quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

As escolhas da TV Globo para o futebol

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é tradição no futebol brasileiro. O primeiro torneio que abre a temporada deste esporte é a Copa São Paulo de Futebol Júnior, com a final sendo disputada como um dos eventos em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo. A final deste ano parece criar uma nova “tradição”: a Rede Globo não transmitir determinados jogos importantes do Santos Futebol Clube.

Na manhã da sexta-feira (26/1), Santos e Goiás se enfrentaram no Pacaembu em busca do principal título das categorias de base do Brasil. Além da expectativa de um bom público, por se tratar de um clube do estado na final, esperava-se também que a Rede Globo transmitisse a partida. Afinal, assim o fizera nos quatro anos anteriores, quando se sagraram campeões: o Corinthians (2009 e 2012), o São Paulo (2010) – em final contra o Santos – e o Flamengo (2011). O site da Federação Paulista de Futebol informava que a emissora transmitiria o jogo, com a companhia da Rede TV! e da Rede Vida, em TV aberta, e da ESPN e do SporTV, na TV fechada.

Mas não foi isso que aconteceu. Seguiu-se a programação normal da emissora, com o Bem Estar e oEncontro com Fátima Bernardes – Esta de férias e com programas gravados no horário da partida –, o que causou a revolta dos torcedores santistas nas mídias sociais e mesmo no estádio, em que cânticos contra a Globo foram entoados após o título santista.

Título corintiano

A revolta do torcedor do Santos por se tratar de algo repetitivo. Enquanto no ano passado vimos uma supercobertura ao Corinthians na disputa de Mundial de Clubes – não só da Globo, mas mesmo das emissoras que não possuíam os direitos de transmissão do torneio –, em 2011 o clube do litoral paulista não teve o mesmo tratamento. A semifinal, disputada contra o japonês Kashiwa Reysol, não foi mostrada pela emissora, que naquele ano não repassara os direitos de exibição para a Band. Assim, coube aos torcedores verem a partida pelo SporTV ou buscarem o rádio, já que a Rede Globo manteve o Mais Você na programação, o que também gerou uma série de reclamação nas mídias sociais.

Se o Santos é o oitavo clube em número de torcedores no Brasil, segundo as últimas pesquisas divulgadas, o time contava com o melhor jogador brasileiro dos últimos anos, Neymar, em vias de se confrontar com o melhor jogador, Messi, e o melhor time do mundo, o Barcelona. Uma disputa com muitos atrativos para se propagar.

Comparando-se a audiência da final, esta, sim, transmitida pela Globo, entre Santos e Barcelona em 2011 e o título do Corinthians sobre o Chelsea na final do ano passado, a diferença foi de apenas um ponto, 32 a 31, números bem superiores à média do horário, 8 pontos. Porém, ao contrário de 2011, a Band transmitiu o título corintiano, alcançando também um recorde para o horário, com 12 pontos (contra normais 2).

Espectadores cativos

A escolha, inclusive das outras emissoras, em acompanhar de perto as ações do Corinthians a caminho do Japão justificam-se também pelo clube ter dado uma das maiores audiências da TV brasileira em 2012, com os 48 pontos de média na final da Libertadores contra o Boca Juniors, com picos de 52 pontos e sharede 75% (a cada quatro TVs ligadas, três estavam na partida). A audiência da partida só perdeu para alguns capítulos da novela Avenida Brasil. No ano anterior, a final entre Santos e Peñarol marcou 37 pontos.

Claro que aqui não se pretende comparar o potencial de audiência previsto para o segundo time de maior torcida no Brasil, cerca de 16%, com o oitavo, cerca de 3%, diferença que se torna visível pela comparação dos dados de espectadores. Porém, fica cada vez mais claro o tratamento diferenciado dado para a transmissão do futebol no Brasil. Algo que se reflete também pela quantidade de jogos transmitida de alguns clubes ao longo do ano e, consequentemente, o dinheiro pago a eles – que tende a criar fossos entre grupos de times, como ocorre em outros países.

É interessante que se diga também que quando há jogos fora dos seus horários habituais, quarta à noite e domingo à tarde, deve caber mais ao comercial que à programação definir se é mais interessante economicamente manter os programas do horário ou transmitir a partida de futebol, que dispende mais gastos. A escolha, portanto, é muito mais por fatores mercadológicos que necessariamente de interesse do público.

Lembra-se que o futebol no Brasil tem um número de espectadores cativos, independentemente de ser ou não o seu clube na TV, público o qual faz com que a emissora aumente seus gastos para adquirir direitos de transmissão – e as empresas aumentem o valor pelas cotas de publicidade no pacote Futebol –, mesmo com a queda constante da média de audiência deste programa. Assim, será mesmo que a partida entre Santos e Goiás pela Copinha, com a capital paulistana num feriado, daria menor audiência que a programação matinal da Rede Globo?

[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa.]

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

[Alagoano 2013] O respeitável público das cinco rodadas

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Respeitável público do Campeonato Alagoano! 5 rodadas se passaram, o Centro Esportivo Olhodaguense (CEO) lidera o torneio com 12 pontos, confirmando até aqui a boa pré-temporada realizada. E o campeonato que começou sem muitos gols, passou a tê-los em maior quantidade a partir da 4ª rodada, graças, principalmente, a CSA e Corinthians, autores de oito gols cada em duas rodadas.

Se na quantidade tentos marcados e na posição na tabela, 2º (CSA) e 3º (Corinthians), os times de Maceió nesta primeira fase se assemelham, o caso é totalmente diferente quando se trata dos espectadores presentes em suas partidas. Graças à rápida divulgação das cópias das súmulas e dos borderôs das partidas no site da Federação Alagoana de Futebol, resolvemos acompanhar rodada a rodada como andam os ganhos e as despesas em bilheteria dos times alagoanos no campeonato estadual. Afinal, este é um dos argumentos dos detratores desta forma de disputa no Brasil: os Estaduais não valeriam à pena para além de São Paulo.

Vamos às análises e aos números que consideram os 20 jogos realizados nas cinco rodadas disputadas até aqui.

NENHUMA SURPRESA
Quase 18 km separam o Estádio Rei Pelé do Estádio Nelson Peixoto Feijó em Maceió. 78 anos separam a fundação do quase centenário Centro Sportivo Alagoano (CSA) do time que mais vende jogadores no Brasil, o Sport Club Corinthians Alagoano (formador de jogadores como Deco e Pepe). 36 títulos separam os dois clubes da capital (37 a 1). Neste Alagoano, o público do Azulão do Mutange é mais que 17 vezes o do Tricolor da Via Expressa.

Nada anormal. Além de toda a história, mais novo apenas que o CRB (101 anos) e o Penedense (105 anos) no Estado, até que novos números provem o contrário, o CSA tem a maior torcida de Alagoas, frenquentemente com as maiores médias de público - um ano ou outro perdendo o posto, por pouco, para o ASA, nos últimos 13 anos quase sempre na disputa do título estadual.

Sem CRB e ASA, na disputa da Copa do Nordeste, o CSA confirma facilmente ser o time mais popular do Alagoano 2013. Foram 12.780 torcedores indo ao Estádio Rei Pelé nas 3 partidas realizadas no maior estádio de Alagoas, sendo estes jogos os de maior público e renda do Estadual: 5.010 pessoas na derrota para o Corinthians por 4 a 2 pela 4ª rodada; 4.443 pessoas na vitória sobre o Murici por 1 a 0 na 2ª rodada; e 3.327 pessoas na última partida, vitória de 6 a 0 sobre o Sport.

O quarto maior público também é com o Azulão do Mutange em campo: empate sem gols com o Comercial, em Viçosa, com 2.744 pessoas. Apenas o 5º jogo com maior público não teve a presença azulina: 2.010 pessoas viram o lanterna CSE perder para o União por 2 a 1 na 2ª rodada. Por sinal, o time de Palmeira dos Índios pode ser o último na tabela, com 4 pontos, mas é o 2º em levar torcedores ao estádio, 4.556.

Seguem CSA e CSE, em termos de público (classificação atual entre parênteses): Comercial (6º) 3.421; CEO (1º) 1.849; Sport (4º) 1.585; Murici (7º) 1.413; União (5º) 1.039. Destaco que tanto Comercial quanto CSE já receberam o CSA em seus estádios, público que representa, respectivamente, 80% e 39% dos torcedores que foram a Viçosa e a Palmeira dos Índios até aqui. Além disso, CSA, CSE, CEO e Corinthians jogaram 3 partidas em casa, enquanto os demais, apenas duas.

Mas se essa diferença valeu o segundo posto para o CSE, não adiantou muito para o Corinthians Alagoano. Conhecido como o maior formador de atletas do país, o time claramente atua para garantir uma boa estrutura para a base, de forma a lucrar com a venda de jogadores, com direito à parceria com times portugueses. Afinal, seria difícil competir com CSA e CRB na capital. Por conta disso, no ano passado o clube disputou o Estadual na cidade de Pilar - ação semelhante do gaúcho Cruzeiro, que migrará de Porto Alegre para Cachoeirinha.

Voltando ao Estádio Nelson Peixoto Feijó, o time tem os três piores públicos do torneio: 298 pessoas viram a vitória do clube sobre o Comercial por 2 a 0 na 2ª rodada; 273 pessoas acompanharam a derrota para o CEO na rodada seguinte; e, apesar da vitória sobre o CSA na partida anterior, apenas 161 pessoas viram a goleada sobre o União por 4 a 1 no último jogo.


PORCENTAGENS E MUITAS DESPESAS
Aos clubes mandantes cabe pagar todas as despesas com transporte, parte do INSS e alimentação da arbitragem, delegados e/ou observadores da Federação e o seguro do público pagante. Além disso, a FAF fica com 8% da receita bruta. Os clubes ainda ganham um desconto de 11% sobre os pagamentos de INSS, o que geralmente não passa de R$ 100.

Como se isso não bastasse, alguns clubes perdem recursos para o Tribunal Regional do Trabalho por conta de ações trabalhistas. O CSE perdeu 20% e 30% sob o valor bruto - 50% quando somados, já que devem ser, aparentemente, ações diferentes - em duas das três partidas que teve como mandante. Foram mais de R$ 2 mil que mal caíram nas contas do clube após as partidas contra o União e o CSA.

O Azulão é outro clube que tem deduções extras. Uma porcentagem (não revelada) vai para a Associação dos Cronistas Desportivos de Alagoas (ACDA), no valor de R$ 1 mil nas três partidas realizadas no Rei Pelé.

Falando em Estádio Rei Pelé, o aluguel do espaço custa R$ 2 mil por jogo ao clube. Por conta disso, o CSA está longe de ter a maior receita líquida numa partida do campeonato, que ficou com o Comercial, na partida realizada contra o clube azulino ainda na 1ª rodada, que gerou mais de R$ 25 mil ao clube de Viçosa. O segundo lugar vem de CSA 1X0 Murici, que gerou cerca de R$ 10 mil ao maior campeão alagoano.

O alto valor de despesas do CSA como mandante fica ainda mais exposto quando se percebe que os ingressos mais caros são cobrados no Estádio Rei Pelé, que vão de R$ 5 a R$ 80 (entre bilhetes para estudantes e idosos para arquibancadas baixa e alta e cadeiras) - apesar de que ainda não foi vendido sequer um ingresso inteiro para a cadeira, que custa R$ 80. Os demais clubes cobram em média, R$ 10 - alguns clubes vendem ingressos para estudantes/idosos. Só o Comercial fez um valor diferenciado para a partida contra o CSA, com valores a R$ 10 e R$ 20.

O CSE é outro clube que paga aluguel do campo, neste caso, o Juca Sampaio, em Palmeira dos Índios, mas representa uma porcentagem na receita. Assim, foram gastos de R$ 361 a R$ 962 com o aluguel do estádio palmeirense.

Por fim, destaco ainda que há relatos nos borderôs de que alguns clubes deixaram de repassar parte da renda para a Federação Alagoana de Futebol, foram os casos: União, na derrota por 3 a 0 para o Sport na 4ª rodada, que teria deixado de pagar R$ 77,80; e do Murici, no empate com o Comercial, também na 4ª rodada, que teria deixado de pagar R$ 2.039,05 da renda. Porém, não há a informação exata sobre qual parte das despesas deixaram de ser pagas e, além disso, se este valor não pago foi descontado ou não da receita líquida.

CLASSIFICAÇÃO
O Campeonato Alagoano 2013 terá os 4 jogos da 5ª rodada sendo realizados nesta quarta-feira à tarde: Sport X Corinthians; União X CSA; Murici X CSA; Comercial X CSE. Abaixo a classificação até aqui (fonte: FAF):

domingo, 27 de janeiro de 2013

"Mas por que o futebol?"

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Estrangeirismo, roupa de empréstimo que não nos serve, costume intruso, coisa estrangeira e exótica, enfim, "um entusiasmo de fogo de palha capaz de durar bem um mês". É assim que Graciliano Ramos, sob pseudônimo J. Calisto, define o futebol em coluna publicada em abril de 1921 no jornal "O Índio", de Palmeira dos Índios-AL, texto republicado em Linhas Tortas. E agora?

Quem acompanha os meus textos neste blog deve ter percebido - e espero que sim! - que nutro uma admiração pelo conterrâneo Graciliano, que é o autor que mais li livros e que mais escrevi sobre neste humilde espaço. Ao mesmo tempo, tenho uma relação pregressa com o futebol, de amor mesmo, de forma a defendê-lo de quaisquer comentários apocalípticos, seja na Academia ou no cotidiano, com as pessoas que não entendem a paixão que ele gera.

Confesso que há muito procurava este texto, o décimo-primeiro da primeira parte de Linhas Tortas. E aí eu já reli e sigo a pensar como eu posso tratar dos comentários do Mestre Graça, afinal, o mês até que está durante muito né? São 117 anos desde aquela partida organizada e praticada por Charles Miller em São Paulo e, de inserção mais profunda na sociedade brasileira já são, no mínimo, oito décadas.

Por um lado, eu poderia seguir a provocá-lo. Responder os comentários sobre a falta de físico dos brasileiros para esportes que mais o exigissem ou a sua expansão para os mais diversos terrenos, para além das regiões litorâneas, etc. Por outro, poderia desenvolver um mea culpa que jamais Graciliano faria, utilizando de alguns dos argumentos apontados por ele quando, em determinado trecho da crônica, afirma que algumas práticas exóticas podem ser assimiladas por nós.

Não sei bem como vai ser isso, mas que não seja nenhuma das alternativas anteriores. Quer dizer, que tenha um pouco das duas juntas e mais outras. Até mesmo porque de só ter duas alternativas já basta a moeda nossa de cada dia.

CULTIVEM A RASTEIRA!
Comentei no texto sobre Linhas Tortas que as crônicas de Graciliano refletiam uma preocupação com aspectos nacionais, porém, não no sentido elitista, mas sim para incentivar as identidades regionais de um país do tamanho deste. Aqui não é diferente. A todo o momento o autor natural de Quebrangulo escreve que os nossos jovens deveriam deixar as estrangeirices de lado e se preocupar com as coisas locais. Segundo ele:

“Temos esportes, alguns propriamente nossos, batizados patrioticamente com bons nomes em língua de preto, de cunho regional, mas por desgraça estão abandonados pela débil mocidade de hoje” (80).

Não que Graciliano fosse contra apropriações de coisas exóticas. Lembro que estávamos às vésperas do movimento antropofágico na cultura nacional, a ser liderado por Oswald de Andrade em São Paulo, coincidência ou não. Ainda assim, ele estava situado no grupo de literatos era contrário à "popularização" dele, por mais que não tenha sido por motivos de mantê-lo sob as asas das classes mais abastadas da sociedade. Diferença importante já que aquele período é marcado pela luta pelo profissionalismo neste esporte, o que significava tratar os jogadores como trabalhadores (mercadoria) e, consequentemente, a amplitude de sua prática para pessoas de classes sociais desfavorecidas. O público, comprando ingressos, já poderia ser formado para além de membros da elite.

Ele mesmo coloca que caso a coisa exótica seja assimilada entre nós, ela é mito bem-vinda, e tão logo "arranjemos ela um filho híbrido que possa viver cá em casa". Para alguns, é isto que acabamos por fazer com o futebol, pegamos as práticas bretãs, mesclamos com a ginga e o drible de origem africana e acabamos criando um "estilo de jogo", ou, ao menos, a ideia/tradição disso, de forma que o football viraria futebol, o corner, escanteio, o goal, gol, e assim por diante.

Mas Graciliano achava que o futebol não preencheria necessidade alguma no Brasil, não haveria lacuna a ser por ele ocupada. Primeiro, porque já havia um jogo parecido. Segundo, porque enfrentaria a resistência de locais com pessoas fisicamente ineptas para práticas que exigissem do físico, seria necessária uma transformação da "banha em fibra". Assim:

“O do futebol não preenche coisa nenhuma, pois já temos a muito conhecida bola de palha de milho, que nossos amadores mambembes jogam com uma perícia que deixaria o mais experimentado sportman britânico de queixo caído” (82).

Não importava que ele já estivesse intrincado nas grandes cidades, litorâneas, pois enquanto "as cidades regurgitam de gente de outras raças ou que pretende ser de outras raças; não somos [no sertão] mais ou menos botocudos, com laivos de sangue cabinda ou galego" (82). Não se adaptaria às "boas paragens de cangaço".

Assim, deveríamos praticar jogos nacionais. E se é para fugir ao "natural" de sermos "em geral, franzinos, mirrados, fraquinhos, de uma pobreza de músculos lastimável", deveríamos recorrer aos esportes regionais: "o porrete, o cachação, a queda de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada e, melhor que tudo, o camba-pé, a rasteira" (82).

Sigo citando a ironia e o sarcasmo do autor sobre os problemas sociais dos recantos do país. Ele caracteriza a falta de preocupação, mesmo com o esporte bretão, com a formação do cérebro, que fica em detrimento à constituição muscular. Mas, principalmente, a análise sobre a sociedade brasileira aparece ao caracterizar a rasteira como esporte nacional. Não apenas a rasteira física, mas no sentido metafórico do termo. A vida prática mostra isso. Seja "no comércio, na indústria, nas letras e nas artes, no jornalismo, no teatro, nas cavações, a rasteira triunfa" (83).

Dedicar-se à rasteira, no final das contas, significa mais dedicar-se à formação do cérebro, ou da "esperteza", muito mais importante naqueles dias, e ainda hoje:

"E se algum de vocês tiver vocação para a política, então sim, é a certeza plena de vencer com auxílio dela. É aí que ela culmina. Não há político que a não pratique. Desde S. Exa. o senhor presidente da República até o mais pançudo e beócio coronel da roça, desses que usam sapatos de trança, bochechas moles e espadagão da Guarda Nacional, todos os salvadores da pátria têm a habilidade de arrastar o pé no momento oportuno" (83).


Mesmo o esporte que trouxe um excelente resultado para o Brasil, o tiro, que deu a nossa primeira medalha de ouro em Jogos Olímpicos, na Antuérpia (Bélgica), em 1920, com Guilherme Paraense, seria bem mais proveitosa a disputa com "espingarda umbiguda, emboscado atrás de um pau" (82). Ou seja, o problema dele não era com o futebol, que recebia maior destaque por ganhar cada vez maior destaque nas discussões públicas brasileiras, mas que devíamos exaltar mais as coisas brasileiras - por piores que fossem.


E DEPOIS?
Graciliano Ramos viveu até 1953, portanto, conseguiu acompanhar momentos importantes de delimitação do futebol como um esporte a fazer parte da construção de uma identidade nacional. Em 1938, sob o comando de Leônidas da Silva numa primeira seleção "profissional", o Brasil passaria a ser conhecido no mundo inteiro com o 3º lugar na Copa realizada na França.

Em outras duas crônicas, publicadas na segunda parte de Linhas Tortas, volta a aparecer o futebol, agora sem qualquer ressentimento ou crítica, já incluso no debate cotidiano nacional, como neste trecho de "Monólogo numa fila de ônibus", publicada em 15 de julho de 1945:

“Temos o futebol, sim senhor, e temos o cinema. Temos também a esperança do carnaval. No futebol admiramos Leônidas e Perácio, se é que esses dois heróis permanecem no cartaz. No carnaval aplaudimos o samba, nacionalmente” (240).


Antes mesmo disso, em Caetés, o seu primeiro livro, publicado ainda em 1933 - que eu estou acabando de ler e em breve comento por aqui -, Graciliano cita o futebol, ainda que como crítica à intenção de retomar a sociedade de esportes da cidade de Palmeira dos Índios, incluída aí à volta da prática de futebol no campo no lugar do plantio da mandioca e do algodão, que passou a ocupar seu espaço. Porém, isso se dá através da personagem beata, quase assexuada, da história, D. Engrácia:

"- Faz mal, opinou D. Engrácia. Isso assim está melhor do que cheio de vadios trocando pontapés.
"- Decerto, concordou a Teixeira, incorrigível. Antigamente não havia disso" (151).

Não lembro se este esporte torna a aparecer em outros livros de Graciliano Ramos, mas creio ser uma disputa superada já na década de 1930 de o futebol ser apropriado e reconstruído no Brasil, à "nossa maneira", digamos assim, mais do que um exemplo de imposição cultural imperialista - ou de uma prática de lazer restrita aos membros da elite socioeconômica do país. 

Depois disso ainda viria a Copa do Mundo realizada no Brasil, em 1950, e confesso que tenho bastante curiosidade para saber o que Graciliano achou de tudo aquilo. Se é que ele chegou a se preocupar com o assunto, mesmo morando no Rio de Janeiro.

REFERÊNCIAS
RAMOS, Graciliano. Caetés. 18.ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 1982.

RAMOS, Graciliano. Monólogo numa fila de ônibus. In: _____. Linhas Tortas: obra póstuma. 8.ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 1980. p. 240-241.

RAMOS, Graciliano. Traços a Esmo - XI. In: _____. Linhas Tortas: obra póstuma. 8.ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 1980. p. 79-83. (Versão editada aqui)

Uma sensação monossilábica

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Acordei com o toque do telefone. Vejo na tela o nome do meu pai e a primeira coisa a passar na cabeça é que algo ruim aconteceu. Ele pergunta se eu soube do desastre em Santa Maria, com mais de 200 mortos num incêndio. Acordado há pouco, eu mal conseguia raciocinar, ter respostas não monossilábicas. Ele me disse para ligar a TV, estava passando no Esporte Espetacular. [Contradição dos dias atuais, apresentadores "adestrados" nos últimos anos para o esporte entretenimento tendo que fazer uma cobertura jornalística das mais difíceis].

Ele segue falando comigo e eu sigo sem ligar a televisão. O meu pai fala que o Brasil ganhou no futebol de areia, mas eu seguia sem raciocinar direito. Ele diz que está na casa da vó, passa o telefone para ela, que nas condições de saúde atuais não lembra que estou tão distante de lá e reclama que faz tempo que eu não apareço. O telefone vai para a tia e eu sigo ali, quase monossilábico até voltar para o meu pai. Ele volta a me perguntar se eu liguei a TV e promete ligar depois do jogo do CSA.

Desligo o celular e ligo a TV, vendo os cortes da Glenda no Moré em meio a entrevistas por telefone com sobreviventes, passagens de repórteres direto de Santa Maria, enquanto acesso o Facebook pelo celular para ver como estavam colegas que são de Santa Maria e/ou passaram pela UFSM. Vi que sim, a maioria nem estava na cidade.

Não eram só as palavras que saíam difíceis. Não era bem por conta do recém acordar. Uma sensação estranha, de angústia, percorre o meu corpo. Poderia não conhecer ninguém. Poderia inicialmente nem entender como tantas pessoas caberiam numa boate. Pessoas, várias, entre os mortos e os familiares sendo atingidos seja por conta de um erro da banda, dos seguranças ou de quem quer que tenha sido - por mais que eu acredite que os seguranças que não tenham deixado as pessoas saírem tenham feito isso por "repetição" do trabalho.

No primeiro intervalo eu já havia dado uma varredura pelos outros canais da TV aberta e ninguém transmitindo nada sobre o assunto. Momentos depois, nova olhada e todo mundo - menos a TVE - falando sobre. Datena apresentava o plantão na Band e confesso não ter tido a paciência para aturá-lo. Mudei para a Record e mal consegue reconhecer o dono da voz que apresentava o plantão, enquanto no SBT o Domingo Legal informava o assunto entrevistando uma dançarina que morou por 21 anos na cidade. Era melhor desligar a TV.

Tinha planos para escrever hoje, mas nem sei se consigo fazer isso. Ainda mais depois de ter me dado conta que ali havia tantas pessoas que, como eu, estão por aqui para estudar e provavelmente só tem os familiares por telefone. Lembrei da primeira entrevista que ouvi pela TV, dizendo que, na verdade, era de Belém-PA, e estava ali para estudar.

É muito estranho isso, ter essa sensação. Talvez acrescida por um pouco de vergonha pelos problemas que eu tenho me preocupado quanto ao futuro e que me dão há mais de duas semanas problemas no sono, se é que ainda dá para chamar disso, que só pioram. Eu preocupado com o futuro que posso ter enquanto milhares de pessoas são afetadas por um acontecimento inesperado que acabou com o futuro.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O premiado e muito elogiado O Som ao Redor

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Explodem as bombas na tela, sobem os caracteres, as luzes da sala de cinema acendem e a música segue. Parte do público levanta e sai. Uma dezena segue sentada, esperando para que mais alguma coisa ocorra depois do final. Alguma imagem, alguma cena perdida,...

Fui assistir a O Som ao Redor esta semana. Há algum tempo que venho lendo notícias e comentários sobre o filme dirigido por Kleber Mendonça Filho, de 44 anos, e creio que, ao menos nos últimos cinco anos, nunca vi um filme nacional tão elogiado quanto este. Vários prêmios, aparição em listas de melhores filmes de 2012, inclusive do The New York Times, e a afirmação de se tratar do "melhor filme brasileiro dos últimos anos".

Se li alguma crítica negativa, ela foi bem pontual, referente às interpretações dos novatos atores da película. Ainda assim, quando escrevo aqui que ela foi "bem pontual" significa que foi num comentário a um texto sobre o filme.

Cheguei à sala de cinema com muita ansiedade para confirmar o potencial estético do filme, se tudo aquilo que lera realmente era verdade. Estava diante mais que de outra excelente produção de um cineasta pernambucano, cuja lista em quantidade e qualidade é (felizmente) cada vez maior, mas de uma obra prima atemporal e realmente aplicável a qualquer espaço geográfico, apesar do sotaque característico.
O CINEASTA E O CINEMA BRASILEIRO
Antes de comentar as minhas impressões sobre o filme - que acredito até não serem importantes, já que podem ser lidas várias e melhores pela internet e pelos cadernos de cultura dos jornais -, enrolo mais algumas linhas ao falar da formação de Kleber Mendonça. Jornalista, ele foi crítico de cinema por 12 anos, iniciando a carreira de cineasta com dois curta-metragens, Vinil Verde (2004) e Eletrodoméstica (2005). Em 2008, estreou nos longas-metragens com o documentário Crítico. Em 2009, lançou mais um curta-metragem, Recife Frio, que eu conheço e acho excepcional e que já utilizei para ilustrar um dos textos por aqui.

 Kleber também é programador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e do festival Janela Internacional de Cinema do Recife. Ser jornalista, crítico e programador de um cinema já me causou certa curiosidade. Acaba sendo comum ver profissionais da música e da produção audiovisual reclamarem de críticos porque "eles não sabem fazer e optam por falar mal" ou coisas do tipo. A trajetória deste diretor pernambucano, ainda novo, 44 anos, e com um grande destaque para seu primeiro longa de ficção, lança uma luz importante sobre a produção não aliada a grandes conglomerados (leia-se Globo Filmes).


Enquanto vejo postagens no Facebook oficial do filme com comemorações do aumento em dezenas de milhares em termos de público, também leio textos que debatem, alguns dos quais com citações de Kleber Mendonça, a indústria cinematográfica nacional, dividida entre ricos e pobres distribuidores, com todos os vários problemas da propriedade cruzada midiática por parte de um grupo comunicacional. Essencial para a Retomada também o é para criar barreiras de mercado prejudiciais a uma produção audiovisual ousada esteticamente, criativa e com muito potencial. Aproveitemos o momento para debate.
OS SONS COTIDIANOS
Tema musical, a apresentação dos apoios ao filme, que custou R$ 1,8 milhão oriundos de editais públicos,  e, ainda bem, com poucas marcas a dividirem os primeiros minutos do filme. O Som ao Redor aparece em seguida, com uma série de fotos históricas sobre o passado canavieiro de pernambuco. Depois, vê-se a transição daquele período rural para a metrópole de classe média da rua demonstrada no filme.

A mulher casada com um marido que passa a maior parte do dia no trabalho e a noite roncando, com dois filhos pré-adolescentes que estudam inglês e chinês, com uma vizinha invejosa e barraqueira, e agoniada pelo cachorro do vizinho que não para de latir é-nos apresentada após uma noite de insônia. Os sons ao redor são do marido roncando e do cachorro latindo. Para o segundo, nem o cigarro de maconha dá paciência, então, resta colocar um comprimido num pedaço de carne e fazer com que o cão apague por quase 24 horas.

Num apartamento, um jovem casal acabou de se conhecer, saem da cama com o barulho do despertador e tomam cuidado para que as filhas da empregada, prestes a se aposentar, não os vejam pelados. Depois, descobrem que o aparelho de tocar CDs do carro dela foi roubado com um extremo cuidado, já que retiraram o vidro traseiro e ainda "deixaram os seis livros que estavam atrás".

No mesmo dia, uma turma de seguranças aparece distribuindo panfletos na rua, anunciando o serviço e conversando com cada morador do lugar. Curioso, no mesmo dia em que um carro aparece roubado... Só um morador, o tio de João - o do parágrafo anterior -, nega a necessidade de mais segurança. A casa dele era a única que não tinha muros altos e cerca elétrica, só uma besteirinha no telhado porque não dá para confiar tanto. Quando Clodoaldo chega para falar-lhe, tem que bate palmas por três vezes, acompanhado pela vista de João e dele, que acompanham pela telinha da "besterinha" do lado de fora.

Ambos são da família de um velho dono de terras, dono de mais da metade das casas da rua, que são alugadas por João. O velho debocha do serviço de segurança e pede para eles não se meterem com o outro neto, que "apronta de vez em quando". A empregada dá a entender que pode se envolver com Clodoaldo.

E assim o filme segue, com histórias paralelas, mas muito bem cruzadas, que demonstram problemas como o do eterno medo da violência da classe média recifense, que vive perto, mas não tanto, dos locais mais caros da cidade; e também a especulação imobiliária, como a venda da casa do tio de Sofia, namorada de João ao longo do filme, que morou na rua por seis meses. O principal, e é assim que a história de Bia, mãe ao mesmo tempo igual e diferente das outras, cruza-se com as outras num final genial e misterioso - por isso os meus "vizinhos de sala de cinema" ficaram esperando mais um pouco - é uma bela demonstração da luta de classes da sociedade, repleta de preconceitos maquiados, como na reunião de condomínio para demitir o porteiro do prédio, em que há revolta de uma mulher porque a sua Veja estava vindo sem o plástico - infelizmente, só eu ri desta frase.

O filme traz coisas comuns: como a presença de seguranças de rua, que tomam conta e conhecem tudo sobre os moradores da rua; o carrinho que vende CDs piratas com o som bem alto; a briga entre vizinhas; o sotaque pernambucano em alguns diálogos que até mesmo não são de "atores profissionais", até mesmo porque ali há pessoas que não eram atores; o guardador de carro que arranha o carrão de luxo de uma senhora que o repele numa das cenas,... Algo tão brasileiro e nordestino, mas, ao mesmo tempo, sem qualquer problema para gringo algum entendê-lo, como mostra o sucesso internacional do filme.

Mas há muito de diferente, de incomum, para além do final que fez com que a metade da sala seguisse. A primeira coisa que me intrigou antes e durante o filme é o título dele. Afinal, O Som ao Redor representa uma recepção que não estamos acostumados a ter cuidado - lá vou eu querer colocar "observar" - quando vemos um audiovisual, dada a maior preocupação em ver do que em ouvir da nossa sociedade. E isso não é nada óbvio ao longo do longa-metragem. Os sons têm destaque no filme, mas isso fica na construção dele, não é algo que forçosamente ganha presença, por mais que tenha maior participação que em outros. [Ficou confuso né? Então veja e ouça a película e me ajude a explicar melhor depois aqui nos comentários.]

Outra diferença clara é a divisão em partes, geralmente tendo como referência a palavra "guardas" (cães, noturnos, costas). A quebra da história que está sendo vista com o decorrer das histórias em paralelo, com direito à visita ao interior pelo casal e a uma festa sem o casal no final, e sem maiores explicações - o bom e velho "vamos arrumar as malas e ir à fazenda do vovô?", é ainda mais demarcada com a legenda com as partes e seus títulos. Fiquei curioso em tentar entender cada título na parte que vinha a seguir. Assim como, com essas adaptações de filmes para séries (Xingu e Gonzaga: de pai para filho), vi neste um filme que daria para fazer isso de forma bem fácil.
Por fim, apesar de me prender ao som, uma das imagens que mais me chamou a atenção lendo e vendo coisas sobre o filme foi a de João numa cachoeira de água vermelha. É bem interessante que em meio de uma proposta estética diferente, com direito a discursos que não são "profissionais" e a presença de maior destaque aos sons, há também inovação quanto a determinadas cenas. Esta é a de João Sofia e o avô numa cachoeira muito forte e, do nada, a água passa a ser vermelha e a cena sai disso. Além disso, há a cena da filha de Bia acordando e vendo meninos negros saltando de uma das casas vizinhas. Vários. Ela levanta, vai ver os pais e a cama deles vira um armário, a do irmão, no mesmo quarto, idem. Algo se aproxima e zás. Ela acorda.
PRÊMIOS
Não sei se consegui criar curiosidade sobre o filme, especialmente para aquela pessoa que é desantenada totalmente e não ficou atraída para vê-lo após tantos elogios publicados sobre ele. Espero que sim. O Som ao Redor chega à sua quarta semana de exibição no Brasil em poucas salas, que podem ser conferidas na página no Facebook do filme: ver aqui. Aproveito para destacar também isso, a preocupação na divulgação por este espaço, com vídeos, imagens e constantes informações sobre onde o filme está sendo passado.

Aqui no Rio Grande do Sul, o filme está em cartaz em três horários na Cinemateca Paulo Amorim (Casa de Cultura Mário Quintana) e em um horário no Espaço Itaú de Cinema (Espaço 3), ambos em Porto Alegre. Em Maceió, o filme segue em cartaz no Cine Sesi Pajuçara, em apenas um horário.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

[Gauchão 2013] O time do "chefe" vence

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Final de tarde do verão gaúcho. Com a nova última parada da Trensurb ao fundo, inicio o meu acompanhamento do Campeonato Gaúcho 2013 no Estádio do Vale, em Novo Hamburgo, para ver Novo Hamburgo X São José-POA.

Sétimo estádio que eu visito aqui no Rio Grande do Sul, chegar ao Estádio do Vale ficou bem mais fácil após a ampliação das linhas de trem para o Norte da região metropolitana, com as estações Rio dos Sinos (ainda em São Leopoldo) e Santo Afonso. A última estação em funcionamento fica a duas quadras do novo estádio da região, inaugurado em janeiro de 2009.

Estação Santo Afonso à direita
Pelo que havia lido sobre os participantes do Gauchão deste ano, o Novo Hamburgo, finalista do primeiro turno do ano passado, teria perdido o empresário mecenas que bancou o time, que teria partido para Pelotas. Assim, já não eram boas as expectativas para 2013. Ainda assim, apesar da derrota na primeira rodada para o Veranópolis por 3 a 1, o Anilado recebeu um público razoável para o confronto contra o São José, de Porto Alegre.

O Zequinha, até outros tempos dito como o mais querido de Porto Alegre, vem de resultados positivos desde a pré-temporada, onde conquistou a Copa Centenário, disputa realizada com Juventude, Santa Cruz e Cruzeiro no início do ano porque os quatro clubes completam 100 anos em 2013. Na estreia, Lucas Gaúcho marcou o gol da vitória sobre o Pelotas no Passo D'Areia. Pelo que ouvi sobre a partida, o time manteve o estilo de jogo do torneio preparatório, segurando a pressão do adversário e marcando nas poucas chances construídas.

Novelletto, ao fundo, de vermelho
Ah, "outros tempos dito como o mais querido" porque o clube, extra-oficialmente, é de Francisco Noveletto, presidente da Federação Gaúcha de Futebol. Novelletto começou o ano dizendo que era obrigação dos times do interior vencer a Taça Piratini (1º turno) porque o Internacional iniciou o torneio com um time sub-23 para melhorar a preparação do time profissional, enquanto o Grêmio começou com o time B por conta da Pré-Libertadores. Enquanto os times menores recebem R$ 800 a R$ 900 mil para a competição, a dupla Gre-Nal fica com R$ 2,7 milhões cada um. Além disso, após a confusão do ano passado, acabou de vez o apoio do estatal Banrisul aos clubes menores - o banco segue patrocinando a dupla da capital.

Como fiz ano passado em Sapucaia, torcer a favor do São José, apesar do azul escuro do uniforme, não estava nos planos. Ainda mais com a presença do presidente pouco acima de onde eu fiquei. De recepcionado com um "Presidente" a xingamentos no segundo tempo. Passemos então à explicação dessa mudança a partir do que foi a partida.
Até camisa do Criciúma - e eu com a do CSA - no meio da torcida anilada
POUCOS LANCES NA ETAPA INICIAL
Com o jogo iniciado às 20h, apesar de ter visto em vários lugares a informação de que começaria às 20h30 - ao contrário do que estava no site da Federação -, algumas pessoas acabaram perdendo os lances iniciais da partida.

Um dos poucos remanescentes da boa campanha do ano passado, o volante Márcio Hahn reclamou muito da arbitragem após uma falta recebida, com direito a encarada face a face, e levou amarelo ainda aos 3 minutos. Hahn é capitão e um dos ídolos da torcida, sendo elogiado durante o jogo por alguns torcedores. Por que tanta descrição? Trataremos disso depois.

O São José manteve o "jeito de jogar", com o Novo Hamburgo tendo maior posse de bola, enquanto o Zequinha tentava aproveitar os contra-ataques. Aos 8 minutos, por pouco o Anilado não marcou por pouco. Escanteio cobrado da esquerda, o goleiro sai mal, toque para o gol, mas o zagueiro tirou em cima da linha. Apesar de uma ou outra reclamação da torcida, o jogo seguiu.

Boa troca de passes aos 13 minutos. Paulinho Macaíba, aquele mesmo que passou pelo CSA por três vezes - sendo a de maior sucesso a primeira, quando fez parte do time campeão alagoano de 2008 -, recebeu no ataque e tocou para Giuliano bater. A bola foi por cima do gol.

O jogo ficou truncado e o São José começou a achar mais espaços. Aos 18, escanteio para o Zequinha, a bola foi bem fechada e assustou a torcida local. Aos 30, Lucas Gaúcho, jovem de 21 anos formado pelo São Paulo, recebeu na entrada da área e tocou na saída do goleiro, mas para fora! 

O primeiro tempo seguiu sem gols até o final. Novo Hamburgo 0X0 São José.
Márcio Hahn observa os companheiros em campo no 2º tempo
OS CHEFES
Volta do intervalo e primeira substituição do jogo. Duas fileiras à minha frente, vibração de algumas mulheres porque um amigo ou parente entraria, o lateral Vinícius. Instantes depois, um jogador passa à minha frente e encontra a família, filho, esposa e outras duas pessoas que não consegui identificar o parentesco, que estavam sentados na fileira da frente. Márcio Hahn!

O filho perguntou porque ele tinha saído e a resposta, chateado, foi: "Porque o treinador quis". A esposa perguntou se ele estava machucado e nova resposta negativa. Hahn acompanhou a partida ali por cerca de 20 minutos, até ir ao encontro de algum amigo em outra parte das arquibancadas.

O Novo Hamburgo começou pressionando o São José no segundo tempo e foi desperdiçando oportunidades. Aos 9 minutos, Macaíba chutou para fora. Aos 15 e aos 18, em contra-ataques, Lucas Gaúcho exigiu boas defesas de Gott, provando que o Anilado deveria tomar cuidado na partida. 

O lance da partida, ver vídeo acima, poderia vir aos 24 minutos. Falta na entrada da área para o Novo Hamburgo, mas a bola passou por cima do gol. No lance seguinte, ataque do São José e o assistente deu toque de mão dentro da área. Pênalti.

Naquele momento, era o quinto marcado na 2ª rodada do Gauchão, sendo que os outros quatro haviam sido desperdiçados. A torcida anilada até vaiou, mas Cléber Oliveira bateu bem e abriu o marcador no Estádio do Vale. Novo Hamburgo 1X0 São José (ver abaixo).
O Novo Hamburgo passou a atacar de forma desorganizada, abrindo ainda mais espaços na intermediária. Algumas decisões duvidosas do árbitro da partida começaram a aumentar as reclamações da torcida. Um torcedor, bem próximo a Novelletto começou a reclamar ainda mais, a ponto de eu achar que iria na direção do presidente da FGF: "Para agradar ao Novelletto, bota esses merdas para apitar aqui". Um dos lances polêmicos veio aos 34, quando o zagueiro do São José afastou a bola com o pé lá em cima. O juiz indicou que foi na bola, o que não evitou os xingamentos da torcida, que via nessa decisão uma forma de "agradar ao chefe".

Para piorar, aos 36 minutos, o zagueiro Baggio falhou e deixou a bola limpa para Lucas Gaúcho tocar na saída do goleiro. 2 a 0 para o São José e a torcida do Novo Hamburgo começou a sair do estádio e xingar time, jogadores e diretoria, com coisas como  "Time sem vergonha" e "Adeus, Iiiiser". [Consta no Toda Cancha que Gilmar Iser e o vice de futebol Raul Hartmann foram demitidos após a partida]

O jogo terminou com vitória do São José por 2 a 0 para o Novo Hamburgo. De um lado, o São José lidera o Grupo B com 6 pontos ganhos em duas partidas, enquanto o Novo Hamburgo é o último colocado do Grupo A sem pontos marcados.


RESULTADOS
- 1ª RODADA: 19/01 - Inter 1X1 Passo Fundo; São José 1X0 Pelotas; Juventude 1X1 Lajeadense. 20/01:  Esportivo 0X2 Grêmio; Canoas 0X0 Caxias; Santa Cruz 1X2 Cerâmica; Veranópolis 3X1 Novo Hamburgo; São Luiz 0X0 Cruzeiro.

- 2ª RODADA: 23/01 - Cruzeiro 0X0 Santa Cruz; Cerâmica 1X2 Inter; Novo Hamburgo 0X2 São José; Passo Fundo 1X1 Juventude; Pelotas 1X3 Esportivo.

ATUALIZADOS DEPOIS: 24/01 - Caxias 2X1 Veranópolis; Lajeadense 2X0 São Luiz; Grêmio 1X2 Canoas.


* Para ver mais vídeos de jogo, acesse o nosso canal no Youtube: Futebol 2013; Aqui para ver as fotos do jogo; e nos siga pelo Twitter: @AndersonDGomes.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

As Linhas Tortas de Graciliano

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Para conhecer um autor muitas vezes basta ler os seus escritos. Mesmo para os romancistas, aqui ou acolá há de aparecer traços da sua formação sociocultural. Às vezes, nem assim. É necessário buscar mais informações em textos mais íntimos sobre a infância ou memórias escritas em momentos ruins. Felizmente, se nem assim há a conformação sobre as ideias próprias do autor, para além de suas personagens, há a possibilidade de se buscar uma publicação com crônicas. Especialmente a partir dos autores modernistas. Alguns dos nossos melhores escritores também ocupavam colunas de jornal.

Se 2012 marcou o centenário de Graciliano Ramos, em 20 de março de 1953 completará 60 anos de sua morte, com a 11ª Feira Literária Internacional de Parati sendo em sua homenagem. Assim, esta postagem também segue o âmbito das homenagens ao autor natural da alagoana Quebrangulo. Obra póstuma, publicada em 1963, Linhas Tortas é um compêndio de crônicas escritas de 1915 a 1953, perpassando, portanto, dos 23 aos 60 anos do Mestre Graça.

Linhas Tortas está dividido em duas partes. A primeira tem dois conjuntos de textos: "Linhas Tortas" e "Traços a Esmo", publicadas por R.O. em 1915 no Paraíba do Sul (RJ) e por J. Calisto em 1921 em O Índio, respectivamente. A segunda parte, mais numerosa, conta com textos com títulos, publicados a partir da década de 1930. Em comum, em todos os períodos, uma escrita ácida, cheia de ironia, mesmo para os amigos ou figuras "míticas" da literatura nacional.

Os assuntos são vários, com destaque para as análises, debates e provocações referentes à produção literária nacional. Uma lista de autores são citados ou comentados, dentre os quais eu anotei os seguintes: Machado de Assis, Eça de Queiroz, Balzac, Jorge de Lima, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, José Lins do Rêgo, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guimarães Rosa e Aurélio Buarque de Holanda.

O TRABALHO DO ESCRITOR
Dentre as crônicas é possível observar como Graciliano trata com certa ironia também o seu ato de escrever, mas com uma criatividade incrível para preencher as páginas dos jornais mesmo em dias que não se tem um grande assunto para isso - décadas depois, Luís Fernando Veríssimo vive a dizer que, para ele, escrever é muito difícil.

Em 15 de abril de 1915, ele estreava como colunista do jornal Paraíba do Sul com um texto em que faz o possível para destacar que só assumiu o espaço porque o diretor do jornal quis, apesar de todas suas advertências sobre uma possível falta de qualidade para atender aos desejos dos futuros leitores: “O essencial é que se escreva. Não quiseram que esta coluna ficasse em branco, malgrado todas as razões que foram apresentadas a secretário da folha. Era preciso que se escrevesse, qualquer coisa a esmo, embora” (18).

Décadas depois (em "Alguns tipos sem importância", agosto de 1939), já com alguns livros publicados e prêmios recebidos, ele tenta responder uma questão muito comum: em quem se baseava para escrever suas personagens:

“Referindo-me, portanto, a essa cambada não penso no que ela é hoje multiforme, incongruente, modificada pelo público, mas nos tipos eu imaginei e tentei compor inutilmente. Falharam todos. Esta declaração é necessária: talvez não anule, mas pelo menos atenuará uns toques de vaidade que por acaso apareçam nas linhas que se seguem” (194).

A conclusão sobre eles vem a ser genial, ainda que deixe mais dúvidas para quem voltar a perguntar sobre o assunto:

“Todos os meus tipos foram constituídos por observações apanhadas aqui e ali, durante muitos anos. É o que penso, mas talvez me engane. É possível que eles não sejam senão pedaços de mim mesmo e que o vagabundo, o coronel assassino, o funcionário e a cadela não existam” (196).

RESPOSTAS
Há colunas que eu gostei ainda mais, principalmente aquelas dedicadas a respostas a leitores que questionaram informações ou os comentários realizados em textos anteriores.

Um destes é "Manuel Tavares assassinou um homem", reprodução de uma "Carta de um jurado a cavalheiro de importância", publicada por J. Calisto em O Índio, jornal de Palmeira dos Índios em fevereiro de 1921. A carta trata de uma oferta de uma decisão favorável às pessoas ricas da cidade para não prender ou punir familiares que tenham cometido algum crime. Vejamos o exemplo de argumento deste jurado:

“‘Manuel Tavares assassinou um homem’. Fica-se a incerteza sore se foi Manuel Tavares o assassino ou o assassinado. Sendo ‘assassinar’ um verbo transitivo, também lhe pode servir de agente Manuel Tavares como ‘um homem’. Em casos assim ambíguos, a colocação das palavras em nada influi quanto ao sentido delas. Ninguém nos pode afirmar se o período está em ordem direta ou em ordem inversa. Dizem que ‘Manuel Tavares’ é o sujeito. Por quê? Porque está preso? É absurdo. Não há em gramática nenhuma regra que nos autorize a dizer que agente da ação é o que está na cadeia” (64).

Para quem conhece o Nordeste hoje sabe que coisas assim ainda são passíveis de ocorrer, apesar de geralmente não deixarem registros - ou que os jornalistas não "queiram" procurar estes rastros. Na década de 1920, então, de coronéis e cangaço disputando o espaço no medo das pessoas... Em abril, Graciliano responderia a uma carta de alguém que achou um absurdo o que ele escrevera, como se fosse algo de suma importância para fazer com que as pessoas passem a desacreditar no trabalho de quaisquer júris.

Ironicamente, o autor vai pedindo desculpas e assumindo a sua incapacidade para ocupar um espaço em qualquer jornal:

"Meu arrependimento é grande. Eu devia ter pintado um juiz de fato de olhos azuis, de cabelos loiros, e encaracolados, vestido de anjo. Quem me lesse ficaria pensando que isto é o paraíso e, naturalmente, por imitação, penduraria às costas umas asas de trapo, amarradas a barbante e colaria à cabeça uma rodela de papelão coberta de lata” (77-8).

REGIONALISMO
Uma preocupação frequente de Graciliano ao longo das crônicas publicadas em Linhas Tortas é a de defender o nacionalismo, com fortes críticas a elementos estrangeiros presentes na nossa sociedade - caso do football na década de 1920, identificado como um "modismo" -, assim como, especificamente, a produção literária dos autores regionalistas, casos dele, de Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

Em "Norte e Sul", publicada em abril de 1937, Graciliano critica os autores que optam por escrever por países jamais conhecidos em vez de dedicaram uma atenção maior à sociedade em que está presente, as diferenças existentes no próprio país, no entendimento de que para escrever sobre um lugar é necessário conhecer a formação sociocultural do mesmo. Para ele, trata-se de uma fuga ao que incomoda a elite nacional, que prefere coisas que só existiriam na imaginação:

“Os inimigos da vida torcem o nariz e fecham os olhos diante da narrativa crua, da expressão áspera. Querem que se fabrique nos romances um mundo diferente deste, uma confusa humanidade só de almas, cheias de sofrimentos atrapalhados que o leitor comum não entende. Põem essas almas longe da terra, soltas no espaço. Um espiritismo literário excelente como tapeação. Não admitem as dores ordinárias, que sentimos por as encontrarmos em toda a parte, em nós e fora de nós. A miséria é incômoda” (136).

Ele voltaria ao assunto em texto de setembro do mesmo ano, em que faz a diferença dele e de outrxs para "Os donos da literatura". O autor não conseguiu sobreviver de suas publicações, trabalhando em dois turnos até os últimos anos de sua vida:

“A literatura honorária, escorada e oficial, vive sempre lá fora, chega aqui de passagem e quando aparece, é vista de longe, rolando em automóvel; a literatura efetiva, mal vestida e de segunda classe, mora no interior ou vegeta aqui, no subúrbio, e viaja a bonde, às vezes de pingente” (101).

Apesar dessa crítica a quem opta por esconder a miséria, em "O romance de Jorge Amado", um comentário sobre Suor publicado em 1935, ele destaca esta preocupação do autor baiano, "um desses escritores inimigos da convenção e da metáfora, desabusados, observadores atentos" (93). Porém, ele teria se excedido na demonstração da luta de classes, por conta da sua ideologia: "Não nos parece que o autor, revolucionário, precisasse fazer mais que exibir a miséria e o descontentamento dos hóspedes do casarão. A obra não seria menos boa por isso" (95). 

Algo que já destacamos em outros textos, apesar de também ser comunista, Graciliano buscava não "contaminar" a sua produção literária com sua opção político-ideológica, de maneira que a sua forma de ver o mundo fosse expressada na sua história sem qualquer imposição política. Era uma reflexão sobre o que vinha ocorrendo nos países soviéticos, sobre a qual ele visitou e escreveu num diário de viagem suas experiências.


E O FUTEBOL?
Aqui foram destacados os trechos de colunas que mais me chamaram a atenção. É claro que houve o texto sobre futebol, em que Graciliano Ramos faz as críticas a este esporte bretão, que não conseguiria avançar aqui no Brasil. Mas este é um assunto que merece um texto em separado, com toda a certeza. Afinal, como pode-se perceber pela quantidade de vezes que escrevemos sobre este autor por aqui, há uma clara admiração para além do fato de ele ter nascido no mesmo Estado que eu, porém, também pela quantidade ainda maior de vezes que o futebol aparece no Dialética, percebe-se que há uma relação intensa e histórica comigo. 

REFERÊNCIA
RAMOS, Graciliano. Linhas Tortas: obra póstuma. 8.ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 1980.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Inovação e segmentação na Copa do Nordeste

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Campeonato regional de futebol de maior sucesso no início deste século, a Copa do Nordeste retorna em 2013 após quase uma década de briga judicial com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Rede Globo de Televisão, que romperam em 2003 o contrato com a liga responsável pelo torneio. Para além da volta de um torneio que deve incentivar o futebol de sete estados do Nordeste, ele representa também uma aposta de uma TV voltada aos esportes.

Criada em 1999 pela Top Sports, não à toa a TV Esporte Interativo passou a trazer como lema “Nordestino de coração”. Acompanhando os clubes da região em suas mídias desde a segunda metade do ano passado, quando estava confirmada a volta do Nordestão, desta vez com o aval da CBF – em 2003 e 2010, esta já com a transmissão do canal, foram realizadas edições esvaziadas pelos principais clubes da região –, o EI adquiriu todos os direitos de mídia, exceto os radiofônicos, e de propaganda em todos os estádios por 10 anos.

Além de se tratar de um canal segmentado para a transmissão de torneios esportivos, cerca de 700 por ano são exibidos, o Esporte Interativo tem um histórico de pioneirismo na utilização de outras ferramentas para transmitir os campeonatos. Foi a primeira no mundo a usar o Facebook para streaming de um evento ao vivo, é o canal de TV brasileiro mais visto no Youtube, com mais seguidores no Facebook e desde o ano passado tem o EI+Plus, serviço de venda do canal de forma individual pela internet (ver, nesteObservatório, “As mudanças da transmissão televisiva“).

Inclusão no pacote das TVs fechadas*

Para a Copa do Nordeste, a principal aposta é voltada para a denominada “segunda tela”, especialmente com aplicativos para as plataformas móveis, em iPhones, iPads e as que utilizam o Android. O aplicativo do torneio permite ao consumidor uma câmera exclusiva de cada partida, estatísticas e dados atualizados no decorrer dos jogos e a promessa de num canal chamado “Torcidômetro” ouvir a torcida de determinado clube dentro do estádio.

A rede Esporte Interativo pretende transmitir todas as 62 partidas do torneio, realizado do dia 20 de janeiro ao dia 17 de março. Para isso, a emissora conta com transmissões diferentes para a TV, a transmissão via parabólica e o novo canal Esporte Interativo Nordeste. Este pode ser adquirido pelos consumidores da Claro TV, da TCM e da Cabo Telecom, as duas últimas, distribuidoras do Rio Grande do Norte, sem qualquer pagamento extra, apesar de funcionar como se fosse o pay-per-view dos torneios nacionais com os direitos adquiridos pelas Organizações Globo.

Até o início do torneio, o Esporte Interativo aumentou a campanha para que os seus espectadores ligassem para as programadoras de TV fechada para que elas incluíssem o canal no pacote ofertado. Ainda que de forma menos agressiva, um movimento parecido com o realizado pelo Fox Sports no ano passado. Com um produto menos “vistoso”, ao menos por enquanto, o canal só foi incluído, de forma nacional, na Claro TV.

Telas “paralelas”

Para além disso, o EI contratou repórteres, comentaristas e narradores de Pernambuco, da Bahia e do Ceará para trabalhar em algumas partidas, de forma a garantir o sotaque local de transmissão. Neste caso, procura-se desenvolver um padrão tecno-estético para se alcançar um público específico, regionalizado, de forma a atingir uma camada de torcedores que acaba não sendo o foco dos grandes grupos comunicacionais. Assumidamente, como o novo lema do canal já expõe, pretende-se ser o canal de esportes dos nordestinos, que passariam a conhecê-lo e voltaria para acompanhar outros programas.

Esta tentativa de estratégia de regionalização não é nova na TV brasileira. No início da década de 1980, Walter Clark, um dos responsáveis pela formatação do “Padrão Globo de Qualidade”, foi contratado para dirigir a Band e um dos seus intuitos era a produção de programas que mostrassem outras regiões do país, fugindo do eixo Rio-São Paulo. Por vários problemas, que exigiriam discussões que não são objeto deste texto, a proposta para a emissora não foi adiante. Porém, com o sucesso de “Pantanal” na TV Manchete, anos depois, mesmo a Rede Globo adaptou o seu padrão tecno-estético e, ainda que de forma bastante tímida, passou a contratar diretores e produtores de outros Estados brasileiros para a produção de ficção audiovisual, casos de Guel Arraes e Jorge Furtado.

No que tange à estratégia de segmentação, além de se tratar de um canal voltado aos esportes e que não possui uma abrangência nacional por ainda não ser transmitido em VHF em TV aberta, esta proposta é reflexo de um movimento que se refere à própria evolução da venda de conteúdo audiovisual, a partir da década de 1990 no Brasil. Reflexo este de uma mudança da conjuntura político-econômica mundial, com o neoliberalismo abrindo mais e novos mercados para entes privados. Assim, há uma maior oferta de bens culturais através das mais diversas novas formas de transmissão do audiovisual. Além de contar com as mudanças no que se entendia como televisão, agora com a preocupação em gerar mais informações através de telas “paralelas”, que garantem mais informações e tendem a garantir mais recursos para o emissor.

Agora, a Copa Norte

No caso do Esporte Interativo, há de se acrescentar que é um canal nascido com a proposta de parcerias com outros grupos comunicacionais. No início, a compra dos direitos de transmissão de campeonatos europeus fez com que a Top Sports assinasse parcerias com canais de TV aberta, casos da Band, da TV Cultura e da Rede TV! Ainda que com emissora própria, cuja rede já comporta dez emissoras em UHF e tem um grande público que sinaliza o canal por antenas parabólicas, os direitos da Copa do Nordeste foram repassados para as afiliadas da Rede Globo nos Estados da região, de forma que se pode transmitir até três jogos por rodada – padrão de transmissão do Brasileiro e do principal canal do Esporte Interativo para este torneio.

Em outubro do ano passado, foi oficializada uma parceria com um gigante das telecomunicações, o Yahoo! O intuito era a unificação das redações que produziam conteúdos para a editoria de esportes do site no Brasil e do site do EI, sem vínculo com a produção de conteúdo para a TV. Assim, houve a união das ofertas para plataformas móveis e produtos online (redes sociais, sites e aplicativos) de maneira que o novo canal se torne vice-líder em mídia digital no Brasil antes da Copa do Mundo de 2014. O Globoesporte.com liderava com 22 milhões de visitas únicas, enquanto o Yahoo! ocupava o quinto lugar no Brasil com 4,1 milhões e o Esporte Interativo só possuía 500 mil visitantes únicos. No caso da multinacional, reflete o intuito de expandir os negócios de produção de informação, algo já verificado com parceria semelhante assinada com o Eurosport na Europa, em 2008.

Enquanto os torcedores nordestinos esperam que o sucesso de outrora retorne ao torneio, garantindo, no mínimo, a aposta do Esporte Interativo de sua repetição por 10 anos, a emissora espera dar um salto importante enquanto exibidora de eventos esportivos. Neste sentido, inclusive, já sinaliza com a pretensão de retomar a Copa Norte, envolvendo os clubes da região Norte do país, mais Maranhão e Piauí, em situação muito pior quando comparados aos times nordestinos.


[Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa.]

*Texto que pode explicar a recusa de algumas empresas em fechar com o Esporte Interativo, também publicado no OI: Interesses escusos e transmissão exclusiva. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Era só um sonho! Nada de racionalidade!

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Cena 1: Vemos através dos olhos do protagonista obras recém-concluídas do que parece ser um estádio de futebol. "Parece ser" porque, dado o tamanho das arquibancadas, estava mais para um ginásio. Incrivelmente, era dia da inauguração do espaço e ele comenta ou pensa algo do tipo:

- Como isso pode ser inaugurado deste jeito? É um absurdo!

Cena 2: Seguimos com os olhos do personagem. Só que desta vez ele é uma espécie de porteiro do estádio a ser inaugurado. Vai ter uma grande recepção, com pessoas com roupa de gala e aquele espaço que parecia um ginásio, parece agora com um teatro.

Uma mulher chega e diz o nome: Irene alguma coisa. Ele olha e vê que não há ninguém com esse nome na lista. Ela apresenta uma espécie de passaporte. Viramos com ele as páginas e percebemos que em cada página com viagem carimbada há um nome diferente.

- Isso vai dar um enorme problema - pensa ou fala, não se sabe bem, novamente.

Olha de novo no rosto da tal Irene e percebe que no final das contas pode acabar deixando-a passar.

Cena 3: Um menino, moleque, guri, piá - ou qualquer definição regional, coloque a sua nos comentários deste texto - começa a aprontar muito, tentando estragar a festa e, com isso, o emprego do nosso protagonista. Ele segue o menino em todos os lugares, mas não consegue alcançar. Mas, pensamos com ele, é só uma criança de oito anos, basta dar um pique maior e rapidamente alcançaremos. Dito e feito. Bastou aumentar um pouco a caminhada e conseguimos chegar na criança.

Cena 4: A criança aparece livre e soltando bombas em todos os lugares possíveis do lado de fora. Carros, casas e até árvores são vitimados. Somos levados a subir numa árvore de propósito, mesmo esta não tendo quaisquer folhas, só galhos. O menino joga uma das bombas nela, que começa a pegar fogo. Ficamos por lá um tempo, esperando que ele olhe para trás e imagine que queimamos junto.

Depois disso, saltamos dela e voltamos para a sala principal do estádio, ginásio ou teatro. Encontramos alguém que parece um delegado, ou responsável por segurança, e informamos que havia um menino de oito anos a querer estragar tudo. Na mesma hora, o menino aparece do lado.

- É ele. Temos que pegá-lo.

O menino não evitou ser pego e todo mundo começou a cercá-lo. Ficamos preocupados, por chamar tanta a atenção, e vendo o rosto daquela criança que ria sem parar, de forma maléfica, uma das coisas que passa pela cabeça é que só podia havia um espírito mal ali dentro para explicar a situação...


Pausa em tudo!!! Espera aí! Imagina esta situação. Alguém denuncia uma criança de apenas oito anos de queimar carros, árvores e tentar impedir a grande inauguração da cidade e todo mundo acreditou? Não mesmo, imagina!

O corpo vira de lado e o sonho acaba ali mesmo. Mas como ficou o menino? Ele foi preso? Tinha algo incorporado? Por que estava fazendo aquilo? 

Droga! Era só um sonho, não precisava ser racional. Ainda mais para alguém que já se safou do fim do mundo com três grandes meteoros descendo sobre a Terra em paralelo à Lua...