sábado, 6 de julho de 2013

[Por Trás do Gol] A tradição da renúncia no CSA e a gestão Jorge VI

Dívidas trabalhistas, enorme torcida cobrando (e muito) por resultados e o crescimento de um adversário do interior, a ponto de este ser o maior time do Estado em termos de representatividade nacional. O cenário do século XXI não vem sendo dos mais positivos para CSA e CRB, os times com maior torcida e mais títulos em Alagoas. Poucos os presidentes que assumiram os clubes terminaram seus mandatos. A semana passada colocou mais um nome nesta lista.

As eleições que colocaram Jorge VI na presidência do Centro Sportivo Alagoano tinham como obrigação que a nova diretoria recolocasse o maior campeão estadual no seu devido lugar: a primeira divisão. Tudo caminhava para que o suplente do senador (e primo) de Fernando Collor de Mello, Euclydes Mello. Este tinha feito até uma viagem a São Paulo para marcar o local onde ficariam os jogadores do clube na Copa São Paulo, tamanha a certeza.

Após muito disse-me-disse nos bastidores do clube, aparecia um movimento formado por torcedores que queria oxigenar o clube, o "Sou CSA", porém sem nenhum conselheiro e com poucos recursos. O nome de Jorge VI já aparecia como possível candidato. Sem o apoio consensual, Euclydes desistiria da candidatura. Secretário adjunto do Esporte, ele parecia ser o torcedor que realizava o sonho de infância, de comandar o clube do coração.
CSA X Potiguar - Série D
2010
Com o a tragédia das enchentes no interior de Alagoas, atingindo também a cidade do campeão alagoano de 2010, o Murici resolveu desfazer o time e desisti da vaga na Série D. O CSA, então, contratou a base do campeão alagoano da primeira divisão para disputar a segundona local. Além disso, houve uma nova tentativa de Copa do Nordeste e a vaga para o Brasileiro sobrou para o único time, além de CRB e ASA, com elenco formado.

Foi um grande momento. No Nordestão, chegou-se até as semifinais, ainda que perdendo para o time reserva do Vitória. Na Série D, mesmo grupo do Santa Cruz, e primeira fase exemplar, com 5 vitórias e apenas uma derrota em 6 jogos. O único revés foi contra o time pernambucano, em casa, na última rodada. 

Nesta partida, surgiu o boato de que o time da cidade vizinha teria comprado a partida, com o presidente do CSA recebendo o dinheiro para a manutenção de sua campanha para deputado federal. Até números trataram, algo em torno de R$ 250 mil. Nada foi provado e sequer tocado pelo jornalismo esportivo alagoano. Pareceu muito mais polêmica de mídias sociais.

O que ocorreu, de fato, e muito me indignava enquanto torcedor no estádio era vê-lo percorrer o campo nos intervalos das partidas com a bandeira do CSA tendo em cima uma bandeirinha com o seu número nas eleições. Na verdade, sou da tese de que, dada as relações político-eleitoreiras com os clubes da capital, parece ser muito mais "fácil" montar um bom time em anos eleitorais.

O time perderia para o Sampaio Corrêa por 5 a 0 na fase seguinte do torneio nacional. Eu e meu pai fomos "à espera do milagre" no Rei Pelé, tendo que ver o time maranhense abrir 2 a 0 no primeiro tempo, mas também ver 2 gols em menos de 10 minutos no segundo tempo e o goleiro do Sampaio defendendo muitas boas perigosas.

Na Segundona, uns tropeços por conta das derrotas no nacional, mas recuperação com direito a 10 a 0 no segundo jogo semifinal, título e volta à primeira divisão. Foi o tempo do resgate da memória do torcedor, que pôde rever boas atuações dos experientes Wilson e Catanha.
CSA X Coruripe - Alagoano 2011
2011-2012
Acompanhei muito pouco, presencialmente, os anos seguintes por conta da mudança para o Rio Grande do Sul. Saí daqui com o time praticamente rebaixamento, de novo, no Alagoano, com um elenco fraquíssimo - disparado o pior CSA que já vi. Já na pré-temporada, a torcida começava a pegar no pé e o presidente dizia que era coisa de quem não queria ver o clube avançar. Como as partidas mostraram depois, tremenda balela.

Ainda assim, desta vez deu tempo do time se recuperar com uma excelente campanha, tendo como técnico Lino, demitido após o primeiro jogo e que voltara para a salvação final. Ex-jogador azulino, o treinador não amolecia perante críticas de conselheiros, diretores, ídolos do clube ou quem quer que fosse. 

Se apostar no time campeão da primeira divisão deu certo no ano anterior, o desmanche foi uma consequência que deveria ter sido pensada. Sem resultados e competições no segundo semestre, inscreveram o clube na segunda divisão para manter os atletas sob contrato em treinamento, para irritação da torcida. Não passou sequer da primeira fase.

Jorge seria reeleito sem qualquer candidato da oposição, mas montando outra diretoria, já que divergências causaram várias saídas de membros da diretoria.

Prometendo resgatar a memória através da volta de jogadores como o goleiro Flávio (ex-Atlético-PR, Paraná e América-MG) e Adriano "Gabiru" (ex-Atlético-PR e Internacional), além de contar com jogadores com boas passagens por aqui, 2012 traria a opção da briga pelo título alagoano. Após um primeiro turno com tropeços, veio uma excelente campanha no segundo, parando na final contra o ASA. 

Vaga na Série D garantida por merecimento, mais uma boa campanha na primeira fase, desta vez sem nenhuma derrota. Na segunda, enfrentamento contra o Campinense. Gol da derrota levado nos últimos minutos na cidade do interior paraibano e empate sem gols, após muita pressão, retiraram o clube do torneio e do tão sonhado acesso.

Mesmo em épocas boas, nunca Jorge VI foi aclamado pelo torcedor, como eu vi na minha última partida antes de viajar, quando empatávamos com o Sport Atalaia por 1 a 1. Um torcedor mostrou R$ 2 para ele e o presidente quis pegar o dinheiro, tendo que sair do setor de cadeiras para não aparecer uma confusão ainda maior.
CSA X ASA - Alagoano 2013
2013
Sem eleição, 2013 me preocupava, ainda mais por se tratar do ano do centenário. Sem ASA e CRB na primeira fase, por conta do Nordestão "de fato", o time titubeou em muitas partidas que pareciam ser fáceis e só classificou em 3º lugar para o hexagonal final.

Mas jogadores como Diego Clementino e Alex Henrique foram contratados e melhoram, e muito, o time, que passou em segundo no hexagonal. Nas semifinais, passou pelo ASA na prorrogação e só perdeu o título para o arquirrival CRB na decisão por pênaltis.

O 2º lugar que garantiu nova vaga à Série D, à Copa do Brasil e também ao Nordestão do ano que vem.

Porém, falando em Copa do Brasil, Jorge foi muito contestado ao sair a tabela do torneio já amplificado. É que ele foi à CBF falar com Virgílio Elísio, responsável pela tabela dos torneios nacionais, para pedir que o CSA pegasse um time grande, segundo o presidente, um time de atratividade nacional. A ideia era encher o Rei Pelé na primeira partida e ganhar com a renda. Veio o Cruzeiro e um número menor que o esperado (cerca de 5 mil), já que os times mineiros não têm tantos torcedores por aqui.

Para piorar, o time jogou muito bem, mas levou 3 gols do Cruzeiro, sendo eliminado ainda na primeira partida, enquanto os rivais CRB, que viria a ser eliminado pelo Botafogo, e ASA seguiram adiante. O time arapiraquense ainda ativo, na 3ª fase, onde enfrenta o Flamengo a partir da próxima quarta-feira.

ANÁLISE
Não vou com a cara do Jorge VI desde o início, por conta da formação da chapa naquele período. Passei a simpatizar ainda menos com a tentativa de apropriação política em 2010 e ainda menos por conta da atitude "Ame-o ou deixe-o" que tentava impor, por não aceitar críticas.

Assim, envolveu em várias polêmicas, inclusive com cronistas esportivos, fechando o mandato como persona non grata no arquirrival por, após a primeira final do Alagoano - em que o CSA perdeu por 4 a 2 - ter entrado com ação no Tribunal de Justiça Desportiva por conta de possível irregularidade de um jogador regatiano.

Mas é bom que se diga que só em 2013 apareceu um caso de decisão trabalhista contra o clube. Este que é um mal que percorre os times locais, que veem as rendas serem descontadas na boca da bilheteria. Justiça seja feita, quanto a este assunto, foi um dos momentos mais tranquilos destes últimos anos.

Além disso, o então Estádio Gustavo Paiva foi transformado num Centro de Treinamento, tendo os gramados em condições de uso. Até então, vários eram os casos de atletas de categorias de base que se machucavam pela péssima qualidade do campo. 

Jorge VI, que já havia ameaçado no ano passado, renunciou pro motivos de saúde, deixando o cargo para o então vice-presidente, o empresário Cícero Eugênio, que segue com o time até as próximas eleições, marcadas para outubro. Vários nomes já aparecem como prováveis candidatos, do presidente do Conselho Deliberativo, e ex-presidente azulino, Rafael Tenório, a ex-jogadores, como Jacozinho.

Curiosamente, ou não, por mais problemas que o clube tem, não faltam candidatos a cacique na política interna do clube. Muito político "profissional' oferecendo ajuda momentânea para ter mídia gratuita - já ouvi de presidente em exercício de um desses políticos a pagar às rádios por entrevistas diárias.

Comparado a outros, não só pelo tempo, mas também pela preocupação de uma mínima estrutura, foi um bom período no clube. Faltaram títulos e isso é muito importante para um time do tamanho do Centro Sportivo Alagoano. Voltamos a um futuro incerto, por mais que recheado de torneios nacionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário