segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ser palmeirense é ter vivido estes 99 anos

Na (muita) agonia das muitas atividades dos últimos meses, acordei, tomei banho e já tinha uma camisa qualquer da minha coleção quando lembrei o dia de hoje: 26 de agosto. Tirei a camisa e coloquei a que realmente importa. Lembro que há 6 ou 7 anos, ainda no finado Orkut, surgiu a "Tsunami Verde", que provavelmente hoje teria uma hashtag antes e seria escrita junta. Dia de aniversário da Sociedade Esportiva Palmeiras é dia de sair de casa vestido com o manto.

Pensei muito se escreveria algo este ano, afinal o texto de 2012 foi bem emocionado, como seria todo aquele ano. Realmente sigo acreditando que Não inventaram palavras para descrever o que eu sinto por este clube. Algo que perpassou a minha cabeça o dia inteiro foi que representa uma loucura que me garante a sanidade.

Não estava em São Paulo, impossível, no 26 de agosto de 1914 quando imigrantes italianos resolveram criar o Palestra Itália, nem mesmo quando Bianco marcou o primeiro gol, em janeiro de 1915. Não estive no primeiro título sobre o arquirrival, com mais anos em disputas do Paulista, motivo o qual a relação é tão antagônica. Não vi Romeu Pellicciari ser jogador de futebol, sendo um dos maiores artilheiros da nossa história, mas também de basquete, ser treinador e até juiz, mas li muito sobre. Da mesma forma, não estive na primeira vez que o time, com a bandeira do Brasil, entrou no gramado enquanto Palmeiras, em 1942.

Não vi o título da Copa Rio em 1951 nem mesmo a primeira academia, que em plena década de 1960, com o timaço do Santos comandado por Pelé e o timaço do Botafogo comandado por Garrincha, o Palmeiras recebeu o apelido de "Academia" porque no gramado os jogadores de verde davam aula de futebol. Se não vi um time com Djalma Santos, também não veria Ademir da Guia e toda a sua classe, como também não pude ver a "segunda academia" e o bicampeonato brasileiro em 1972 e 1973.

Não vivi o período do tabu, com direito a perdas de títulos para Guarani (brasileiro) e Inter de Limeira (paulista). Nasci em 1988, em meio a esse período turbulento, que tão logo se seguiu com a hoje tão famosa (e saudosa) "Era Parmalat". 

Vi outro bicampeonato nacional, em 1993 e 1994, zombando da irmã torcedora do rival; enfureci após a cobrança de falta daquele camisa 7 deles em Presidente Prudente em 1995; admirei o "ataque dos 100 gols", virando fã do Djalminha, em 1996; sofri com o duplo empate com o Vasco em 1998, com o último jogo sendo em dia de formatura na escola. 

Comecei a admirar goleiros, primeiro o Velloso. Saí correndo como um louco a deslizar no chão da casa de amigos após o gol de Oséas na Copa do Brasil de 1998; vibrei com a Mercosul quase invicta daquele mesmo ano; e me acalmei tanto com a Libertadores de 1999, com o chute do Zapata para fora que sequer lembro qual foi a minha reação naquele momento.

Até que na mesma semana veio nova partida contra o arquirrival e enquanto os jogadores se digladiavam no Morumbi, eu enfurecia na casa da avó, vendo depois umas bolinhas pelo corpo que indicariam a aquisição de uma catapora. Ainda me irritaria contra Deus e qualquer divindade existente ao ver o meu ídolo Romário fazendo o impossível na Mercosul de 2000. Olha que naquele ano, com um time modesto, ganhamos Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões aqui em Maceió, por mais que não tenha conseguido ir ao Rei Pelé naquele dia. Fora a imagem que todo palmeirense que se preze lembra muito bem. A histórica defesa do Marcos na Libertadores.

Rezei para tudo o que era santo e divindade para viramos o jogo contra o Vitório e chorei como antes da Libertadores por conta do rebaixamento. Comprei camisa antes da hora em 2003 e sofri ao ver o time levar o primeiro gol e ter um jogador expulso, crendo não ter dado azar. E não, o empate sairia do jogador com o número da camisa, única verde, que tinha na loja naquele sábado.

Reclamei muito, como bom palmeirense, em todos os momentos seguintes. Dos quase títulos às campanhas decepcionantes. Ouvindo piadas dos mais diversos gostos, irritado, mas não tanto quanto criança. Vieram mais camisas, um título do Paulista em 2008, e conhecer o grande ser simbólico de uma vida. Fui um dos primeiros torcedores a visitar o já em reforma Estádio Palestra Itália e vi o time, numa das últimas partidas do Marcos, em 2011. Aí veio 2012, este ano muito marcante para a minha vida.

Tremi como nos tempos de criança após o título com gol de Betinho - dificultando a vida de ateus alviverdes - na Copa do Brasil do ano passado e acompanhei, inclusive no estádio, o calvário até a confirmação matemática do rebaixamento. Cheguei a ver um resfriado virar uma gripe, com direito a febre por dois dias após uma das derrotas desta trágica jornada.

2013 veio com toda a incerteza do mundo. Só aos poucos, com muita garra dos jogadores que ficaram e dos que vieram é que renovamos a nossa fé nesta camisa. Por mais que digam que a Série B deve ser fácil para nós, só os palmeirenses sabem o quanto estar nela, de novo, é difícil. Mas ser palmeirense não é, ainda que seja inexplicável.


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