sexta-feira, 15 de março de 2013

[Em Busca do El Dorado] As Muitas Últimas Coisas

Creio que desde agosto que caminho em direção à Unisinos imaginando que estaria nas minhas últimas idas para lá, os derradeiros meses por aqui. Por algum motivo sou bom nessas coisas, e por mais que a minha experiência no Rio Grande do Sul tenha deixado marcas profundas - muito boas academicamente, mas longe disso no lado pessoal -, já bate certo saudosismo. De meados de fevereiro para cá iniciaram-se as muitas últimas coisas desta passagem. Hoje foi a vez da questão cultural. A última experiência musical.

Por aqui, consegui ir a shows de dois dos nomes musicais que eu acho mais espetaculares e mais malucos, o conterrâneo Hermeto Pascoal, numa apresentação em Canoas, e do Tom Zé, em apresentação no Teatro Araújo Vianna, em Porto Alegre. Saí de ambos com a impressão de que eles realmente eram excepcionais - nem a narração da propaganda da Coca-Cola pelo baiano, tirará esta impressão.

Porém, de tudo o que eu pude acompanhar por aqui, imagino que nada tenha me deixado tão surpreso quanto os gaúchos da Saturno de José. Se a primeira impressão é a que fica, é ela que pode justificar os meus elogios daquele momento que se refletiram em presenças em outros shows do pessoal. Por mais que já conhecesse uma pessoa da banda por motivos acadêmicos, com muito boa relação, aproximei-me dos demais também por admiração por um fazer música também diferente, dada as devidas proporções de experiência, como os dois supracitados.

Conheci a Saturno de José num dos momentos mais complicados desta trajetória, meados de 2012, e foi a música da banda que me fez destravar por algumas vezes o bloqueio de criatividade que vivia. Se as coisas não melhoraram depois, pelo contrário, tive as tardes e noites ouvindo-os pelo computador, pelo celular ou ao vivo nas praças e bares momentos de relaxamento e felicidade.

Além disso, pude acompanhar o desenvolvimento de uma banda com uma proposta espetacular de música, com letras e melodias muito boas, mas naquela busca por público e locais para tocar. Dificuldades que refletem os problemas vivenciados no atual momento do mercado da música e, principalmente, dos que sempre existiram para quem busca fugir às normas rítmicas, ao mesmo tempo em que se têm que trabalhar - nas mais diversas áreas - para garantir a sobrevivência.

O EP veio em agosto e a partir disso algumas portas foram se abrindo, um clipe foi apresentado um teatro, e apareceram em apresentações em várias rádios e cidades, assim como em diferentes festivais pelo sul do Brasil. Eles seguem "pacientes, soberanos" e num trajeto que tem tudo para fazer com que daqui a poucos anos eu possa acompanhá-los no Nordeste da República que faz fronteira com a Riograndense.

Hoje foi o dia de ouvir ao vivo, ao menos por enquanto e aqui no Rio Grande do Sul, pela última vez o som de Tiago Sudatti, Daniel de Bem, Ivan Lemos, Hiozer Rezoi e Gibran Vargas. E foi praticamente ao lado de casa, indo e voltando a pé, ainda que com uma chata chuva fina, mas com um público razoável para essas condições.

Esta é uma das muitas últimas coisas que farão falta, ainda que leve as músicas e o EP comigo. Olha que já sei que algumas pessoas que não vejo há meses, mesmo que morem na mesma cidade que eu, muito provavelmente não verei mais. E nos (poucos) próximos dias que chegarão, virão mais e mais coisas (e pessoas) que eu pensarei: eis mais uma das últimas. Até que chegue a hora de partir em definitivo.


*O título deste texto veio imediatamente na memória. Trata-se do nome de uma peça de teatro que assisti em Maceió em 2009 e que também comentei por aqui.

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