domingo, 21 de julho de 2013

[Por Trás do Gol] Eu e os diferentes acessos de Brasil e Aimoré

Quando a Divisão de Acesso do Gauchão, ou Série A2, começou eu fui a um dos jogos, que seria o meu último em território gaúcho. Mal imaginava qual seria o resultado final, além das minhas expectativas. Se o São Paulo de Rio Grande garantiu a primeira vaga nos pênaltis, o título do Brasil de Pelotas ontem e a última vaga neste domingo para o Aimoré representam muito.

Representados por índios, os xavantes foram os primeiros que receberam a minha visita; os capilés foram os últimos. A camisa xavante foi a primeira que eu ganhei no Rio Grande do Sul; a capilé foi a última que eu consegui comprar, e a mais difícil. Conheci alguns torcedores xavantes, um fanático, se é que isso não é sinônimo para torcedores do Brasil; conheci os capilés indo ao Estádio João Correia. Um nem poderia ter saído da divisão principal, imagina ficar 4 edições de fora. O outro se reestruturava, acabando de sair da terceira divisão.

Na terra em que a maioria dos holofotes são para Grêmio e Internacional, a ponto de mesmo clubes com tradição recente como Juventude e Caxias estarem em divisões inferiores do Brasileiro, 4ª e 3ª, respectivamente, acabei por simpatizar por dois times do interior. De um lado, o Brasil, pela paixão da torcida - às vezes exagerada - e pela sensação de justiça. Do outro, o Aimoré, o azul e branco cujo estádio eu podia ir a pé e que estava no fundo do poço, na terceira divisão estadual. Este domingo, mudou tudo.


O QUE DEVERIA SER ÓBVIO
O Estádio Bento Freitas foi o primeiro que eu visitei, em 2011. Mas bastava conhecer um pouquinho da história do campeonato gaúcho - quer dizer, algo para além da dupla Gre-Nal -, para saber o quanto o Brasil de Pelotas, e sua torcida, estava longe de seu lugar de merecimento. E isso desde 2009, quando do fatídico acidente de ônibus que matou 3 pessoas, dentre as quais o ídolo Cláudio Millar. 

Ano após ano, o time ficava no quase, mesmo com maior potencial de investimentos que os seus rivais de divisão. Era como se os xavantes jamais pudessem sair do dia 16 de janeiro de 2009, como se os ponteiros do relógio, as folhas do calendário, seguissem paradas naquele momento.

Para 2013, a Federação Gaúcha aumentou o número dos que caíam da A1 e aumentou dos que subiam. Eram 3 as vagas. Ainda assim, o primeiro turno, com clássico da região sul do Estado, davam ares de drama para o que deveria ser óbvio. No Bento Freitas, vitória de 1 a 0; no Aldo Dapuzzo, 1 a 0 para o São Paulo. Após disputa de pênaltis quase intermináveis, derrota de 3 a 2.

Os xavantes deviam nadar tudo de novo. Quer dizer, o (confuso) calendário até já garantia ao clube ao menos a disputa com o perdedor do segundo turno.



A AMEAÇA DO RETORNO
Enquanto isso, a tribo capilé vivia a sua própria crise. Após aquela vitória inicial, com direito a dois gols de Rodrigão, o time seguiu para uma jornada de partidas sem vencer, com a demissão do técnico. Eu acompanhava a cada 3 rodadas e respirei aliviado com a boa sequência de resultados ainda no final do primeiro turno, dando boa margem de segurança para a disputa do segundo. (Afinal, não era possível que pela primeira vez na vida a minha ausência daria azar a algo).

Li algumas respostas à mídia da região do Vale dos Sinos, que considerava o Aimoré como possível rebaixado, logo após ter subido. As mudanças vindas com o técnico Ben-Hur Pereira, que retornara ao cargo no clube que iniciara seus trabalhos como técnico, daria muito certo. Provavelmente, bem mais que qualquer torcedor aimoresista poderia imaginar.


OS DIFERENTES ACESSOS
Com internet, passei a acompanhar mais a Divisão de Acesso. No Grupo A, não só o Aimoré se distanciou de qualquer ameaça de rebaixamento, como fez no segundo turno uma campanha exemplar: 5 vitórias, 1 empate e 1 derrota. O Brasil também liderou o Grupo B, com uma campanha um pouco pior: 4 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Sentia que o confronto poderia vir.

Nas quartas-de-final, o Brasil até perdeu o jogo de ida para o Avenida, mas goleou em casa. Enquanto o Aimoré goleou o Internacional de Santa Maria fora de casa e venceu por 2 a 1 na volta. Nas semifinais, foi a vez dos xavantes passarem fácil pelo Santo Ângelo, com um agregado de 6 a 0; enquanto o Aimoré passou no sufoco pelo Avenida, graças à melhor campanha, após perder por 2 a 1 fora e ganhar de 1 a 0 em casa, em meio a MUITA chuva no Cristo Rei.

Veio o confronto. Em meio a várias discussões sobre o "esquecimento" do regulamento sobre quem ficaria com uma terceira vaga, com pressão nos bastidores do Riograndense, de Santa Maria - e que também tenho uma camisa -, para ter uma decisão pelo 3º lugar de qualquer jeito, já que o time tinha a melhor campanha além dos finalistas do turno.

No final, parecia que o Brasil já tinha vaga garantida, já que tinha o melhor aproveitamento geral mesmo perdendo as duas partidas. Ao Aimoré, caberia 2 pontos para ultrapassar o Riograndense na pontuação geral. Como o vice-campeão do 1º turno seria o campeão do segundo e que era o time de maior pontuação; o Aimoré não teria quem enfrentar, sendo o segundo de maior campanha e vice de turno ao mesmo tempo.

No primeiro jogo, 3 a 0 para o Brasil de Pelotas, título de turno praticamente garantido e muita conversa sobre possível jogo de entrega na volta. De novo com MUITA chuva, Aimoré e Brasil de Pelotas fizeram um jogo bem disputado. O time capilé até teve pênalti a favor, mas desperdiçou, tendo que disputar os jogos extras com o Riograndense.

Assim, enquanto o Brasil partiu para a revanche com o São Paulo, o Aimoré disputaria a última vaga com o time de Santa Maria, fora da primeira divisão há 47 anos!

O Brasil não deu moleza e venceu por 4 a 1 o São Paulo no Aldo Dapuzzo. No sábado, confirmou o título da Série A2 com o gol de Rafael Foster, de pênalti. FINALMENTE o Brasil de Pelotas voltará ao Gauchão. Finalmente teremos um BRAPEL (Brasil X Pelotas) de novo na principal disputa do Rio Grande do Sul.

Numa partida bem disputa, o Aimoré começou perdendo fora de casa, virou o placar, sofreu o empate e marcou o gol da vitória aos 46 do segundo tempo! Se os 3 a 2 pareciam tranquilos, eu não fiquei nada ao ver que o Riograndense abrira o placar em São Leopoldo com menos de 15 minutos de jogo. Os capilés estavam com a vaga por terem feito mais gols fora de casa.

A disputa seguia, com gols anulados do time de Santa Maria e muita disputa no enlameado, ainda que sem chuva, gramado do Estádio João Correia. Se o artilheiro Japa parou no goleiro adversário, a bola achou Luan que, de bico, venceu as travas dos zagueiros e mandou ao gol. Empate no segundo tempo, faltando cerca de 20 minutos, e gritos de "o Aimoré voltou".

Mas ainda teve mais. Pênalti contra não dado, técnico adversário expulso e pênalti a favor, mais uma vez desperdiçado, aos 44 minutos do segundo tempo.

Provavelmente ninguém esperava no início, mais ainda não se esperava após aquelas primeiras rodadas preocupantes, mas o Aimoré voltará a disputar o Gauchão após 20 anos. Mais do que nunca, eu tenho a sensação de novamente ter feito parte da escritura da história.

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