sábado, 7 de fevereiro de 2009

O caçador apresenta suas armas

Antes de qualquer coisa sobre os comentários referentes à “entrevista” do presidente Lula à piauí, é necessário que se explique de fora geral de quem partirá os textos.

O autor desse texto se considera crítico aos protagonistas dessa história: ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva e ao que se convencionou chamar de grande imprensa, pelo apoio à exploração do trabalhador deflagrado por ambos.

Você pode achar estranho que alguém escreva algo assim, mas nunca tive a percepção que as matérias produzidas fossem neutras, porque é humanamente impossível que assim o seja. Entretanto, ainda há quem acredite nessa hipótese, logo deixemos claro que não será nesses textos – nem neste blog – que isso irá acontecer. Vamos às análises.

De início, iremos pegar o grupo de comentários relacionados à própria entrevista e textos produzidos por outros jornais a partir dela. Há uma ligeira desvantagem para Mario Sergio Conti quanto à qualidade da entrevista realizada – e publicada na íntegra pelo site da Secretaria de Informação do Planalto.

Os elogios à entrevista vêm de simpatizantes do governo Lula. Uma das maiores justificativas é o fato da piauí não ter utilizado o fato do presidente ter afirmado que não lê jornais, revistas, blogs, ... como foco principal da matéria.

Casos da jornalista mineira Ilda Nogueira, que afirma o seguinte: “Parabéns pela entrevista, inteligência na condução da conversa, edição. Como diria o companheiro: ela foi "justa"”. Assim como, o fez o também jornalista, só que paulistano, Thomaz Magalhães: “Entrevista bem conduzida por Conti, abordando todos os temas da pauta presidencial nos últimos tempos. Lula, a seu jeito, respondeu objetivamente a tudo, foi oportuno e cavalheiro”.

A nossa maior prova de inexistência de neutralidade vêm de pessoas da própria profissão que desenvolve uma notícia. Será que quando queremos entrevistar alguém devemos fazer o possível para que ele se mantenha “cavalheiro”. Imagino que para certos casos o ideal é fazer aquela pergunta que o faça sair do sério, contradizer-se. Ou será que escutar apenas o que o entrevistado quer falar é fazer jornalismo?

Será que foi assim devido à linha política da revista que, como destacaram os assessores de Lula, seria “‘desencantada’: cética em relação ao alcance do progresso ocorrido no passado recente e descrente da política”? Mas se fosse isso porque pedir para fazer a entrevista, e não só com Lula, mas com outros políticos (como FHC)?

Confesso que quando li a matéria da revista, após ler na íntegra, achei bastante esquisito o formato. Afinal de contas, na publicação, não se tratou de uma entrevista – por isso as aspas nessa palavra no texto “O dia do caçador” –, e sim de tratar de tudo que a circunscreveu na visita ao Palácio. A entrevista virou um “anexo de luxo” para que o presidente falasse da sua relação com a imprensa, demonstrada anteriormente segundo o exemplo do próprio Conti.

Quanto ao “esquema perguntas e respostas” o qual estamos tão acostumados, isto não existiu. O que confirma a nossa hipótese (e a de Homero Baco, em comentário ao texto anterior) disso, na prática, não ter sido uma entrevista. O que me espantou foi de ter lido a alguns meses a entrevista realizada pela piauí com o ex-presidente FHC e ser da mesma forma, com a diferença das perguntas e respostas mais interessantes concentradas no final, em sequência.

O publicitário Dante Caleffi, do Rio de Janeiro-RJ, acusa Conti de censura pelos cortes realizados (um dos quais foi a pergunta sobre o que o presidente achava de Mino Carta): “Não só da azia ,como cesura [sic]. Não é. Mario Sergio Conti?”.

Sobre o assunto, em outros textos há o destaque de que a revista de janeiro atrasou para publicação. O que seria uma relação, no mínimo, estranha, já que fora o próprio diretor de redação que a escreveu, “o homem” a transmitir a linha editorial da revista e a tê-la decorada.

Além disso, a maneira como as perguntas foram feitas, na entrevista real, ocorreu de maneira bastante grosseiras e de forma esquisita. Ao contrário de Lula, parece que o diretor de redação da piauí não estava preparado para fazer a entrevista, mas sim para uma conversa com um velho amigo.

Eis um exemplo de pergunta mal-formulada, esquisita até: “Mas eu lamento que o senhor não curta mais como o senhor me dava a impressão de curtir. O senhor gostava daquela conversa de... Você viu o que o Juca Kfouri escreveu?

Este fato foi destaque de um dos comentários do engenheiro eletrônico Giovani de Morais, de Jaboatão dos Guararapes (PE): “‘Eu vi uma entrevista ontem, lá, dos presidentes. Parece que é uma coisa chata pacas também, né? ’. Vocês tem [sic] certeza que o entrevistador é formado em jornalismo??? Que indigência vocabular!”.

Mas há também quem discorde, e com razão, do comentarista Thomaz Magalhães sobre a variedade de temas debatidos. “O entrevistador tem a raríssima oportunidade de entrevistar o presidente da república com o maior índice de popularidade da história brasileira em meio a uma preocupante crise financeira na matriz do capitalismo global e não faz uma pergunta de interesse público!”, disse o professor carioca Álvaro Marins.

Mesmo quando trata sobre o “mensalão”, Conti não prestou a atenção no momento para comparar o que Lula havia dito no início: “não há hipótese de um presidente da República ser desinformado sobre as coisas mais importantes que acontecem no Brasil”. Como seria então em relação às coisas do próprio Governo e do partido que ajudou a criar? Seguindo essa resposta, o “eu não sei de nada!”, várias vezes utilizado, cai em descrédito.

Para finalizar a análise deste grupo, ainda há os comentários sobre outros meios. Um reclamando sobre o fato de Conti ter achado desproporcional a propaganda governamental nas revistas Carta Capital e Caros Amigos. Algo que só dá para medir com estas revistas nas mãos, assim como, com Veja, Isto É, Época, ...

Os outros destaques foram para textos de jornais sobre a entrevista, que fizeram questão de destacar o fato do presidente não ler jornais, seja em editoriais ou em matérias sobre. Não tivemos acesso às matérias citadas, veja abaixo um comentário sobre:

“Lula mereceu até mesmo um editorial do Estadão, intitulado “Por que Lula não lê jornais”. Ali, critica-se o presidente por se informar em conversa com pessoas. Segundo o jornal, ‘pessoas que conseguem escalar o gabinete presidencial evidentemente não pediram audiência para criticar o seu titular’. E acrescenta: ‘têm, todas, interesses a defender, o que aconselha os seus porta-vozes a guardar para si as verdades inconvenientes de que tenham conhecimento’”,
Valmir Gôngora, bancário de Brasília-DF.

Tudo bem a grande mídia, em sua maioria (com destaque para a hiper-tendenciosa Veja), escolheu o lado, principalmente após 2004-2006 – apesar de continuar a receber suas verbas de publicidade. E o lado foi o contrário ao Governo, pelo menos na aparência. Mas não deixa de ser verdade o que foi dito nas partidas supracitadas e transcritas por Gôngora. Leia de novo e veja o que você faria se fosse um assessor direto do presidente numa condição ruim.

A partir do próximo texto da série “O dia do caçador” veremos até que ponto Lula tem razão em “ter azia” da imprensa e se a má qualidade da mesma é motivo suficiente para deixar de ler qualquer coisa. Além de um debate importantíssimo sobre as ações do profissional jornalista: protagonista de mentiras ou um simples assinante delas?

5 comentários:

  1. Não tive a oportunidade de ler a entrevista (ou texto sobre a mesma) do presidente Lula à revista Piauí, mas comento duas coisas que em chamaram atenção no seu texto, Anderson: primeiro, que a neutralidade e imparcialidade ao escrever qualquer coisa é extremamente difícil de ser alcançada.
    Segundo, pela forma como a matéria foi conduzida, me lembrou as entrevistas que são feitas com as estrelas de Hollywood, onde 30, 40 jornalistas do mundo todo tem 10, 15 minutos para fazer as perguntas dentro das restrições colocadas pelos assessores de imprensa.
    Não teria sido esse o caso desta?
    Abraço!

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  2. Bruno, paesar da presença dos assessores de Lula na sala, acho que não foi o caso. Afinal, estamos num "governo democrático".

    PAra ler a versão completa e a publicada, os links estão abaixo:

    - CONTI, Mario Sergio. Azia, ou o dia da caça. In: www.revistapiaui.com.br/edicao_28/artigo_859Azia_ou_o_dia_da_caca.aspx;
    - CONTI, Mario Sergio. Presidente com azia da imprensa (entrevista completa). In: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=519JDB013;

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  3. Como o Bruno, não li a entrevista, apenas os seus comentários sobre a mesma nos dois posts daqui.

    Confesso que nem mesmo leio a Revista Piauí.

    Mas bem... li seu texto. Concordo sobre a não-neutralidade discursiva que você explana no início. E acho idiotice demais quando vejo a defesa disso (feita em materiais da própria Fenaj!).

    Sobre a "azia" do Lula, que ainda será abordada, me antecipo ao dizer que a mesma "não cola" como argumento. É uma forma dele querer se eximir de dar respostas as críticas que sofre para a grande mídia, uma forma de desqualificá-las.

    O único argumento do Lula para justificar seu governo, por vezes, é dizer que foi melhor que os outros governos que o antecederam. Mas e daí? Isso é parâmetro qualitativo para quê?

    Em nada ele rompe com o neoliberalismo e quer se sentir diferente (ou superior aos demais governos) por lançar políticas públicas compensatórias/paliativas e ver o capitalismo brasileiro em emergência.

    Críticas estas - as da mídia, que dão azia - feitas não na ótica da luta de classes, mas imanadas dentro da perspectiva dele: neoliberal e reformista. Iguais as que FHC também ouvia, em maior ou menor grau.

    Qual o problema dele ler isso?

    Problema, de fato, ele tem quando lê as críticas mais radicais ao seu governo, como as da Conlutas...

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  4. Anderson li seu texto, a pesar de ser uma pessoa que não tem um vasto conhecimento sobre o assunto e que não gosta de política. Por esse motivo, acabei sendo influênciada pelos seus argumentos ao ponto de achar que o jornalista deixou a desejar em suas perguntas e que poderia ter aproveitado melhor a portunidade.Acredito que o profissional de jornalismo tem um poder de revelar ás coisas e que não deve deixar escapoli momentos como esses. Eu adoraria vê o Lula sendo provocado com uma pergunta. Vou tentar ler a entrevista daí quem sabe posso até mudar de opinião.

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  5. Valeu a citação meu oposto!

    Então, é importante ter sempre a linha editorial da revista em mente. Falo isso pq, mesmo sabendo q imparcialidade é conversa pra criança, a revista pretende se desprender dos padrões de jornalismo (se eles conseguem e doq abrem mão para isso, podemos discutir em outro momento).
    Estou falando da revista, seu formato, digamos, dispretencioso. Não falo da entrevista (q naum li e provavelmente ficarei com suas impressões meu velho).
    Oq quero dizer é q a impressão q tive da revista é q a forma estará sempre em primeiro plano.
    Sobre a relação Lula x jornais x mensalão, acho q naum cabe. Quando ele diz q está bem informado ele está falando doq a imprensa fala de seu governo, e q com os assessores q tem naum precisa lê os jornais para saber. Outra coisa é saber oq seu governo anda tramando (por favor, naum estou dizendo q ele naum sabia, até hj tenho um pôster do Lula usando um cuecão cheio de dinheiro e escrito: Lula Sabia!)

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