terça-feira, 30 de setembro de 2008

Uma montanha insone

Recentemente tive a oportunidade de ler uma crônica do Paulo Mendes Campos onde o autor relatava O Despertar da Montanha, quer dizer, o quão era difícil dele acordar todas as manhãs. Pois bem caro Mendes Campos (in memorian), reconheci-me nas tuas palavras, porém, ainda tenho um agravante, tenho minhas crises
de insônia.

Você, meu seleto leitor, há de questionar: como alguém há de ter dificuldades em dormir e também em acordar?
Quem disse que sou um complexo humano fácil ou, no mínimo, parecido com os demais?

Acredito que o meu corpo acaba por refletir aspectos que me tornam, mais até do que os outros, um indivíduo único. Sou capaz de ser lacônico em público e prolixo quando escrevo... Mas essa história não cabe aqui, vamos ao que interessa.

Desde meninote dormia muito bem. Inclusive teve um dia que eu, lá para os meus cinco ou seis anos, dormi mais que um dia inteiro, isso mesmo, mais que 24h. O que me recordo é ter acordado de madrugada e gritar “mainha!” ao perceber que não tinha ninguém na casa e ainda era noite. Foi quando os meus pais levantaram e explicaram que dia e horário estávamos.
Eu achei esquisito, mas era criança ainda. A única coisa que fiz foi comer alguma coisa e depois... voltar para cama. Naquela época não tinha problemas com sono mesmo, além do mais, tinha total liberdade para “estragos” como esse.

Não lembro de outros dias ter dormido tanto, mas até alguns anos atrás se eu cochilasse durante a tarde, após o almoço, à noite dormiria tranquilamente na mesma hora de sempre. Caso eu dormisse bem antes do horário normal, duas chances: ou dormiria direto, até a manhã dou outro dia; ou então, acordava, ficava uma hora fazendo qualquer coisa (leia-se, brincar ou assistir TV) e voltava a dormir.

Era ótimo isso. Porque sempre gostei de assistir esportes na TV ou escutá-los no rádio e mesmo com tanto sono, o meu organismo funcionava como um reloginho. Era só ter alguma competição de madrugada, seja corrida de Fórmula-1 no Japão ou vôlei feminino na Malásia, que eu acordava minutos antes do evento. Não precisa de despertador!

Não mais que de repente veio um problema que fez com que essa montanha tivesse problemas com sono: o vestibular. Foram mais de dois meses sem conseguir começar a dormir direito, e isso exatamente a partir do dia que fiz a primeira prova – aqui em Maceió, na época, tínhamos que fazer mais três dias de Segunda Fase.

Eram mais de uma hora para começar a dormir, mesmo que este começo fosse às 23 ou às 2h da madrugada. Fiz as outras provas, passei na universidade e fiz a matrícula. Esta terrível seqüência só foi passar após algumas semanas cursando o Ensino Superior!

De lá para cá tive algumas crises (semanas). Hoje já sei mais ou menos quando isso ocorre: é só ter vários problemas para resolver, principalmente no que diz respeito à universidade. Há dias que acordo e vou fazer alguma coisa para distrair enquanto o sono chega; outros, fico apenas me revirando na cama.

Só que o meu problema com o sono consegue ser pior! Desde o início do ano tenho que acordar cedo para ir ao estágio – cedo para os meus moldes, até então entre 9h e 11h. Gradativamente fui acordando um pouco mais tarde. 6h50 – 7h – 7h10 – 7h20, e estou me aproximando das 7h30 – espero não chegar lá.

O meu problema não é o “acordar”, já que sempre coloco o despertador do celular para as 7h e geralmente o escuto, além disso, ainda consigo condicionar o meu organismo para horários específicos, apesar de ter um menor potencial que na infância/adolescência.

A minha resposta é a mesma coisa que acontecia com Paulo Mendes Campos: o “Efeito Montanha”. Penso eu logo cedo: “Foi ficar mais um pouquinho, mais uns cinco minutos e levanto”. Mais uma colocada de cabeça no travesseiro e dez minutos depois: “Droga! Nunca consigo levantar na hora que deveria ser!”.

O motivo é que me acostumei a dormir bem mesmo só depois das 6h, quando tenho que acordar. Ainda tenho que conviver com os dias em que demoro duas horas para dormir, devido à insônia, e ter que acordar algumas horas depois de ter conseguido fazê-lo.

Pois é Mendes Campos, esta insone montanha, caso pudesse, dir-te-ia uma frase comum nos dias de hoje: “era feliz e não sabia”.


*Foto: Rio Guaíba, Porto Alegre, 2007

2 comentários:

  1. Eu tenho insônia desde sei lá quando. Apenas durante um período curto, enquanto eu morava na casa de meus avós, foi que isso passou. Eu acho q a tv tem muita culpa nisso, mas, hj em dia, café, cigarro e internet, são ótimos amigos da insônia.
    Eu tb tenho dificuldade em acordar, meu sono é pesado, eu costumo passar o fim de semana inteiro dormindo, quase q só saindo da cama pra comer. Durante a noite fico vagando pela RUA, parecendo um zumbi ou um vampiro.
    MEu velho, vc é menos único doq imaginava (eu sei q naum é só disso q vc fala).

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  2. Anderson, me vi em vários dos episódios relatados por vc: o lance de, progressivamente, acordar mais tarde, o sono mais tranquilo durante a infância, a certeza de uma noite mal dormida quando existem causos a serem resolvidos...
    Agora, até mesmo quando passo a noite inteira acordada, não consigo mais dormir tanto tempo quanto antigamente. Eu era feliz e não sabia, de fato.

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