sábado, 14 de junho de 2014

[Copa] Dia de surpresas

não é mais surpresa. Após os questionamentos sobre o Fred, a arbitragem da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 prejudicou o México ao anular dois gols legais - o segundo mais fácil de ser identificado - e também teve erros no principal jogo do dia. Surpresa parece ser quando árbitros e assistentes não são destaques. Além disso, ver a reedição da final da Copa passada com um dos times goleando por 5 a 1 e de virada também foi algo muito inesperado, mesmo para os detratores da seleção espanhola, que tripudiaram aos montes nas mídias sociais logo após o massacre holandês. Mas não é de nada disso que quero falar.

A maior surpresa do dia foi a punição da FIFA a Franz Beckenbauer, impossibilitado de participar de qualquer coisa ligada ao football association por 90 dias. Decisão tomada em plena Copa do Mundo FIFA, torneio em que o Kaiser venceu como jogador e treinador, tornando-se o maior jogador da história da Alemanha e um dos principais do mundo. O que não é anormal, apesar de surpreendente.

Nem tinha como conhecê-lo pessoalmente, mas Beckenbauer nunca havia sido ligado a nada contra a ética, sendo o líder do Comitê Organizador da Copa de 2006 e estar entre os dirigentes do Bayern de Munique - ainda que, neste caso, Rummenigge, ex-CEO do clube e ex-jogador, esteja cumprindo pena de dois anos de prisão por questões fiscais no clube bávaro. Ainda que o estereótipo alemão pese, pode-se compará-lo a Michel Platini, atual presidente da UEFA, para ler opiniões diferentes sobre ambos.

A denúncia é que o Kaiser não aceitou responder a perguntas do comitê de ética (!) da FIFA sobre um suposto envolvimento na compra da Copa de 2022 pelo Catar. Membro do comitê executivo da entidade, ele teria sido contratado como consultor (algo que aqui no país me traz à memória o caso de Antonio Palocci antes do governo Dilma) de empresas de petróleo e gás do país cinco meses antes da eleição das sedes de 2018 e 2022 do mundial de futebol. Lá, teria se reunido com Mohamed Bin Hamman, porta-voz da candidatura e futuro quase candidato a presidente da FIFA. O resto, por enquanto, é especulação.

Michel Platini também teria se reunido com xeques árabes antes da decisão, com direito a jantar com a presença do então presidente francês Nicolas Sarkozy, que em seguida deu na compra do Paris Saint-Germain, tendo em vista a entrada do futebol local na disputa entre os melhores da Europa. Como sabemos disso? A imprensa britânica nos conta.

A Inglaterra perdeu a disputa pela Copa de 2018 para a Rússia e o país entrou em polvorosa, espantado por saber como isso seria possível, já que em 2012 sediaram em Londres, e muito bem, os Jogos Olímpicos de Verão, além de ter muitos estádios já prontos e ser um país de boa estrutura. Além do óbvio fato de ter sido lá que as regras do futebol foram criadas e eles serem campeões mundiais. Seria a volta às origens. Por isso, até espécie de CPI ocorreu no parlamento britânico e a caça foi aberta há tempos.

Na semana passada, mais importante que a Fernanda Lima foi a pressão das federações europeias sobre Joseph Blatter, presidente da FIFA desde 1998, com a Inglaterra como porta-voz dos insurgentes. Mesmo Platini deve estar interessado nisso, já que de provável sucessor, com direito a aproximação com Blatter, ele vê que o suíço vai se candidatar a reeleição, adiando a passagem do trono.

Blatter é esperto e conhece as estruturas internas muito bem, afinal foi secretário-geral de João Havelange na entidade e quase deu golpe de Estado para assumir a presidência, não se furtando ao chegar ao cargo em derrubar possíveis inimigos. Foi assim com Ricardo Teixeira e o próprio Havelange, quando soube que o primeiro apoiava Hamman - no perfil elaborado por Daniela Pinheiro para a revista piauí, a filha de Teixeira questionou o pai por ele ter afirmado que era da base de Blatter na FIFA. A investigação na justiça suíça sobre o caso ISL foi aberta e os nomes dos brasileiros surgiram como principais beneficiários do esquema, ambos tendo que pagar multas milionárias para a justiça do país sede (também fiscal) da entidade.

Hamman seria candidato às eleições da entidade em 2011 e saiu antes disso acusado de comprar votos nas eleições, com apoio de Jack Warner, então presidente da federação de Trinidad e Tobago e um dos principais nomes da Concacaf. Ambos caíram. O repensar da escolha de sede para 2022, ao vencer concorrência com países do naipe de EUA, Japão, Coreia do Sul e Austrália, mesmo sob um verão de 50ºC e tendo a pior proposta estrutural analisada, pode ser para tirar o evento das mãos de um inimigo.

Assim, as investigações e a transparência sempre prometidas quando escândalos aparecem só chegam a investigar adversários de Blatter. Andrew Jenning, "inimigo nº1 da FIFA", tuitou hoje sobre e concordo: "Beckenbauer é uma diversão para os crimes de Blatter e um ataque à UEFA". E é uma cartada pesada, pois se trata de um nome respeitadíssimo no mundo do futebol, tanto pelo que fez dentro quanto fora de campo, do país com uma liga em crescimento, só atrás da inglesa. Vamos ver se haverá resposta. Se for um passo exagerado, espera-se que um nome realmente alternativo apareça para o ano que vem, ainda que o tempo seja escasso.

Ah, eu ia esquecendo, a punição ao Kaiser expõe ainda algo que dói em nós, fascinados pelo futebol. A decisão de excluir um ídolo do esporte que ele ajudou a construir a imagem reflete que o football association tem dono e nós torcedores pouco podemos fazer contra isso.

Para não dizer que não falei dos jogos de hoje, óbvio que destaco abaixo os tuítes sobre Holanda 5X1 Espanha. Veja também as storify de Chile 3X1 Austrália e México 1X0 Camarões.








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