segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A extrema beleza de Melancholia

alguns meses um dos amigos com quem divido o apartamento aqui em São Leopoldo disse que havia visto com a namorada o filme Melancholia (2011), filme dirigido pelo Lars Von Trier. Em épocas de Megaupload na ativa, ele conseguiu pela internet e chegou até a nos mostrar a incrível cena inicial, quer dizer, o prólogo espetacular da obra e a primeira cena - a da limousine. Deixamos para vê-lo depois.

A ideia era escrever sobre o Gauchão, afinal fui ver a minha primeira partida deste Estadual neste domingo. Chegando em casa, ele perguntou se não queria assistir ao Melancholia hoje. Topei. Afinal, "cansei" de ler críticas positivas sobre o filme, a maioria delas considerando-o como obra-prima, por mais que tenha havido aquele problema com o diretor, que afirmara em Cannes ser apoiador das ideias nazistas - ou teria sido uma brincadeira?

Pois bem, há exata uma hora eu o assisti e posso dizer que entra para a lista de produções audiovisuais que fazem necessária outra recepção; no mínimo, vai gerar uma boa conversa para saber se a outra pessoa que também o assistiu entendeu alguma coisa que ficou como dúvida na sua cabeça. 

Posso estar ainda com muito de 2001: Uma Odisseia no Espaço nas minhas entranhas sensórias, mas percebi alguns elementos em comum. O primeiro é a dificuldade e o prazer de se assistir/ver/ouvir (possíveis) obras-primas; o segundo vem justamente da ideia, que virá mais descrita a seguir, da necessidade de renovação do ser humano; por fim, a música clássica, com trechos da ópera "Tristão e Isolda", de Wagner, que me lembrou o tempo inteiro de "Assim Falou Zarathustra, de Richard Strauss.

PRÓLOGO
Já tinha visto a parte introdutória do filme antes, então não achei tão cansativo. Quer dizer, já havia achado excepcional da outra vez. Adoro as imagens da super câmera lenta. Além disso, basta pensar o título do filme para fazer uma relação com o sentimento melancolia para saber que quando se está numa situação dessas parece que tudo demora muito mais para ocorrer.

As imagens, algumas delas que reveremos instantes depois, refletem vários e diversos sentimentos humanos, da morbidez de uma noiva flutuando na água ou que é presa por fortes raízes que não a deixam andar, a alegria de tratar com a natureza, ou o medo na fuga com o filho num local tão solitário, imenso e tão igual quanto um campo de golfe.

Após minutos assim, vem o título do filme, que, conforme eu li depois, é do mesmo jeito que em Anti-Cristo - que ainda não assisti.

Parte 1 - Justine
A primeira parte parece nos encaminhar para um momento feliz, totalmente oposto à sisudez do prólogo. A primeira cena é cômica ao ser um limousine que não consegue passar por uma curva, a ponto de os recém-casados tentarem andar com o carro e não conseguirem - o meu amigo disse que no cinema tod@s riram muito desta cena.

Porém, assim que chegam à festa, vemos que não é bem assim. O cunhado da noiva, John (Jack Bauer Kiefer Suntherland), cobra a esposa pela demora de duas horas. Justine (Kirsten Dunst) chega com aparência de felicidade ao lado do noivo. Na hora dos discursos, vemos a realidade que faz deste primeiro trecho uma das maiores representações de depressão já vistos.

Os pais dela se separaram. Enquanto ele parece muito feliz com a nova situação, e sua inúmeras namoradas Betty; a mãe faz um discurso pesado, justificando sua ausência no casamento por não acreditar nele, desejando que "aproveitem enquanto podem"; o chefe de Justine, numa empresa criadora de slogans publicitária anuncia o emprego de diretora de arte da agência, mas a força a criar um slogan para uma nova campanha até o final da festa, a ponto de colocar um novo funcionário (Tim) para persegui-la até que ela crie algo; o cunhado John odeia tod@s, exigindo que Justine o compense após todo o dinheiro que ele gastou com a festa; a irmã, Claire (Charlotte Gainsbourgh), é alguém com mania de perfeição, a festa tem que seguir todos os horários pré-definidos.

Em meio a esse turbilhão, Justine não está nada bem. Só o filho de Claire e, em determinados momentos, o seu pai, dão-lhe alguma alegria sincera. Fora isso só são fugas, até aparecer após ser cobrada pela irmã ou pelo cunhado, numa sensação de que algo está acorrentando suas pernas. A namorada do meu amigo interpretou que Justine já havia previsto o que ocorrerá na segunda parte e não queria se casar por conta disso. Eu já acho que ali ela já percebera o quanto "a Terra é má" - algo que justificará sua tranquilidade no final do filme.

Traição, demissão, separação,... Tudo numa mesma noite. A parte 1 termina com o cavalo, que "só ela" conseguia montar, não passando por uma ponte no meio da mata, após sair com Claire para cavalgar em meio ao "campo de golfe com 18 buracos", como faz questão de destacar o seu cunhado. Ela percebe que a constelação de Antares não está mais no mesmo lugar...

Parte 2 - Claire
A tia "steelbreaker", capaz de qualquer coisa na visão da criança, acaba chegando de táxi na mansão numa situação deplorável, sem querer sair da cama nem mesmo para comer seu prato predileto: rocambole de carne.
O foco neste trecho acaba sendo na perfeccionista Claire, que é casada com um cientista, mas que não confia nele sobre os boatos que dão conta que o planeta Melancholia - que dá o nome ao filme - iria se chocar com o planeta Terra dali a alguns dias, após ter passado pelo Sol, Mercúrio e Vênus.

O filme indica em Claire alguém com um medo exagerado sobre o que poderia ocorrer, com o filho dela estando muito mais empolgado com a possibilidade de ver no telescópio o planeta azul passar perto da Terra do que sentindo medo. John não estava tão confiante assim, chegando a guardar suprimentos no estábulo e com a sua aparição final indicando ser ele um homem muito fraco, como provou no primeiro trecho o seu apego ao dinheiro, como se pudesse comprar a alegria da cunhada.

Justine vai se recuperando ao longo desta parte em proporção à aproximação do planeta com a Terra. Uma das partes mais irritantes ocorre quando ela maltrata bastante o cavalo por não querer, novamente, passar pela ponte. Admito que torci para que o animal a derrubasse... Ela diz que prevê coisas, como a quantidade de feijões que tinham numa garrafa no dia do aniversário, a calma dos cavalos na estribaria, servindo como um ponto de tranquilidade em meio ao desespero daquele coletivo, numa espécie de simbiose com Melancholia, demonstrada numa magnífica cena em que ela fica prostrada no solo perante a iluminação azul - que nas noites disputa espaço com a iluminação clara da Lua.

O filme tem um final bem interessante, bem longe de qualquer outro que trata das relações mais graves sobre (o fim d) a vida humana na Terra, seja no aspecto interior, com uma excelente representação da depressão, ou no exterior, com o eterno medo do extermínio "natural" do planeta.

Paro por aqui para não contar (ainda mais) spoilers. Basta terminar com a descrição de Lars Von Trier: "um belo filme sobre o fim do mundo".

2 comentários:

  1. Vi o filme hoje, procurei textos sobre ele e encontrei o seu e gostei bastante. Vou ver o filme mais uma vez e escrever algo também.

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