terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O caçador mira - final


O grande problema é acreditar que a imprensa é revolucionária, tem o poder de mostrar a verdade e sobressair de qualquer relação hegemônica de forma a denunciá-la. Mas como fazer isso numa profissão que tem um Código de Ética que afirma a importância da opinião do jornalista sobre o que faz, podendo rejeitar caso discorde, mas não protege o profissional.

Quer dizer, podemos rejeitar escrever uma matéria, mas aí no dia seguinte seremos demitidos. Quanto à matéria, vai ter outro que vai fazer. Ah, sem falar que mesmo que se faça algo que nos faça “dormir bem”, vem o editor e corta tudo, muda tudo, ou simplesmente cancela aquela matéria.

Acredito que o problema está na maioria das pessoas que acaba por se acomodar a situações como as supracitadas e torna a escrever roboticamente de acordo com a linha editorial dominante, explorada, de seu veículo. Ou mesmo que acabam por se juntar – afinal fazem parte da classe média – assumidamente às opiniões dominantes, mesmo tendo acesso a opiniões sociais antes.

Algumas alternativas à mídia são postas, com grande destaque aos blogs na Internet e a outros elementos da mesma. O biólogo Alexandre Carlos Aguiar, de Florianópolis-SC, sugere isto: “Façam como o presidente: não leiam mais jornais, se quiserem curar a azia e não quiserem embotar o cérebro”.

Já o jornalista Giovanni Giocondo apresenta algo mais sensato: “antes de pensar em uma cama recheada de luxos é preciso ter a própria ideologia atuando à frente de qualquer destempero ou mentira provocados pela ausência de informação ou mentira deslavada pregada por qualquer um dos lados envolvidos nessa disputa interminável pela audiência e conveniência com o povo brasileiro [mídia X governo Lula]”.

Antes de qualquer coisa, é importante frisar que não é dentro do modo de produção capitalista que teremos acesso a todas as informações sobre um determinado fato, independentemente de qual sujeito venha.

Mesmo com o que se chama de “democratização da comunicação”, o que pode ocorrer é que os movimentos sociais possam produzir uma ou outra coisa, mas com potência estético-técnico bem menor que os grandes meios, logo a atração para os seus produtos será bem menor que os “tradicionais”. Isso seria querer uma coalizão entre trabalhadores e patrões também na mídia, já que todos teoricamente teriam seu espaço.

Ou seja, como sempre ocorre, migalhas para a maioria e banquetes cinco vezes ao dia para os poucos que podem pagar.

A Internet é a prova disso. É inegável que nela se tem o espaço físico para distribuir várias produções alternativas, mas a grande questão é o seu potencial enquanto meio. Apesar de ser algo mundial, o seu acesso é restrito a pouquíssimas pessoas.

Além disso, mesmo que se tenha, como no Brasil, as lan houses em bairros de periferia, nós temos o acesso à Internet, mas não a tudo o que ela oferece. Com uma rápida pesquisa perceberemos que nelas os sites mais procurados são os jogos em rede, MSN e Orkut. Se as pessoas vão fazer alguma pesquisa, para-se na primeira opção dada pelo Google.

Mesmo os blogs de “esquerda” citados tem um público bem menor que um site oriundo de um grande grupo midiático. Os que têm um público razoável são aqueles cujas pessoas já tiveram passagem pela mídia e são conhecidos de alguma forma (caso do Paulo Henrique Amorim, que não é de esquerda, apesar de crítico do Lula).

Para um blog de uma pessoa “comum” atrair as pessoas é muito difícil e os exemplos são extremamente pontuais, logo, em nossa opinião, não é real a democratização da informação trazida pela Internet. Como falamos anteriormente, tem-se o acesso à produção, mas fica nisso.

Arranjar paliativos aos montes é fácil, difícil é fazer algo realmente construtivo numa sociedade que tem como uma das suas milhares de contradições deseja a liberdade de expressão e cortá-la caso seja contrária à opinião ou grupo dominante. Só noutra forma social, que acreditamos ser a comunista, o acesso aos meios de produção será a todos como e quando quiserem.

No último texto da série “O dia do caçador”, falaremos especificamente do presidente Lula e sua azia demasiada com a imprensa. Os mitos um dia caem, “a história reconhecerá” isso também.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail M. (Volochinov). Marxismo e Filosofia da Linguagem: Problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem – trad. Michel Lahud & Yara Frateschi Vieira. 11.ed. São Paulo: Hucitec, 2004. 196pp. (Linguagem e Cultura 3).

MARX, Karl & ENGELS, Friendrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach) – trad. José Carlos Bruni & Marco Aurélio Nogueira. 5.ed. São Paulo: Hucitec, 1986.

2 comentários:

  1. Democratizar a internet não existe antes de democratizar a vida como um todo.
    O que, convenhamos, é extremamente utópico.

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  2. "Antes de qualquer coisa, é importante frisar que não é dentro do modo de produção capitalista que teremos acesso a todas as informações sobre um determinado fato, independentemente de qual sujeito venha."
    Então, discordo dessa frase. A internet oferece a possibilidade disso acontecer. Todo o resto, a relação acesso-quem acessa-oq acessa, eu concordo.
    Eu acho que devemos sempre criticar a sociedade capitalista, mas mantendo a disputa hegemônica como tática, ou seja, pensando sim na criação de postos de trabalho, jornais e revistas, tv's e rádios de esquerda. Assim, naum teremos camaradas combativos perdendo seu sono ou cuspindo pra cima!!

    abraços!!

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