quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

[Circo a motor] A aposentadoria (?) de Rubinho

Desde o dia 19 de maio de 2010 que não escrevia nada sobre automobilismo, Fórmula 1 em particular, aqui no Dialética Terrestre. A coluna "Circo a motor" não acompanhou mais de perto o bicampeonato de Sebastian Vettel - por mais que seu autor o tenha.

Mas o motivo da volta, ainda em período de férias do automobilismo, é a definição nesta terça-feira do último lugar entre equipes médias da Fórmula 1. Após meses de incertezas, boatos e disputas (com dinheiro envolvido), Bruno Senna - e seus R$ 30 milhões - será o novo piloto da equipe Williams F1, fazendo companhia ao venezuelano - e ao dinheiro da petroleira PDVSA - Pastor Maldonado.

Até pretendo escrever, numa próxima coluna, sobre o cúmulo de mercantilização que virou a F1, porém hoje é dia de falar do piloto com mais corridas na história da competição, que após 19 anos e 325 GPs deverá se aposentar em 2012: o brasileiro Rubens Barrichello.

RUBINHO
No final de 2008, o caminho indicava o fim de uma carreira de 15 anos na Fórmula 1 para um piloto que assumiu uma das mais difíceis cargas sobre si, com direito a desrespeito público de quase todo o seu país. Com a Honda tendendo a contratar Bruno Senna - olha ele já aí - e a manter Jenson Button, Barrichello poderia estar encerrando um ciclo na principal categoria do automobilismo após anos sofrendo com um carro que não rendia.

Quando ninguém mais acreditava, a explosão da bolha imobiliária e da "crise econômica" - ou a "fraude travestida de crise" -, obrigaram a japonesa Honda a cortar gastos e se desfazer de sua equipe. Sob comando do experiente Ross Brawn, a Brawn GP, ainda com motores Honda, surgiu para ocupar a lacuna, mantendo os dois pilotos da equipe anterior, Button e Barrichello, principalmente por conta da experiência.

Para sorte deles e surpresa ainda maior de todos, a equipe conseguiu enxergar lacunas no regulamento que permitiram fazer um carro praticamente imbatível durante a primeira parte da temporada, com direito a cinco vitórias de Button nas seis primeiras corridas do ano (alguém me corrija, se eu estiver errado). Barrichello, "como sempre", tinha falhas aqui e acolá em seu carro e não conseguia acompanhar a maré do seu companheiro.

Como competência nunca lhe faltou, ele surgiu para valer para a disputa na segunda parte. O problema era que as adversárias já anularam a distância entre as equipes. McLaren e, principalmente, Red Bull conseguiram vencer mais corridas na segunda metade da competição. Rubinho venceria as provas da Europa, em Valencia - a 100ª de brasileiros -, e de Monza, na Itália. Chegou bem perto de Button, com uma diferença de 14 pontos faltando 4 corridas para acabar. 

Entretanto, a grande chance de toda a sua carreira para conquistar um título mundial foi sacramentada no sempre tumultuado GP Brasil. Mesmo largando em 1º, com Button em 14º, as condições de São Paulo mudaram tudo e fizeram com que Jenson Button conquistasse o seu primeiro título mundial de pilotos e confirmasse o título de construtores da Brawn GP, equipe com o melhor resultado da história - uma única temporada e os dois títulos possíveis. Rubens ainda veria Vettel, futuro bicampeão, ultrapassá-lo, terminando aquela temporada na terceira posição.

Independentemente disso, Barrichello mostrara que ainda tinha muito gás para queimar. A chance poderia vir nos anos seguintes, com a contratação pela Williams, equipe que há muito não correspondia à sua história - de títulos. Porém, lutando e conseguindo muito com os carros nas temporadas 2010 e 2011, nada pôde fazer de destaque para sua carreira. Para se ter uma ideia, os treinos do ano passado mostravam um carro muito bom, mas só depois a equipe viu que infringia o regulamento, não conseguindo fazer um monoposto de qualidade até o final de uma péssima temporada, onde só alcançou cinco pontos.

O final de 2011 marcava uma (nova) disputa entre Bruno Senna e Rubens Barrichello por um lugar ao sol. O sobrinho de Ayrton perdera sua vaga a Renault Lotus após oito corridas, em que substituiu Nick Heidfeld, que já havia substituído Robert Kubica. Além dos brasileiros, corria por fora o alemão Adrian Sutil, com bom trabalho na Force India, mas proibido de entrar na China após uma briga. No final das contas, o dinheiro contou mais alto e, como já confirmara Eike Batista (que ajudou a bancar a vaga) dias atrás, a vaga ficaria com Bruno - desculpem, mas não tenho como chamá-lo só de Senna.

Restaria a Rubens Barrichello a única vaga à disposição no grid, pela fraca HRT. Após onze vitórias e tantas corridas, seja por Jordan, Stewart, Ferrari, Honda, Brawn GP e Williams, seria "humilhante" - não sei se essa palavra é forte para descrever isso... alguém que nem ele pilotando lá no final, com um carro de "outra categoria".

FUTURO
Quando da sua primeira vitória fora da Ferrari, em agosto de 2009, eu já havia me referido sobre o seu histórico anterior, por isso que optei neste texto contar o trajeto dos seus últimos anos na Fórmula 1. Mas repito que a pressão que recaiu sobre ele foi imensa após a morte de Ayrton Senna, em 1994, num final de semana que o próprio Rubinho se acidentara feio.

A revelação que se mostrava aos brasileiros nas categorias de acesso e que começava a ter bons resultados pela Jordan, teria que substituir um dos maiores ídolos da história do Brasil. Galhofas por uma vitória que não surgia nunca não faltaram ao longo dos anos. A chegada à Ferrari, que poderia indicar o respeito que faltava, só serviu para aumentar o mito, "sempre deveria estar atrás do alemão [Michael Schumacher]", com fatos que serviram para ilustrar.

Independente disso, posso admitir aqui no Dialética que me emocionei bastante numa manhã de domingo com a sua primeira vitória na Fórmula 1. Uma corridaça em Hockenheim, na Alemanha. Largando em 18º por conta de problemas no carro, que o fez utilizar o reserva na corrida, ele se sustentou numa pista com trechos molhados usando pneus para seco, numa decisão por sua conta e risco, e venceu. Espetacular! Digna dos grandes pilotos da história da categoria - se não fosse o Barrichello a desempenhar tal ação... (ver vídeo abaixo)

Vibrei e torci como poucas vezes, apesar de achar num momento que não daria mais, para que ele conquistasse um título mundial de pilotos, em 2009. Ficaria em excelentes mãos e calaria milhões de críticos Brasil a fora. Acabou não acontecendo o título, mas o respeito da população brasileira aumentou bastante de lá até aqui.

Muito respeitado em outras partes do mundo, o brasileiro Rubens Barrichello pode ter encerrado a sua carreira aos 39 anos, com boa forma física, após passar por diferentes tipos de carro (câmbio manual e eletrônico, com controle de tração e sem,...) e de regulamento e de ter conseguido alinhar com nomes do calibre de Alain Prost, Nigel Mansell, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Mesmo sem títulos, entrou para a história.

Um comentário:

  1. O acerto com alguma equipe para este ano era muito difícil desde o fim da temporada passada.
    As últimas duas temporadas já não foram dignas da carreira dele. Correr pela Hispania seria um desespero muito grande só para estar no grid.
    Ele faz muito bem em parar. 39 anos, fez muito pelo Brasil e as manhãs em que ele nos deu alegria nunca vão sair da memória.
    Se aposentar sendo o recordista de corridas na F1 é uma marca fantástica e que, essa, o Schumacher não vai tirar.

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