sábado, 10 de janeiro de 2009

Homens de laboratório


A humanidade, com exceção dos defensores de animais, acostumou-se com o fato de pesquisas científicas utilizarem como cobaias animais como ratos e macacos. Só depois da utilização neles, principalmente em “ratos de laboratório” - que possuem maior aproximação com o organismo humano -, que os testes passariam para homens e mulheres.

Tudo evolui, não é mesmo? E nada pode parar a evolução científica.

Pois bem, na semana que vem estreia a nona edição do reality show Big Brother Brasil (Endemol Globo). Os participantes e algumas de suas novidades foram apresentadas na quarta-feira, 7. Em 24 horas foram mais de 6000 comentários no site do programa sobre os participantes, com destaque especial para críticas sobre a presença de dois idosos.

No meio de uma verdadeira overdose de informações, vindas de todos os sites informativos do País, uma muito nos incomodou. Desta vez foram escolhidas dezoito pessoas porém, quatro ficariam numa espécie de bolha de vidro durante a primeira semana.

O que já representaria uma bizarrice imensa - num local em que o sentimento de jogo é aflorado, onde a capacidade humana de vigiar é estimulada e a luxúria chega a um dos seus maiores níveis através da busca da fama e do dinheiro - descobrimos mais detalhes da tal bolha.

Quatro integrantes ficarão expostos dentro dessa redoma de vidro, mas não na Casa. A bolha ficará num shopping center do Rio de Janeiro para visitação pública, em que quem passar por lá poderá votar em quem deve entrar na Casa. Ou seja, as pessoas passarão a ser “homens de laboratório”, enquanto produtos, mercadorias a serem escolhidas pelo Outro.

A situação passa a refletir como são as relações sociais no âmbito do Modo de Produção Capitalista, em que as mesmas são mediadas pela mercadoria, elemento principal do sistema. Assim, alguns produtos passam a ser mais importantes que as pessoas, estabelecendo seu poder sobre os homens, que os produzem. Desta forma o homem se aliena.

Para além disso há o fetiche da mercadoria, que vive atraindo as pessoas para que as consumam e, para isso ocorrer, é necessário finalizar o processo do capital que ocorre através da aquisição em troca de certa quantia de dinheiro – expressão do valor do capital. Nesta sociedade, a principal mercadoria a ser adquirida é o dinheiro – alvo dos brotheres seja através da fama ou do prêmio principal. O “ter” é mais importante que o “ser”.

Nisso tudo, as próprias relações entre as pessoas podem ocorrer sob interesses mercadológicos. O homem acaba por se tornar uma mercadoria, em que suas atitudes são mediadas para que se alcance as de maior importância da atual sociedade: a fama e o dinheiro.

Portanto, quando os robozinhos em forma de câmera passarem a conviver com você a partir da próxima terça-feira, lembre-se do pouco que foi dito aqui. Cuidado para não ser mais um a incentivar a “coisificação” do ser humano, de forma que ele não regrida para o tempo longínquo em que era apenas mais um animal sobre a Terra.

4 comentários:

  1. No dia 13 de janeiro de 2009, será marcado como o início de mais um Big Brother Brasil, um dos fatores que chamou muita atenção mesmo antes de começar o reality show, foi a seleção de 18 participantes, sendo quatro deles não estarão na casa mais vigiada do Brasil na primeira semana. Eles estarão em um outro simulacro criado dentro de um lugar onde acontece a exposição máxima do fetiche da mercadoria para o deleite do flâneur midiaitizado (conceito publicado pelo Professor Dr. Amilton Oliveira no artigo Presença da midiatização da ética no reality show Big Brother Brasil no XXXI Intercom 2008), o shopping center, visto que este é sempre convidado pela propaganda a ir gastar nas lojas. Os quatro participantes ficaram confinados e vigiados por câmaras dentro de “bolha de vidro”, instalada dentro do shopping, por uma semana, para que os consumidores possam votar em apenas um deles para entrar na casa, a votação acontecerá por uma tela sensível ao toque e pela internet. Na sociedade líquida-moderna ou pós-moderna, os prêmios sociais que ambicionam os consumidores, neste caso a vaga para entrar dentro programa que visa concorrer a um milhão de reais, exigem que remodelem a si mesmos como mercadorias, em outras palavras, como produtos que são capazes de mostrar atenção e atrair a demanda de fregueses. Nesse contexto está a sociedade de consumidores, no qual se distingue numa nova reconstrução das relações humanas a partir do padrão das relações entre fregueses e os objetos de consumo, que neste caso seriam os integrantes da “bolha de vidro”. Nessa sociedade ninguém pode ser tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, para ser selecionado espera-se que seja uma mercadoria vendável. Como Bauman (2008, p.20) cita em seu livro Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria: “A característica mais proeminente da sociedade de consumidores é a transformação dos consumidores em mercadorias”. Com isso cria-se um modelo de “relação pura”, conforme os mercados de bens, os parceiros têm o direito de tratar um ao outro tratam os objetos de consumo. Visto que a permissão de rejeitar e substituir um objeto de consumo que não traz sua total satisfação (lembrando que está satisfação atualmente nunca será alcançada) esteja ligado às relações de parcerias, os parceiros são reduzidos ao status de objetos de consumo. Caso alguns integrantes da “bolha de vidro” não agradem os consumidores, espectadores, em outras palavras, os sujeitos roteirizados (conceito utilizado pelo Professor Dr. Amilton Oliveira publicado no mesmo artigo), serão excluídos do programa antes mesmo de entrar na casa. As mercadorias não devem confrontar o comprador com as mercadorias, mas fazê-lo ter uma vivência, por isso o prazo de uma semana para o enclausuramento dos integrantes (que se assemelha aos ratos de laboratório), para que os consumidores tenham tempo de escolher a sua mercadoria. Desse modo, “a bolha de vidro”, assume a função de proporcionar ao público vivência que estimulem e acentuem a predisposição de assistir ao programa e de transformar as pessoas em mercadorias vendáveis. Atrelado ao entretenimento torna-se mais forte a atração estética da mercadoria inserida dentro da bolha. Os eventos de entretenimento, como Big Brother Brasil, utiliza vários recursos adicionais para estimular a compra da própria mercadoria e nesse caso seria a aceitação da audiência. Para reverter isso, precisamos ter ações coletivas, em atividades sociais de forma mais humanizada. Como afirma Wolfgang Fritz Huag (1997, p.104) em sua obra Crítica da estética da mercadoria: “Para que as ações coletivas possam ser objetivamente sensatas para todos os participantes, é necessário suprimir o capitalismo e implantar relações de produção socialistas, ou seja, a atividade social precisa ter assumido também uma forma diretamente social”.

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  2. Este é o segundo maior especialista em BBB que eu conheço!
    Já falei para ele criar um blog, pois o tema é bem interesante e curioso.

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  3. Esse é o Douglas!! O único ser humano que escreve um comentário maior q o post!!
    Nada posso acrescentar dps das palavras dele (eu disse q naum ia ler, mas li).

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  4. Grande texto e grande comentário do Douglas, hehehe.
    Lembrou-me das aulas de Mídia e ética, bons tempos.
    E eu não vou mentir que meu estímulo ao assistir o BBB é torcer para que as gostosas fiquem mais tempo na casa!
    Abraço!

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