quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A despedida do ÍDOLO

Um dos assuntos mais difíceis sobre o qual eu me proponho a escrever neste blog ou em qualquer outro espaço que eu já o tenha feito. Tudo bem, tod@s nós sabíamos que a despedida estava próxima, era questão de dias, mas quem sabe não prorrogá-la por alguns meses, quem sabe mais um ano?

Falar de Marcos Roberto Silveira dos Reis, o São Marcos do Palestra Itália, não é difícil. Sobraram qualidades dentro das quatro linhas, com defesas espetaculares, conquistas em disputas de pênaltis, títulos e mais títulos, seja vestindo a camisa da Sociedade Esportiva Palmeiras ou do Brasil, com uma grande atuação durante a Copa do Mundo de 2002, onde o selecionado canarinho conquistou seu último título mundial.

O problema é escolher um momento desses para se destacar na carreira desse goleiro, que atuou durante 19 anos no Palmeiras, em exatos 530 jogos, que só não chegaram perto dos mil e tantos de Rogério Ceni no São Paulo por conta das suas inúmeras lesões ao longo da trajetória. Braços, pernas, joelhos, em quase todos os lugares do corpo e das mais diversas formas. Ou alguém já viu um ser humano quebrar a placa alojada no antebraço por conta de um companheiro tê-lo cabeceado?

Como escolher uma imagem ou um vídeo que melhor represente a sua carreira? Optar pelos momentos de sofrimento de "mais uma lesão" ou das grandes alegrias proporcionadas por este homem que era idolatrado por quase todos os torcedores, mesmo os nossos rivais? Até na hora de errar - como naquele Palmeiras 2X7 Vitória de 2003 - ele se mostrava grande, assumindo os erros e gerando histórias muito boas. Os jornalistas bem sabiam disso e em qualquer resultado ruim corriam atrás dele atrás de frases bombásticas, como quase sempre vinham e que quase sempre refletiam o sentimento dos torcedores.

A ÚNICA VEZ
A opção pela imagem que abre este texto é por um motivo extremamente pessoal. Foi neste jogo, contra o Grêmio no Canindé, que ele usou pela primeira vez a camisa especial feita para ele, em dourado e com o M estilizado no lado oposto ao símbolo. Mais que isso, foi no dia 06 de agosto de 2011 que pude pela primeira vez assistir ao jogo do meu clube de coração, de infância e, espero, do resto da vida. Além disso, como não cansei de dizer para o amigo que foi comigo, poderia ser a minha única chance de ver o Marcos em campo. Independente do resultado, era isso que importava.

Primeiro, tivemos medo de que ele não pudesse atuar, já que vinha sendo poupado de alguns jogos, por sentir problemas físicos. Marcos voltara ao gol palmeirense dias antes, no empate por 1 a 1 com o Coritiba em terras paranaenses. Depois soubemos que ele não só jogaria naquele sábado à noite, como também estrearia a camisa.

Naquele dia, que foi o indício que as coisas caminhariam mal, pois o time pouco jogou - com exceção do lateral-direito Cicinho -, pude ouvir e acompanhar a torcida no coro tradicional "PQP, é o melhor goleiro do Brasil: MARCOS!". Vê-lo ser ovacionado pelos mais de 10 mil torcedores que se espremiam no estádio da Portuguesa no intervalo do jogo, já que dias antes ele completara 38 anos.

E o melhor: A defesa do jogo. Depois dos 35 minutos da etapa final, o jovem Leandro foi lançado em profundidade e quis fazer o gol da vitória gremista encobrindo São Marcos. "Só" isso. O goleiro palmeirense saltou bem e afastou o perigo, o que garantiu muitos xingamentos contra o atacante adversário. Queria o quê? Não era qualquer goleiro do outro lado, era o Marcos!

INFÂNCIA
O Palmeiras tem um grande histórico de formação de bons goleiros: Oberdan Catani, Waldir Joaquim de Moraes, Leão, Zetti, Velloso, Marcos,... A minha escolha para ser torcedor do time foi na época de Gato Fernández e, posteriormente, um dos poucos instantes de titularidade de Sérgio. Além disso, por mais que a minha primeira camisa palmeirense, na época dos primeiros títulos da "Era Parmalat", tenha sido a 7 do Edmundo, era difícil escolher um jogador a se apreciar mais, muito menos que fosse o goleiro.

Passados alguns anos, acabei tendo muita simpatia pelo Velloso. Vai ver que desde criança gostava de ficar do lado dos oprimidos, e nada melhor que escolher como ídolo um goleiro, em meio a jogadores como Rivaldo, Roberto Carlos, Luisão e Djalminha.

Em 1999, em plena Libertadores da América - em que caímos no mesmo grupo do Corinthians na primeira fase e pegamos o então campeão Vasco nas oitavas -, Velloso se machucou. Marcos, com a número 12 às costas, não só assumiu a posição no time como garantiu o título com grandes atuações, como as defesas dos pênaltis de Dinei e Vampeta nas quartas-de-final contra o arquirrival naquela competição. Na final, a cobrança de Zapata nem precisou passar perto dele, foi para fora, mas o melhor jogador da Taça Libertadores da América 1999 foi pela primeira vez um goleiro, que ainda mais era reserva: Marcos. Meu fanatismo individual já tinha dono, por mais que tivéssemos Arce, Alex, Evair ou Paulo Nunes

Ele até falhou no Mundial Interclubes contra o Manchester United - num jogo que o Palmeiras jogou bem melhor -, mas 2000 e a nova edição da Libertadores, já com um time mais fraco, colocaria-o de vez no coração e na memória dos palmeirenses pela eternidade. Última cobrança na decisão por pênaltis pelas semifinais. Jogo contra o Corinthians. Na cobrança, o maior ídolo deles, Marcelinho Carioca; deu Marcos, numa defesa que faz daquele jogo o primeiro da lista da maioria dos torcedores como principal partida da nossa história.

Torcer para o Brasil em 2002, então, era vibrar com cada defesa de Marcos com a mesma intensidade das jogadas de Ronaldo e Rivaldo. Poucos lembrarão, mas ele fez uma partida primorosa nas oitavas-de-final contra a Bélgica - por mais que haja dúvida sobre dois gols belgas anulados. Na final, então... A Alemanha começou bem melhor o segundo tempo e Marcos faz uma defesa sensacional após falta batida de longe por Neuville, que ainda bate na trave. Quando o Brasil vencia por 2 a 0, chute à queima-roupa e mais uma grande defesa.

No mesmo ano o Palmeiras seria rebaixado do Brasileiro e apesar de uma proposta do Arsenal para jogar na Inglaterra no lugar de Seaman, que se aposentara, ele optou ficar no Brasil e jogar a Série B pelo Palmeiras.

Os anos seguintes foram de sofrimento com seguidas lesões e poucos títulos para o time. Em 2008 ganhamos o Paulistão e a sua famosa fala na preleção - que, por merecimento, encerrará este texto. No ano seguinte, a volta do "defendedor de pênaltis" na partida das oitavas-de-final da Libertadores contra o Sport, sem falar o quanto defendeu - né, Paulo Baier? - durante os 90 minutos na Ilha do Retiro.

"FALTOU..."
A única coisa de todos esse jogos que senti falta foi um gol feito por ele. No final de 2008, após falhar no gol de Tcheco numa partida em casa contra o Grêmio pelo Brasileirão, antes dos 30 minutos do segundo tempo, ele tentou corrigir subindo para todas as bolas cruzadas - para desespero de Luxemburgo.

Nas quartas-de-final da Libertadores de 2009, contra o Nacional-URU, ele quase fez o gol que nos daria a classificação para a fase seguinte.

Em 2011, contra o Avaí, ele teve a grande chance. O Palmeiras vencia por 4 a 0 a partida e teve um pênalti a favor. Toda a torcida e os seus companheiros em campo pediam para ele bater. E, em mais um caso de humildade, ele disse que não bateria, pois se ele não batia quando o time estava empatando ou perdendo, não seria naquela hora, só para caçoar do jovem profissional que estava do outro lado.

Para encerrar, além da preleção com Marcos, a frase que coloquei numa rede social assim que soube da sua aposentadoria, agora oficial:

Marcos foi "só" o melhor jogador da história do Palmeiras e um dos jogadores mais respeitados e idolatrados no futebol brasileiro, independente da torcida. Quem deixaria de jogar em Londres, pelo Arsenal, para atuar na Série B do Brasileiro em, por exemplo, Garanhuns-PE? Tristeza pelo ídolo que não estará nos campos defendendo como poucos as cores do Palmeiras, mas entendendo a condição humana que não o permite continuar por conta de inúmeras lesões na carreira.


2 comentários:

  1. Belas palavras. Como torcedor palmeirense passei por exatamente todas essas fases que você descreveu com maestria.
    A Copa de 1994 foi marcante por ser a primeira que eu acompanhava com afinco e o primeiro título que vi.
    Mas 2002 é uma Copa inesquecível por ver um ídolo palmeirense de titular e com um destaque tão fantástico como o do Marcos naquele ano.
    Foi um absurdo o que ele agarrou contra a Bélgica, foi fundamental neste e na final, na falta batida pelo Neuville que trisca a trave depois da defesa.
    Para mais um ídolo daqueles raríssimos de um clube só, porém amado por todos.
    O que esse rapaz nos trouxe de orgulho é algo indescritível.
    Eu só espero um dia, como jornalista, encontrá-lo e dizer apenas uma coisa: Muito obrigado, Marcos.

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  2. Ele é o único jogador que me faria, enquanto profissional, pedir um autógrafo, tirar foto junto e, além disso, agradecê-lo por tudo.

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