quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma ode ao real

A alguns dias li o livro A Revolução dos Bichos, de George Orwel. Após várias tentativas de encontrá-lo na Biblioteca da Ufal, uma colega de turma me emprestou. Vamos a alguns comentários que acredito que sejam pertinentes, principalmente no que se refere à sua atualidade e ao que foi dito sobre sua análise do contexto histórico em que fora escrito.

De antemão discordo dos que acharam o texto de Orwell uma ode ao capitalismo. Hoje, vinte anos depois do início da derrocada do que se convencionou erroneamente denominar de “socialismo real”, percebemos o quanto aquilo que fora escrito ainda após a Segunda Guerra Mundial, 1945, só teve seus deméritos fortalecidos ao longo dos anos; da mesma forma que ocorreu com os defeitos apresentados no mundo sobre a égide do Capital.

O contexto do início da Revolução com a realidade social dos animais sendo oprimidos pelos seres humanos continua ainda hoje, tanto na relação humano-animal quanto entre os próprios homens. Vários foram os projetos de proteção aos animais que surgiram de lá para cá, mas, por incrível que pareça, poucas são as organizações que se mantêm enquanto uma proposta coerente de transformação real das condições subumanas em que vive a maioria das pessoas.

O processo de criação do livro, que representa o fim da opressão animal, surgiu na mente de Orwell ao ver como uma criança andava com um cavalo, molestando-o, mesmo sendo infinitamente mais fraca que o mesmo. Resolvera, então, mostrar a teoria marxista através da realidade dos demais animais, numa simples granja, em que o senhor Jones representaria o primeiro dos capitalistas e os cavalos, ratos, vacas, galinhas, ovelhas... os trabalhadores.

No transcorrer do livro, vemos como o "Trabalharei ainda mais" do cavalo (proletário) Sansão vai causando a sua morte, isso quando as coisas na agora Granja dos Bichos deixam de ter produção recorde e com menos trabalho e as divisas, que desde o início eram desiguais, tornam-se ainda mais favoráveis a certos setores de animais.
Em paralelo a isso, alguns atos definidos após a grande batalha de conquista são proibidos. O hino “Bichos da Inglaterra” (espécie de Internacional Comunista) foi proibido, uma frase de elogio ao ditador da Granja fora pintada e todos os pontos dos Mandamentos - que servia para diferenciar "duas patas de quatro patas" foram modificados com a finalidade de adequar às mordomias humanas que os porcos passavam a conhecer. Manipulação teórica lembra alguém?

De imediato a reposta vem a ser Stálin. Abro, porém, um parêntese na linha discursiva para questionar o que foi feito com esse texto de Orwell na parte ocidental do mundo. Será que não fora também uma manipulação de acordo com os interesses do capitalismo dominante (EUA e Inglaterra)? De início, amigos dos stalinistas, não quiseram sequer publicar a obra por pensarem que irritaria ao comparar os soviéticos com porcos. Pouco tempo depois, e o esfriamento nas relações, o texto virou ataque ao tal do “socialismo real”.

No final, um encotrno de taças representa claramente uma conciliação de classes, mesmo que a classe menos favorecida não tenha sido consultada para tal. A República na qual se transforma a Granja lembra muito terras tupiniquins atualmente com um presidente que veio das classes menos favorecidas só que preferiu se render aos capitalistas. Na época, serviu como paródia do encontro entre Churchill, Roosevelt e Stálin.

Pena que não possa tratar de acontecimentos marcantes do livro, até mesmo para não anunciar o seu final. Porém, posso dizer que o seu término deixa um sentimento de revolta, especialmente para quem deseja uma transformação social radical. Principalmente porque representa a nossa realidade, mesmo após mais de sessenta anos de escrito, assim como, explica muito do que se viu depois, independentemente de nomes. Virou praxe brigar em público e realizar jantares íntimos para selar acordos econômicos, vide relação Estados Unidos e Venezuela, com o seu “socialismo bolivariano”.

Por isso é que entendemos A Revolução dos Bichos enquanto uma ode ao real. A realidade e seus conflitos, suas diversas formas de opressão, suas imposições, oportunismos, enfim, tudo que reflete as desigualdades sociais iminentes. Esta mesma realidade que mostra a necessidade de se compreender que não há consciência de classe com um “todos são iguais, porém uns são mais iguais que outros” (democracia), e sim, quando a classe oprimida perceber sua função social e, principalmente, sua capacidade de transformação. Aí sim, poderemos lutar por uma transformação real desse conjunto de situações desiguais e partir para um mundo justo, livre e igualitário.

3 comentários:

  1. Esse foi o primeiro livro q me arrepiei quando terminei de ler No momento em q os porcos andam, nossa!!arrepiei de novo). Li de uma tacada só, é um dos meus predilétos. Faltou falar do bola de neve, e sua alegoria!! Mesmo assim muito boa análise!!

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  2. Não li este livro, mas fiquei curioso.

    Olha Anderson, acho que seu blog merece uma divulgação maior. Vc tem posto um bom volume de textos. Vc pode conseguir mais leitores no boca-a-boca. Mostre a mais pessoas o seu talento.

    Abraço meu caro.

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  3. “todos são iguais, porém uns são mais iguais que outros”

    lembra qnd eu disse q tinha lido isso em algum lugar?

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