quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Menino e O Mundo, que menino e que representação de mundo!

Confesso. Escolhi ver "O Menino e o Mundo" após a indicação do Oscar. Gosto de desenho - ainda que com menos tempo que outrora, inclusive para esse blog -, mas os traços simples da animação de Alê Abreu me deixaram curiosos pela indicação. Se em Divertida Mente dividi o cinema com crianças e mães e pais sabendo que precisava ver o filme, o que seria um entretenimento para tirar as cinzas para além desta quarta-feira virou um êxtase! A certeza que todo mundo precisa vê-lo!

De sinopse simples como seus traços, uma criança que mora com os pais numa casa no interior, cercada pela natureza e atividades ligadas à agricultura, vê o pai sair em busca de um emprego melhor e, após sentir falta dos momentos com a família, decide buscá-lo; a animação traça esses caminhos de maneira a desvelar o mundo.


Das reações surpreendentes. Um grupo de crianças estava sentado à nossa frente e depois de alguma conversa com as mães, pipocas e levantar de cadeiras, a atenção louco tomou conta. Ao final, um silêncio abraçou o cinema, com todxs pensando no que tinham visto. Adultos, crianças, de prováveis diferentes matizes ideológicos. Talvez o que meu professor de Estética chamava de flash aesthesis - só não me peçam para explicar o conceito, não é meu... -, mas coletivo.

De início, é preciso colocar que os traços dos desenhos são simples, mas a animação já começa com imagens psicodélicas, dando dica de que estamos diante de algo para além de uma simples história de busca pela união da família. A relação com a música, representada por bolhas (de sabão) e que ganharão representação coletiva positiva e negativa ao longo do filme também é espetacular. Afinal, nenhuma música e nenhum dos poucos diálogos é numa língua conhecida, o que dá ao filme um caráter multicultural, de fácil entendimento em qualquer lugar do mundo.


Vamos nos encantando com o menino e mais ainda com a representação do mundo. Passamos da vida simples de família de interior, com a partida que muito me lembrou a de sertanejxs em busca de uma vida melhor, nesta constituição de El Dorados que nos cercam; à produção industrial do algodão. Passo a passo, da extração do algodão e sua respectiva expropriação do trabalho do trabalhador rural; seguindo pela produção manual dos rolos de pano, que depois passa a ser industrializada, gerando desempregado e ainda maior pauperização; até a transformação em roupas - todas brancas, com o colorido do pano ficando guardado.


Achei curioso que apesar dos traços simples do desenho, o mundo "desenvolvido" apresentado, a elite apresentada, era de um futuro distante do nosso, mais "evoluído". Do lado de cá das contradições do sistema, a importância da música como atividade quase que emancipatória - o que me lembra as leituras de Furtado que faço neste feriado, e sua preocupação num desenvolvimento humano que considere também o cultural como um dos elementos centrais. As mudanças de locais são acompanhadas pela busca da música que o pai tocava e de como este elemento agrega coletivos.

Paro por aqui para não contar ainda mais de "O Menino e o Mundo", tem várias coisas e já está na minha lista para utilização em aulas e outros espaços de construção educacional e debate no futuro. Vale para quem tem filhxs - e se preparem para possíveis perguntas depois -, para quem for em grupo ou para quem optar por ir sozinho. Aproveitem! Felizmente o Oscar deu essa nova possibilidade a uma excelente animação que pouco circulou em 2013 por aqui e que ganhou outros prêmios por aí.

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