Tentaremos concluir agora a série sobre o livro do britânico George Orwell, 1984, com a forma com que o autor traz alguns lemas até mesmo contraditórios e os aplica na vida do seu protagonista nos momentos mais inquietantes deste clássico.
O grande lema, espalhado nos cartazes e fotos de propaganda do Partido, o Ingsoc, era: “O Grande Irmão zela por ti”. Se repararmos bem, em todos os locais que ditaduras são identificadas, veremos grandes imagens dos governantes locais (ainda é assim na China pós-Mao, e era assim no Iraque na época de Saddan), na Londres do livro não era diferente.
A frase existia para que as pessoas pensassem naquele sujeito, que provavelmente nunca viram e nem verão, como o grande protetor do povo; o que resolveria qualquer problema – se bem que na nossa democracia a ideia é bem parecida. Ao mesmo tempo, tal tema servia para vigiar as pessoas, afinal de contas o Grande Irmão sempre estaria ali para cuidar de você, dos seus atos e pensamentos.
Outros três lemas, espécimes de slogans, são colocados desde o início - assim como os “ministérios” responsáveis por julgar as atitudes das pessoas – e são contraditórios até o ponto de os fatos lhe darem razão: “Guerra é paz”, “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”.
GUERRA É PAZ - Como já devemos ter dito anteriormente, a função do protagonista do livro, Winston, era mudar os arquivos jornalísticos do passado de acordo com as novas vontades do poder. Se antes estavam em guerra com um país, a partir de agora sempre guerrearam o outro.
Mesmo que nessas batalhas pouco fosse disputado, o que importava era justificar as más condições da classe subsumida em questão, os proles, e o rareamento de determinadas comidas ou objetos em algumas épocas até mesmo para os membros da classe média, burocrática.
Em nosso ver, “Guerra é paz”, significa manter uma situação beligerante para alimentar o sentimento de nacionalismo e evitar que as pessoas se unam contra a situação vigente. Afinal, tudo irá melhorar depois que “vencermos a guerra”. Como nos diz em certa parte, Winston, ninguém sequer lembra se antes era pior ou melhor que aquilo; e mais, “ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência” (p. 46).
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO - Voltemos à relação com os dias atuais. Quantas pessoas nós já não ouvimos reclamar das coisas, mesmo na universidade, e não se moverem para nada para tentar alterá-las? O conformismo é alimentado diariamente pelas próprias pessoas e mesmo pela mídia. Esta que apesar de criticar os políticos e mostrar alguns problemas do mundo, não sai da superfície dessas coisas – por interesses já conhecidos – e mais incentiva as pessoas a continuar sentadas no sofá assistindo à TV.
E é essa falsa sensação de liberdade (democrática) que mais escraviza a população. Afinal, todos alardeiam que é fácil mudar dentro do que se tem em vigor, porém ninguém quer que uma alteração real ocorra. Você é livre, “mas para quê mesmo? Precisamos de um controle central, alguém no comando”. E é aí que entra o GI em 1984, a sua função.
Segundo um dos seus seguidores, Martin, – que só saberemos depois que é um de seus vigias: “O indivíduo só tem poder na medida em que cessa de ser indivíduo” (p. 214). E o poder do Partido “consiste em infringir dor e humilhação” (p. 217) a quem pensar o mínimo possível em duvidar desta força.
IGNORÂNCIA É FORÇA – O trabalho de Winston também consistia em alterar a história em relação a algumas pessoas, se antes a história oficial dizia que três homens eram herois, agora eles passariam a vilões. Mesmo que estivessem mortos, iriam a julgamentos populares e seriam enforcados em cerimônias públicas para mostrar o quanto o GI era justo.
Neste caso, a ignorância da maioria das pessoas representava a força do Partido e de seus reais seguidores. Esse controle da idiotice alheia era feito de inúmeras formas, dentre as quais se destaca o fato de que os próprios pensamentos poderiam ser controlados.
Manipulação de notícias é um tema que todos nós, estudantes de Jornalismo ou profissionais da Comunicação, escutamos quase que diariamente e isso não é surpresa para ninguém. Bem que os meios de comunicação poderiam aderir a esta frase: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente controla o passado” (p. 205).
SOFRIMENTO É PUNIÇÃO – Para quem duvida disso e tem consciência que algo deve ser mudado, há uma série de punições a serem aplicadas, até chegar à morte. Mas antes viesse a morte, que aparentou ser bem melhor do que o processo de crença no Grande Irmão, através da prova do quanto o indivíduo pode ser fraco.
São três os processos empregados após a prisão normal, com todos tipos de meliantes, e antes do julgamento: 1. Crimedeter, que significa deter qualquer pensamento; 2. Negrobranco, que representa tal nível de flexibilidade que se chega a acreditar e fazer preto com branco e vice-versa; 3. Duplipensar, que é um controle da realidade de forma consciente inconsciente.
É assim que se dá a vitória do GI sobre os que tentam alterar algo em seu mundo. Após se denunciar e também ao outro o qual gosta, de se ver em gravetos em frente a espelhos, de ser torturado através de alguns objetos, e o pior, depois de admitir que “o Grande Irmão zela por ti”, recebe um tiro na nuca e morre.
Ah, não pense que só porque soube de determinados detalhes do livro isso será suficiente para representar as sensações que 1984 podem causar. Como disse no início dessa série, este é um livro para se ler mais de 1984 vezes, e possivelmente você perceberá milhares de coisas que podem ser interligadas com a sociedade de Orwell e a nossa.
O grande lema, espalhado nos cartazes e fotos de propaganda do Partido, o Ingsoc, era: “O Grande Irmão zela por ti”. Se repararmos bem, em todos os locais que ditaduras são identificadas, veremos grandes imagens dos governantes locais (ainda é assim na China pós-Mao, e era assim no Iraque na época de Saddan), na Londres do livro não era diferente.
A frase existia para que as pessoas pensassem naquele sujeito, que provavelmente nunca viram e nem verão, como o grande protetor do povo; o que resolveria qualquer problema – se bem que na nossa democracia a ideia é bem parecida. Ao mesmo tempo, tal tema servia para vigiar as pessoas, afinal de contas o Grande Irmão sempre estaria ali para cuidar de você, dos seus atos e pensamentos.
Outros três lemas, espécimes de slogans, são colocados desde o início - assim como os “ministérios” responsáveis por julgar as atitudes das pessoas – e são contraditórios até o ponto de os fatos lhe darem razão: “Guerra é paz”, “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”.
GUERRA É PAZ - Como já devemos ter dito anteriormente, a função do protagonista do livro, Winston, era mudar os arquivos jornalísticos do passado de acordo com as novas vontades do poder. Se antes estavam em guerra com um país, a partir de agora sempre guerrearam o outro.
Mesmo que nessas batalhas pouco fosse disputado, o que importava era justificar as más condições da classe subsumida em questão, os proles, e o rareamento de determinadas comidas ou objetos em algumas épocas até mesmo para os membros da classe média, burocrática.
Em nosso ver, “Guerra é paz”, significa manter uma situação beligerante para alimentar o sentimento de nacionalismo e evitar que as pessoas se unam contra a situação vigente. Afinal, tudo irá melhorar depois que “vencermos a guerra”. Como nos diz em certa parte, Winston, ninguém sequer lembra se antes era pior ou melhor que aquilo; e mais, “ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência” (p. 46).
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO - Voltemos à relação com os dias atuais. Quantas pessoas nós já não ouvimos reclamar das coisas, mesmo na universidade, e não se moverem para nada para tentar alterá-las? O conformismo é alimentado diariamente pelas próprias pessoas e mesmo pela mídia. Esta que apesar de criticar os políticos e mostrar alguns problemas do mundo, não sai da superfície dessas coisas – por interesses já conhecidos – e mais incentiva as pessoas a continuar sentadas no sofá assistindo à TV.
E é essa falsa sensação de liberdade (democrática) que mais escraviza a população. Afinal, todos alardeiam que é fácil mudar dentro do que se tem em vigor, porém ninguém quer que uma alteração real ocorra. Você é livre, “mas para quê mesmo? Precisamos de um controle central, alguém no comando”. E é aí que entra o GI em 1984, a sua função.
Segundo um dos seus seguidores, Martin, – que só saberemos depois que é um de seus vigias: “O indivíduo só tem poder na medida em que cessa de ser indivíduo” (p. 214). E o poder do Partido “consiste em infringir dor e humilhação” (p. 217) a quem pensar o mínimo possível em duvidar desta força.
IGNORÂNCIA É FORÇA – O trabalho de Winston também consistia em alterar a história em relação a algumas pessoas, se antes a história oficial dizia que três homens eram herois, agora eles passariam a vilões. Mesmo que estivessem mortos, iriam a julgamentos populares e seriam enforcados em cerimônias públicas para mostrar o quanto o GI era justo.
Neste caso, a ignorância da maioria das pessoas representava a força do Partido e de seus reais seguidores. Esse controle da idiotice alheia era feito de inúmeras formas, dentre as quais se destaca o fato de que os próprios pensamentos poderiam ser controlados.
Manipulação de notícias é um tema que todos nós, estudantes de Jornalismo ou profissionais da Comunicação, escutamos quase que diariamente e isso não é surpresa para ninguém. Bem que os meios de comunicação poderiam aderir a esta frase: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente controla o passado” (p. 205).
SOFRIMENTO É PUNIÇÃO – Para quem duvida disso e tem consciência que algo deve ser mudado, há uma série de punições a serem aplicadas, até chegar à morte. Mas antes viesse a morte, que aparentou ser bem melhor do que o processo de crença no Grande Irmão, através da prova do quanto o indivíduo pode ser fraco.
São três os processos empregados após a prisão normal, com todos tipos de meliantes, e antes do julgamento: 1. Crimedeter, que significa deter qualquer pensamento; 2. Negrobranco, que representa tal nível de flexibilidade que se chega a acreditar e fazer preto com branco e vice-versa; 3. Duplipensar, que é um controle da realidade de forma consciente inconsciente.
É assim que se dá a vitória do GI sobre os que tentam alterar algo em seu mundo. Após se denunciar e também ao outro o qual gosta, de se ver em gravetos em frente a espelhos, de ser torturado através de alguns objetos, e o pior, depois de admitir que “o Grande Irmão zela por ti”, recebe um tiro na nuca e morre.
Ah, não pense que só porque soube de determinados detalhes do livro isso será suficiente para representar as sensações que 1984 podem causar. Como disse no início dessa série, este é um livro para se ler mais de 1984 vezes, e possivelmente você perceberá milhares de coisas que podem ser interligadas com a sociedade de Orwell e a nossa.
Anderson, eu acho esse livro sensacional! Acho que é um daqueles que todo estudante de comunicação deveria ler antes de sair da universidade. Mas enfim, são poucos os que o fazem. Atual? Acho que sempre! Parabéns pela análise!
ResponderExcluirAh e agora é minha vez de pedir vossas opiniões. Vota lá na enquete do meu blog! Bjus!
Esse setor que o Winston trabalha me lembrou mto do Brasil, um clássico exemplo de país sem memória que esquece seus inimigos tão rápido como esquece seus ídolos.
ResponderExcluirA manipulação da notícia e de fatos é realmente algo para um estudante e futuro jornalista ter em mente.
Lutar contra aquela máxima do "uma mentira contada várias vezes torna-se verdade" deveria ser princípio básico de comunicador.
anderson, tem espaço para pedidos/sugestões aqui?
ResponderExcluirse não tem, eu o faço mesmo assim! :P
poxa, coloca alguma coisa aqui sobre a revolução dos bichos, vai!
:}
Um dos meus livros preferidos, Orwell foi um escritor fantástico.
ResponderExcluirVocê fez uma excelente definição do lema do partido. Não encontrei melhor em qualquer outro site, parabéns!!
O livro só é interessante ao homem devido as suas armas mentais. Criam-se inúmeros paralelos de como é possível utilizar o duplipensar. Porém o desejo final do homem seria o auto-dominio, assim seria invencível.
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