quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Conexões Globais - Rápido diálogo sobre o primeiro dia


Dado o adiantado da hora, rápidos comentários sobre o Conexões Globais 2.0 - Festival Internacional de Cultura Livre, que teve início nesta quarta-feira, na Casa de Cultura Mário Quintana (Porto Alegre-RS). O evento faz parte do Fórum Social Temático 2012, realizado pela Associação Software Livre.org e pela pelas Secretárias de Inclusão Digital e Comunicação do Rio Grande do Sul.

Gosto bastante da CCMQ, o espaço é um paraíso cultural numa metrópole (tão cultural) quanto Porto Alegre. O espaço do vão, a Travessa dos Cataventos, foi bem arrumado para receber os painéis, Diálogos Globais, show auxiliar e show principal. Com um pouco de paciência, em especial nos Diálogos, consegue-se trafegar e se acompanhar bem as apresentações. No caso do show, como o palco está na Rua 7 de setembro, foi super tranquilo.

Além disso, internamente, estão ocorrendo outros eventos da programação, caso das oficinas, desconferências - onde qualquer um poderia apresentar algo, desde que se inscrevesse na internet - e outras atividades relacionadas ao FST, que também utiliza diariamente uma das salas de cinema para mostrar vencedores de festivais realizados no Rio Grande do Sul.

A internet como direito humano
Algumas pinceladas, por conta da hora, sobre o primeiro Diálogo Global: "A internet como direito humano":

Javier de la Cueva, advogado espanhol especialista em direitos digitais, falou de algo importantíssimo quando tratamos do potencial "revolucionário" das mídias sociais. Ele nos alertou para ter cuidado com o lugar em que realizamos nosso ativismo, já que se tratam de plataformas privadas e, em sua maioria, situadas nos EUA, tendo que atender à legislação daquele país. Assim, de uma hora para outra podem impedir nosso ativismo.

Giuseppe Cocco, professor da UFRGS, fez uma análise sobre o novo processo socioeconômico em que vivemos, e a necessidade de ampliação dos direitos, pensando a produção dos mesmos para além da luta entre o estatal (público) e o privado, já que hoje cada vez mais a gente encontra o mercado do lado do Estado e vice-versa. A crise atual sendo justamente na estrutura dos direitos.

Quem mais eu esperava para ouvir era a secretária de Direitos Humanos do Gabinete da Presidência, a deputada federal Maria do Rosário, já que vários assuntos importantes (Comissão da Verdade, Marco Civil da internet, Pinheirinho,...) passam por sua pasta. Ela fez fortes críticas às ocupações bélicas de outros países e destacou que "o Brasil não quer que os direitos humanos sirvam aos poderosos como instrumento de intervenção a outros países". 2012 será o ano de reafirmar os resultados das discussões estabelecidas sobre o Marco Civil da Internet no Congresso Nacional.

Além disso, e o mais importante na atual conjuntura, Maria do Rosário falou sobre o Pinheirinho. Primeiro para destacar a necessidade de não se separar a luta por direitos humanos. Afinal, a inclusão digital também é uma questão para as pessoas que ainda lutam, como no Pinheirinho, para ter o direito a um teto. Confira a seguir o trecho que ela admitiu como declaração pública sobre o ocorrido em São José dos Campos:

MariadoRosarioioconexoes.wav

Por fim, o engenheiro mecânico e ex-presidente da Telebras Rogério Santanna afirmou a importância de o Estado tomar para si o processo de implementação da banda larga. O mercado já teria provado que não vai fugir dos grandes centros para aumentar a difusão do serviço. Santanna criticou também a agência reguladora (Anatel), que parece atender aos interesses dos regulados e não da população.

Da primavera árabe à Internet na construção da democracia 2.0
Esta eu gostaria de escrever mais quando voltar das atividades desta quinta-feira, especialmente a apresentação do jornalista "por um mundo pós-jornais" Antonio Martins, que, em meio à presença do cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, acabou sendo o destaque do Diálogo, ao ser incisivo em suas opiniões referentes às ações sociais na contemporaneidade. O espaço teve presenças de membros do governo gaúcho, com destaque para o governador Tarso Genro.

Só para registrar o relato ainda nesta postagem, a jornalista Olga Rodriguez fez uma retrospectiva de como se deram as ações da primavera árabe a partir de mídias sociais, mas destacando a necessidade de outras formas de ação. Sendo que o novos meios possibilitaram uma difusão internacional de lutas e verdades.

Gilberto Gil optou por fazer uma espécie de confronto entre o que poderia ser chamada de velha cultura e esta nova cultura, criticando a partir da dualidade tradiçãoXglobalização (ocidentalização) vivida no Oriente Médio o olhar ocidental que temos do mundo. A internet não é só ocidental; parte de um modelo de repressão para um instrumento de uma construção democrática, sem totalitarismos (imperiais ou comunistas), que se faz em escala mundial. Uma revisão de conceitos que podem nos levar a uma governabilidade global no lugar da "nossa" democracia.

Já o coordenador do Gabinete Digital do Governo do Rio Grande do Sul, Vinícius Wu, afirmou que estaríamos diante de novas configurações sensoriais e que a democracia parece uma gaiola rígida para prender um poder que seria líquido. Assim, precisaríamos juntar a democracia e o poder de uma outra forma, já que estaríamos caminhando para uma esfera pública global, em que o poder não está mais ligado a um território.

Como disse, pretendo tratar da apresentação de Antonio Martins, responsável pela criação do excelente Le Monde Diplomatique Brasil e pelo Outras Palavras, num post em particular. Ele conseguiu abordar algumas questões de novas tecnologias da maneira que estou mais "acostumado". Só para deixar um gostinho especial, já no início ele deixou clara a necessidade de menos criticarmos o Partido da Imprensa Golpista e mais produzirmos conteúdo que ofereçam elementos para que as pessoas possam compreender a sociedade.

...
Ah, só para finalizar, o show entre os Diálogos foi muito bom, com direito a apresentações circenses do Circo Híbrido. Sem falar na maravilha que foi o show do Lirinha!!! 


Fiquem com "Futurível", citado por Gil como algo que dá sinais do clarão no horizonte, algo protutópico e pós-utópico:



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