sábado, 17 de agosto de 2013

"Eu sabia que tinha que ter ficado em casa"

As perguntas sobre o time que eu torço sempre aparecem e já contei algumas delas por aqui. Esta semana foi a vez de não deixar dúvida alguma: às vezes uma camisa é só uma camisa, mas em (pouquíssimas) outras vezes ela é mais do que parte de uma coleção, é uma representação em tecido de um sentimento inexplicável.

Saindo com o meu cachorro na terça-feira, acabei encontrando com um colega jornalista que mora a duas ou três ruas da minha. Outro dia, só que à noite, eu estava com a camisa do Fluminense e ele me perguntou se eu torcia pelo tricolor carioca, quando disse que não, que ela fazia parte da minha coleção. Desta vez eu estava com a do Palmeiras, um modelo que tenta simbolizar a bandeira da Itália. Enquanto o Baleia me puxava, o diálogo foi diferente:

- Com camisa de time. Mas você torce por algum?

- Torço para o Palmeiras - disse eu, apontando para o escudo no peito. Inclusive, essa aqui tem o meu nome, para não deixar dúvidas - e apontei para a barra da camisa.


CÚMPLICES
Hoje acabei tendo conflito de agendas clubísticas. Ainda que muito cansado - ou até por conta disso - fui para o jogo de despedida do CSA na Série D, só que este começava às 17h e o Palmeiras enfrentava o Paysandu a partir das 16h20. Como já tinha ingresso comprado há algum tempo, fui, mas mantendo o "ritual" desta Série B: vestido com uma camisa do Verdão.

Como levo o smartphone para escutar o jogo, acabo tendo só opção de rádio FM e desta vez nem a partida local seria narrada pela única rádio que tem transmissão esportiva em frequência modulada. Na CBN, nada também, já que o sinal sai do Rio de Janeiro, que só transmitiria as partidas da Série A.

Eu sei que em frente ao Rei Pelé - muro da Veleiro - há um bar que assina TV fechada e sempre tem jogo ali. Atravessei a rua para conferir o placar, ao mesmo tempo que um rapaz numa moto estacionava. O amigo dele informou antes de eu conseguir conferir o placar: "O Palmeiras já tá perdendo". Olhei para tirar a dúvida e ainda deu tempo para ver, aos 16 minutos, Juninho chutar com perigo.

A vantagem de então em pontos não me preocupava. Não pretendo contar (ao menos agora) sobre o jogo do CSA, mas a minha agonia em não ter informações sobre o jogo do Palmeiras. Ah, por algum motivo inexplicável, o chip que uso não consegue conectar a internet por pacote de dados no smartphone.

Intervalo do jogo aqui e a desgraça do serviço de som do Rei Pelé anuncia os placares da Série B. Para começar, derrota da Chapecoense para o Paraná por 2 a 0. Bom, pensei eu, basta um empate que já abrimos mais um e tiramos a diferença do aproveitamento por conta dos jogos a menos deles. Só que ao final até que o Palmeiras foi anunciado com 1, mas o Paysandu tinha 2. Olhei a hora e percebi que o jogo no Pacaembu já deveria estar no fim.

Minutos depois, do nada, uma gritaria. Como quase sempre, todo mundo olha para saber se a polícia estava fazendo o que sabe fazer de melhor: batendo em algum torcedor "como se não houvesse amanhã". Só que não era nada disso. Houve alguém comentar que o Palmeiras tinha empatado, mas queria uma informação "oficial". Como estava perto da hora de começar os jogos da Série A, liguei na CBN, mas só falavam dos quatro do Rio de Janeiro.

Até que, em meio à minha agonia, uma mulher que vendia copos d'água parou um pouco abaixo e perguntou quanto estava o jogo.

- Estava 2 a 1 para o Paysandu, mas não tenho certeza.

- 2 a 1 para o Paysandu? Eu sabia que tinha que ter ficado em casa hoje. Se tivesse lá, não tava perdendo. E a Chapecoense? - mostrando-se entendida no assunto.

- Estava perdendo de 2 a 0 para o Paraná.

- Ainda bem. Se a gente empata, coloca 6 pontos neles.

Um senhor tentou entrar na conversa, mas ficou surpreso pelo fato da Chapecoense estar próxima, ao que ela respondeu:

- A Chapecoense é um time bom, só não está melhor que o Palmeiras, mas tá ali perto.

Eu expliquei que o time catarinense estava com 2 jogos a menos e que tinha virado contra o Sport em plena Ilha do Retiro em rodadas anteriores, enquanto o Palmeiras perdeu - vá lá que com uma IMENSA ajuda da arbitragem.

Até que um dos meninos que estava ao meu lado me confirmou, finalmente!, que o Palmeiras tinha empatado. Passei a informação para a ambulante e ela vibrou. Saindo logo em seguida para continuar a vender seus copos d'água.

Minutos depois da conversa, ouvi outro grito alheio no meio da torcida. Logo pensei: "Viramos!". Mas e a confirmação? A desgraça do serviço de áudio do estádio não falou mais nada depois do intervalo. Quer dizer, durante o jogo só tratou de anunciar o hino nacional e os resultados da Série B, quando estávamos perdendo.

Segui sofrendo com o CSA ao vivo e esperando os maledettos da CBN fazerem o plantão. Demorou, discutiram a situação dos 4 grandes na rodada, se o Fluminense só fugiria do rebaixamento, se a patrocinadora ia abandonar o barco, se o comentarista era pessimista, se, se, se... 

Até que a moça falou sobre todos os jogos da rodada. Empates ali, com mais uma buscada no final da Chapecoense, 2 a 2 com o Paraná, mas e o Palmeiras? Palmeiras 3, Paysandu 2. Uma comemoração contida.

Final de jogo no Rei Pelé e enquanto esperava sentado todo mundo sair, um rapaz com um rádio ao ouvido parou mais abaixo e disse:

- Grande vitória a de hoje, hein? Que virada!

Eu sem saber direito como tinha sido, confirmei com a cabeça como se estivesse ciente de todo o sacrifício de levar dois gols em casa e virar com gol aos 49 minutos! A comemoração pra valer ficou para casa, quando revi os melhores momentos do jogo, sofri junto como se não soubesse do placar final. Seguimos líderes da Série B, com mais dificuldade do que alardeiam por aí, e espero que demore um pouco para que me perguntem novamente para que time eu torço.

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