quarta-feira, 19 de junho de 2013

‘Cabeça no jogo’ e as novas formas de mostrar o futebol


Em meio a tanta inovação tecnológica, como o “futebol de botão do 3º milênio”, do “Central da Copa” na Rede Globo, o que mais me chamou a atenção na cobertura da estreia do Brasil na Copa das Confederações Fifa Brasil 2013 foi um programa que passou no horário do jogo, comentou o jogo, mas não mostrou nenhuma imagem da partida. Eu só soube da existência do “Cabeça no jogo” da ESPN Brasil por conta do acompanhamento que fazia pelo Twitter. Achei estranho o nome e só depois da metade do primeiro tempo é que acessei pela internet o streaming da transmissão.

Marcelo Duarte, Celson Unzelte, Alexandre Oliveira, Leonardo Bertozzi e José Roberto Malia eram as cabeças que víamos em cinco quadros diferentes, com tempo e placar no lugar tradicional, o canto esquerdo superior, e um espaço na metade inferior para tuítes e vinhetas, como imagem de Felipão e Murtosa, cornetas e gols. Segundo a ESPN Brasil, a proposta era garantir “comentários bem humorados e análises fundamentadas” para mostrar o “torneio como você nunca viu”, nas partidas do Brasil, semis e final da Copa das Confederações. Dentro do processo de convergências dos meios, a atração foi transmitida pelo canal de TV fechada, no site na internet, na rádio online do grupo, via tablet e por smartphone.

Não estou entre os apaixonados pelo modelo brincalhão de tratar o futebol. Acabei por acompanhar o programa pela curiosidade do formato, que me lembrou do que fez o grupo Record, ainda sob comando de Silvio Santos e da família Carvalho, na Copa do Mundo Fifa de 1982. Com a exclusividade adquirida pela Globo, Silvio Luiz transmitiu as partidas no rádio e criou uma campanha publicitária cujo título era: “Copa do Mundo: olhos na TV, coração na Record”, que incentivava o público a baixar o volume da TV e ouvir a locução da emissora. Além disso, assim que acabava a transmissão da concorrente, a Rede Record exibia uma mesa-redonda sobre a partida.

Momentos de silêncio e pedidos de palmas

Em tempos de maior participação do público, ainda que não a ideal, alguns tuítes eram lidos e o programa permitia que outras pessoas ligassem para participar e comentar a partida. Porém, ao menos neste programa inicial, foram poucas pessoas “desconhecidas” a participar.

Pelo que acompanhei, houve a participação dos cantores Reginaldo Rossi e Nasi, do humorista Ary Toledo e de outros profissionais da ESPN, caso do ex-tenista Fernando Meligeni, de Mauro Cezar Pereira e Antero Greco. Quase todos eles destacando as vaias recebidas pela presidenta Dilma Rousseff e pelo presidente da Fifa Joseph Blatter, que aumentaram com o seu pedido por mais educação. Vale lembrar que a ESPN é um dos grupos comunicacionais que mais mostram denúncias contra a estrutura de poder que envolve o futebol nacional e internacional. Assim, era até óbvio ouvir mais coisas sobre o fato de antes da partida lá que na transmissão da Rede Globo.

Sem os direitos de exibição do campeonato, víamos a reação dos jornalistas, ainda sem o tempo ideal para garantir um entrosamento melhor e maior participação de todos os cinco. Alguns momentos de silêncio eram percebidos, até mesmo por conta das atenções voltadas à partida, que também gerava a chamada de atenção para uma possível jogada mais perigosa do Brasil ou do Japão. Além disso, alguns pedidos de palmas para jogadores que recebiam closes da transmissão oficial também foram vistos, casos da saída de Neymar após o final da primeira etapa e de Hulk, jogador mais questionado da Seleção, substituído no segundo tempo – e que não recebeu nenhum comentário sobre as pernas, como fez Galvão Bueno na transmissão global.

Novidade no Fantástico

Houve direito até à participação “invisível” do estagiário Arthur, que era chamado para confirmar determinado dado sobre a partida, além de ser o responsável pela pipoca, mastigada sem nenhum pudor ao longo do segundo tempo.

O intervalo do jogo também trouxe os melhores momentos, mas do “Cabeça no jogo”, com as frases mais engraçadas selecionadas pelos responsáveis pelo programa, que terminou assim que acabou a partida, um bom tempo antes das transmissões da Globo e da Band. Para quem acompanha os canais ESPN no Brasil, o “Cabeça no jogo” fica como uma alternativa para fugir das narrações “tradicionais” para a TV local.

Para finalizar, já que o “Central da Copa” foi citado, em meio a tanta tecnologia, além do já citado campo de botão virtual, havia projeção de jogadores da Seleção e comentários de Caio dentro do campo, pareceu muita coisa para pouco tempo. Afinal, além da parte comandada por Tiago Leifert e Alex Escobar, havia o tradicional papo de Galvão Bueno com seus comentaristas, direto de Brasília. Em meio a tanta coisa, o auditório, que caracterizou o programa na Copa do Mundo Fifa 2010, pouco participou. Até mesmo uma convidada global, a atriz Daniele Suzuki, pouco falou ao longo da atração.

A boa novidade do final de semana na Globo foi a participação de Marcelo Adnet durante o Fantástico, especialmente o primeiro esquete, em que ele interpretou o torcedor que se acha estranho em meio ao “futebol moderno”, tendo que pagar caro por lanches dentro de um estádio, em que mal se pode torcer como sempre se fez.
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[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa]

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