sexta-feira, 26 de julho de 2013

As TICs no esporte

2013 marca uma nova etapa na participação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) nos esportes. A Copa das Confederações Fifa Brasil 2013 foi o primeiro torneio de alto nível a utilizar um chipdentro da bola. Mas ainda falta muito para o principal esporte do mundo aderir tranquilamente às TICs, tendo como oposto, neste sentido, o vôlei, que foi transformado ao longo das últimas décadas para atrair o público midiático.

A mudança da autoria do primeiro gol italiano, de Astori para Diamanti, no último dia da Copa das Confederações, serviu para traçar o ponto final da trajetória de discussões que levou a International Board – órgão responsável pelas regras do football association, com quatro membros da Fifa e um de cada país que conforma o Reino Unido – a permitir a presença de TICs no campo de jogo.

Só depois que a Cafusa foi interceptada, ainda na linha, pelo jogador italiano na disputa pelo 3º lugar contra o Uruguai, é que o juiz teve a confirmação em seu relógio. Assim, após a transmissão oficial considerar gol de Diamanti, autor da cobrança de falta, o segundo tempo veio com a mudança, após a correção do árbitro.

O motivo de o chip existir, na verdade, é para avisar se a bola entrou ou não, evitando inumeráveis erros históricos, mas que chegaram ao ápice na Copa do Mundo de 2010. Pelas oitavas-de-final, a Alemanha vencia a Inglaterra por 2 a 1 quando Lampard chutou de fora da área, a bola bateu no travessão e claramente entrou no gol. O juiz uruguaio Jorge Larrionda não viu o mesmo, não marcando o que seria o empate inglês, numa partida que a Inglaterra perderia por 4 a 1.

Gastos para fomentar o “padrão Fifa”

Porém, este foi o único passo de avanço do tradicional futebol quanto à presença das novas tecnologias de informação e comunicação. As mudanças testadas nos últimos anos, como a presença de um segundo árbitro em campo e de um auxiliar atrás de cada um dos gols, sinalizam a opção pela presença humana em detrimento à intermediação tecnológica.

Na semana retrasada, a Confederação Brasileira de Futebol avisou aos árbitros brasileiros para não permitirem qualquer contato da comissão técnica de um clube com pessoas fora do campo, algo que há muito tempo ocorre no Brasil, fosse através de telefone celular ou outro radiotransmissor. A confederação sul-americana, na Copa Libertadores deste ano, já vinha proibindo a utilização, que agora foi confirmada em território nacional.

A restrição vem a calhar por conta de uma série de decisões duvidosas da arbitragem, tanto por conta de maior pressão por parte da comissão técnica do clube prejudicado quanto por casos em que árbitros voltaram atrás no que haviam marcado após um tempo razoável, o que gerou inúmeros questionamentos sobre a consulta a pessoas de fora, que possuem acesso à transmissão televisiva.

Ainda que, provavelmente por descuido dos organizadores locais, a Fifa tenha mantido o replay nos telões dos estádios na Copa das Confederações, a pequena televisão que ficava no campo para auxiliar na transmissão foi retirada. Ainda assim, no que tange aos replays, é importante falar como a equipe que transmite para a entidade internacional optou por não mostrar a repetição de lances com erros da arbitragem. Não à toa – agregado à insatisfação da população com os gastos para fomentar o “padrão Fifa” –, até mesmo a Rede Globo fez questão de frisar que não era ela a produzir as imagens que iam ao ar.

Informações via áudio

O oposto no que ocorre com o futebol é o vôlei, esporte que mais alterou a sua estrutura para caber na transmissão televisiva. Para quem não lembra, até a década de 1990 havia a vantagem, que fazia com que para pontuar fossem necessárias duas jogadas em favor de uma equipe, e as partidas, ainda que cada set com até 15 pontos, pudessem demorar muito. A retirada da necessidade da vantagem acelerou o jogo, que pôde estar na grade de programação das emissoras de TV, com tempo parecido com o que é gasto por outras transmissões, como as de futebol e as corridas de Fórmula 1, cerca de 2 horas. Passou-se à necessidade de 25 pontos para o fechamento de sets normais, e 15 para o 5º set.

Houve também outros aperfeiçoamentos das regras, como a presença de um atleta só para defender, líbero, que dá mais emoção às partidas; e a possibilidade de o técnico estar à beira da quadra, em área delimitada, assim como no futebol, com o estilo Bernardinho de ser chamando muita atenção para replayse montagem de matérias após os jogos. Por fim, desde o ano passado, pode-se tocar na rede, desde que não na borda, o que mantém a "bola rolando" por mais tempo.

Ao contrário do futebol, o contato direto entre membros da comissão técnica via comunicação de áudio é frequente, com repasse de informações e estatísticas ao longo do jogo. No caso das seleções brasileiras, há uma câmera atrás da quadra que grava tudo e repassa as informações para o notebook de um dos membros da equipe, que está no banco, que os informa para o técnico e/ou jogadores.

Visão de negócio

A presença das novas tecnologias de informação e comunicação na estrutura decisiva da partida também passou a ser utilizada. Nas finais da Superliga (campeonato nacional de clubes) deste ano, cada time podia recorrer à ajuda tecnológica para questionar alguns pontos, o que é chamado de “tira-teima” e já era utilizado nos principais torneios do tênis. Ainda assim, houve falhas pontuais, já que não se podia questionar quando a bola tocava no bloqueio ou o jogador batia o braço na fita da rede. O modelo é criação polonesa, sendo utilizado nas partidas da seleção masculina da Polônia ao longo da Liga Mundial deste ano.

Esses elementos na partida de vôlei parecem inserir momentos da lógica do espetáculo esportivo, historicamente muito bem promovido nos Estados Unidos – local em que este esporte foi criado. Além dos elementos técnicos para evitar alguma “injustiça” na competição, basta ir a um jogo de vôlei para entender o quanto o esporte aqui no Brasil busca se destacar enquanto entretenimento.

Boa parte do público utiliza a camisa do patrocinador da seleção ou do clube mandante da partida, além de, ao menos no caso das partidas das seleções, ter um animador da plateia, que literalmente ensaia antes o que deve ser gritado ao longo do jogo. Fora as tradicionais mascotes de clubes, que no caso do Brasil se chama “Zecaré”, chamando a atenção do público infantil para o evento.

A diferença das origens explica as diferentes perspectivas quanto à utilização de elementos técnicos nos jogos de futebol e vôlei. Enquanto o primeiro foi normatizado no Reino Unido, seguindo o direito consuetudinário inglês, em que o direito precedente prevalece sobre o novo, não sendo necessário acrescer uma nova regra ao conjunto de normas inicialmente criado; o segundo vem a ser criado em 1895 nos Estados Unidos, local cuja visão de negócio prevalece sobre quaisquer tradições historicamente criadas.

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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

P.S: Este texto foi enviado há duas semanas, mas publicado nesta. Acabei reenviando outro texto, mas foi publicado o primeiro. Há algumas outras informações a acrescentar:

1-2013 marca para o vôlei uma nova grande alteração quanto à estrutura, com a diminuição dos sets para 21 pontos, tendo em vista encurtar ainda mais o jogo para a transmissão televisiva e aumentar a emoção da disputa. Esta fórmula vem sendo testada desde junho na Liga Europeia e deverá ser utilizada na próxima edição da Superliga, campeonato nacional de vôlei, no Brasil.

2-A fase final da Liga Mundial também usou o "tira-teima" eletrônico.

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