terça-feira, 13 de maio de 2014

[Copa] E se não tivéssemos A Guerra

Uma boa e outra má notícia. A boa notícia é que a coluna "E se...", que conta como as Copas do Mundo poderiam ter outro resultado, está de  volta, com um dos textos mais legais que eu fiz. A má notícia é que, de novo, não devo conseguir terminar a tempo. O jeito é resgatar os textos que faltam e que já havia escrito há quatro anos, este e os que conformam o especial da Copa de 1950, e esperar ter tempo para pesquisar e escrever até a Copa na Rússia.

Em ano de Copa do Mundo todos nós sabemos que o planeta inteiro para para ver um grande espetáculo. Para quem gosta de futebol, não é preciso algo em específico para fazer a nossa programação diária ser baseada em jogos a serem vistos pela TV ou ouvidos pelo rádio. Nem que ouçamos uma partida no trabalho ou vejamos o andamento de vez em quando por programas minuto-a-minuto.

Apesar disso tudo, da importância que um “simples” esporte pode ter na vida de alguém, há momentos em que percebemos que há problemas bem maiores ainda a serem resolvidos – se é que um dia serão. Mesmo no meio do negócio futebol, vemos coisas cotidianas: xenofobia, racismo, violência, falta de respeito com o próximo, falta de estrutura...

Já contamos na série “E se...” que a ideia de Jules Rimet para realizar um Mundial de futebol surgiu um pouco antes da Primeira Guerra Mundial e que, por causa Dela, teve que adiar por muitos anos. Agora “destacamos” o período entre as Copas de 1938 e 1950.

Antes de partimos para o que poderia ter acontecido, é bom frisar que o período entre guerras demonstrou o quanto um ser humano pode humilhar o outro. Se houve a necessidade de um país como a Alemanha alimentar um nacionalismo extremado – nazismo –, isso surgiu porque foi verdadeiramente humilhado após a Primeira Guerra. Algo parecido ao momento atual, em que a "crise" econômica faz crescer as ideologias extremistas na Europa, com neofascistas se espalhando pelo continente, culpando o outro (geralmente o imigrante) pelas desgraças atuais.

Além disso, enquanto Hitler e Mussolini cresciam na Europa, os “grandes países” preferiam olhar para o governo stalinista – o qual também foi autoritário e dizimou muitas pessoas –, principalmente por ser uma proposta diferente para o mundo.

Pena que a Segunda Guerra Mundial teve que nos mostrar quanto irracional pode ser o homem e pena maior ainda de, após 70 anos, sabermos que as coisas pouco mudaram quanto a isso.

Imagem: Pedro Lucena
>> E SE...
Não importa que o Brasil tinha se candidatado para realizar a Copa de 1942 através do jornalista Célio de Barros...

Não importa que Jules Rimet preferisse a Alemanha, cuja candidatura veio um ano antes da nossa e tinha acabado de realizar as Olimpíadas de 1936...

Não importa que com a invasão de Hitler a Polônia em 1939, o Brasil era favorito para sediar a Copa seguinte e que deveria voltar à Europa quatro anos depois...

Não importa que SE o Mundial fosse aqui poderíamos contar num mesmo time com jogadores como Leônidas da Silva, Jair da Rosa Pinto, Zizinho, Heleno de Freitas e Ademir Menezes...

Não importa também que a Itália teria a chance de conquistar um tricampeonato inédito, com a participação de um destaque juventino, Sentimenti III; ou que a Hungria poderia contar com Puskas já em 1946; ou que a Suécia, ouro nas Olimpíadas de 1948, poderia ter aparecido em Mundiais 12 anos antes; ou que a Argentina tivesse uma das melhores seleções daquela época.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não seria necessário que o Brasil entrasse numa batalha que não era sua, e que várias famílias daqui não chorassem por seus mortos.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos 40 mil timorenses mortos simplesmente porque Portugal resolveu apenas observar as batalhas entre australianos (apoiados por civis locais) e japoneses numa de suas colônias.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos a nação alemã dividida ao meio entre estadunidenses e soviéticos como um simples pedaço de pão.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto, e não teríamos temido, uma arma capaz de dizimar 170 mil pessoas em duas cidades japonesas por simples arrogância.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto o holocausto, com cerca de 5,9 milhões de judeus mortos e, posteriormente, seus descendentes sedentos por vingança.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto 50 milhões de pessoas morrerem em apenas seis anos, como numa terrível pandemia que matou, em sua maioria, civis.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, teríamos mais que duas Copas do Mundo, mas milhões de pessoas vivas e seguindo suas vidas normalmente, sem medos ou lamentações.

O mundo poderia estar melhor ou pior, mas ao menos esta mancha não estaria marcada para sempre na história da humanidade. Em guerras não há vencedores.

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