domingo, 15 de fevereiro de 2009

O caçador mira - parte 1


A primeira questão a ser analisada sobre a frase do atual presidente em relação a não ler jornais ou revistas: “Porque eu tenho azia”, é saber se ele tem ou não motivo para isso.

É praticamente uma unanimidade entre os estudiosos da comunicação críticos – afinal existem os apologéticos – que o papel da grande mídia hoje representa determinado lado da sociedade. Lado este bem distante da maioria da população. Além dos estudiosos, ainda há (algumas) pessoas, das mais diferentes classes, que também sabem disso.

Mas isso abre um grande problema para nós: até que ponto vão essas críticas, principalmente quando a própria teoria da comunicação tem seus limites? Além disso, como responsabilizar o profissional encarregado de assinar tais matérias: um traíra da sociedade ou um simples retransmissor?

Como esse grupo de comentários na entrevista completa representa mais da metade dos tópicos dissecados, não será fácil fazer a análise em apenas um texto. Por isso, trabalharemos em mais de um, de forma a tentar entender e explicar o contexto da grande imprensa brasileira, dos atores deste circo (os jornalistas) e falar sobre as possibilidades, e seus limites, da Internet.

Sobre as críticas à mídia, a maioria das pessoas se volta ao fato dela ser totalmente parcial – e, principalmente, ser contrária ao Governo Lula. Para justificar este fato eles utilizam-se de diferentes formas, sejam exemplos ou da formação da nossa imprensa; e ainda há os que culpam os profissionais jornalistas e ao próprio público.

O bibliotecário paulistano Marcelo Conti é um grande exemplo disso: “O que já foi Imprensa, hoje é impren$a, caudatária do Tio Sam e membra [sic] do PSDB. São uns vendidos.”

A própria formação estrutural dos jornais brasileiros é oriunda dos moldes estadunidenses, que se aproveitaram das fases de american way of life para exportar também a maneira de escrever jornais.

A estratégia era simples, já que não dava (financeiramente) mais para escrever para públicos específicos – seguindo os modelos até então dominantes, que traziam comentários sobre os fatos – resolveu-se por criar a tal “neutralidade” que domina os discursos de jornais, revistas e TV’s Brasil a fora. Assim, o público do jornal poderia ir, em termos de discurso, do operário de uma indústria ao seu patrão.

Porém, como já colocamos no início do texto anterior da série, é humanamente impossível que isso ocorra. Se não fosse assim, para que alguém iria criar o termo linha editorial para separar o que se pode e o que não se pode escrever em cada veículo midiático? Bastava dizer: “escrevam de forma neutra e objetiva!”.

“A produção de ideias de representações, da consciência, está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real” (MARX & ENGELS, 1986, p. 36).

O linguista russo Mikhail Bakhtin (2004) também fala duas coisas interessantes que podem se colocar sobre essa possibilidade infundada da neutralidade em qualquer discurso individual:
1. “A situação e os participantes mais imediatos determinam a forma e o estilo ocasionais da enunciação. Os estratos mais profundos da sua estrutura são determinados pelas pressões sociais mais substanciais e duráveis a que está submetido o locutor” (p.114).

2. “A classe dominante tende a conferir ao signo ideológico um caráter intangível e acima das diferenças de classe, a fim de abafar ou de ocultar a luta dos índices sociais de valor que aí se trata [...]” (p. 47).

No sentido da última citação, perguntamos aos leitores deste blog: no que se constituem as EMPRESAS de comunicação?

Para nós, enquanto representantes (proprietários) da classe dominante, é mais que lógica a iniciativa por parte deles de defender seus interesses através da mídia por eles criada. Afinal de contas, é com os meios massivos que as ideias dominantes são massificadas. Marx já colocara ainda no século XIX que as ideias dominantes são as da classe dominante, a mídia só veio a facilitar esse processo.

Portanto, quando algumas pessoas utilizam do argumento de que “a imprensa desinforma a população” cometem um erro. O que se tem é que a imprensa informa a população com o que seus proprietários querem. Lógico que causas e lutas realizadas por movimentos sociais estão longe dessa linha editorial.

Para a manutenção de seu poderio não é estranho que a mesma TV Globo prejudicou o Lula nas suas campanhas iniciais e até mesmo na sua campanha de reeleição tenha montado todo um esquema para que sua primeira entrevista enquanto presidente eleito tivesse sido por lá. Ah, tem algumas palavras proferidas por William Bonner que não esqueço: “A Rede Globo tem o orgulho de apresentar o primeiro presidente vindo do povo, ex-metalúrgico, do Brasil”.

De “presente”, ganhou um empréstimo logo no início do Governo Lula que sustentou suas contas, que no início de século iam mal das pernas. Para, depois disso, manter-se fiel às críticas ao Governo – algo maximizado pelas páginas da revista Veja.

Por isso que, em parte, concordamos com o radialista Gersier Lima, de Montes Claros-MG:

“‘Grandes órgãos’ da imprensa, que de grande só tem a mesquinhez, o cinismo, a falta de ética e de vergonha, além de tirar várias frases do contexto do discurso na inauguração [de uma obra em 2003 na cidade], dando outro sentido às mesmas, ainda teve o descaramento de dizer que Lula tinha esquecido de descer do palanque e continuava em campanha. Um detalhe que fizeram questão de esconder, que a população da cidade e da região pleiteava a construção da ponte há mais de trinta anos.”

A grande questão, Gersier, é que “tirar frases do contexto do discurso” e manipulação são coisas comuns à imprensa faz muito tempo. E que se diz que a mídia faz isso com o presidente ao qual tem que bajular, imagina o que fazem com os movimentos sociais. É melhor nem pensar sobre o que falam dos movimentos ditos revolucionários!

(CONTINUA SEMANA QUE VEM...)

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. As empresas de comunicação estão incluídas em um círculo vicioso, que passa a informação da forma que elas querem para a sua própria subsistência.
    Daí, a "credibilidade" das mesmas gira em torno de manter o espectador/leitor/ouvinte sempre nessa condição de reprodutor daquilo a que ele tem acesso.

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  3. Então, muita informação. Um bom debate se abre. Acho que a função da imprensa, enquanto aparelho ideológico, é essa mesma: mostrar o ponto de vista dos dominantes. O problema sério da imprensa brasileira é q se vende uma idéia de neutralidade, imparcialidade.

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  4. Alguém sabe alguma frase ou expressão dialética usada nas midias, radios televisão etc...?
    Att.

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  5. Alguém sabe alguma frase ou expressão dialética usada nas midias, radios televisão etc...?
    Att.

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