sábado, 25 de janeiro de 2020

2020.1 A Casa dos Espíritos/ 2020.2 tempus fugit/ 2020.3 Garrincha e a Flecha Fulniô das Alagoas/ 2020.4 Terra das Mulheres

Sempre passei perto dos livros de Isabel Allende nas livrarias e deixava para depois. Em novembro, minha companheira perguntou se eu já tinha lido algo dela e comprou "A casa dos espíritos" primeiro e clássico livro da autora chilena. Logo depois, li "Inés de Minha Alma" por causa do Leia Mulheres Maceió.

Apesar do nome, o romance trata da história da família Trueba, percorrendo também a história política do Chile até a ditadura militar, com uma boa representação de como o apoio das elites econômicas da América do Sul para os golpes militares da região gerou surpresa também na classe mais alta, dadas a violência e a perpetuação no poder (ver citação abaixo que poderia muito bem servir para os tempos atuais brasileiros). Ainda que este elemento histórico-político apareça mais para o fim do livro, mantém o perfil histórico presente no outro livro que li da autora.


Além disso, o romance anda por si ao longo dos anos e das personagens femininas que passam por poucas e boas. Na narrativa, há elementos que Esteban Trueba assume, como interessante contraponto ao que é narrado.

Ganhei "Tempus fugit" de uma vizinha, trata-se de um livro de crônicas de Rubem Alves. Apesar de gostar de crônicas, não gostei tanto deste livro, que traz algumas referências externas e elementos religiosos sobre o "tempo que voa".

"Garrincha: a flecha fulniô das Alagoas - mestiçagem, futebol arte, crônicas pioneiras", de Mário Lima, foi um dos poucos livros que comprei na Bienal do Livro de Alagoas do ano passado. Sob edição própria, mas impressão da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, o livro é dividido em partes que podem ser lidas em separado. Do que mais poderia me interessar, me incomodou que o autor assume a discussão da importância da "mestiçagem" para o futebol brasileiro, ainda que com algumas ponderações aqui e acolá.

Vale ressaltar que Garrincha é descendente dos índios fulniô, que fugiram do sertão pernambucano para o alagoano do fim do século XIX para o século XX. Algumas "justificativas" sobre o temperamento de Garrincha foram publicadas devido a isso - o que, em meu ver, pode ser muito complicado.

"Terra das Mulheres", de Charlotte Pergins Gilman, foi o livro discutido em janeiro pelo Leia Mulheres Maceió. O coletivo já havia discutido anos atrás "Papel de Parede Amarelo", da mesma autora, mas com forma de narrativa muito diferente.

Terra das Mulheres foi publicado em 1915 e conta a partir de uma narrador a chegada de três homens a um país isolado que só tem mulheres, com divisão social do trabalho e controle de natalidade. Sem homens há 2 mil anos por conta de eliminações sucessivas por guerras, elas passam a procriar por partenogênese aos 25 anos. Quase sem defeitos, a grande discussão é sobre a hierarquia religiosa a partir da divindade feminina de uma "Grande Mãe" e como a decisão de quem será mãe é feita, tanto no sentido de quem pode parir quanto de quem pode cuidar das crianças após 1 ano de idade.

A comparação com o "nosso" mundo é pesada, ao mesmo tempo que expõe uma das grandes críticas a modelos ideias societários, como o comunista, que é o de como ficariam as individualidades em meio a uma defesa tão forte do desenvolvimento coletivo.

Fica a curiosidade deixada ao final do livro da viagem de uma dessas mulheres aos Estados Unidos do início do século XX, obra publicada em seguida pela autora, mas ainda sem tradução no Brasil.





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