DO MUNDO DE 1938!

Vídeo com gols da final "original"

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O resgate

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Ontem à noite, ao abrir a porta do quintal lá estava uma bola. Como ando muito cansado nestas semanas, não tinha ouvido barulho algum. Logo me veio à cabeça o que fazia para resgatas as bolas que caíam nas casas vizinhas.

Primeiro que a bola não era nem perto desta que caiu por aqui. Como a avó do meu amigo não deixava que ele tivesse uma bola, acabávamos fazendo uma. Era bem simples: um monte de folhas de cadernos antigos, uma sacola de plástico e zás! Para aumentar a durabilidade e para deixar a bolinha mais firme, amarrávamos até o limite, passando a sacola de um lado para outro. Ficava a ponta do nó, que sempre desviava a bola ao tocar no chão ou num chute, mas isso não era problema.

As calçadas da casa dele e da casa vizinha eram da mesma altura - algo bem difícil por estas terras. Assim, ficava um de um lado e o outro do oposto. Provavelmente nem era tão grande assim, mas as memórias de infância tendem a ampliar os espaços. A casa dos meus avós paternos, mesmo, sempre me pareciam maior quando criança que das últimas vezes que fui.

Enfim, voltando ao jogo. Às vezes a bola entrava na casa da vizinha. Com sorte, ficava ao lado do sofá e aí era só rastejar e pegar rápido. Porém, outras vezes ela passava pela sala. Como sempre havia ameaças de "cortar essa bola", entrávamos rapidamente, puxávamos a bola e corríamos.

Se a brincadeira era no quintal, a tendência era pular o muro, que nem era tão alto. Mas aí vinha outra tática que exigia: escada, vassoura, balde e arame. Amarrávamos o balde na vassoura e subíamos a escada. Como quase sempre não tinha ninguém, empurrávamos a bola para o canto da parede e puxávamos com o balde. Quantas vezes não fizemos isso!!! Cheguei a té a salvar uma bola que caíra na casa vizinha à minha neste esquema. Olha que a altura era grande. Quer dizer, grande segunda a minha memória de infância.

Sobre a que caiu aqui em casa ontem, segue por aqui. Alguém até bateu na porta à noite - antes de eu ver a bola -, mas saíram antes de eu chegar. Há crianças das casas dos lados e na de trás, mas ninguém veio perguntar nada hoje, então a bola continua por aqui, bem melhor que a da minha infância. Se fosse comigo naquela época, já estava louco, chorando desesperado pela bola perdido. Isso se já não tivesse inventado algo para resgatá-la.




terça-feira, 15 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] As vagas que faltam

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Faltam apenas duas convocações e três jogos para Luiz Felipe Scolari definir os 23 convocados para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Na partida de hoje contra a Zâmbia, o treinador mudou em 7 posições. Para alguns, foi a garantia de continuidade, ao menos de brigar pela vaga até o último momento. Para outros, a confirmação de que só uma melhora acentuada nos clubes pode dar jeito.

GOLEIROS
Dos 3 goleiros, Felipão já havia confirmado Júlio César como titular. Ainda que escanteado no Queen Park Rangers e com a lesão recente em 3 dedos. Essa é uma posição de confiança e Felipão sabe muito bem, já que em 2002 optou por Marcos como titular quando tinha a disposição Dida e Rogério Ceni com a mesma faixa etária e também em grande fase. O ideal ainda é que Júlio arranje um lugar qualquer que possa jogar meses antes da Copa, pois tempo de bola é essencial para goleiros.

Fora ele, Jefferson, titular na ausência de Júlio, é um nome praticamente certo na convocação. Titularíssimo no Botafogo, sempre que assume o posto na Seleção vai muito bem. O crescimento do Botafogo, que deve voltar à Libertadores após 18 anos, ajudar ainda mais a testá-lo para 2014. Parece ser nome mais certo até do que o titular da Copa das Confederações.

A última vaga é que ainda está aberta. Diego Cavalieri, que jogou hoje contra Zâmbia, se mal tocou na bola, segue com a mesma moral com o treinador, já que ocupou a posição na Copa das Confederações. Mas tem fortes concorrentes. Se Cássio, ao menos para mim, não tem fôlego para entrar na disputa a esta altura do campeonato, as boas atuações de Victor até aqui em 2013 podem abrir espaço, especialmente se manter a tradição de sucesso de goleiros no (novo) Mundial Interclubes.

ZAGUEIROS
A posição com nomes mais certos e seguros e com a vaga com mais briga. Thiago Silva e David Luiz estão entre os zagueiros melhores do mundo, sendo também os mais disputados a cada janela de transferência. Titulares em quaisquer seleções. Dante chegou com Felipão, mas não parece. Da mesma forma que fez no Bayern, agora só na segunda temporada, chegou e tomou a posição.

Réver, que atuou na Copa das Confederações, Dedé e Henrique brigam pela última vaga. O Dedé de 2011 e antes de se lesionar em 2012 seria nome mais certo que o de Dante, mas só agora é que começa a dar lampejos do que já foi, especialmente por ter uma boa dupla no Cruzeiro, Bruno Rodrigo, e com Fábio salvando quando sobra algo. Hoje foi bem e marcou gol, ganhando pontos importantes na disputa.

Posso falar de Henrique com certeza. Na minha opinião, faz uma de suas piores temporadas no Palmeiras. Ainda que tenha se dado bem com Vilson na defesa alviverde, vem cometendo falhas de posicionamento mais frequentes que o normal. Porém, pesa a favor dele o fato de ter jogado bem como volante na reta final da Copa do Brasil do ano passado, podendo fazer o que Edmilson realizou em 2002 e o que David Luiz também o pode em caso de necessidade, avançar como primeiro homem do meio.

Já Réver traria segurança, mas falta maior destaque na imprensa, vender mais suas atividades. E isso pode pesar muito na hora da lista final. Vaga ainda muito aberta.

LATERAIS
Se Daniel Alves e Marcelo parecem mais que garantidos como titulares - ainda mais com o peso de também o serem em dois dos principais times do mundo, Barcelona e Real Madri -, os reservas não estão. E essa é uma preocupação particular minha, já que Marcelo é esquentado e Daniel Alves no primeiro tempo não só cometeu muitas faltas, como reclamou de forma explícita do árbitro. Como comentei no texto anterior, é necessário ter calma em momentos difíceis num torneio com tanta pressão como será a Copa do Mundo em casa.

Bem, na esquerda, Filipe Luís perde cada vez mais espaço como reserva, apesar de ter ocupado este posto nas Confederações. Sempre que entrou, Maxwell mostrou tranquilidade na defesa e no ataque para ajudar a equipe. A fase rica do PSG também deve ajudar, além da experiência em outros grandes clubes europeus, como Barcelona e Internazionale.

Já a outra lateral está bem mais complicada. Jean não foi bem nos treinamentos das Confederações e mal foi chamado depois. Maicon reassumiu a posição assim que voltou a jogar, agora na Roma, mas não me convenceu, apesar de ser o que melhor aproveitou a chance. Marcos Rocha corre por fora, esperando o que sobra. É bom, mas não tem a experiência para vestir a amarelinha.

VOLANTES
Começando pelos volantes, três dos quatro chamados para as Confederações estão tranquilos. Os titulares Luiz Gustavo e Paulinho e o "primeiro reserva" Hernanes. Fernando perdeu espaço, ainda mais com a ida ao Shaktar, onde nem sempre joga. De titular nos amistosos em junho a nome fora da principal competição do mundo. 

Lucas Leiva, como primeiro volante de ofício, ganhou também bastante fôlego nesta reta final, aproveitando muito bem as oportunidades na Ásia, fazendo o seu papel com louvor. Basta seguir jogando num Liverpool que parece ter se redescoberto para esta temporada.

Além disso, Ramires é um dos principais nomes da posição no mundo, atuando no Chelsea e disputado por grandes clubes europeus, tendo como vantagem a variação de posições em que pode atuar. Não à toa, Felipão engoliu os problemas de sua desistência para amistoso - e comentários da esposa via mídias sociais - e o reconvocou. É o jogador que garante a variação no estilo de jogo, especialmente quando entra no lugar de Hulk, mais à frente, podendo revesar nas subidas ao ataque com Paulinho, que fica menos preso assim.

MEIAS
Oscar é incontestável, como já disse, é o grande legado da Era Mano Menezes, o "10" que chegou sem muito alarde e assumiu a posição da mesma maneira. É ainda mais importante no Chelsea  com a chegada de Mourinho e o jogo de hoje contra a Zâmbia mostra que na Seleção se dá o mesmo. O problema é ter um bom reserva para si, algo que já deu problemas em 2010, quando Kaká era o único na posição - naquela época via Ganso como grande alternativa para a reserva, mas não foi chamado.

Jadson perdeu muito espaço, inclusive no São Paulo, caindo de rendimento junto com o clube em 2013. Ganso voltou a atuar bem pelo tricolor paulista, mas sempre pairará a dúvida sobre ele. Quanto a meias-atacantes, Lucas definitivamente caiu de produção, após as novas contratações do PSG e com o "menino da alegria nas pernas". Bernard é uma das grandes apostas de Felipão e que encanta a todos. Mesmo em início na Ucrânia, vem se destacando por lá e na seleção dá um novo ânimo à equipe toda a vez que entra.

ATACANTES
Precisamos falar de Neymar? Não. Hulk também se garantiu, com maior aceitação pelo torcedor brasileiro, ainda mais sem a sombra popular de Lucas, e no Zenit os "inimigos" saíram. Fred, depois do que fez na competição FIFA deste ano, também poderia estar garantido tranquilamente, e como titular, mas a lesão que o tirou dos últimos meses de 2013 pode pesar. A favor, a confiança de Felipão em Rivaldo e Ronaldo em 2002. Podendo jogar, como o fez até no sacrifício em junho, é nome certo. Resta ver como voltará em 2014.

Na posição que falta para a posição, Jô, por maior implicância que tenha com ele, também se garantiu. Quase sempre marcando gols quando sobra uma oportunidade de entrar na equipe. Com Damião muito mal no Internacional, deve lamentar por algum tempo a lesão antes das Confederações. Já Pato, que eu nem convocaria, foi mal nas oportunidades que teve e a má fase do ataque corintiano também não ajuda. 

Cabe ainda a Felipão optar por levar mais um atacante de ofício ou meia-atacante, para atuar nas pontas. Esta é uma posição que deve gerar a disputa dos nomes que não foram bem e que pode sobrar para Diego Costa, jogador do Atlético de Madri assediado pela seleção espanhola. Artilheiro de La Liga até aqui, ele já vinha aparecendo mesmo ao lado de Falcao García e a estrela aumentou sem ele - mesmo com a contratação de Villa. Lembra o caso de Amauri, que foi chamado por Dunga quando ia bem na Itália, mas depois desabou - não que isso irá se repetir com certeza com Costa. A vaga, tem; cabe a ele decidir.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

[Por Trás do Gol] Um ano (quase) para se esquecer

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Três clubes em três divisões diferentes do Campeonato Brasileiro e o melhor resultado foi a manutenção na nos últimos minutos na Série C. Este é o saldo, ainda que provisório, para Alagoas na principal competição nacional em 2013.

Se o ano indicava um bom caminho, com o vice-campeonato do ASA na Copa do Nordeste e o avanço do time arapiraquense até a 3ª fase da Copa do Brasil, quando foi eliminado pelo Flamengo, as péssimas campanhas do time do interior na Série B e do CSA na Série D, além da eliminação precoce do CRB na Série C, mostram que tudo não passou de uma ilusão.
CSA
Começando pelo maior campeão estadual, acompanhamos bem de perto a campanha na Série D deste ano, marcada por 3 derrotas seguidas nas primeiras partidas, desmonte do elenco e cumprimento de tabela a partir de então. O resultado final foi a última colocação no grupo, com apenas uma vitória e um empate (4 pontos) em 8 partidas disputadas.

Para quem comemorou em 2013 o centenário de sua existência, o vice-campeonato do Alagoano, título perdido nos pênaltis para o arquirrival, a eliminação para o Cruzeiro no primeiro jogo da Copa do Brasil, e a eliminação muito cedo na Série D deixaram os torcedores azulinos ainda mais impacientes.

Ao menos o futuro indica a união (possível) na política do clube, com uma gestão em que nomes de peso assumiram algumas diretorias, apesar de todos eles terem fugido da presidência do clube. Já há a confirmação de Oliveira Canindé, campeão do Nordeste com o Campinense em 2013, como técnico do clube. Além disso, a base, usada no sufoco final do Brasileiro, ganhou o bicampeonato do Alagoano sub-20 e, desde que se queira trabalhar com os jogadores daí oriundos, alguns bons nomes podem surgir.

O primeiro semestre de 2014 vai ser cheio para o clube. Disputa a Copa do Nordeste a partir de 12 de janeiro, em que caiu num grupo forte, ao lado de Bahia, Santa Cruz e Vitória da Conquista. Além disso, entrada no Estadual via hexagonal; e a Copa do Brasil que, espera-se, desta vez ninguém peça um adversário de primeiro nível já de início.

CRB
O segundo time local a encerrar suas participações em 2013 foi o CRB. O atual bicampeão alagoano teve participação discreta na Copa do Brasil, passando da primeira fase e sendo eliminado pelo Botafogo em seguida. Mas viveu fortes emoções no disputadíssimo Grupo A da Série C.

De início, uma campanha muito ruim, com o ápice sendo a derrota para o Rio Branco, que entrou no campeonato às vésperas e via acordo judicial. O time acriano só marcaria seis pontos em 20 jogos (!), tirando 3 do Galo. Até que veio Roberval Davino, ídolo do clube como jogador na década de 1970 e com boa participação como técnico no início dos anos 2000. Sequência de 8 jogos sem perder e a certeza de brigar por uma vaga às quartas-de-final.

Um empate fora, uma vitória em casa; entrar no G4 no domingo e sair na quarta-feira. Praticamente foi esta a realidade regatiana durante a Série C. O caminho para a classificação até poderia ser tranquilo, se não fossem mais tropeços. A primeira derrota de Davino foi contra o Treze, clube que o CRB venceu na estreia do treinador, por 1 a 0 em pleno Estádio Rei Pelé - com direito a reclamação do presidente(-deputado) e peitaço do técnico.

Ainda assim, o time seguiu com bons resultados, não perdendo fora de casa. No antepenúltimo jogo, também em casa, o adversário era o Cuiabá. O resultado foi o empate no Rei Pelé, que só não foi pior por conta das condições da partida, já que o gol saiu nos últimos minutos da partida. Faltando dois jogos, restava ao menos empatar fora de casa, contra o Sampaio Correa, e vencer o último jogo contra o rebaixado Baraúnas.

Em São Luiz, o time fez um bom primeiro tempo, mas só saiu com o empate por 1 a 1. Na segunda etapa, o CRB caiu de produção e viu o Sampaio vencer o jogo. Para a última partida, a classificação dependia de uma vitória e de uma  difícil combinação de resultados. Ah, e ainda havia a chance do rebaixamento para a Série D em caso de derrota.

A confiança da torcida aumentou com o gol de Denilson logo no início do segundo tempo no Rei Pelé, mas depois as coisas esfriaram com dois gols em seguida do Baraúnas. Para piorar, na casa dos 30 minutos, o Cuiabá virava fora de casa contra o Brasiliense e empurrava o time alagoano para a Série D. Denilson empatou o jogo aos 35 e ainda sobrou tempo para Léo virar no final da partida. 3 a 2 e um grande suspiro nas hostes alvirrubras.

(O equilíbrio no grupo ficou marcado pelos gols no final. O Treze, que ficou boa parte do tempo na zona de rebaixamento até a saída de Vica, que assumiria o Santa Cruz, venceu o atual time de seu ex-técnico com gol aos 44 minutos, garantindo a 3ª vaga. Num Castelão ineditamente lotado, o Fortaleza abriu 2 a 0 frente o Sampaio, mas levou o gol de empate aos 47, perdendo a vaga. Assim, Santa Cruz, Luverdense, Treze e Sampaio passaram para as quartas de final. Brasiliense, Baraúnas e Rio Branco foram rebaixados).

O CRB tem o mesmo calendário que o CSA no primeiro semestre, mais a garantia da Série C no segundo. No Nordestão, um grupo que promete ser equilibrado, com Ceará, Treze e Potiguar. Ainda que sendo o melhor time alagoano em termos de resultados, ao menos o que menos sustos deu aos seus torcedores, é preciso entender o que deu errado na Série C e confirmar a manutenção de Davino para o ano que vem.

O que ocorreu com o ASA?
Altos e baixos. Este é o ano do representante alagoano na Série B do Brasileiro. Para começar, a surpreendente campanha na Copa do Nordeste. Depois de 3 derrotas, o time correu atrás do prejuízo e não só se classificou, como chegou até a final do torneio, perdida para o Campinense. O técnico Leandro Campos foi embora para o Ceará em busca de melhor salário.

No Alagoano, o time passou em 3º no hexagonal, mas foi eliminado na prorrogação para o CSA, quebrando uma longa sequência de presença do time em finais do Estadual, o que ocorria desde 2008.

Indo para a Série B, o primeiro turno foi no modo normal quando comparado às 3 participações anteriores na competição. Vitória aqui, derrota ali, e 22 pontos marcados em 19 jogos. Se estava a 9 pontos do G4, estava a 3 do Z4, mas com a certeza de que se mantivesse a campanha a manutenção na competição para o ano que vem viria.

Porém, o time desandou totalmente. Nos 10 jogos seguintes foram 9 derrotas e 1 empate. O curioso é que no primeiro turno o time já vinha jogando bem, mas perdendo alguns resultados, principalmente por falta de qualidade nos arremates - em meio a lesões dos 3 principais atacantes, Lúcio Maranhão, Elionar Bombinha e Léo Gamalho, que sairia para o Ceará também por um salário melhor. Além disso, mesmo num período ruim do goleiro Gilson, com falhas consecutivas, o clube não perdia tanto e de forma tão feia.

Nos últimos 6 jogos foram 23 gols sofridos. Para não falar da quantidade de técnicos que já passaram pelo clube ao longo do ano. Foram 7 mudanças, se eu não estou enganado, com Leandro Campos voltando e saindo no início da fase ruim do clube; e o curioso caso de Ricardo Silva, que foi demitido, mas voltou a pedido dos jogadores, durante por 3 goleadas sofridas pelo clube.

Algo precisa ser dito. Afinal, o time desabou na tabela e faltando poucas rodadas para acabar a Série B parece que não sairá do lugar. São 4 pontos para o penúltimo e 9 para o ABC, primeiro fora da zona de rebaixamento, e com uma recuperação espetacular, já que ocupou a lanterna nas condições atuais do ASA por um bom tempo, mas venceu ponteiros como Palmeiras e Paraná no Frasqueirão - ainda que super lotado.

Ainda faltam 9 jogos para o ASA e matematicamente é possível que o time saia dessa situação, por mais difícil que possa parecer. Independentemente do que ocorrer, é fundamental que a diretoria exponha o que ocorreu especialmente no segundo turno. Uma campanha péssima desta tem de ter alguma explicação plausível.

Para o ano que vem, o time arapiraquense participará do Estadual por completo - campeão e vice da Copa do Nordeste deste ano não disputarão o torneio em 2014 - e a Copa do Brasil. No segundo semestre, tem vaga garantida no Brasileiro, seja na Série B ou na Série C.