quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

MST e Veja: o eterno alvo (Final)


"A EXPLOSÃO DA BARBÁRIE”

O mais novo estopim do ataque midiático sobre o Movimento dos Sem-Terra foi a destruição de 10 mil pés de laranja e de 28 tratores, segundo a revista, da Sucocítrico Cutrale, a maior produtora de sucos de laranja do Brasil.

A grande imprensa aproveitou o fato de ter ocorrido sob uma região “produtiva” para falar mal do movimento através deste fato isolado. Na matéria “A Explosão da Barbárie”, a revista do Grupo Abril aproveitou para contar histórias de perseguição a trabalhadores a ponto de, prestem bastante atenção, falar sobre a exploração do trabalhador em termos marxistas:

“Ali, como em diversos assentamentos espalhados Brasil afora, o MST é o patrão; os camponeses, seu proletariado. Tal qual uma boa empresa capitalista, a organização sabe captar e multiplicar o seu dinheiro” (p. 65).

Os políticos se alvoroçaram em torno do assunto. Os da bancada ruralista reativaram a ideia de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o MST, enquanto o Governo se calava.

A liderança do Movimento, a princípio, não conhecia os motivos da destruição das máquinas, pois o movimento sempre fora pacífico – daí a dúvida até se foi o MST autor da ação -, porém nunca deixou de afirmar que a região foi grilada pela Cutrale e estaria sendo contestada pela justiça e pelo Incra, que havia perdido a causa em segunda instância.

Um abaixo-assinado contra a criminalização do MST, assinada por estudiosos como Eduardo Galeano, Emir Sader, István Mészaros, Michael Lowy, Ricardo Antunes, Roberto Leher e Vito Gianotti, traria à tona o objetivo de tantos ataques:

“impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola – cuja versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975 – e viabilizar uma CPI sobre o MST. Com tal postura, o foco do debate agrário desloca-se dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. A revisão dos índices evidenciaria que, apesar de todo o avanço técnico, boa parte das grandes propriedades não é tão produtiva quanto seus donos alegam e estaria, assim, disponível para a reforma agrária.”

O texto ainda traz o fato de que não há imagens de que foram os sem-terra que cometeram tal atitude e, o principal, que “na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos”.

Voltando à edição da revista, ela traz ainda o resultado de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Agricultura ao Ibope – o mesmo instituto envolto a problemas sobre audiência televisiva - em nove assentamentos para “provar” o quão retrógrado é o modelo de reforma agrária do governo Lula – crítica feita desde FHC. Um detalhe importante que faltou citar é que os alimentos que chegam à mesa do brasileiro, em sua maioria, são de origem da agricultura familiar, afinal a produção das grandes empresas, como a da Cutrale, é para exportação.

E tanto há acampamentos produtivos que tivemos edições em Maceió de feiras camponesas do MST e da Comissão Pastoral da Terra, esta última por três vezes este ano, com produtos orgânicos, mais saudáveis para o consumo humano.

Porém, por incrível que pareça, chegamos a concordar com algo da matéria assinada por Sofia Krause, Diego Escorteguy e Raquel Salgado: “‘A reforma agrária não é apenas a redistribuição de terras improdutivas, mas um meio de fazer com que os lavradores consigam produzir nos assentamentos’, explica o professor Gilberto de Oliveira” (p. 68).

Não se pode ajudar apenas ao dar terras improdutivas, espalhados por milhões de hectares ainda no Brasil, mas permitir que educação, saúde e segurança chegam aos assentamentos – assim como deveriam chegar a todos os lugares, seja no campo ou na cidade. Os trabalhadores rurais precisam também de condições de trabalho, de sementes a orientação de plantio. Quanto o Governo federal investe em multinacionais?


MST PÓS-GOVERNO LULA

Sobre o Movimento, se analisarmos as ações antes do Governo Lula e as durante o governo, é verdade que elas diminuíram em quantidade, só que isso foi reflexo das esperanças depositadas num governo que se esperava ser de esquerda. Mas o que se vê é que ajuda pouco a quem precisa e muito a quem já tem. O MST se engessou por um tempo, mas aos poucos volta às suas reclamações por justiça social no campo e uma distribuição de terras.

Quanto à mídia empresarial, ainda veremos muitas notícias negativas ao longo dos anos. Como disse um amigo meu, mesmo que o MST tivesse expropriado as laranjas para distribuir aos pobres não seria publicada nenhuma linha parabenizando a ação.

O aviso midiático parece ser: “Protestem, mas não a ponto de importunarem nossos interesses. Por isso, esperem nosso aval”.

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