sábado, 17 de janeiro de 2009

Do globo ocular às câmeras: Como (?) escapar?


Num mundo em que a tecnologia vai modificando a realidade humana, a busca por segurança e a curiosidade chegam ao ponto máximo. Resta às pessoas se alertar sobre quando estão sendo vigiados, seja para aparecer ou para se esconder, daí o título dado.

O texto Máquinas de vigiar, de Arlindo Machado, aborda vários temas em relação à busca incessante pela vigilância e como o olho humano foi substituído por uma máquina. O autor começa falando sobre a sensação de estar vigiado por câmeras num aeroporto e define a situação como se vivesse num dispositivo Panóptico - prisão modelar criada pelo jurista britânico Jeremy Bentham com uma janela atrás, para o exterior, e uma na frente, para refletir o preso; e no centro estaria uma torre, onde estão, ou não, os vigias, que não são vistos.

A sensação de vigilância ultrapassa o limite das câmeras, pode ocorrer através de microfones ultra-sensíveis ou grampos telefônicos. O autor cita até a possibilidade dos aparelhos de televisão terem sensores fotoelétricos para medir se uma pessoa está realmente à frente da TV, quanto tempo ela gasta em cada programa e, no futuro, pode ser utilizada para criar uma ficha pessoal através de seus comportamentos e horários. O próprio jornalismo descobriu nas candid cameras uma fonte de furos, o jornalismo investigativo.

Mas, há quem goste de ser vigiado, vários motéis utilizam câmeras como forma de excitação de seus clientes, alguns repassam as imagens para outros quartos (após digitalização para manchar os rostos). Mesmo assim, as pessoas não se preocupam. Leva-se em consideração a pulsão de sentir-se olhado, que olhar não era outra coisa que se mirar no espelho do olho do outro. Só que, com a automação da percepção, os olhos que buscaremos reflexo serão os das máquinas; com a tecnologia há a “desindividualização” do poder, o panóptico chegará ao auge.

O conto “O olho sem pálpebra”, de Philarète Chasles, mostra como é ruim ser observado em todos os momentos. Jock Muirland é um fazendeiro escocês que vê a esposa, Tuilzie, morrer devido ao sofrimento frente aos ciúmes dele. Num dia de festas de Haloween, afirma preferir casar com um spunkie (duende) a casar com uma mulher. E é isso que ocorre, casa com Spellie, mulher com olhos sem pálpebra, que o vigia durante todo o tempo e o encontra em Ohio, após ter fugido dela. Ele se suicida, por ter sofrido tudo o que fizera com a esposa. Spellie pode ser comparada a uma máquina de vigiar, não descansa na observação.

Já o filme De olhos bem fechados (Stanley Kubrick), trata da criação de ciúme num casal. A esposa, Alice Harford, observa o marido, Dr. Bill Harford, mas ele não se preocupa com o que ela faz, confia nela. Até que um dia Alice conta que teve desejos sexuais por um marinheiro e ele passa a ver a cena se passando como se fosse a sua frente. Aparecem muitas cenas de Alice se observando no espelho, inclusive quando eles transam, uma forma de ver como a sociedade a verá. Dr. Harford acaba se envolvendo em um grupo secreto, que tem rituais através do sexo, em que há transas e todos ficam observando em volta. O prazer está em olhar e ser olhado, como nos motéis citados anteriormente.

E ainda há a preocupação dele em estar sendo seguido, quando não está com a esposa, a câmera situada na frente do prédio da seita para que ninguém entre e a de segurnça dentro da própria casa. Na realidade, ele se envolveu na seita devido a um amigo de faculdade que tocava piano nessas reuniões de olhos vendados, mas a fita ficou frouxa num dia e ele conseguiu olhar por baixo, percebendo o que ocorria; a visão como mecanismo de observação freqüente. Após isso, o Dr. foi seguido e tudo o que ele fez foi provocado, como Dr. Mabuse, no filme Os mil olhos do Dr. Mabuse citado por Machado, orquestra um assassinado via controle de câmeras e situações.

Em tempos de Big Brother e da necessidade frequente das pessoas por seus, agora, 15 segundos de fama, cada vez é mais necessário perceber como se quer ver refletido na sociedade. Alguém narcisisticamente exibido, com a possibilidade de ter todos os passos vigiado, ou tornar-se um ser humano normal.

(CHASLES, Philarète. O olho sem pálpebra IN: CALVINO, Ítalo (org.). Contos Fantásticos do século XIX: o fantástico visionário e o fantástico cotidiano. São Paulo: Cia das Letras, 2004, p. 121-137; De Olhos Bem Fechados. Direção: Stanley Kubrick. São Paulo: Warner Bros, 2004; MACHADO, Arlindo. Máquinas de vigiar. Revista USP: Dossiê: Tecnologias. São Paulo: EDUSP, 1990 (7), p. 23-32).

4 comentários:

  1. Seu texto esta com um nivel elevado, rapaz.

    Sobre o tema, veja tambem o filme "O Show de Truman".

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  2. Tu vai fazer um artigo? É uma discussão muy interessante essa......mas vc naum é o especialista (Douglas, mostra pra ele como é q se faz!!)

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  3. Obrigado, Salomão.
    Homero, na verdade essaq é uma adaptação de um texto que apresentei para a sua orientadora há dois anos atrás.

    A apresentação na turma foi bem amis interessante, mas a ideia do artigo é boa. (Se eu tivesse tempo e prática...)

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  4. Concordo com o Salomão, as suas análises tem uma profundidade muito boa.
    Existe mesmo essa história nos motéis?!?!?!
    Abraço!

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