quinta-feira, 7 de março de 2013

[Em busca do El Dorado] 2 anos

Acabo de ler dois textos que marcam os períodos anteriores desta passagem aqui no Rio Grande do Sul. O primeiro, referente à chegada, carregado de uma emoção até estranha da minha parte. O segundo, que marca o primeiro ano por aqui, quase o oposto, mais curto, seco e direto. O que será deste, que marca a passagem de 731 dias em terras gaudérias, exatos dois anos?

Antes de qualquer coisa, uma preocupação que me veio à cabeça a cada vez que eu lembrava que este texto teria que ser produzido: como fazer a avaliação deste período e ainda deixar algo para daqui a algumas semanas, quer dizer, como definir que o mais importante deverei deixar para depois? Façamos o seguinte, então, falemos de como foi este segundo ano. Afinal, foram 365 dias bem marcantes, muito mais do que eu poderia imaginar até mesmo naquelas frias palavras de 7 de março de 2012.

ANO 2
Para "comemorar" a data, uma dor de cabeça, mas sigamos. Abril teve como primeiro fato marcante uma folga no feriado da Páscoa. Fui a Putinga, cidade com cerca de 4 mil habitantes. Além de conhecer os descendentes de italianos de um lugar que caiu até meteorito, o legal foi deixar o computador em São Leopoldo e me livrar do vício tecnológico por dois dias. Nada de olhar e-mails, ver arquivos, mexer em mídias sociais. Mal sabia que precisaria de ainda mais tempo de tranquilidade.

Ainda em abril, eventos relacionados aos estudos de futebol, com destaque para o Ciclo de Debates Futebol é Comunicação, parceria com mestrandos da UFRGS, com quem já tinha contado desde o ano anterior. Deu trabalho, afinal, além do evento principal ainda tinha um Cepos Debates, uma reportagem para o programa de TV do grupo. E, falando em grupo, um problema inesperado. Odeio receber broncas quando não estou errado e odeio ainda mais que outras pessoas sejam alvejadas por críticas por culpa minha.


Respirar fundo, contar até 10 (mil) que vinha mais. Maio chegava e com ele a primeira viagem a outro país: Uruguay. Primeiras práticas do espanhol que recém começara a aprender, apresentação de trabalho num evento internacional, um vento acima das expectativas e um dos berços do futebol sendo conhecido: Estádio Centenário. Ainda que não em jogo, experiência única de me sentir sozinho num dos pontos mais altos do lugar que sediou a primeira final de Copa do Mundo!

Mas maio foi o mês que tudo quebrava no apartamento. Começou com o HD do meu notebook, que levou 10 dias de (muitos e diferentes) trabalho (s). A máquina de lavar veio em seguida. Além de outros dois computadores com problema (um PC e um notebook) e um dos amigos batendo o carro na esquina da Avenida em que moramos. Maré seguiu com uma notícia que me pegou de surpresa: doença do orientador. Ah, merece registro também a primeira das duas aulas numa especialização.


Apesar dos problemas que já se apontavam, viagem para Buenos Aires e mudança total sobre o que eu achava da Argentina. Protestos até com grã-finas batendo panelas com seus casacos felpudos tarde da noite, apresentações de trabalho com traços classistas mais claros e, apesar do imenso frio (temperatura negativa), companhias interessantes - por mais que tenha me feito ver também que viajar sozinho pode não ser tão ruim assim. Óbvio que aproveitei para visitar o mítico Estádio La Bombonera. O tango e a visita à Mafalda ficam para outra oportunidade.

E veio julho...
Junho já não terminou de uma forma legal. O bloqueio produtivo foi uma boa reação quanto a isso, mas julho foi, digamos, interminável. Para começar, o meu karma corintiano de encontrar duas torcedoras do arquirrival trabalhando no mesmo grupo de pesquisa. E em que momento! Título deles na Libertadores, algo realmente inimaginável. E o pior era "sentir" que seria assim antes mesmo do apito inicial do árbitro no Pacaembu.

Ao menos, na semana seguinte veio "o texto que eu tanto queria escrever": Palmeiras campeão invicto da Copa do Brasil 2013! Inimaginável, inacreditável, desfalcado, com tudo dando errado,... Comemoração que me gerou um grande resfriado no dia seguinte e a lembrança de uma cena engraçada: amigo palmeirense em Maceió, já bêbado, ligando para comemorar. Nós mal sabíamos que a alegria daquele momento duraria tão pouco.

Só que bem antes disso, veio a viagem com tudo pago pela líder do mercado para o Rio de Janeiro. Situação tão estranha quanto passar dois dos três dias na "Cidade Maravilhosa" com temperatura abaixo dos 20º!!!

O reiniciar na mente que viria após a viagem durou apenas uma semana. A notícia que ninguém esperava caiu como uma bomba. Tudo mudaria a partir daquela notícia, só acho que não sabíamos que seria de forma tão imensamente pesada quanto foi. Surpreendi-me por ter me mantido mentalmente tão bem quanto fui neste período que nunca pensei viver.


Passando
Agosto passou com muitas dificuldades, com a confirmação de tudo vindo em setembro. Dias antes disso ainda tive trabalho de "agente duplo" em Fortaleza, tendo que pensar num congresso acadêmico onde apresentaria dois trabalhos - um deles que "sumiram" do sistema, mas apresentei ainda assim - e no futuro do grupo de pesquisa, mesmo estando tão distante da sua então sede.

Ainda houve tempo para verdadeiras experiências antropológicas na capital cearense. Lugar que, por um motivo que não sei bem qual é, sempre tenho problemas nos voos. Na primeira viagem, em 2009, a maior dor de cabeça da vida - com direito a nariz sangrando por dois dias - nas mudança de pressão de uma viagem de menos de uma hora. Desta vez, se ela não veio tão forte, chegou ainda com os mecanismos que utilizo usualmente para evitá-la em voos. Vai entender...

Outubro teve a volta ao Rio de Janeiro, com direito a ver o Maracanã pela primeira vez, ainda que de longe, e mais um reiniciar na máquina cerebral. Ah, ainda tive a primeira mediação de mesa sem eu estar na organização do evento, situação bem ruim, na verdade. No final do mês, visita a estádio gaúcho na torcida visitante. Derrota, polêmica do tal gol de mão invalidado por ordem externa, mas nova sensação. Apesar de estarmos caminhando para o rebaixamento, SEMPRE PALMEIRAS!

Mas se o Palmeiras confirmaria o rebaixamento em novembro, pude ver outra situação inédita: título da primeira edição da terceira divisão do Campeonato Gaúcho, a "Segunda Divisão". Acompanhei quatro jogos do Aimoré, aqui de São Leopoldo, no Estádio Cristo Rei. Barranco atrás de um dos gols, com famílias ali com suas cadeiras e cuias de chimarrão. Colocar mais de cinco mil pessoas para jogos assim na região metropolitana é algo incrível. Claro que estádio perto de casa + azul e branco no uniforme é certeza de certa ligação emotiva.

Novembro e dezembro também foram períodos de correria. Afinal, pensar em dois projetos totalmente diferentes para o futuro, seguir para uma análise de mais de 4.000 páginas para finalizar a dissertação e participar de reuniões de dois grupos de pesquisa, um deles em transição, exigiu bastante. Só que o fato de ser quem eu sou acabou por me fazer sentir que teria perdido tempo num deles, dado o erro "fatal" que viria.

Em comum, nas semanas derradeiras, ainda que uma em novembro e outra no mês seguinte, estado febril, dias sem conseguir sair da cama, arrastar-me para ir para a universidade quando tinha que ir, vômito quando esperava já estar melhor (na segunda crise). Assim, lá foi embora a folga maior entre os feriados de final de ano. Para comemorar, solitariamente, a passagem de 2012 para 2013. Um imenso Ufa!

Veio 2013 e a espera
2013 chegara, mas prometendo um ano de recomeço. Antes disso, no dia 03 de janeiro terminava a dissertação e no dia 17, depositava o trabalho de quase dois anos. Após isso, "vida de náufrago". Barba gigante, mais textos por aqui, confirmação de que a opção de futuro era a que menos se queria e muitos textos neste blog.

Em fevereiro, o grande dia! O motivo pelo qual passo dois anos em São Leopoldo. Defesa da dissertação e um imenso alívio de saber que desta vez, apesar de tantos obstáculos, tudo foi de acordo com as minhas possibilidades reais. Trabalho muito bem avaliado e, apesar de certa frustração (altamente justificada) - e que aumentou ainda mais hoje -, a certeza de ter feito finalmente "o trabalho da vida" até aqui.

De lá para cá, o jeito foi perder noites de sono ou ter sonhos/pesadelos que refletem as minhas gravíssimas preocupações para o futuro. Sobre a pergunta que me fazem há algum tempo: "O que você vai fazer?". Agonio-me de pensar que não tenho a MÍNIMA ideia. Quer dizer, penso que vou dar uma quantidade de passos para trás proporcional à distância da viagem que farei daqui a algumas semanas. Portanto, estou aberto a sugestões para os próximos anos.

2 comentários:

  1. Você teve um desempenho digno de um nordestino no Rio Grande do Sul, Anderson. Soube superar as dificuldades, dar o melhor de si e cativar as pessoas que lhe cercaram nesses dois anos. Só escutei coisas boas sobre. Palavras que vieram de companhias suas e, por isso, com autoridade do que falavam. Para nós, que já o conhecíamos, nenhuma surpresa. Estou certo de que para onde seus pés o levarem, você terá mãos e sabedoria para fazer o melhor. Parabéns pelos dois anos em terras gaúchas! Desejo que a competência que o acompanhou durante todo esse período se torne ainda maior no próximo passo! E se vier para Alagoas, digo com gosto: será bem-vindo!

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