segunda-feira, 6 de abril de 2009

Um periódico [direitamente] afetado

“Mas se as chamadas ‘ditabrandas’ – caso do Brasil entre 1964 e 1985 – partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à justiça -, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente”. (Trecho de um dos editoriais da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro).

Na última semana completaram-se 45 anos do GOLPE civil-militar que derrubou o governo de João Goulart no Brasil e implantou a DITADURA militar no país, a exemplo do que ocorreu (e foi alimentado pelos Estados Unidos) em outros países sul-americanos.

O assunto deste texto remete ao trecho colocado no início, o neologismo da Folha de S. Paulo em sua tentativa de desqualificar o governo de Hugo Chávez na Venezuela num de seus editoriais. Apenas algumas palavras foram suficientes, lógico, para criar uma onda de revoltas contra o jornal.

Nosso primeiro contato com o assunto só veio após dias de sua publicação. Ao ler um dos artigos publicados no local Tribuna Independente do dia 27 de fevereiro uma jornalista, a qual não recordo o nome, tecia comentários sobre a reação da imprensa quanto ao “ditabranda”.

Ela conduziu o texto para, resumidamente, dizer que toda a esquerda que criticou deveria saber que não se espera nada diferente disso de um jornal como a Folha e que todos deveriam estar preocupados com coisas realmente mais importantes, como a união em torno de uma transformação social.

Concordei, e concordo, plenamente com o posicionamento dela. Por isso que não me preocupei em comentar anda sobre o assunto anteriormente. Até que recebi a sugestão de uma leitora deste blog que, inclusive, deu-me partes da edição do semanário Brasil de Fato com críticas não só ao editorial do jornal, como também comentários sobre a resposta preconceituosa a dois professores de São Paulo que mandaram suas revoltas aos editores.

Além disso, outra coisa que me ‘intimou’ a fazer este texto foi a veiculação de uma matéria no telejornal “Fala, Brasil!”, da TV Record, com respostas a seguidas notas negativas sobre a emissora da coluna "Outro Canal" (Daniel Castro), publicada no jornal e no site da Folha.

DITADURA
Assim como boa parte da classe média – vide “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade” – a imprensa apoiou o golpe promovido pelos militares (daí um golpe civil-militar). O medo era que as reformas, inclusive a agrária, promovidas por Jango transformassem o Brasil num país comunista. A Folha ajudou diretamente:

“A Folha de S.Paulo não só nunca foi censurado, como emprestava a sua C-14 [carro tipo perua, usado para transportar o jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas pela Oban [Operação Bandeirante]. Isto está mais que provado.” (“A mídia implorava pela intervenção militar”. Entrevista com Mino Carta. Por Adriana Souza Silva, Brasil de Fato, abril de 2004).

As coisas só mudaram após o Ato Institucional nº 5, que criava limites (censura) também para os meios de comunicação. E, mesmo assim, a Folha não demorou a se adequar às normas militares, a exemplo da Rede Globo. Apesar disso, pelo que me consta, foi no início do processo de Diretas, Já!, no início da década de 80, que o jornal passou a conquistar o público ao mostrar notícias sobre os protestos.

ATUALMENTE...
Há algum tempo o jornal faz campanha aberta para a volta do PSDB à presidência da República. Agora, deliberadamente, serrista. Mesmo assim, ainda há pessoas respeitáveis que assinam o jornal, a exemplo dos dois professores que criticaram e que foram criticados. Só depois disso é que cancelaram a assinatura.

Isso mostra um importante problema da esquerda: a falta de meios de comunicação de base (ao menos próximo) esquerdista. Apesar de termos várias divisões no movimento dos trabalhadores, poucas produções impressas ou virtuais de qualidade existem. Assim, por inexistência, alguns preferem assinar os mais vendidos.

Um dos maiores especialistas de comunicação sindical do país, o ítalo-brasileiro Vito Giannotti, sobre o assunto nos fala o seguinte: “Hoje o jornal é o grande inimigo. Qual é a realidade? O jornal é geral. Há muitos sindicatos sem jornal, ‘tem mais não’. É um forte meio para poder divulgar nossas idéias, para disputar a hegemonia na sociedade”.

Na Universidade Federal de Alagoas, por exemplo, os estudantes apenas tem acesso aos três jornais locais de circulação diária e à Folha. Qualquer discurso diferente do dominante – já que a Tribuna de Independente já não tem mais nada – deve ser procurado pela Internet segundo o interesse e a aptidão para a procura de cada um.

RECORD
Enquanto isso há os que acreditam como positivo o crescimento da TV Record que, após investimentos pesados do grupo econômico-religiosos que a comanda, tem apresentado bons resultados em termos de audiência. Uma das maiores baboseiras que já vi.

Afinal, em termos de variedade de conteúdo, especificamente de discursos, qual a diferença? Um projeto que pretende dominar todos meios de diversão e utopia das pessoas (entretenimento televisivo, religião e política) até a próxima década.

O confronto entre os dois meios, Record e Folha, só vem para colocar um parceiro da Globo, e inimigo do presidente Lula, nisto tido. Com as Organizações Globo o grupo Folha da Manhã S.A. tem o semanário econômico Valor. Além disso, a Record recebe apoio indireto do presidente, afinal a maior TV de todas também faz campanha contra o presidente – apesar de polpudo empréstimo do BNDES recebido no primeiro ano de governo.

CONCLUSÃO
Preocupemo-nos com o que interessa que é, em minha opinião, quebrar a difícil barreira que a mídia ajudar a colocar entre o trabalhador e a sua luta. Mostra-lhes o que vivem diariamente, a luta de classes, e que para superar essa estrutura afeita às contradições e desigualdades só com uma transformação social radical.

Para terminar, deixo abaixo uma frase dessas tantas críticas ao editorial...

“A expressão ‘ditabranda’ entra para a galeria do pensamento estúpido da mídia brasileira, sobretudo porque partiu de um jornal sabidamente cúmplice editorial e material do golpe de 1964”. (Eliakim Araújo, apresentador de telejornal, Globo, SBT,... Publicado na Tribuna Independente do dia 01/04).

... e a descrição da charge do Brasil de Fato (26/02 a 04/03) que mostra dois porcos conversando numa fazenda.

“Enquanto isso, na fazenda... ‘Eu acho que a ditadura no Brasil não foi violenta’. ‘Em mim não doeu...’. ‘Pensando bem, acho que a gente não pode nem chamar aquilo de ditadura’. ‘Faz sentido...’. ‘Ditadura ‘mesmo’ foi no Chile’. ‘Ah, lá é que foi bom’”.

3 comentários:

  1. Rapaz, sua produção é quase diária! rs

    Eu só quero dizer que eu sinto falta de um jornal impresso feito pela esquerda. Eu conheço uns três: A Verdade, A Nova Democracia, e Opinião Socialista. Entretanto, estes nem são diários, nem são de tiragem capaz de concorrer com os outros da direita.

    Até na net eu ainda tenho dificuldades de encontrar conteúdos da esquerda. Acesso o site do PSTU e... alguns blogs, como o seu e o do João e... acho que só. Se vc tiver outras sugestões pode me dizer.

    Ah! Eu vi um template no www.btemplates.com que achei a cara do seu blog. Procura lá! É o que tem um planeta Terra.

    ResponderExcluir
  2. Pontos muito interessantes que achei que você ia tocar quando vi essa matéria da folha e a repercussão da mesma.
    Parabéns pelo texto e pelo novo layout do blog que ficou espetacular.
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Bom, peço desculpas por ter sumido e não ter comentado antes, passei por um período complicado, agradeço por ter acatado minha sugestão, sabia que vc faria um bom trabalho.

    ResponderExcluir