quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Por que "comunicação de massa"?

O trecho de um dos capítulos do livro Ideologia e cultura moderna, de John B. Thompson, separado para a análise, traz questões bastante pertinentes ao que se refere ao tema “comunicação de massa” por tratar do assunto de maneira a desvelar algumas questões ligadas a ele e a relação entre a posse dos meios técnicos com o poder que isso permite.

Thompson entende a mídia como um importante instrumento nas sociedades atuais, pois serve como fonte da maior parte de conhecimentos discutidos na sociedade. Mesmo quem crítica a chamada grande mídia utiliza-se, mais dia ou menos dia, de produtos dela para desferir comentários políticos, esportivos ou culturais.

O capítulo em questão pretende analisar o impacto interacional dos meios técnicos sobre uma determinada sociedade, afinal de contas, o desenvolvimento tecnológico é oriundo e ao mesmo tempo determina algumas características de um momento sócio-temporal.


DIFUSORA DE INFORMAÇÕES

Para iniciar esta questão, o tópico “Algumas características gerais dos meios de comunicação” traz pontos que viraram comuns, mas que carregam alguns erros, caso da própria denominação “comunicação de massa”.

Assim, o autor lembra que quando se fala em massa, leva-se em consideração que todos os produtos culturais podem atingir qualquer pessoa, quando na verdade há artigos produzidos pela Indústria Cultural cuja audiência é pequena, para públicos especializados (livros e revistas, por exemplo).

Segundo o autor (2009, p. 187), “o ponto importante sobre comunicação de massa não é que um determinado número ou proporção de pessoas receba os produtos, mas que os produtos estão, em princípio, disponíveis a uma pluralidade de receptores”.

Porém, não se pode esquecer de levar em consideração que cada pessoa que consome tais produtos culturais têm suas influências particulares, por mais que boa parte da mídia pense o contrário – por exemplo, o telespectador “médio” (Homer Simpson) do Jornal Nacional, entendido por seu editor-chefe.

Assim, “ao invés de ver essas pessoas como parte de uma massa inerte e diferenciada, gostaríamos de deixar aberta a possibilidade de que a recepção das mensagens desses meios possa ser um processo ativo, inerentemente crítico e socialmente diferenciado” [grifo nosso]. (op. cit., pp. 287/288).

Outro ponto para discussão é como pode ser entendida a comunicação num processo que em sua maior parte ocorre no sentido transmissor-receptor, quando a comunicação como tal necessita ser dialógica para se efetivar. Por mais que haja alguns elementos para tentar diminuir esta distância entre produção e recepção, o processo apresenta pouca evolução com as tecnologias utilizadas e os interesses vigentes.

Por isso que Thompson (op. cit., p.288) opta por definir a “comunicação de massa” enquanto “a produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação”, isto num contexto de mercantilização das formas simbólicas produzidas.


CARACTERÍSTICAS DOS MEIOS

Após essa necessária avaliação sobre o termo em si, o autor centra a análise nas quatro características, mais teóricas, do tema.

Primeiro, a produção e difusão institucionalizadas de bens simbólicos. Para isto acontecer, é necessário que já se tenha disponíveis elementos que garantam a fixação dos conteúdos e a difusão entre os mais diversos locais e públicos. Porém, ao mesmo tempo em que necessita desta propagação, as instituições midiáticas precisam controlar este acesso por se tratar da forma que possuem para adquirir dividendos (valorização econômica dos objetos ou serviços).

A segunda característica apontada é que ela institui uma ruptura fundamental entre a produção e a recepção de bens simbólicos. Como já colocamos anteriormente, há uma nítida separação entre os atores sociais que produzem e os que recebem as mensagens, num fluxo de mensagens de mão única.

A característica seguinte é que a “comunicação de massa” aumenta a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no espaço em virtude dos meios de fixação estabelecidos e da grande possibilidade permitida à transmissão dos bens simbólicos – sempre considerando os limites sociais e financeiros.

Por fim, ela implica a circulação publica das formas simbólicas, com destaque para o fato de serem

acessíveis, em princípio, a qualquer um que tenha os meios técnicos, as habilidades, os recursos para adquiri-los. Embora a natureza e a finalidade desse domínio público possa ser, em princípio, ilimitada, ela é sempre limitada, na prática, pelas condições sócio-históricas de produção, transmissão e recepção.

E estes limites geralmente são ou impostos pelo Estado ou permitidos por ele. Por exemplo, por mais que a legislação brasileira traga limites quanto à posse à programação dos meios de comunicação, com destaque para as concessões de rádio e TV, o que se vê é que o processo é cotidianamente desrespeitado.

Por mais que Thompson afirme no final que não analisa a questão do conteúdo, a qual ele lembra a importância, é justamente no poderio técnico que consta a grande dificuldade de produção de algo alternativo ao que vemos com maior frequência.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social científica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2009.


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