quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

[Gauchão 2012] Enquanto os grandes trocam birras...

Sou de fora do Rio Grande do Sul e não só apaixonado por esportes, especialmente pelo futebol, como o dito cujo é o meu observável de pesquisa. Se eu tanto temi transformar a minha paixão em objeto de estudo, só percebi nesse quase um ano em terras gaudérias que é muito bom estudá-lo. Pois bem, uma das perguntas que geralmente me fazem é: "já escolheu para quem torcer?".

Durante um tempo até dizia que ainda não, por mais que não gostasse de vermelho por conta da rivalidade alagoana, o Grêmio não me atraía. Depois de um tempo, percebi que se um gaúcho fosse para Alagoas provavelmente iria se recusar a ter de escolher entre CSA, CRB e, nos últimos anos, o ASA. Por que eu tenho "obrigação" de escolher um time no Rio Grande do Sul, por que um da dupla Gre-Nal?

Com esse acompanhamento mais de perto do Gauchão deste ano - e após um longo período de convívio com um amigo xavante (torcedor do Brasil de Pelotas, para os de fora) - fui percebendo algumas coisas de como o futebol é tratado no Rio Grande do Sul, escrevendo, inclusive, sobre elas. Parece que grandes grupos comunicacionais e a própria Federação se preocupam mais com o sucesso da dupla Gre-Nal, quer dizer, quase que exclusivamente.

Por exemplo, ouvindo a narração de uma das rádios de um jogo do Cruzeiro, ainda situado em Porto Alegre, o repórter de campo não sabia a pronúncia do nome do jogador que iria entrar. Eu sabia, pois ouvi outros jogos do Cruzeirinho por rádios web e/ou com streaming pela internet. Enquanto o time seria "prejudicado" por uma decisão do TJD que até este momento não foi publicada em site algum, pouco vi e ouvi representantes do clube que perdeu seis pontos que, numa coincidência cruel, acabou "cedendo" a vaga para o Grêmio na segunda fase. Nada também do fim do patrocínio do Banrisul para 11 clubes - que praticamente foi comemorado pela FGF.

O até então exemplo clássico dessa postura era o Globo Esporte RS, que desde o ano passado conta com todo o tempo disponível para tratar do esporte local. Quer dizer, do futebol gaúcho, em detrimento a grandes clubes esportivos, como o Grêmio Náutico União. Mas ainda é pior, pois o futebol local parece ser restrito à dupla Gre-Nal. Parecia. Dentro de algumas horas, ele será apresentado direto do centro de uma cidade do interior. O motivo? A final da Taça Piratini será com Novo Hamburgo, aqui do Vale dos Sinos, e Caxias, da região serrana.

SEMIFINAIS
Na primeira partida do domingo, o Grêmio estreava Vanderlei Luxemburgo no comando técnico de um elenco que passou por cima do favorito Internacional nas quartas de final sob a batuta do interino Roger. O Caxias vinha com a segunda melhor campanha no geral, mas parecia ser a zebra em seu próprio estádio, o Centenário. Pensariam os gremistas de que se já foi o Inter, o que será do time grená do outro lado?

Não sei. Numa partida razoável - já que a boa mesmo estava por vir à noite -, o Grêmio abriu o placar no segundo tempo com Kleber, após os goleiros Victor e Paulo Sérgio evitarem alguns gols até ali. Aos 39 minutos, Marcos Paulo cabeceou para o gol e, com 17 anos, fez o seu primeiro tento enquanto profissional do Caxias. 

Quem esperava aquele empate, seria a chance para se vingar da final da Taça Piratini do ano passado, quando o time da Serra abriu 2 a 0 ainda no primeiro tempo, em pleno Olímpico, e cozinhou o jogo até levar o empate depois dos 50, perdendo nos penais?

O capitão Lacerda ainda acertou um belo cabeceio, defendido por Victor, que parecia estar retornando aos seus bons tempos.

Confesso que sou fascinado por ver cobranças de pênaltis - desde que o meu time não esteja envolvido. Se o futebol é imprevisível, os pênaltis são ainda mais. Não tinha como apostar em nenhum dos dois, por mais que Victor ainda estivesse com a camisa tricolor. Marco Antônio, que dera duas assistências para Kleber nos últimos dois jogos, muito cobrado para ser o substituto de Douglas, o fugitivo, foi para a cobrança. Todo mundo, gremistas ou não, devem ter pensado: "do jeito que está, vai errar!".

Paulo Britto acabara de secar sem vergonha alguma o lateral-esquerdo Fabinho, "muito bom jogador, bate bem na bola, mas nunca se sabe". Não dera certo. Com Marco Antônio, nada de exprimir o que todos pensavam naquele momento. Pois bem, o xará do narrador de chavões irritantes defendeu o pênalti. No último, o goleiro caxiense foi para a cobrança. Desde o início, o narrador provocando, dizendo que nunca tinha visto goleiro fechar cobranças. Paulo Sérgio bateu forte, Victor desviou, a bola foi no travessão e entrou!

A final sem qualquer integrante da dupla Gre-Nal estava confirmada. Restava saber se seria o confronto entre os dois melhores do torneio até aqui, Caxias e Novo Hamburgo, ou o clássico de Caxias do Sul, o CAJU.

E que jogo o de Novo Hamburgo X Juventude. O alviverde abriu o placar no início, depois o Noia empatou com gol de atacante ídolo do papada, Mendes, que fez seu primeiro tento com a camisa anilada. Nova jogada aérea, muito confusa por sinal, e alguém, o zagueiro do Ju ou Alexandre, colocou para o gol.

Acompanhando a peleja por uma rádio de Novo Hamburgo, pude perceber o desespero do narrador no segundo tempo, com o anilado recuando mais e mais. Aos 39, da mesma forma que em Caxias um pouco mais cedo, Athos chegou chutando dentro da área, após espanada do zagueiro rival, que Eduardo Martini só olhou.

Martini, ex-Grêmio que falhara na estreia contra o Inter, que ficara desacordado na quarta de final. Ele que, aos 46 minutos de jogo, quando nem o narrador acreditava, mandou um balão pra frente que foi cair nos pés de Paulinho Macaíba. Atleta que tanto conheço pelas passagens no CSA no nosso último título alagoano em 2008, e no ano em que eu virei Azulino de coração em meio à segunda divisão local, em 2010. Macaíba encobriu o goleiro e fez o narrador da Rádio ABC gritar até quase perder a voz. Esse sim refletiu o sentimento da torcida ao longo do jogo, do gooool murcho àquele GOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLL no melhor estilo Galvão Bueno gritando "É tetra! É tetra!".

Já havia acompanhado jogos com narração oriunda de Santa Cruz do Sul, para jogos do Santa Cruz, e me impressionara com o fato de os locutores das rádios defenderem os clubes dos seus municípios. Diverti-me muito com isso, mas o do Novo Hamburgo ficará na minha memória pelo conjunto da obra. A tristeza em cada gol sofrido, a alegria da virada, a revolta com o recuo do time e o grito escandaloso com a classificação.

Daqui a algumas horas, Novo Hamburgo e Caxias entrarão em campo no Estádio do Vale para uma final, antes de qualquer coisa, merecida. Oriundos da chave 2, foram os dois melhores clubes até aqui com uma folha mensal de 220 mil reais, que deve ser menos do que o Jô recebe para ser reserva do Inter e só fazer uma partida razoável em mais de seis meses de colorado.

MÍDIA ALTERNATIVA ATIÇA O ANTI-GRENALISMO

Em meio a essa incessante busca de informações por todos os clubes, acabei conhecendo mais a fundo sites como o Copero FC e o Toda Cancha, feitos para os clubes do interior - e, por alguns torcedores desses clubes. Além do Impedimento, que apesar de ser mais voltado ao futebol sul-americano, não perde as tradições gaúchas. Acompanhar o Twitter dos três é certeza de informação sobre o futebol local, e muitas vezes com direito a minuto-a-minuto e várias piadas.

Sou alguém que busca a olhar a mídia de forma crítica, mas com ajuda de tantos torcedores fanáticos por contar as histórias de clubes "menores", isso vem ficando ainda mais fácil e divertido para o jornalismo esportivo.

Para piorar, além da cor do Inter e do Grêmio ter contratado o traíra Gladiador e o Profexô, que tanto tenho apreço (ironia), vejo disputa entre torcedores da dupla para saber quem foi pior na Taça Piratini... Enquanto os grandes trocam birras, Novo Hamburgo ou Caxias garantirão um segundo turno tranquilo e resgatarão um título para o interior, que apesar de várias adversidades, será o grande vencedor de 2012!

2 comentários:

  1. Como também não tenho apreço por nenhum dos dois grandes, gosto muito quando a disputa gaúcha fica entre o interior.
    Tenho um pouco de simpatia pelo Juventude, talvez pelos tempos de parceria com a Parmalat, assim como aquele alviverde que toma conta deste coração.
    Estava torcendo pelo Caju, mas muito legal ver o Novo Hamburgo chegando, com merecimento, como você disse.
    Muito legal o texto.

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  2. Ah, sabendo que o Macaíba veste as cores do Novo Hamburgo, torço por eles nesta final.
    Um dos ídolos do já não tão recente último título do CSA.

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