segunda-feira, 10 de agosto de 2009

“Não serás acompanhado!”


“Não serás acompanhado! Ninguém sentará ao teu lado, falará contigo”. Parece que essas frases são ouvidas por mim diariamente. Como a maioria das pessoas que me “conhece” sabe, não sou de muitas relações interssociais. Tenho os meus motivos, toda uma construção sócio-histórica “à favor” disso.

No entanto, tem dias que por mais que eu não queira companhia, as pessoas se aproximam, conhecidos aparecem no meio do ônibus, ou simplesmente um louco resolve falar comigo no ponto-de-ônibus. Por mais incrível que seja, fico impressionado com a quantidade de pessoas que resolvem, do nada, falar comigo em locais públicos.

Paremos por aqui. O assunto da crônica não será esse. Mas justamente quando o mundo parece conspirar comigo mesmo e me deixar mais solitário do que nunca, mesmo que esteja em ambientes lotados de pessoas.

Foi o caso da sexta-feira passada. Fui a um lugar em que imaginava topar com colegas da universidade e até, dependendo, da companhia deles, acompanhar o evento com outras pessoas. O motivo de tanta “certeza” era que ia acompanhar duas peças, uma na sexta e outra no sábado, com a participação de um ator que foi professor nosso e é muito querido por todos.

Como saí direto do estágio, acabei por chegar muito cedo, uma hora antes de a peça começar. Aproveitei para comer algo e esperar que o tempo passasse mais rápido. E quando a gente quer que o tempo passe, parece que ele resolve nos perturbar e demora uma “eternidade” para passar.

Antes disso, quando fui comprar o ingresso, apresentei o meu comprovante de matrícula e eis que encontrei alguém que também passou pelo COS/Ufal. A pergunta? A de sempre: “continua a mesma bagunça por lá?”. Cuja resposta, infelizmente, continua a mesma.

Até que após não ter mais placas de homenagem para olhar, a sala do modesto Teatro de Arena – que fica ao lado do, eternamente em reforma, luxuoso Teatro Deodoro – se abriu.

Já tinha ido a outras peças da Cia. em questão, a Ganymedes, e sempre com excelentes públicos, diferente desta sexta-feira. Pouco mais de trinta pessoas: senhores de idade, adolescentes, casais – muitos deles espalhados – e jovens.

Tentei sentar num local que desse para ficar de frente à encenação, algo que é difícil de se saber ao certo devido ao formato “pianístico” do palco. Terceira fileira, quase em frente à sala de controle da iluminação e do som.

Mais alguns minutos e a peça começaria. Porém, a minha atenção se desviou para um curioso detalhe. Ninguém, além de mim, sentou-se naquela fileira. Os minutos passavam, algumas pessoas chegavam e nada de sentar ali. Será que eram os “deuses do teatro” que resolveram dizer “Não te acompanharás!”?

Um casal, com certa idade, entrou e se dirigiu à fileira de trás. Discutiam quem estava certo sobre o lugar em que deveriam ficar, apesar de ambos dizerem “você quer ficar aí? Tudo bem, mas...”. Até que o marido – eita sociedade patriarcal! – definiu onde ficariam.

Na fileira da frente chega um casal com dois capacetes vermelhos, que logo me lembraram o acidente de Felipe Massa, semanas atrás, na Fórmula 1. A minha curiosidade desviou o olhar para a viseira dos capacetes e que aqueles dali não aguentariam um tiro como os do automobilismo.

Outro casal, acho que o de pessoas mais novas por ali, era só carinhos sentados na primeira fila. Era foto para lá, beijo para cá. E um grude só.

Não consigo ficar parado, sem mexer em nada. Voltei muitas vezes a atenção para a minha mochila, com os meus chaveiros e o broche da Copa do Mundo do ano que vem. No teatro nem adiantava tentar organizar os papéis do interior do bloquinho, já tinha feito isso após lanchar no Café do Teatro.

Só restava olhar para o palco, com a cadeira, a mesa, os cigarros, o cinzeiro e a garrafa de vinho lá colocados e esperar que a peça começasse. E nada de ninguém sentar ao lado.

Não precisava ser ao meu lado, junto. Mas era muito estranho que dentre apenas seis ou sete fileiras, apenas uma entre trinta e quarenta pessoas resolvesse ter sentado ali.

As últimas pessoas entram para assistir a peça. As luzes abaixam e Cipolla, José, Dona Cláudia e o marido de Dona Cláudia entram em cena. As atenções de todos têm que ir para lá, onde a minha não foge.

Ah, minutos depois da peça três jovens sentam na fileira, quase que na ponta. Talvez tenham feito isso porque a peça já havia começado e os “deuses do teatro” estavam muito concentrados com a encenação.

Um comentário:

  1. passo por fulano e queria não conhecê-lo
    o mesmo acontece com a outra
    não tenho nada contra eles
    só não estou afim de falar, fingir simpatia
    mas, fazer o que?
    - oi! tudo bem? thau...

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