quinta-feira, 29 de maio de 2014

[Copa] E se em 1950... Parte 2

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Como contamos no post anterior, quatro seleções se classificaram para o quadrangular final da Copa do Mundo FIFA 1950. A Europa estava representada pela Suécia e pela Espanha; enquanto a América do Sul, pelo anfitrião Brasil e pelo primeiro campeão mundial, o Uruguai. Foi a primeira e única vez que o campeão poderia não sair em um duelo final, com os dois jogos da rodada começando no mesmo horário, no Maracanã e no Pacaembu.

RODADA 1

Na primeira rodada, em um jogo emocionante, o Uruguai recebeu a Espanha no Pacaembu e logo abriu o placar, através de Ghiggia, aos 29 minutos. Mas os espanhóis viraram o jogo poucos minutos depois, com gols de Basora (32' e 39'). Só quando o cronômetro marcava 28 minutos da etapa final que os uruguaios chegaram ao gol de empate, com Varela. 

Já no outro confronto, Maracanã cada vez mais cheio. Cerca de 138 mil pessoas acompanharam o espetáculo da maior goleada do Brasil na história das Copas. Ademir fez quatro gols, Chico fez mais dois e Maneca completou a pintura dos sete no placar, que ainda recebeu o 1 do gol de pênalti de Andersson.

RODADA 2

Mais um jogo difícil para a Celeste Olímpica no Pacaembu. Os suecos abriram o placar já aos cinco minutos com Palmer. O Uruguai ainda empatou aos 39,com Ghiggia. Entretanto, voltou a ficar atrás no minuto seguinte, após gol de Sundqvist. No segundo tempo, só aos 32 minutos saiu o gol de empate, com Míguez.

SE o resultado parcial permanecesse, o Brasil poderia até sagrar-se campeão mundial com uma rodada de antecedência, já que só o Uruguai chegaria aos mesmos quatro pontos, e isso com uma vitória a menos e com um saldo de gols bem inferior - não encontrei nenhum dado oficial sobre o critério de desempate.

Mas, aos 40 minutos saiu o gol que manteve o primeiro campeão mundial na disputa pelo seu segundo título. Míguez garantiu a "final" sul-americana na Copa brasileira. Afinal, o Brasil deu outro show no Maracanã, com direito à apresentação musical com mais de 152 mil vozes formando um coral no ritmo espanhol: "OLÉ, OLÉ e GOL!".

Três a zero no primeiro tempo, gols de Ademir (15'), Jair (21') e Chico (31'). No segundo tempo, mais três: Chico marcou mais um aos 10; Ademir marcou o seu nono gol na competição, aos 12; e Zizinho pediu a conta aos 22'. O garçom a devolveu com os 10%, gol de Silvestre, descontando para a Espanha aos 26 minutos da etapa final.

E os brasileiros foram à final muito confiantes após duas goleadas, enfrentando um adversário que teve dificuldades justamente com as duas equipes por nós "humilhadas" e ainda precisando apenas de um empate. O ritmo dentro do Maracanã e fora dele era esse:

terça-feira, 27 de maio de 2014

Será possível?

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Ano de eleições e ressurge aquele velho debate sobre posicionamento de grandes grupos de comunicação, que fariam uma cobertura eleitoral para beneficiar determinado candidato. Ainda que seja um debate importante, principalmente a ser lembrado para além deste período, este texto é sobre outros tipos de acusação: o jornalista esportivo pode torcer?

Este assunto me veio à cabeça por conta da reportagem “Jornalistas quebram o protocolo e festejam título do Atlético de Madri“, exibida no programa Redação SporTV (19/5/2014). O repórter Gustavo Machado foi até a redação do jornal As para saber sobre as comemorações dos jornalistas mostradas pela TV do periódico de Madri em seu site ainda no dia 17/5, quando Barcelona e Atlético de Madrid decidiram a liga espanhola. O vídeo do As teve como subtítulo “Emoción, alegría, lágrimas... La redacción de As vibró con el partido que decidió la Liga. ¿Cómo se cantó el gol de Alexis? ¿Y el de Godín?” Nele, um jornalista torcedor do Barcelona assistia sozinho numa sala, enquanto os colegas trabalhavam e miravam as telas de TV e de computador durante a partida que terminaria empatada em 1 a 1, garantindo o título aos colchoneros após 18 anos.

Houve jornalista pendurando o cachecol do Atlético sobre o computador de trabalho, um com camisa na cadeira e outra vestida com a ela. Muitos torcendo em meio ao trabalho, com direito a closes na tela do computador com títulos de matérias a serem postadas. Claro que o vídeo mostra a comemoração e a emoção durante os gols, inclusive quando o Barcelona marca o primeiro e um jornalista grita um “¿Sera posible?”, o mesmo que comemoraria com os colegas ao final do jogo. Ainda que não informado, provavelmente, a surpresa maior da matéria tenha ficado por conta da divulgação do vídeo no site do periódico. Afinal, tirando os casos de disputas com selecionados nacionais, quando isso seria imaginado no Brasil?

“Jornalistas não podem perder a objetividade”

O que chamou a atenção na matéria nem foi tanto o vídeo – depois, pesquisando, vi que houve comemoração, ainda que menos efusiva, e imagens desta durante a final da Copa do Rei, em 16 de abril –, e sim, o tal do protocolo que havia sido quebrado pela redação, a ponto de ser necessário buscar justificativas para jornalistas esportivos comemorarem a vitória de seus clubes.

O vice-diretor do As, Luis Nieto, destacou que se tratava de uma imagem num âmbito privado – ainda que divulgada em espaço público como a internet – e fez questão de frisar que “os profissionais são capazes de diferenciar a paixão por um clube e a imparcialidade necessária para se escrever sobre futebol”, trecho em citação indireta. Os jornalistas afirmavam que não costumavam fazer aquilo, mas se tratava de uma ocasião especial, afinal, não sabiam quando o Atlético poderia ganhar outra vez o torneio – que não ia ao Vicente Calderón desde a temporada 1995-1996.

Lendo a matéria e vendo o vídeo, lembrei-me de duas coisas. Uma é que antes mesmo de estarem formados, estudantes que conheci recentemente e que têm interesse em trabalhar como jornalistas esportivos optam por dizer que não torcem por ninguém no Estado, assim como jornalistas já na ativa e que fazem matéria nesta área com maior frequência. Óbvio que, como às vezes se discute pelo Brasil, há a questão da segurança do profissional. Mas vejo isso mais como uma demonstração da introjeção do mito da imparcialidade que qualquer outra coisa.

Sobre isso, resgato a citação de Luis Nieto, cuja opinião eu endosso:

“O futebol é um esporte subjetivo e ninguém se apaixona pelo futebol sem torcer por uma equipe, e os jornalistas muito menos. Quando alguém começa a gostar de futebol e a torcer por uma equipe, vai tomando conhecimento. E em um local privado, como é o comportamento de uma redação, que é uma casa, é compreensível que alguns comemorem e outros fiquem tristes. Os jornalistas não podem perder a objetividade que se deve ter.”

Tônica do processo

Não consigo imaginar alguém que queira trabalhar como jornalista esportivo, especialmente num país com a relação que se tem o futebol como no Brasil, que não torça por clube algum. Tudo bem que a maioria opta por omitir a informação, mas, reitero, há quem negue que torça por alguém.

Vejo que uma coisa é num espaço privado, outra é na execução do trabalho. Não é porque, por exemplo, eu torça pelo Palmeiras que, enquanto jornalista esportivo, tentarei interferir na vida do clube durante o meu trabalho, seja para prejudicar determinado agente ou beneficiar o time nas reportagens, debates e jogos que participar. Entretanto, nada impede que, em momentos de folga, possa torcer pelo time.

A segunda coisa que me veio à lembrança vai ao sentido do que o público brasileiro espera, o que talvez explique a “quebra de protocolo” no título. O pesquisador francês Patrick Charaudeau desenvolveu, dentre outros conceitos na área da linguagem, o conceito de “contrato de informação midiático” para analisar as restrições no ato de comunicar por quem trabalha em mídias. Este contrato leva em consideração o público-alvo que se imagina ao produzir uma informação, que estabeleceria os limites de quem produz, ainda que não se possa saber exatamente qual será a interpretação do receptor. Da mesma forma, o receptor chegaria a um produto sabendo de suas possibilidades de informação.

O costume do brasileiro de ver os jornalistas esportivos como imparciais, totalmente neutros, mesmo xingando os narradores e comentaristas quando falam mal do seu clube ou narram gols do adversário, acaba sendo a tônica do processo. A tal ponto que quando ocorre algo diferente do que se imagina, ou se tem uma rejeição ou quem toma a posição vira uma espécie de estereótipo – e também uma maneira de atrair determinado público.

Zona intocável

Para se ter uma ideia, no ano passado dois jornalistas de canais segmentados nacionais foram ao Independência ver o Atlético Mineiro na Libertadores. Em algum momento, apareceram na transmissão de TV fechada e logo receberam várias críticas nas mídias sociais.

O caso espanhol nem chega a ser tão anormal. Afinal, quem lê ou acompanha um pouco do jornalismo esportivo de lá sabe que há o “jornal de Madri”, o jornal de “Barcelona” e muito conteúdo que toma partido, que opta por quase sempre destacar o clube local.

O Brasil é diferente. Aqui, jornal é uma entidade que tenta se mostra (quase) sem opinião e o jornalista tem de ser mais insensível que um robô. Muitos consumidores de informação entendem deste jeito, sendo que as exceções, vistas na Band, no exemplo esportivo, acabam virando modelos estereotipados, em que determinado comentarista tem que se assumir quase sempre como torcedor do time tal, com direito à provocação sobre os rivais ao tratar deles. Além, é claro, de alguns exemplos de comentaristas ídolos de determinados clubes, que acabam automaticamente tendo sua imagem ligada a ele mesmo depois da aposentadoria.

Há exceções “permitidas”. Este é o caso da Seleção brasileira, a “pátria de chuteiras”. Ainda que alguns não achem isso correto, é possível até torcer claramente por ela, com muito ufanismo. Algo parecido ocorre em grupos de comunicação regionais fora do eixo Rio-São Paulo, em que a equipe torce pelo time local em competições fora do Estado. As transmissões de Rio Grande do Sul e Minas Gerais nas Libertadores conquistadas por Inter e Atlético nos últimos anos, mesmo em jogos contra times brasileiros, estão aí para provar.

Por conta do contrato de comunicação estabelecido entre o jornalismo esportivo e os torcedores que acompanham as informações por determinado meio aqui no país, o tal do protocolo imaginado pelo pessoal do SporTV, coisas como a feita pelo As, em Madri, poderiam ser de difícil aceitação no Brasil, ainda que o futebol continue sendo paixão nacional. Mesmo com o aparecimento de um jornalismo esportivo mais voltado para o entretenimento na TV, assumir o clube de coração segue sendo uma zona intocável nos principais meios de comunicação do país.

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Texto publicado na edição de nº 800 do Observatório da Imprensa.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

[Copa] E se em 1950... Parte 1

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Já falei várias vezes que se tivesse uma chance de voltar no tempo e a um lugar em específico seria ao Maracanã na tarde do dia 16 de julho de 1950. Li alguns livros, vi curtas e quando aparece algo sobre o a Copa do Mundo FIFA Brasil 1950 tento acompanhar. Do mesmo jeito que há 4 anos, é bem provável que a série "E se..." pare neste mundial. Ao menos, aos leitores deste blog posso oferecer um pouco mais que nos causos anteriores, com este "E se em 1950..." sendo em três partes.

As atividades do dia a dia acabaram por fazer com que a série “E se...” não consiga ser encerrada antes da 19ª 20ª edição da Copa do Mundo de futebol masculino. Além disso, o torneio realizado no Brasil, em 1950, como já coloquei algumas vezes, acabou por me chamar a atenção bem mais que qualquer outro até aqui, daí que tenha ganho um espaço bem maior dentro dos nossos textos sobre os Mundiais. Mesmo com tanto “apego” ao excepcional mito que virou o torneio para os brasileiros, não fugiremos de fazer o “E se...” sobre o torneio realizado no Brasil. 

1950 era ano de eleições neste país e nada melhor que um título mundial para que os políticos se aproveitassem das imagens dos heróis campeões mundiais para conquistar os cargos. Para se ter uma ideia, o nome oficial do Maracanã era Estádio Mendes de Morais, governador da ainda capital federal – o que não o impediu de levar uma imensa vaia antes da final, afinal, como diria Nelson Rodrigues, torcedor brasileiro vaia até minuto de silêncio.

Para variar, as obras dos estádios demoraram a ficar prontas, imagina então para algo tão monumental como deveria ser o estádio que tinha o rio Maracanã bem próximo. Segundo arquivos de revistas da época, dois anos antes da realização da Copa do Mundo havia a grande preocupação do principal palco do torneio ficar pronto. Mas ficou.

34 seleções manifestaram interesse em disputar as eliminatórias para estar aqui no Brasil em 1950, mas os estragos da Segunda Guerra Mundial ainda estavam presentes em algumas nações. Assim, apenas 13 seleções participaram daquela edição – mesmo classificada, a Escócia desistiu. Destaque para os campeões mundiais, Uruguai e Itália, e para a primeira participação da Inglaterra. Os inventores do futebol se achavam superiores à FIFA e não disputaram as edições anteriores.

Após vencerem os chilenos na primeira rodada por 2 a 0, foi justamente em jogo dos ingleses que veio a primeira grande surpresa da história. Graças a um gol de um lavador de pratos haitiano, Gaetjens, os Estados Unidos venceram a Inglaterra por um a zero, no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Também perderiam para os espanhóis pelo mesmo placar e seriam eliminados ainda na primeira fase. A Espanha se classificou no grupo 2 após três vitórias.

Pelo grupo 3, a Suécia se deu melhor no “triangular” contra Itália e Paraguai. Os detentores de 66% dos títulos mundiais disputados estavam fora também na primeira fase ao perderem para os suecos na primeira partida de ambos, por 3 a 2.

Já pelo grupo 4, com a desistência da Escócia, Uruguai e Bolívia fizeram jogo único, onde a Celeste Olímpica foi impiediosa e goleou pro 8 a 0. É, se a Bolívia até a década passada era o saco de pancadas sul-americano, imagina em 1950!


BRASIL

O Brasil estava no grupo 1, acompanhado de México, Suíça e Iugoslávia. O curioso é que foram três escalações diferentes. Os onze titulares da final só jogaram as últimas quatro partidas juntos. Zizinho, o craque de então, só estreou no jogo contra a Iugoslávia.

Desta fase, no primeiro jogo, com público de mais de 80 mil pessoas no Maracanã, o Brasil venceu tranquilamente o México por 4 a 0, após só fazer 1 a 0 no primeiro tempo. O jogador do Vasco Ademir (duas vezes), o palmeirense Jair da Rosa Pinto e o corintiano Baltazar fizeram os gols.

Para o jogo seguinte, em São Paulo, o técnico Flávio Costa foi obrigado a escalar jogadores paulistas para o confronto contra a Suíça como forma de agradar os dirigentes paulistas. Assim, entrou o meio-campo do São Paulo, com Bauer, Rui e Noronha. Única diferença para essa “regra” foi a entrada do vascaíno Alfredo e a saída do palmeirense Jair. Nilton Santos, lateral-esquerdo do Botafogo, fora convocado como reserva do capitão e lateral-direito Augusto e não entraria em nenhuma partida.

Conta-se que na época era muito difícil saber de notícias de outros Estados. Era como se vivêssemos em vários países diferentes, mesmo que o outro estado fosse São Paulo. No jogo, o Brasil apenas empatou por 2 a 2, com gols de Alfredo e Baltazar e dois de Fatton para os suíços, que haviam perdido para a Iugoslávia e venceriam os mexicanos na rodada seguinte.

Para os “estrangeiros” que entraram na base vascaína do time, ficou a raiva carioca de não terem dado certo. Assim, o time a partir da partida seguinte seria formado com os onze que seguiriam até a final, num tempo em que as substituições eram proibidas: Barbosa (Vasco); Augusto (Vasco) e Juvenal (Flamengo); Bauer (São Paulo), Danilo (Vasco) e Bigode (Flamengo); Maneca (Vasco), Zizinho (Bangu), Ademir (Vasco), Jair (Palmeiras) e Chico (Vasco).

O Brasil se classificou à vista de 139 mil pessoas com uma vitória por 2 a 0 sobre a Iugoslávia, gols de Ademir e Zizinho.

O regulamento do campeonato fora um dos mais dados de “presente” para qualquer um, pois permitia até um pequeno tropeço na fase final. Um quadrangular entre Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia decidiria a primeira edição de Copa do Mundo após a Segunda Guerra Mundial. Sobre isso falaremos no texto seguinte...

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A liga mais equitativa é a que distribui mais dinheiro

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Tirando as vezes em que os apaixonados pelo futebol preferem que se fale de possível interferência das ações de mercado no jogo ou da suposta diminuição de aparições de seus clubes do coração na TV, uma pergunta costuma ser frequente quando se trata de uma apresentação referente a direitos de transmissão de eventos esportivos, o futebol em especial: qual seria o modelo ideal?

Três dias após o término de uma das edições mais disputadas da história do futebol inglês, a Premier League anunciou em sua página na internet a divisão dos recursos do broadcasting. Um total de pouco mais de 1,5 de libras, em torno de 5,5 milhões de reais, foi dividido entre os 20 participantes do campeonato deste ano.

Tanto a quantia distribuída quanto a forma de distribuição trazem muitos exemplos do porquê de o campeonato mais rico do mundo seja o que melhor divide os recursos entre seus representados. Ainda mais quando comparado com os (supostos) valores pagos no Campeonato Brasileiro, em que a forma de organização dos clubes e, consequentemente, o poder de barganha na negociação com as empresas de mídia, é bem diferente.

A temporada 2013/2014 representa na Inglaterra uma mudança de patamar dos valores pagos pelas transmissões, a ponto de o último colocado da edição terminada no dia 9 de maio, o Cardiff City, ter recebido mais que o campeão da edição anterior, o Manchester United. O novo contrato representou um aumento de 70% apenas sob os direitos de TV, 62% quando comparado ao que foi pago no cômputo geral aos clubes entre as duas temporadas.

Negociação coletiva

O valor impressiona pelo momento atual da Europa, ainda que o Reino Unido, que não aderiu ao euro mesmo sendo integrante da União Europeia, não tenha vivido de maneira tão contundente os problemas financeiros de outros países do continente. É importante salientar, até como possível ressalva, que o novo contrato aumentou em 40 o número de partidas dos pacotes negociados. Ainda assim, o avanço financeiro é considerável.

Aqui no Brasil, pelo que se tem de informação, as Organizações Globo, detentora dos direitos de transmissão das partidas dos clubes no Campeonato Brasileiro nas diferentes mídias, deve pagar algo perto de 2 milhões de reais. Valor este que também sofreu grande aumento por conta da ameaça de concorrência da Rede Record a partir do final do contrato de parceria entre ambas, intermediados pela empresa de marketing esportivo Traffic, em 2006.

O primeiro ponto de divergência entre os dois modelos parte daí. Enquanto a Premier League anunciou o que cada clube recebeu poucos dias após o término da edição do torneio, os clubes brasileiros já sabem o quanto ganharão do broadcasting desde que começam o campeonato, com os valores aumentando de acordo com a venda do pay-per-view naquela edição – por mais que parte dos clubes já tenha recebido adiantamentos de direitos de anos seguintes por conta de má administração financeira. Aqui, os contratos são assinados sob sigilo, cabendo a pesquisadores e jornalistas esportivos a difícil tarefa de comparar os dados que aparecerem.

Algo que poderia justificar tal “silêncio” é que lá a negociação se dá de forma coletiva, ao contrário do Brasil, mas também de países como a Itália e a Espanha. Neste, Barcelona e Real Madrid negociam em separado, abocanham boa parte do bolo e deixam o resto a ser dividido entre os demais clubes, daí a surpresa quando um time como o Atlético de Madri, nesta temporada, ter vencido La Liga.

A divisão do dinheiro

O caso brasileiro é mais que conhecido. Vanguardista, a criação da União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro (Clubes dos 13) em 1987 para que os clubes começassem a organizar o campeonato nacional, chamado de Copa União naquele ano, que negociaram os direitos de transmissão com a Rede Globo por 5 anos, além de patrocínios pontuais, caso da Coca-Cola, companhia aérea e rede de hotéis. Só que já no ano seguinte a CBF retomou o torneio. Coube ao Clube dos 13 seguir negociando os direitos de transmissão dos seus representados até a edição de 2010, ápice de um processo que durava desde 1997 no Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, cujos réus eram as Organizações Globo, os clubes e a entidade que eles formavam.

O resultado foi praticamente o encerramento do Clube dos 13, após este atender no contrato que seria de 2012 a 2014 às exigências do Termo de Ajustamento de Conduta assinado no Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) que parou o andamento do processo de formação de cartel – e, segundo os dirigentes da Globo, terem acertado em paralelo um “valor absurdo” com a Record. Os clubes, que têm no broadcasting não só a sua principal receita, mas a garantia de retiradas antecipadas de recursos, acabaram por optar a assinar individualmente com o conglomerado comunicacional. O prejuízo ficou para aqueles que na participavam da entidade e para os que foram retirados das negociações individuais, casos de Guarani, hoje na Série C, e da Portuguesa, atualmente na Série B.

A diferença de valores só aumenta após cada novo contrato. O último dos grupos de pagamento recebe mais que o dobro daqueles que não estão nestes acordos. Além do que, no caso destes, o contrato ser assinado por temporada, enquanto os demais contratualizam por quatro anos, com direito ao recebimento de luvas e até a manter o valor no primeiro ano de disputa de uma possível Série B. À época da renegociação, houve muito debate sobre uma possível “espanholização” do futebol brasileiro, com Flamengo e Corinthians (1º grupo) se distanciando no quanto recebiam em relação aos demais, independente da classificação no torneio – ainda que o campeão receba bem mais, por exemplo, que na Copa “Bridgestone” Libertadores –, cerca de 40 milhões de reais a mais a partir do contrato de 2016.

O segundo ponto diferente está nisso. A Premier League é a associação que negocia os direitos coletivos dos membros da primeira divisão do futebol inglês. O acordo que a criou, em 17 de julho de 1991, estabelecia que o dinheiro oriundo do broadcasting seria dividido da seguinte forma: 50% entre todos os 20 clubes; 25% de acordo com a performance na temporada, com o primeiro recebendo 20 vezes o que o último receberá, e assim por diante; e os demais 25% distribuídos de acordo com a quantidade de jogos exibidos, com um mínimo de 10 partidas para cada clube – outra diferença em relação ao Brasileirão, que não define um número mínimo para exibição, ainda que no caso britânico o produto seja feito para a TV fechada.

Formação de jogadores

Assim, na temporada 2013/2014, o campeão Manchester City não foi o que mais recebeu (96,5 milhões de libras), mas ficou bem perto do que mais recebeu, o segundo colocado Liverpool (97,5 milhões de libras). A diferença é explicada pela quantidade de partidas mostradas. Apesar de o torneio ter tido 25 mudanças de líder, o Liverpool tem uma história maior que o rival de Manchester, com 18 títulos ingleses, 5 títulos europeus e com o apelo de não vencer um título nacional há 24 anos; enquanto o City chegou ao seu quarto título inglês, o segundo após ter sido comprado por um proprietário árabe. O último colocado, o Cardiff City, recebeu 62 milhões de libras, 63,5% do que recebeu o Liverpool.

Esta divisão leva em consideração as idiossincrasias do produto direitos de transmissão. Em primeiro lugar, é essencial a negociação coletiva por se tratar de um esporte. É mais fácil contratar os direitos coletivos do que negociar individualmente, o que poderia gerar o risco de ter uma partida com clubes cujos direitos pertencem a empresas diferentes. Além disso, uma melhor divisão dos lucros pode permitir um maior equilíbrio dentro de campo, pois todos terão condições parecidas de investimento – ainda que tendo que levar em consideração os donos bilionários e os patrocínios gigantescos atuais. Quanto mais equilibrado o torneio, maior o interesse do público. Esta edição da Premier League, por exemplo, teve 95,7% de taxa de ocupação, um recorde.

Por fim, como já é uma prática na Europa, a venda do campeonato inglês é feita através de diferentes pacotes (6), contando com o programa com os melhores momentos, e além das vendas para o mercado internacional (mais de 200 países compram o direito de exibir este campeonato). A BskyB (News Corp), através do Sky Sports, desde o início é a principal exibidora, mostrando, a partir do contrato de 2013 a 2016, 116 jogos por temporada, desembolsando 762 milhões de libras por temporada; enquanto a Britsh Telecom (BT) pagará 246 milhões de euros para transmitir 38 partidas, quase o mesmo valor por partida que a Sky Sports paga.

Esta prática se deu após consecutivas ações em tribunais de defesa de concorrência a partir da década de 1990, quando as novas empresas de comunicação europeias, beneficiadas com o fim do monopólio estatal da década anterior, perceberam a importância do produto futebol e passaram a lutar pelos direitos de exibição dos campeonatos. Como resultado de sucessivos julgamentos e consultas, os principais torneios de lá oferecem pacotes diferentes. Por exemplo, a Champions League (campeonato europeu de clubes) é transmitida em TV aberta aqui no Brasil por Rede Globo (jogos de quarta) e TV Esporte Interativo (jogos de terça).

No caso da Premier League, o contrato com a BSkyB foi alvo de processo no Tribunal de Práticas Restritivas em 1999, sob acusação de cartel, que acabou não sendo provado, daí as negociações terem seguido até hoje. Aqui, ação parecida durou 13 anos e foi inédita, mas não gerou um histórico de sugestões para novos casos, até mesmo pela estrutura centralizada do mercado de comunicação como um todo, liderado pelas Organizações Globo.

É importante recordar ainda quanto a modelos diferenciados, o que existia na Eridivisie, liga que organiza a primeira divisão holandesa. Até a temporada 2012/2013, o Eridivisie Live era um canal gerido pela associação de clubes, pago, para a transmissão de todos os jogos do torneio. Entretanto, a Nesw Corp comprou 51% dos direitos de exibição para 12 anos do torneio em 2011.

Para terminar com as comparações, a Premier League se preocupa com áreas centrais de formação de jogadores – até mesmo porque os seus clubes contratam muitos estrangeiros... Junto à informação da divisão do bolo do broadcasting, a associação anunciou que em 2013 foram colocados em atividade 52 campos com grama artificial em todo o país, além de apoiar campeonatos com jovens, caso da Premier League sub-16, que envolveu 700 escolas. Algo bem distante dos investimentos de federações, confederações e clubes de futebol no Brasil.
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Texto publicado na edição de nº 799 do Observatório da Imprensa

terça-feira, 20 de maio de 2014

[Copa] Jogos que eu vi - Final 1994

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Dando uma passeada pelo Twitter, li um comentário de alguém que resolvera rever a final da Copa do Mundo de 1994 e, segundo a pessoa, o Brasil tetracampeão trazia em si elementos do que se venerou na "Era Guardiola" no Barcelona. Cheguei a ver mais alguns comentários no sentido de que o time de 1994 não era tão ruim quanto alguns gostam de dizer. Passou-se algum tempo e resolvi rever esta partida. Mas não só esta.

Aproveitando a proximidade da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, tentarei rever as partidas eliminatórias com a presença do Brasil que eu cheguei a assistir. Entretanto, até como corte, escolhi os jogos que eu lembro de algum detalhe extracampo. Para iniciar, nada melhor do que a partida geradora disso tudo.

FICHA TÉCNICA
Data: 17 de julho de 1994

Brasil 0 x 0 Itália (nos Pênaltis: Brasil 3×2)

Local: Estádio Rose Bowl (Pasadena/Los Angeles-Estados Unidos)

Público: 94.394

Árbitro: Sándor Puhl (Hungria)

Brasil: Taffarel, Jorginho (Cafu), Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Viola); Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira

Itália: Pagliuca, Mussi (Apolonni), Baresi, Maldini e Benarrivo; Dino Baggio (Evans), Donadoni, Berti e Albertini; Roberto Baggio e Massaro. Técnico: Arrigo Sacchi.

Na Decisão por Pênaltis, para o Brasil bateram: Márcio Santos (que perdeu), Romário, Branco e Dunga - Bebeto não precisou fazer a sua cobrança. Para a Itália bateram: Franco Baresi (que perdeu), Demetrio Albertini, Alberigo Evani, Daniele Massaro (Taffarel defendeu), e Roberto Baggio (que chutou para fora).


A COPA QUE (QUASE) TODOS LEMBRAM
Nunca entendi por que tanta vontade em desqualificar o título de 1994. Tudo bem que o tempo, inclusive por conta do título italiano também nos pênaltis em 2006, tenha diminuído certo tratamento pejorativo para a Seleção tetracampeã, mas quem acompanhou a Copa dos Estados Unidos seria incapaz de informar que houve uma emoção maior que aquela nas seguintes.

Eu tinha seis anos e até hoje a emoção aflora ao ver o pênalti de Baggio por cima do travessão. Para a minha geração era a primeira Copa, logo o primeiro título. O início de uma trajetória áurea, com 3 finais seguidas e dois títulos mundiais. Algo que nem o pessoal das décadas de 1950 a 1970 viram, ainda que tenham tido o privilégio de ver timaços e três títulos em quatro Copas.

Imagina para quem nasceu ou começou a entender futebol pós-1970? 24 anos sem sequer participar de uma final. O futebol nacional aos frangalhos, com muitos craques saindo do país para jogar fora, a primeira derrota nas Eliminatórias, o sufoco para passar dessas,... Não à toa a Fórmula 1 virou o esporte nº 1 do brasileiro, deste ser que só gosta mesmo do futebol, o outro esporte sempre será o que tiver um brasileiro vencendo. E era o caso do automobilismo, cujo ápice veio com Ayrton Senna. Coincidência do destino, no ano de sua morte (sua morte dentro das pistas que o tornou mito), veio o título em campo, demarcando o fim de duas trajetórias nas mentes e corações brasileiros. O futebol estava de voltava, por mais que não tenha saído tanto assim.

E veio com muita emoção, especialmente na final, em que cada minuto a mais representava o seguimento do jejum que parecia nunca acabar. A campanha com vitórias difíceis sobre Estados Unidos, no 4 de julho que eles tanto idolatram e com uma expulsão banal de Leonardo; o que parecia fácil contra a Holanda, virou difícil em poucos minutos, mas a "bomba salvadora" de Branco, numa falta cavada por ele, não alcançou Romário, mas sim o gol de Van der Sar; o gol de cabeça do baixinho Romário em meio aos gigantes suecos nas semifinais. E a final, a terceira a ir para a prorrogação, a primeira a não ter gols e ser decidida nos pênaltis.

Como microcosmo social, a crise também era político-econômica. Crises e mais crises, planos e mais planos e a inflação seguia subindo. 1994 também é o ano do início do Plano Real. Lembro bem que na loja em que meu pai trabalhava todo dia tinha cartaz com o valor da URV (Unidade Real de Valor), que antecipou a chegada do plano que elegeria o presidente seguinte, ainda que ele não tenha sido o único responsável por isso. Além do impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto, dois anos antes. No que se apegar?

GLOBO E VOCÊ, TUDO A VER
Resolvi assistir à transmissão da Rede Globo, que ficaria famosa nos anos seguintes com a imagem do trio Galvão, Arnaldo e Pelé pulando sob vistas da transmissão internacional e os berros histriônicos de "É Tetraaaaaa! É tetraaaaaa!", que o narrador mais comentado do país se envergonha, mas que o tornou inesquecível - ainda mais após o acidente com Osmar Santos, também em 1994.

Muita diferença para hoje. Primeiro que o link que eu encontrei é de um vídeo que o cara gravou em fita VHS porque tinha acabado de comprar o aparelho. Ao longo do jogo a imagem e o áudio vão se dessincronizando. Mas até que a imagem é de qualidade razoável, talvez por conta de a fita ter sido utilizada só para essa gravação e o aparelho ser novo.

O Estádio Rose Bowl estava lotado de gente, quase cem mil pessoas ardendo ao sol de meio-dia em Los Angeles num espaço sem cobertura alguma porque os horários da Copa deveriam atender ao público europeu - dos que reclamaram, destaque para Diego Armando Maradona, que não chegou longe naquele mundial. Galvão chegou a reclamar no início da transmissão que não conseguia ver o monitor por conta do reflexo do sol! Imagina começar uma partida às 12h15, ter 120 minutos de jogo mais pênaltis? Além de ser uma partida importantíssima e após o desgaste físico da competição?

O ritual da FIFA já aparecia, só que com algumas diferenças. Times entrando no canto de escanteio, não no meio, sem sincronia entre jogadores brasileiros, de mãos dados, e italianos, com alguns destes ficando para trás. Além de os reservas e a comissão técnica entrarem atrás destes, e não antes da cerimônia começar. Ao menos o tema é o mesmo.

Na boa, se você achar o Galvão Bueno chato nos dias de hoje, aconselho rever aquela partida. Citei a geração que não tinha visto título. Para o referido narrador era pior. A primeira Copa do Mundo por ele transmitida fora de 1974! De lá para ali, nada de título.

Sobre a situação do país, no início ele afirma que o futebol não resolverá todos os problemas dos brasileiros, mas que poderia nos dar uma alegria. Depois, durante a partida, em estado de êxtase, diz não acreditar que chegara aquele momento: "Confesso que não acredito. Esperei tantos anos e aí está o Brasil numa final de Copa do Mundo".


Ele se emocionaria ainda mais com o título, como reflete a sua narração, a ponto de abraçar Pelé - brincadeira por conta disto aqui. Quando os jogadores aparecem com a faixa em homenagem a Senna, Galvão diz que era demais para ele. Logo em seguida, volta a admitir o fim de um peso pessoal: "Trabalha-se toda uma vida por um momento como esse". Servia para os jogadores, servia para ele.

Globo, SBT (Luiz Alfredo) e Bandeirantes (Luciano do Valle) transmitiram aquele mundial. Na equipe da Globo, Arnaldo César Coelho e Pelé eram os principais comentaristas. Tino Marcos fazia a reportagem, mas não apareceu em qualquer momento durante o jogo. Só depois de encerrado, quando os brasileiros davam a volta olímpica, ele passou pelos seguranças estadunidenses e entrevistou os campeões mundiais, o que não deveria ser possível. Algo muito elogiável.

Voltando ao Real, que entraria em vigor, em 30 de julho, tinha vinhetas quase que escondidas na narração ao longo da partida. Soavam na voz de Galvão bem menos propagandísticas que o "94, Copa do Mundo, a Globo é mais Brasil. Globo e você, tudo a ver" - esta segunda parte que se tornaria um dos principais slogans da história da emissora. Das que eu anotei:

- "No tempo do Real, compre só o necessário. Os preços vão baixar".

- "Com o Real no bolso, você vai virar o jogo contra os preços baixos".

- "Valorize o seu Real. Procure os preços mais baixos".

- "O Real vale muito. Use o seu poder na hora da compra".

Outros detalhes do jogo. Época de camisas chamativas, como a dos símbolos da CBF no fundo e as camisas com cores berrantes nos árbitros. Além de os números terem ido para a parte da frente e nome dos jogadores serem em letras garrafais atrás. Foi a primeira Copa em que a vitória valia três pontos e sem o goleiro poder pegar bola recuada com as mãos. Facilidade para a transmissão e mais chance de gols. Outra novidade foi o carrinho-maca, que depois sumiria dos estádios de Copa do Mundo para não estragar o gramado.

Outras coisas que desapareceriam eram os brincos, anéis e correntes nos jogadores. Até 1994 não havia problema algum dos atletas utilizarem qualquer adereço para além do obrigatório.

Feitos os prolegômenos, vamos ao jogo!


E A QUALIDADE?
Como seria regra da FIFA até a Copa de 2002, a seleção da Copa do Mundo era feita antes da final (!!!). O Brasil tinha quatro jogadores nela: o lateral-direito Jorginho, o zagueiro Márcio Santos, o volante Dunga e o atacante Romário. A Itália contava com dois representantes: o zagueiro/lateral Maldini e o atacante Roberto Baggio. Destaque para as presenças do romeno Hagi e do búlgaro Stoichkov, que ficaram na minha memória como gigantes daquele Mundial.

Romário, então no Barcelona, e Baggio, então na Juventus, também disputavam o título de melhor jogador daquela Copa e de melhor jogador do mundo. Baggio sentira um desconforto na coxa direita, jogando com uma coxeira azul e botando a mão em alguns momentos da final. Romário pareceu sentir um desconforto, talvez na virilha, ainda no primeiro tempo, mas seguiu até o final. Ambos bateriam os pênaltis.

O Brasil jogou melhor os 90 minutos, mas ambos os times tiveram chances de marcar, com direito ao chute de Mazinho que Pagliuca quase engoliu e depois deixou um beijo na trave no segundo tempo, lance mais que repetido ao longo desses 20 anos.

O time brasileiro (vide figura acima retirada do site Papo de Homem) teve que aguentar o cortes de Ricardo Gomes, que seria titular, e com a lesão de Ricardo Gomes contra a Rússia. Os dois titulares da zaga. Aldair e Márcio Santos tomaram conta das posições. No meio, Raí começou como capitão e titular, fez gol, mas perdeu espaço para Mazinho. E na lateral-esquerda, Branco, ameaçado de corte, substituiu Leonardo após a expulsão deste contra os Estados Unidos.

Todos os jogadores de linha, até porque Taffarel não sabia sair jogando, tinham bom toque de bola. A enceradeira Zinho e Mazinho tinham a função de armar as jogadas e aparecer como homens-supresa. O primeiro chegou a chutar para boa defesa de Pagliuca no segundo tempo e Mazinho arriscava de fora da área. Mas ambos foram bem marcados, especialmente no segundo tempo.

A lateral-direita também era uma boa opção. Pena que Jorginho saíra no início do jogo, pois, nunca tinha reparado, apoiava bem o ataque e deu trabalho. Cafu entrou no lugar dele, mas não cruzava tão bem, além de ser muito afoito, arriscando de tudo quanto é jeito para o gol. De qualquer forma, Arrigo Sachi, treinador italiano, percebeu isso e colocou um zagueiro ainda no primeiro tempo, passando Maldini para a lateral. O (futuro) mito da zaga milanista sabia atacar e marcar muito bem, ainda que ficando mais tempo recuado.

Uma das melhores duplas de ataque do Brasil, Romário e Bebeto se conheciam bem dentro de campo, mas a Itália conseguiu neutralizar muitas jogadas entre os dois. Curiosidade para mim foi ver que Romário era quem vinha buscar a bola, enquanto Bebeto ficava mais para a ponta, ainda que auxiliando Cafu quando os italianos começaram a cansar.

Fiquei impressionado com o quanto Dunga jogou nesta partida. Ele e Mauro Silva eram precisos nos desarmes, mas o capitão da Seleção distribuiu passes de três dedos e lançamentos longos primorosos ao longo do jogo. Mauro funcionava como um líbero, que Felipão tanto gosta de fazer na Seleção e que foi tão contestado na Copa anterior, porém apenas quando o time era atacado ou quando era necessário facilitar a saída de bola (ver quadro com distribuição tática acima), até mesmo porque não dava para contar com Taffarel para isso - na única bola recuada, ele se atrapalhou com Baggio.

A Itália aproveitava os contra-ataques e em alguns deles, para desespero e críticas de Galvão, chegou perto do gol. Donadoni dava trabalho e Baggio tinha muita habilidade, mesmo que sem estar 100%. Falando nisso, incrível a partida de Baresi, o primeiro jogador a passar por uma cirurgia durante uma Copa, uma artroscopia no joelho, e voltar a atuar. Final de Copa vale tudo!

Mas no final, 0 a 0 e mais 30 minutos de prorrogação. Segundo o Galvão, aquele seria a terceira Copa (!) após o final da regra que dizia que após a prorrogação, marcaria-se um jogo 48 horas depois da partida.

PRORROGAÇÃO
Excelente trabalho do Moraci Sant'anna. A prorrogação mostrou uma superioridade ainda maior do Brasil sobre a Itália. Muito por conta do preparo físico. O time pressionava, não dava chances lá atrás e criava, rodando a bola, tocando até achar um espaço. Ainda que, como citei no caso de Dunga, aquele Brasil arrisca-se mais de fora da área e tentasse mais passes longos que o Barcelona de anos mais próximos.

De fato, a premissa de Parreira era que o time com maior posse de bola poderia ter mais chances de marcar e, especialmente, tiraria as chances de gol dos adversários. Como na época o cálculo anunciado era sobre a bola rolando, o Brasil chegou a ter o dobro de minutos com a posse dela em relação aos rivais.

O lance que abre este tópico é o que eu acredito ter sido a principal chance de gol brasileira. Cruzamento de Cafu, a bola passa por todo mundo da Itália e Bebeto aparece sozinho, a poucos metros do gol. A bola bate na coxa dele, cruza a área. Bastava um toque de canela e ela teria entrado. Romário corre atrás, mas só divide com Pagliuca.

Mas o Baixinho teria a chance dele no segundo tempo. Cruzamento da direita e ele chega com o corpo caído a poucos metros do gol. Daqueles que ele não perdia. Chutou um pouco alto, já que havia um italiano cruzando a frente da meta. O "Vai Romáááááriooooo" de Galvão já esperando para gritar gol, Pelé já de pé para pular e a bola vai para fora, para mais reclamações do narrador global.

"Romário está cansado", dizia Galvão. No primeiro tempo da prorrogação, Pelé chegou a prever a entrada de Ronaldo. "Já pensou, ele entra com 17 anos e marca o gol do título, seria que nem o Pelé", disse mais ou menos isso. Não, o jovem Ronaldo não entrou. Pela milésima vez a Globo soltava a vinheta "Brasiiiiiiiilllllll". Quem estava no comando técnico também estava agoniado. É muito estranho ouvir isso sem o gol ocorrer, imagina em lances que a bola saía por muito...

Quem entrou no intervalo foi Viola, no lugar de Zinho, para infernizar a zaga italiana. Galvão o pedira em todas as outras partidas, chegara a hora (Ufa!).

Eu era muito fã do Romário, por mais que fosse palmeirense para lá de fanático. De camisa com o número 11 nas costas, assistia à partida com os meus pais, a minha irmã e um vizinho - época que TV colorida ainda não era presente em todas as casas. [Falando em TV, fui mudar de canal antes de ligá-la, duas semanas antes do mundial começar, e nada de imagem aparecer. Soltei um triste "mas ao menos o som tá funcionando...". Ainda bem que deu tempo de consertar.] Na primeira ameaça de Romário machucado, ainda no primeiro tempo, eu murchei. Viola aquecendo e o vizinho começou a encher o saco, dizendo que o Romário ia sair. Eu não estava nem aí que era jogador do arquirrival, talvez nem sabia/lembrava da imitação do porco na final do Paulista. Eu era fã do Romário! Esperneei, chorei. Ia ser outro. E foi!

Viola tentou, abriu mais espaço, mas foi fominha em alguns momentos (veja a foto acima). Fez o que tinha que fazer, mas não conseguiu marcar o gol do título. 0 a 0 no Rose Bowl, pela primeira vez uma Copa do Mundo ia ser decidida nos pênaltis.

É TETRAAAAAAA!
Mãos dadas, de costas para a televisão e várias outras situações foram narradas por famosos e "anônimos" após aqueles minutos. Numa época em que adiantar era possível, Galvão Bueno reclamou nos gols italianos que Taffarel deveria ficar parado. Para piorar, um pênalti foi no meio. Mas o goleiro brasileiro defenderia uma, de Massaro, e se não fosse Baggio mandar para fora, poderia ser mais considerado como herói daquele decisão - como seria na Copa seguinte, na semifinal contra a Holanda.

Imagino a mudança de humores e expectativas. Baresi vai para a cobrança e manda para fora - isso eu não lembrava. No lance seguinte, Pagliuca defende a cobrança de Márcio Santos. Zagueiro para a primeira cobrança e não o jogador que melhor bate, "para dar tranquilidade", reclamaria o narrador global.

Depois, acertos para os dois lados, mas no nosso caso, teve Romário vendo a bola bater na trave e entrar, para desespero de Pagliuca e dos italianos naquele momento e grande alívio por aqui. Taffarel pega uma e caberia, em tese, a Bebeto marcar o gol do título. Para nossa felicidade, e imagino que tranquilidade de Bebeto, Baggio mandou para fora e nos poupou de mais um minuto de sofrimento e do tabu. Brasil, tetracampeão do mundo!

Na entrega da premiação, uma turma da pesada. O vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, ladeado pelo presidente da FIFA João Havelange; do COI, Juan Antonio Samaranch; da Conmebol, Nicolás Leóz; o FBI de olho, e o agoniado secretário-geral da FIFA Joseph Blatter querendo entregar a taça ao Dunga.

Das frases marcantes. A de Dunga é emblemática, por mais que alguns tenham considerado que era rancorosa demais para aquele momento. Ao contrário de Cafu, que declarou amor à esposa, ele optou por dedicar o título aos colegas jornalistas esportivos: "Essa taça é para vocês, bando de traíras!". E isso ao som de "Aquarela do Brasil"! É, "abre a cortina do passado"...

Algo também legal foi ver Parreira, técnico da Seleção, descer com a taça e pedir para todo mundo tocar: "Pode tocar que é nossa, é brasileira".

O Brasil chegava a seu quarto título mundial, todos fora do país, e voltava a liderar a tabela dos campeões do mundo. Além disso, iniciava ali sua segunda era áurea em Copas do Mundo. 1998 era a próxima parada e será a nossa. Prometemos que os próximos não serão tão longos quanto este, mas o 600º post deste blog merece.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Condições para Uma Grande Obra de Arte: O Realismo Estético em Georg Lukács

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Estou falando muito de futebol. Quer dizer, praticamente só postei coisas sobre futebol nos últimos meses pós período sabático. Resolvi então resgatar os comentários sobre os artigos publicados desde o início da trajetória acadêmica.

Indo lá para o início, chego à primeira publicação. Em 2009, resolvi adiar a conclusão do curso por ter conseguido a aprovação, enquanto colaborador, num projeto de iniciação científica com um professor de Filosofia, acompanhado com uma amiga também da Comunicação, que foi a bolsista do projeto. Já estava chateado por imaginar que não conseguiria, dadas as condições ruins para consegui-lo à época no curso que, quando existiam, estavam restritas a uma quantidade mínima de professores capazes de aprovar um projeto. Ter um projeto que me chamasse atenção, ainda mais apocalíptico e politicamente mais engajado que agora...

Com este professor, tentamos outro projeto maior, para estudar a dialética do senhor e do escravo através da obra de Hegel, que seria bem mais complicado - cheguei a participar, com este mesmo professor como facilitador, de um curso de seis meses sobre a Fenomenologia do Espírito. O projeto não foi aprovado e cheguei até a pensar que não seria a nova proposta, ainda que não envolvesse recursos para além das possíveis bolsas.

O projeto "Nas veredas da estética marxista" foi aprovado e eu optei por não ser o segundo candidato à bolsa, ficando como colaborador, por estar num projeto de extensão como bolsista - ainda que o dinheiro não fosse para mim, mas para a impressão de uma revista que um grupo de colegas fizemos. E para mim não era o dinheiro que importava, mas finalmente ter a possibilidade de fechar o ciclo de ensino-pesquisa-extensão e estágios.

2010 foi muito corrido, com um estágio e outro que virou emprego, mais coordenação de núcleo de estudos, mais eventos, mais, mais... Mas foi bastante proveitoso. O projeto em si possibilitava uma organicidade maior em termos de reuniões para estudo, algo que, provavelmente, jamais vi em outro espaço em que participei.

No Pibic, tem-se que apresentar relatórios, um parcial nos primeiros seis meses de pesquisa, e outro ao final. Já no parcial fiquei chateado por ter tão pouco espaço para descrer os resultados da pesquisa. Acho que eram 10 páginas para tudo, incluídas aí a capa, informações básicas do projeto como um todo e sobravam 5 ou 6 para o que era estudado e debatido.

Ah, cada estudante ficava com uma parte distinta. A minha amiga ficou com a parte mais "clássica", por assim dizer, da teoria lukacsiana, autor de referência para o projeto, mais ligada às discussões de Por uma ontologia do ser social. A mim cabia "O realismo estético em G. Lukács", que, confesso, se tivesse de escolher à época preferia a opção de estudar mais sobre as relações do trabalho, mas que tomei como forma de aprender mais, inclusive com possibilidade de ligar à comunicação. Assim como, fez-me ler clássicos da literatura internacional, especialmente alguns dos livros de Balzac, que era o "modelo" de literatura de filósofos como Marx, independente de sua postura política - ver mais sobre no artigo.

O artigo surgiu do relatório parcial. Tinha elementos que já haviam surgido em meio a leituras de livros em espanhol - já que não havia edições em português, e ainda assim tive que vasculhar muito na internet para achar -, aos em português, aos artigos sugeridos e ao que surgia das discussões, muitas vezes durante as apresentações e debates.

Artigo pronto, fiz um mapeamento de possíveis revistas científicas, mesmo sem saber patavinas do que era Qualis Capes, de se ter ou não certo nível acadêmico para publicar e onde. Minha formação na UFAL sempre foi correndo, e muito, atrás do que poderia aparecer de meu interesse, correndo para Filosofia, Linguística, Economia Política da Comunicação, enfim, onde eu conseguisse ter contato, já que não dispunha de espaços dentro do curso. Enfim, por mais que digam que não, o COS está bem melhor que na minha época e não vem ao caso julgamentos meus agora. 

Acabei encontrando uma revista específica para iniciação científica, publicada pela UniCesumar, que é de Maringá-PR. Falei com o orientador, que deu uma revisada no material, e enviei de acordo com os critérios da revista. Meses depois, já depois do término do projeto, o artigo foi publicado.

Até acho que pode haver elementos mais fortes em seleções para PPGs, mas chegar com uma boa quantidade de apresentações de trabalhos em eventos e, especialmente, uma publicação em revista ajudaram na minha aprovação. Ainda que a minha formação fosse relativamente variada para um trabalho tão específico quanto um Mestrado. Além da experiência em selecionar revistas em que determinado artigo pode ser publicado, de acordo com seu perfil/dossiê e exigências de formação.

Ainda submeti o artigo final, já no início do Mestrado no Rio Grande do Sul, numa revista "normal", mas só depois de alguns anos é que pude verificar no sistema que não havia sido aprovado, por mais que até hoje não consiga ter visto os pareceres, que são fundamentais.

Para quem é da Comunicação, a "Iniciação Científica Cesumar" recebe trabalho de várias áreas, mas há a Revista Brasileira de Iniciação Científica em Comunicação (Iniciacom), editada pela Intercom.

Segue abaixo o resumo do artigo que pode ser lido/baixado no site da revista:
http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/iccesumar/article/view/1479http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/iccesumar/article/view/1479

Resumo

Dentro do seu caminho teórico que teve como finalidade a definição de uma ontologia do ser social, o filósofo húngaro Georg Lukács chegou a definições de uma teoria estética com base marxista. Tendo como base os materialismos histórico e dialético para analisar a produção artística, grandes contribuições do socialismo científico, Lukács estudou a evolução da arte desde o momento em que a mesma atingiu sua autoconsciência, ou seja, o homem produziu arte com consciência disso, e não como algo apenas utilitário. O autor diferenciou a forma de refletir o cotidiano através do estético em relação às reflexões realizadas por ciência e, como resultado desse processo, definiu categorias como particularidade e tipicidade. Principalmente através da sua teoria do espelhamento estético do cotidiano, formou a teoria do realismo estético, cujas obras de autores como Honoré de Balzac e Stendhal são identificadas e analisadas como grandes obras de arte, mesmo que a época não fosse propícia para isso.

terça-feira, 13 de maio de 2014

[Copa] E se não tivéssemos A Guerra

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Uma boa e outra má notícia. A boa notícia é que a coluna "E se...", que conta como as Copas do Mundo poderiam ter outro resultado, está de  volta, com um dos textos mais legais que eu fiz. A má notícia é que, de novo, não devo conseguir terminar a tempo. O jeito é resgatar os textos que faltam e que já havia escrito há quatro anos, este e os que conformam o especial da Copa de 1950, e esperar ter tempo para pesquisar e escrever até a Copa na Rússia.

Em ano de Copa do Mundo todos nós sabemos que o planeta inteiro para para ver um grande espetáculo. Para quem gosta de futebol, não é preciso algo em específico para fazer a nossa programação diária ser baseada em jogos a serem vistos pela TV ou ouvidos pelo rádio. Nem que ouçamos uma partida no trabalho ou vejamos o andamento de vez em quando por programas minuto-a-minuto.

Apesar disso tudo, da importância que um “simples” esporte pode ter na vida de alguém, há momentos em que percebemos que há problemas bem maiores ainda a serem resolvidos – se é que um dia serão. Mesmo no meio do negócio futebol, vemos coisas cotidianas: xenofobia, racismo, violência, falta de respeito com o próximo, falta de estrutura...

Já contamos na série “E se...” que a ideia de Jules Rimet para realizar um Mundial de futebol surgiu um pouco antes da Primeira Guerra Mundial e que, por causa Dela, teve que adiar por muitos anos. Agora “destacamos” o período entre as Copas de 1938 e 1950.

Antes de partimos para o que poderia ter acontecido, é bom frisar que o período entre guerras demonstrou o quanto um ser humano pode humilhar o outro. Se houve a necessidade de um país como a Alemanha alimentar um nacionalismo extremado – nazismo –, isso surgiu porque foi verdadeiramente humilhado após a Primeira Guerra. Algo parecido ao momento atual, em que a "crise" econômica faz crescer as ideologias extremistas na Europa, com neofascistas se espalhando pelo continente, culpando o outro (geralmente o imigrante) pelas desgraças atuais.

Além disso, enquanto Hitler e Mussolini cresciam na Europa, os “grandes países” preferiam olhar para o governo stalinista – o qual também foi autoritário e dizimou muitas pessoas –, principalmente por ser uma proposta diferente para o mundo.

Pena que a Segunda Guerra Mundial teve que nos mostrar quanto irracional pode ser o homem e pena maior ainda de, após 70 anos, sabermos que as coisas pouco mudaram quanto a isso.

Imagem: Pedro Lucena
>> E SE...
Não importa que o Brasil tinha se candidatado para realizar a Copa de 1942 através do jornalista Célio de Barros...

Não importa que Jules Rimet preferisse a Alemanha, cuja candidatura veio um ano antes da nossa e tinha acabado de realizar as Olimpíadas de 1936...

Não importa que com a invasão de Hitler a Polônia em 1939, o Brasil era favorito para sediar a Copa seguinte e que deveria voltar à Europa quatro anos depois...

Não importa que SE o Mundial fosse aqui poderíamos contar num mesmo time com jogadores como Leônidas da Silva, Jair da Rosa Pinto, Zizinho, Heleno de Freitas e Ademir Menezes...

Não importa também que a Itália teria a chance de conquistar um tricampeonato inédito, com a participação de um destaque juventino, Sentimenti III; ou que a Hungria poderia contar com Puskas já em 1946; ou que a Suécia, ouro nas Olimpíadas de 1948, poderia ter aparecido em Mundiais 12 anos antes; ou que a Argentina tivesse uma das melhores seleções daquela época.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não seria necessário que o Brasil entrasse numa batalha que não era sua, e que várias famílias daqui não chorassem por seus mortos.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos 40 mil timorenses mortos simplesmente porque Portugal resolveu apenas observar as batalhas entre australianos (apoiados por civis locais) e japoneses numa de suas colônias.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos a nação alemã dividida ao meio entre estadunidenses e soviéticos como um simples pedaço de pão.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto, e não teríamos temido, uma arma capaz de dizimar 170 mil pessoas em duas cidades japonesas por simples arrogância.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto o holocausto, com cerca de 5,9 milhões de judeus mortos e, posteriormente, seus descendentes sedentos por vingança.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, não teríamos visto 50 milhões de pessoas morrerem em apenas seis anos, como numa terrível pandemia que matou, em sua maioria, civis.

SE não tivéssemos a Segunda Guerra Mundial, teríamos mais que duas Copas do Mundo, mas milhões de pessoas vivas e seguindo suas vidas normalmente, sem medos ou lamentações.

O mundo poderia estar melhor ou pior, mas ao menos esta mancha não estaria marcada para sempre na história da humanidade. Em guerras não há vencedores.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

[Por Trás do Gol - Comentários] Põe na conta do Nobre

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Crise e Palmeiras. Dois termos que, chega ano, passa ano, parecem nunca se desligarem. Politicamente, nas internas, todo mundo sabe disso. Financeiramente, nos números, com um ano sem patrocínio máster, idem. Títulos, só se forem os para pagar, pois se escassearam pós Era-Parmalat. O pior é ver jogadores desacreditados despontarem e saírem pela porta da frente, esta deixada sem qualquer tranca num país como o Brasil...

Respira fundo, torcedor palmeirense, e vamos lá tratar de mais problemas nas hostes da Rua Turiassú. Depois de boa campanha no Campeonato Paulista, em que o time ficou de fora da final por um dia "daqueles" - desfalques de atletas-base da equipe, inclusive durante o jogo -, o Brasileiro chegou já com Kleina sendo olhado torto dentro do clube. Veio a vitória contra o Criciúma, de virada, fora de casa. 2 a 1 e com gol do centroavante artilheiro - por mais que aquele pênalti não tenha sido marcado.

Passados alguns dias e "Bomba!", como diria o outro. O que parecia certo, ainda com mais de um mês de prazo, deu de cargas d'água. O artilheiro do time se encaminharia para o portão ao lado, supostamente porque o presidente do clube não topara uma diferença salarial de R$ 5 mil após a negociação entre as partes.


Logo a torcida deve ter lembrando do caso Barcos, ano passado. Não é para menos. Barcos, que só viera porque a primeira escolha de Felipão, Ariel (ex-Coritiba), não fechou, logo mostrou ser marcador de gols e com habilidade. Foi ao Grêmio, vieram cinco por um ano. Só sobrou um. Bem... Leandro dispensa comentários, ao menos para este texto.

Mas era pior. Se da outra vez a coisa não podia cair nos braços do presidente Paulo Nobre. Desta vez, sim. Não adianta falar que faria de tudo para ter o Alan Kardec depois de baixar de 230 mil para 225 mil reais mensais quando tudo estava certo no primeiro valor, após uma negociação que se arrastara mais do que deveria. Como muitas, aliás, nesta gestão, que testa algo que pode ser muito interessante para as finanças dos clubes no Brasil, contrato com cláusula de produtividade - quem teve experiências com Wesley e Valdívia e suas lesões longas já estava escaldado...


Até vejo boa intenção de Nobre, que arrisca o próprio patrimônio para pedir empréstimo ao clube, mas há de se ver a conjuntura. O Internacional viveu uma fase bem ruim nos anos 1990 e início dos 2000, só não foi rebaixado graças a um gol do Dunga (!) contra nós, mas a época de vacas magras serviu para Fernando Carvalho e companhia resgatarem a estrutura e as finanças do clube, que depois passou a ganhar títulos inéditos (duas Libertadores e um Mundial em poucos anos) e a formar jogadores - apesar da parceria com a DIS e os benefícios/prejuízos desta e a confusão para a reforma do Beira-Rio.

De 2000 para cá, o Palmeiras foi rebaixado duas vezes para a Série B do Brasileiro, ganhou além disso, um Paulista (2008), com apoio da Traffic, e uma Copa do Brasil (2012), esta com apoio de todos os deuses do futebol, santos, palmeirenses mortos e todas as entidades que existam neste sentido. A história de "calma aí, que é para o futuro ser melhor" deveria ter ocorrido lá atrás. Mas não, vemos erros em contratações seguirem sendo cometidos, novos erros aparecendo, o time se matando para diminuir o prejuízo das finanças - 22,6 milhões no ano passado, ainda que a dívida tenha caído 12 milhões.

Como pedir paciência a uma torcida que vai razoavelmente aos estádios; compra os vários uniformes lançados pelo clube - amarela Seleção e as três novas do Centenário -, a ponto de a loja oficial diminuir as promoções em valores, comuns em determinados períodos, do ano passado para cá; e associou-se à nova fase do Avanti em bom número. Muito pensaram em desistir de serem sócios por não verem o dinheiro sendo bem aplicado. Falta ânimo não só pelo agora, mas pelo acúmulo de sofrimentos.

FALTOU, SÃO PAULO
Para piorar, o Kardec foi para o rival ao lado, que já tinha tantos nomes no meio-ataque que os recados ao Muricy pela imprensa são comuns. Não é inédito. O clube do Morumbi foi alvo de reclamação na FPF, pois 7 clubes o acusaram de aliciar jogadores em suas categorias de base e, assim, não deveria o São Paulo participar da Copa São Paulo deste ano. Fora outros casos. E outros em que, como no caso Oscar, a moeda é invertida.

O São Paulo atuou dentro da lei, que permite a assinatura de pré-contrato a partir de seis meses do que esteja vigente, mas se o Palmeiras tinha a prioridade contratual do Benfica até o fim de maio e se o jogador só poderia atuar depois da Copa porque brigar com um co-irmão? Para mostrar força nas suas internas.

Carlos Miguel Aidar, um dos grandes nomes da formação do Clube dos 13, em 1987, começa o seu mandato tirando o melhor jogador do rival e de forma "esperta". Além de ser representante da CBF/STJD na Justiça contra outro co-irmão, a Portuguesa. Por mais que se possa culpar Nobre e cia, Aidar parece ter sido atingido por algum vírus do presidente anterior do tricolor, dados os seus infelizes comentários neste caso e sobre o "modelo de jogador para o clube".

TÉCNICO
Ia aproveitar para falar da demissão do Kleina, mas esperemos o anúncio do novo técnico. Ney Franco pulou para a Gávea, que liberou Jayme de Oliveira - que não sei se romperia o preconceito no nosso futebol para assumir outro grande, e de São Paulo, desde já. Jorginho foi visto no Pacaembu no sábado e Brunoro conversou com Luxemburgo na sexta. Esperemos e torçamos. Valentim segue para outro desafio, e sem Valdívia, reverter o duelo contra o Sampaio Corrêa pela Copa do Brasil nesta quarta.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

[Copa - Comentários] Convocados

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"Estou muito emocionado por ter sido convocado para a Copa do Mundo. Este é o sonho de todo mundo e ainda mais na nossa terra"... Não foi o nosso caso, mas este é o tipo de discurso que ouvimos bastante hoje. Desta vez não teve espaço para caras negativas de surpresa, de quem esperava ser convocado. Incrivelmente, foi a convocação para a Copa mais tranquila de todos os tempos aqui no Brasil.

Exageros à parte, todos concordam com a convocação, com raríssimas exceções a familiares e atletas não escolhidos. De resto, são aqueles velhos polemistas de sempre, que optam por colocar numa suposta lista até jogadores como Luis Fabiano, quem sabe por amizade. Sem falar no fato de Robinho ser colocado como a "surpresa" da lista até na frente de jogadores como Kaká e Philippe Coutinho, que fizeram bem mais nos últimos anos numa posição semelhante.

Além disso, Ronaldinho Gaúcho, ainda querido por muita gente e que em 2010 também foi uma das ausências sentidas por alguns na lista do Dunga, conseguiu não aparecer com tamanha força desta vez, mesmo atuando aqui no Brasil e após o título da Libertadores do Atlético-MG. Bom para Victor, especialmente, que se destacou na campanha do ano passado e se garantiu como terceiro nome no gol.


Se Miranda, favorito ao quarto posto da zaga, decisão que, segundo Felipão, foi a última da lista, pode ter ficado chateado, imagina jogadores como Filipe Luís, Jean, Fernando e, principalmente, Lucas, que participaram da Copa das Confederações, mas ficaram no meio do caminho. Destaco o caso do último por ser no final da era Mano e até o título do ano passado o 12º jogador, o queridinho da torcida. Ninguém o citou como possível convocado. Mesmo Marquinhos, jovem zagueiro do seu PSG, aparecia mais. Uma mudança na carreira talvez fosse interessante para reacendê-la.

Relembro o texto de outubro do ano passado não para afirmar que "já sabia", até mesmo porque não tinha como saber, mas para verificar que não havia muito o que duvidar. Diego Costa entraria nos gramados de cá como brasileiro ou espanhol? Talvez fosse essa a grande dúvida e que definiria uma vaga a mais para o meio ou para o ataque. Diego optou a Espanha e o meio ganhou.

Hernanes, que desde que Felipão assumiu quase sempre foi aproveitado, aparecia como vaga possível de ser "roubada". Tudo bem que o Calcio não vai lá essas coisas - o que justifica, inclusive, o fato de pouco ouvirmos de Kaká, ainda que titular do Milan, e de Robinho, reserva -, mas esqueceram o quanto o técnico do penta gosta de trabalhar com os "seus".

Do que sobrou, e do que eu não tratei como dúvida naquela época, dois jogadores da Premier League. Willians e Fernandinho chegaram, jogaram poucos amistosos e tomaram as vagas inclusive sem contestação. Estão naquela cota dos atletas que conseguiram nos últimos minutos, ainda que cada vez mais com menos jogos para o principal evento esportivo do mundo.

Sobre o Henrique que, repito, conheço bem pelas atuações no Palmeiras - ainda que não tê-lo visto até como lateral no Napoli! -, é e não é uma surpresa. Repetindo: "pesa a favor dele o fato de ter jogado bem como volante na reta final da Copa do Brasil do ano passado, podendo fazer o que Edmilson realizou em 2002 e o que David Luiz também o pode em caso de necessidade, avançar como primeiro homem do meio".

Os volantes de Felipão, ainda que em número acima de outros anos e de alguns gostos, são ágeis e sabem sair jogando, podendo até jogar como meias (Paulinho, Hernanes, Ramires e, especialmente, Fernandinho). Luiz Gustavo é o que mais se aproximo ao caso do Edmílson em 2002, como vimos no ano passado. Ter as opções de David Luiz e Henrique podem mudar panoramas de jogo, aproveitando múltiplas funções, seja para defender ou para atacar. Nós palmeirenses sabemos que no sufoco Henrique funciona até como centro-avante.

Resta esperar que ninguém se machuque até a Copa do Mundo FIFA. Se problemas físicos de Neymar, Marcelo e Oscar podem ter deixado alguma preocupação, a parte boa é que eles chegam mais descansados e mais preparados para o mundial. Fora isso, Felipão já disse que a lista de mais sete é só por conta da exigência da FIFA. Até o dia 02 de julho, se for necessário, ele pode chamar quem quiser.