terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A volta, a vida

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2017 foi um ano preocupante e animador ao mesmo tempo. De vontade de não aparecer em certos espaços de trabalho e o que deu o gás para trabalhar muito mais no ano seguinte. De fato, o de uma conjuntura cada vez mais complicada. De fato, o de um segundo semestre que, individualmente, não só salvou o ano como me faz chegar, pela primeira vez em muitos anos, com bem mais tranquilidade aos últimos dos 365 dias deste ciclo.

Vamos separar pelas coisas da vida: trabalho, pesquisa, futebol e coração.


Trabalho
Devido a um final de 2016 muito complicado quanto às relações pessoais, resolvi realmente me enfiar de cabela no trabalho nos meses iniciais de 2017. O resultado foi que o trabalho me mostrou que não posso fazer isso.

Venho batendo na tecla nos últimos meses que o momento atual, de ataque ferrenho ao serviço público, com educação levando cada vez mais pancadas, deveria ser o de maior união em defesa das universidades públicas e gratuitas. Mas é inacreditável como a politicagem supera a necessidade de uma construção política mais cuidadosa.

Foi um ano de eleições para as unidades acadêmicas/campi e, mais uma vez, as falácias rolaram e o discurso que deveria ser o de manutenção e construção foi o de destruir o outro grupo. Nesse meio, decidi estar na comissão eleitoral da eleição do campus que faço parte e, tirando algumas dúvidas sobre mim no início do processo, este decorreu de forma tranquila. A relação melhorou entre o campus e a Unidade e, especialmente os estudantes, têm hoje resultados mais ágeis em suas demandas.

Dito isto, creio que mesmo sem eu ter participado diretamente (fazendo campanha) fui um dos mais prejudicados com o processo. Sei que tenho um pouco de mania de perseguição - algo sempre controlável, mas como não gosto de errar fico preocupado quando certos ataques ou situações se constroem e às vezes minhas dúvidas se confirmam -, mas me senti um alvo constante em alguns espaços de trabalho. De certa forma é natural, vide que desde o processo no Comando Local de Greve de 2015 que percebi uma mudança de perfil nos espaços coletivos. Passei a ser voz ativa, mesmo continuando a pensar antes de falar, e isso incomoda.

Porém, há uma coisa que sempre tentei - e meus hoje amigos da época de Diretório Acadêmico podem confirmar -, discuto ideias e conceitos, não busco menosprezar pessoas em espaços públicos. Uma coisa é criticar o gestor, outra o indivíduo. Outra bem diferente é demarcar espaço generalizando críticas e só vendo erros numa pessoa.

Por coisas assim, e outras que não cabe aqui, passei os últimos meses do ano sem vontade de vir à cidade em que trabalho. Vim por ser minha obrigação, meu trabalho. Mas muitas vezes passava os dias aqui com a cabeça fervilhando, frustrado.

Além disso, acabamos ficando no meio de uma briga que não é nossa, ao menos minha não é, o que acabou prejudicando o andamento de algumas coisas de gestão em Santana. Felizmente, 5 de abril já é ano que vem. Infelizmente, o processo de construção do prédio está ainda mais complicado com o andamento atual.

Ah, sobre as turmas. Primeiro semestre no molde antigo, turmas de nível normal, com participação média. Segundo semestre no molde novo, turmas de períodos diferentes. A do primeiro é boa,  muito participativa, mas gerou alguns problemas quanto ao acompanhamento das atividades. As demais foram interessantes pela experiência de poder acompanhar melhor os trabalhos por serem turmas menores. Final de semestre, creio eu, sem traumas para mim e para eles.


Pesquisa
Maceió - São Cristóvão - Quito - São Cristóvão - Curitiba - São Paulo - Lisboa - Coruripe - São Cristóvão, com algumas passagens em Brasília.

Adoro viajar e foram essas viagens, mas um clube e uma pessoa muito importantes que tratarei a seguir, que me fizeram chegar bem neste fim de ano. Além de apresentar resultados de pesquisas, são espaços que posso rever colegas e até amigos que moram em outros lugares, além de aumentar a rede de contatos com novos colegas. E, na medida do possível tentar ver algo de futebol e/ou aumentar a coleção de camisas.

Era para este segundo semestre ser o mais leve de todos e acabou sendo o mais ocupado desde que cheguei na UFAL. O motivo: eu precisava de tempo para a seleção do doutorado. Em meio a certa frustração de, mais uma vez, não conseguir me organizar para fazer o processo de forma correta; de certa preocupação em determinada fase por um possível erro; de, mais uma vez, ver que o trauma constituído em torno do doutorado cada vez crescia mais... Consegui ser aprovado na primeira opção que tinha em mente: a UnB. O que isso representa para mim está na postagem que fiz aqui.

2018 será de um desafio gigantesco de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, mas tinha passado da hora de eu sempre dar meus pulos para resolver as coisas coletivas e tentar fazer isso pelo que só eu posso fazer por mim. Talvez com menos viagens para lugares diferentes, mas muitas viagens para trabalhar e estudar, porém, bem feliz por ter conseguido apesar da minha rotina maluca e do bloqueio.

Futebol
Estádio da Luz, José Alvalade, Batistão, Trapichão e Allianz Parque. Foi o ano de eu ir a estádios fora do país (em Portugal), de ver jogo do Palmeiras na Libertadores no dia do meu aniversário (e eu quase saí rolando escadaria abaixo abraçado com dois torcedores pelo gol aos 51 minutos) e de ver o CSA campeão.


O Palmeiras foi abaixo das expectativas. Parou nas semifinais do Paulistão, nas oitavas da Libertadores e nas quartas da Copa do Brasil. No Brasileiro, um vice-campeonato que é muito mais que merecia. Peguei o jogo contra o Peñarol e outros dois pelo Brasileiro, Vitória e Flamengo. Sigo 100% na nova casa.

Em compensação, o CSA começou o ano com título perdido para o rival no Alagoano numa final de primeiro tempo louco e terminou na crista da onda no Nordeste - junto ao Bahia como os mais destacados do ano na região.

Se as viagens ajudaram nesta reta final, o CSA foi uma das coisas fundamentais! O mata-mata decisivo da Série C foi durante a seleção do doutorado e realmente uma das músicas virou mantra para eu me acalmar antes das provas. O fim do jejum de títulos e do doutorado numa mesma semana é algo inesquecível. Valeu até ficar quase 10 dias sem voz em algum momento de outubro.

Se a outra torcida é mediada pela televisão, o amor pelo CSA vem sendo construído nas arquibancadas do Trapichão, o que torna a sensação dessa reviravolta na nossa história ainda mais especial. Os gritos e as lágrimas que correram no rosto contra a Tombense e, especialmente, na final contra o Fortaleza não foram à toa. Estive em quase todos os jogos do ano em casa - com direito a duas idas a Aracaju -, mas também estava na segunda divisão de 2010 e quando já estávamos eliminados da D ainda na primeira fase.


Muito, muito massa entrar no Trapichão como no jogo contra a Tombense e estar arrepiado, segurando as lágrimas, por pararmos Maceió numa segunda-feira, por sairmos do fundo de um poço sem fundo do ano passado para cá.

Não tenho vergonha alguma de dizer que o futebol é terapêutico para mim e que salvou a minha vida em momentos muito ruins, pois dentro de um estádio eu posso extravasar toda carga negativa ou positiva que as outras áreas acabam empurrando. Estudo porque amo, azar de quem estuda o que não gosta. Ah, e não tem torcedor mais chato que azulino, feliz então...

Aproveitar para citar também os camaradas do Baião de Dois, que pude participar este ano para além do conselho editorial, conhecendo alguns deles pessoalmente em outros Estados. Como disse, meu sonho enquanto jornalista era trabalhar em rádio falando de futebol, passei algumas terças-feiras falando em rádio sobre futebol, com direito à palavra para me representar ("catedrático").


Coração
Talvez até mais que o CSA campeão brasileiro, e ela vive me zoando por sonhar demais quanto a ele (melhor é quanto se cumpre rs), é terminar, finalmente, um ano tranquilo quanto a um relacionamento, ainda que uma coisa ou outra aparece e necessite ser ajustada - infelizmente, os times dela não dá para ajustar.

Foi ao acaso, já que nenhum dois dois esperava, e nessa brincadeira já completamos 6 meses juntos, mesmo com as minhas viagens. Estar com alguém que não está preocupada se vale ou não a pena ficar comigo, ser minha companheira, é a melhor coisa que aconteceu este ano - quer dizer, título BRASILEIRO do CSA me deixa em dúvida se não é do mesmo nível.

Ano que vem apresenta um desafio para além de viagens esporádicas (?) e distâncias para eventos, mas espero que entendamos conjuntamente que os desafios de nossas vidas são melhor enfrentados quando temos a melhor companhia.

Que 2018 seja menos tenebroso do que eu imagine em termos conjunturais e que eu sobreviva até melhor que este ano - de preferência com mais títulos!

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Este ano eu subirei!

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Centroavante vive de fazer gols. Basta a bola passar em frente à área que do nada ele aparece e marca. Imagina quem vive disso ficar mais de 10 jogos sem balançar as redes. Tentar, tentar, passar rente a trave, o goleiro fazer uma grande defesa. Não tem quem suporte, por melhor histórico que possa ter, por mais que treine arduamente.

Era assim a cada "você é doutorando né, posso te apresentar assim?" num evento ou o "você não é doutor?" surpreso. Aquilo gerava um sorriso amarelo, carregado de uma frustração sem fim. Talvez o maior dos pesos que eu, acostumado a colocar muito peso sob as minhas costas (psicologicamente e literalmente também), sentia nos últimos anos.

Pense num time há 9 anos sem ganhar título algum, com direito a passar na segunda divisão de estadual. O time que, mesmo entrando num bom ciclo, tendo o time mais regular do campeonato, chega na final e perde.

Há pouco mais de 5 anos as coisas mudaram. Alguns pessoas devem saber, mas após a qualificação do Mestrado já havia me comprometido a seguir na Unisinos para o doutorado, até ideia estava se desenvolvendo. O falecimento prematuro do professor Valério Brittos, dentre tantas perdas que também me marcam, teve este peso de mudar qualquer planejamento.

Tentei e passei na Unisinos mesmo sabendo que não teria bolsa e seria difícil seguir - e seria mesmo com a notícia posterior que se eu esperasse mais um pouco teria a bolsa parcial, que pagaria o curso. Tentei ainda em 2013 na UFRJ, tive um dia ruim na prova e não passei; fiz a da UERJ, sem prova escrita, achando que seria mais tranquilo, cheguei à última fase lá atrás, fora dos classificados, e desisti. O caos veio depois, mas veio também a salvação com a aprovação para ser professor da UFAL. Tentei ainda em Letras ano passado, mas uma semana antes de entregar o projeto, sofri e sobrevivi a um acidente. Consegui entregar o projeto, mas não foi aprovado. 

Resolvi continuar na Comunicação mesmo e me preparar para tentar em 2017. Mas todo o histórico anterior me gerou um bloqueio que, apesar de vir sendo trabalhado em terapia, fazia com que eu não conseguisse me organizar como pretendia para estudar para a prova escrita e para o projeto. De fase em fase, o pessimismo era grande, mas fui passando até aguardar por duas semanas o resultado final e poder escrever sobre. Devido à quantidade de vagas e aprovados, já sabia após a última fase, há duas semanas. Na MELHOR semana da minha vida desde aquele 19 de agosto de 2014.

Tenho muito a agradecer à minha terapeuta, Flávia Rogatto, finalmente veio a era boa após tantas reclamações semanais - especialmente este ano devido aos problemas no trabalho. À minha namorada, (corintiana e regatiana, vejam só), Carolina, que aturou, atura e aturará meus "abandonos" e minha impaciência no período. Te amo! A Ruy Sardinha Lopes e César Bolaño, que mesmo entre tantas coisas, ajudaram a tirar uma dúvida fundamental sobre o meu projeto, mesmo com o limite de envio muito próximo à data que eu pedi ajuda. A Isolda, de ex-aluna a minha teacher, da Oyster Idiomas, por me preparar para uma das provas de proficiência. Axs colegas e amigxs que torceram, incentivaram e fizeram questão de acompanhar, a quem destaco xs amigxs de Santana Rafael, Izabelita e o xará Aristides (o texto é meu e não vou te chamar aqui de Anderson rs). Aos estudantes de Técnica de Pesquisa em Economia, que, em meio aos trabalhos passados devido às provas do doutorado em Brasília, torceram por mim e seguiram perguntando, fase a fase, que me deram uma moral no momento mais complicado, quando nem eu acreditava.

E como maluco por futebol, que estuda isso, ao Centro Sportivo Alagoano (CSA), que me possibilitou descarregar toda a tensão deste ano, especialmente na seleção de doutorado que foi concomitante com os mata-matas da Série C. Um canto da nossa torcida virou meu mantra para relaxar antes das provas, após cada etapa. Subimos e fomos campeões!

Sei que, no meu caso, ainda não é um título, é mais trabalho, que será loucura começar doutorado sem afastamento, para poder aproveitar melhor esta etapa de pesquisa. Mas para quem é conhecido por fazer loucuras quando se trata do trabalho e do futebol, não faria diferente ao juntar as duas coisas!

UFA! Finalmente saíram estas toneladas das minhas costas!!!

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Apontamentos sobre "Coronelismo, enxada e voto"

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O livro de Victor Nunes Leal faz um panorama histórico das questões que envolveram a constituição do coronelismo, vendo causas e consequências, que demarcam, na visão do autor, a decadência do modelo agrário brasileiro que, apesar de ter então maior parte da população vivendo no meio rural, não apresentava desenvolvimento cultural e econômico. As mudanças políticas, estruturais e administrativas desde a época do Brasil Colônia até então acabam por manter o predomínio da necessidade de se contar com os velhos oligarcas do interior, vide ainda que estes locais não tinham quaisquer condições financeiras de se manter, dependendo dos governadores, daí Leal denominar o período como o da “política de governadores”.

Para o que nos interessa, importa especialmente o primeiro capítulo, que faz uma descrição e diferenciação do processo coronelista, valendo posterior releitura. Já ali aparece uma das coisas que mais nos chamaram a atenção, que é indicar o avanço das comunicações (em plena era do Rádio, anos 1940) como um aspecto de possível mudança dessa situação no país – além da melhoria nas redes de transporte e de possível melhoria na industrialização, levando as pessoas para a cidade, o que se daria depois.

Esse fator nos interesso porque, no balanço que podemos fazer 68 anos após a escrita do livro, é que muitos dos fatores apontados na relação política e com a comunidade rural ainda permanecessem, mesmo com tanta suposta evolução na educação, na busca de informações e com redução de distâncias (nos mais diversos sentidos de acesso). Talvez aqui que esteja algo que ele aponta logo no início e depois na conclusão, que é a capacidade desse modelo de atualizar, com o poder centrado em certas famílias, mesmo que esses descendentes tenham se preparado melhor a partir de educação em outros lugares.

Podemos dizer que o modelo de controle segue presente, especialmente quando a principal atividade das cidades passa a ser o setor de serviços que, no caso do interior, terá uma preponderância importante dos empregos gerados a partir da prefeitura. Por outro lado, a distribuição de concessões de rádios no Brasil, como diversos estudos nas décadas seguintes apontaram, gera o que Suzy dos Santos e outros autores indicam como “coronelismo eletrônico”. Ou seja, uma das formas de atualização de como definir o poder nos municípios foi conseguir esta concessões, a partir de relações políticas muito semelhantes às que Leal aponta.

Da mesma forma que então, apontamos em determinado trabalho, a partir de leituras sobre o “coronelismo eletrônico”, que esta forma precisa se reinventar mais uma vez com a maior quantidade de oferta de informações mesmo em lugares mais afastados, em que a radiodifusão é substituída por formas de consumo não programados, mas escolhidos, de conteúdo. Resta, portanto, observar como esse processo irá se dar – levando em conta, ainda, do ponto de vista das ciências políticas e sociais a necessidade de atualização histórica desse processo em comparação aos dias atuais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LEAL, Victor, Nunes. Coronelismo, enxada e voto: O município e o regime representativo no Brasil. 7.ed. Companhia das Letras: 2012.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Para certas coisas que nunca haverá momento certo

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Para certas coisas nunca haverá momento certo. Meu pai tentou chegar devagar com o assunto hoje, pelo Whatsapp, mas eu conheço bem a tática dele para momentos assim e até acaba sendo pior. Realmente não seria o momento adequado, tinha as aulas finais do semestre logo em seguida e venho num momento de tentativas de pressão por parte de outras pessoas.

Não é a primeira vez que uma perda ocorre e eu tenho que respirar fundo e seguir com as obrigações até poder chegar em casa e, finalmente, desabar. Na verdade, se teve algo que a partir da adolescência foi ter de separar os problemas de família das etapas de trabalho e estudo. Mesmo quando eu queria ter com quem falar, era melhor esquecer um pouco e deixar as coisas surgirem depois.


Hoje foi do mesmo jeito. Aula, saída rápida para comer algo e, agora, este texto. Se você acha besteira e/ou bobagem quem gosta de animais, pode parar por aqui. Meu pai ligou para mim do jeito dele, começando com "As coisas aqui não estão tão bem". A resposta é claro que é "O que aconteceu?". "O Baleia...". "O Baleia morreu?". E aí segue o relato de que ele desde a semana passada não estava bem, que até falou com o veterinário hoje, achando que era verme novamente. Mas que hoje ele desceu do quintal - e na casa dos meus pais é descer mesmo uma escada -, foi "maloqueirar" pelos quintais da vizinhança, como tanto gostou de fazer desde que meus pais se mudaram para este local em Viçosa. Subiu e quando minha mãe olhou, já estava morto. Ataque cardíaco ou algo parecido.

Eu estava no escritório da universidade. Cheguei de manhã e só saí para almoçar e depois para ir desenvolver uma atividade de extensão na escola. Ainda que sozinho, com uma porta fechada, mais uma vez não teria como reagir da forma que deveria. Muito menos com essa conjuntura meio chata no trabalho e com uma dor na cervical que, ainda com variações de intensidade, estou desde segunda-feira. Além de tudo, desabar seria não conseguir dar conta da avaliação das equipes da disciplina, ainda que eu tenha pensado em voltar para casa e avisar aos colegas e que em alguns momentos na aula isso viesse à cabeça.



Quando eu era criança, eu tinha muito medo de cachorro. De atravessar a rua segurando a minha mãe. Acabei sendo mordido uma vez, mas já por tentar mostrar segurança, depois de ter o primeiro cachorro em casa. Depois do Bob, meus pais resolveram criar uma fêmea, a Milady - é, nomes só os midiatizados até então. Ela acabou ficando prenha de um cachorro próximo e eu disse aos meus pais que ficaríamos com um deles e que o nome seria Baleia, . Foram sete filhotes. Um deles maior que os outros. Estava escolhido. 

Meses depois eu fui morar em São Leopoldo-RS para o mestrado e, como todo cachorro em crescimento, ele foi roendo umas coisas e tirando a paciência dos meus pais, que só não se desfizeram dele porque era o meu cachorro. Ainda durante a estadia por lá, a irmã dele, o oposto, morreu. Enquanto ele, em época parecida, levou uma mordida de um pastor alemão na rua e quase morreu também - meu pais só me disse que era por isso que ele estava mal há semanas depois que melhorou.


Eu voltei no final de março e meus pais se mudaram no final do mês seguinte. Ainda tentaram me convencer a levá-lo, mas pedi para deixá-lo comigo em Maceió. Ele me acompanhou nos momentos em que eu menos acreditei que era possível que as coisas andassem e sofreu comigo a falta de dinheiro por não conseguir arranjar emprego em algumas áreas possíveis para a minha formação. Comida era contada.

As manias dele devido ao mau costume que meus deram seguiam. Apesar de grande, pulava para a cama, ficando nos meus pés. De vez em quando tinha os sonhos dele e mexia patas, se tremia, latia fraco e eu chamava aos poucos para parar. Adorava subir numa cadeira maior e olhar a rua pela janela, enfiando a cabeça na grade e olhando de um lado para o outro, doido para ver um dos ex-alunos de reforço do meu pai.

Do pior momento, quase no meu limite, eu ainda avisei ao meu pai que qualquer coisa eu pediria para ele levá-lo a Viçosa, assim ele não ficaria sozinho. Desisti da ideia que passou pela cabeça e arranjei um emprego totalmente distante da minha formação. Trabalhava de 6h e voltava tarde. Ele reclamava por ficar sozinho e uma vizinha reclamou pelo barulho dele. Eu tinha que trabalhar, chegava depois das 22h e saí com ele pelas ruas vazias de um conjunto da periferia. Numa delas, quase foi mordido de novo, mas eu consegui manter afastado o outro cachorro, que sempre se alvoroçava quando ele passava, mas a corrente prendia. Neste dia, a corrente soltou.


Quando eu fui aprovado no concurso e assim que a nomeação estava certa, pedi para o meu pai levá-lo, pois não teria condições de criá-lo morando metade da semana em outra cidade. Moro realmente sozinho há quase 3 anos. Quem me conhece sabe que eu não tenho apego a relacionamentos pessoais e minha ligação com a família é mantendo certa distância segura. Mas o Baleia fazia falta.

Das (poucas) vezes que eu fui para lá, aproveitava para sair com ele, brincar, ver que continuava com aquele jeito de saber que fez coisa errada, deitado e com os grandes olhos cor de mel, como diz meu pai, levantados - quando ele pulava errado na cama dos meus pais, ficava com vergonha e dormia longe do quarto.

Numa casa maior e com quintal amplo, interligado com outros quintais, soltou-se de vez. Encontrava os outros cachorros nos quintais vizinhos e saía com eles, passando por baixo da cerca. Uma vez, acabou dando a volta pela rua e ficou parado em frente de casa. O vizinho, que gostava muito dele, avisou aos meus pais que ele tinha fugido. Meu pai abriu o portão e ele entrou com tudo.

Além disso, ele gostava do portãozinho que ficava num corredor que minha mãe aproveita para secar roupa. Olhava a rua e encrencava com os cachorros e gatos que passavam - nunca gostou de gatos, parava em frente e queria dar o bote, mesmo eu segurando a coleira e avisando que daqui que ele desse uma mordida o gato já tinha o arranhado todo. Uma dupla, em particular, era a escolhida. Os dois passavam em frente ao portão e começavam a latir. Baleia respondia. Sempre. Mas nas idas de Baleia pelo quintal, lá estavam os dois para saírem por aí com ele, como se dessem sempre bem.

Eu escutava essas histórias - e outras - e ficava preocupado. E se ele sair assim e alguém pegar? E se ele se empolgar com os outros e não souber voltar? Mas sempre voltou. Mesmo no último dia.

Lá em casa tínhamos 3 cachorros, teve uma que minha irmã herdou de uma amiga, branquinha e pequena, metida a brava. Misturava-se com o Baleia nas encrencas, até ser expulsa pelos maiores. Muito ligada à minha irmã, ela só procura a minha mãe quando a dona está viajando. Já Milade, teve algo como uma depressão pós-parto e ficou muito mais sensível, distribuindo dentadas de vez em quando - com os dentes que os 11 anos ainda deixaram sobrar. Baleia, apesar de grande, sempre foi mais carinhoso e meio bobo, mesmo na atual fase maloqueira.

Depois da fase de roer as coisas, minha mãe criou um vínculo grande com ele, porque em meio à minha ida ao Rio Grande do Sul, à saída para o trabalho do meu pai e, depois de um tempo, de todos nós, era ele que ficava ali ao pé da cadeira de balanço dela. Minha mãe tem um problema de saúde que é controlado, mas não pode ser resolvido e esse tipo de distração é importante. Chorou o dia inteiro. Mesmo meu pai, a quem eu puxei o ser mais duro em situações bem difíceis - até porque quanto mais nos mostramos mais frágeis, pior para a minha mãe -, não aguentou ao longo do telefonema.

Com seis anos e meio, Baleia, a quem tanto tinha orgulho de dizer que era homenagem a Vidas Secas, e a quem tanto expliquei que apesar do nome era macho, pois a palavra permitia, foi enterrado embaixo da brecha da cerca que ele mais gostava de passar.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O melhor lugar para se estar

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Para quem me conheceu um pouco mais já sabe o quanto futebol é importante para mim e o tanto que o Palmeiras supera qualquer foram de paixão ou amor. Não à toa que ontem o que variou do tradicional parabéns e bons desejos para mim foram coisas relativas ao time. Só que poucas pessoas sabiam que eu resolvi me dar de presente a vinda ao Allianz Parque em dia de jogo da Libertadores. Nada como Palmeiras 3X2 Peñarol para servir de exemplo para a minha vida.

Para começar, a batalha para chegar. Comprei as passagens em fevereiro, usando milhas, e desde então tentava articular uma questão de trabalho para a quinta-feira (13), que só foi definida ontem. Então, antes que venha alguém falar algo, sim, vim ver o Palmeiras jogar; mas não só isso - tem justificativa assinada no trabalho, mesmo não sendo dias das minhas aulas e tendo feriadão.

Dei aula na terça-feira à noite, acordei de madrugada, peguei quase 4h de ônibus de Santana a Maceió, fui em casa rápido e peguei outras 3 horas de voo para São Paulo, com direito a engarrafamentos da rodoviária para casa e de casa ao aeroporto - a da capital paulista nem conta mais rs. Além disso, iniciei o dia com dor de barriga, muito devido ao problema de horário biológico que não se define, não tive tempo de almoçar depois e tudo isso gerou uma grande enxaqueca.

A compra de ingresso também foi difícil. Ainda que pela internet, só descobri me frustrando que a WTorre conseguiu na justiça o direito de negociar 10 mil ingressos, então mesmo sendo sócio não consegui comprar. Só depois, quando abriram para qualquer pessoa, é que pude. Mas neste meio tempo bateu uma grande frustração, o eterno pessimismo de sempre tudo dar errado no 12 de abril.

Ainda que com passagens já compradas, ainda me peguei pensando se deveria ou não falar com xs amigxs que moram em São Paulo. Mas optei por não - então é provável que vocês, especificamente, surpreendam-se quando eu postar este texto no Facebook no domingo quando estiver por voltar ou já em Maceió. Nos últimos anos acabei vindo por motivos profissionais e/ou emotivos e acabei incomodando um tanto de gente com os problemas emotivos que, desta vez, não estando com nada em andamento, preferi poupar as pessoas próximas. Além disso, não curto meu aniversário, então era uma boa manter meu mau humor afastado de pessoas que gosto.


Cheguei cedo ao estádio e o jogo foi mais um daqueles exemplares da minha vida. Tudo morgado num tempo, gol do adversário para mostrar que vai dar errado e gerar frustração da maldição do 12 de abril. Depois, ergue a cabeça e acelera o ritmo, trampando até o negócio sair e sai, até que rápido, virada em dois minutos. Aí, apesar de tantas chances criadas e desperdiçadas, o adversário vai lá e empata o jogo. E só lá bem no final do final, aos 54 minutos neste caso, sai o gol da vitória - olha eu sendo otimista apesar dos pesares rs.

Abracei torcedores próximos e quase caí da escada do estádio, até porque para mim - e, felizmente, para as partes que vou na Gol Sul, jogo é em pé e gritando o tempo todo. Estava tão tenso que nem deu para as lágrimas caírem, mas os joelhos se ralaram ao me jogar no chão depois.

Bem exemplar para estes 29 anos de vida, sem dúvida alguma. Ao menos pude cumprir a promessa à terapeuta de terminar os dois jogos - começando no clássico alagoano de domingo - sem voz.

Por fim, agradeço às tantas pessoas que se manifestaram pelo meu aniversário, fosse pelo Facebook, (e mensagens por ele), Whatsapp e seus grupos e pelo Twitter. Seguimos firmes e tentando nos manter fortes para passar mais alguns anos perturbando muita gente haha

sexta-feira, 10 de março de 2017

Como trabalhar?

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Desde o primeiro dia que voltei à UFAL como professor que trago como elementos fundamentais duas palavras: orgulho e responsabilidade. Minha graduação poderia ter sido bem melhor se as condições ofertadas tivessem sido bem diferentes - problemas que seguem, ainda que com algumas tentativas de melhora. Não repetir aquele padrão é uma meta primordial para mim, especialmente aqui.

Estar coordenador acadêmico foi uma escolha pela segunda via, a responsabilidade. Ainda que uma pessoa tenha achado que me convenceu a isso, estava na mente a possibilidade, não à toa que me dispus a isso sem contratempo, mesmo com uma vida acadêmica (o tripé básico) bem cheia. E como venho relatando/reclamando de vez em quando por aqui e pelo Facebook, vem sendo um processo bem complicado. Trabalhar em unidade descentralizada do interior tem o grande problema da falta de condições de trabalho, ser gestor escancara ainda mais isso - ainda que eu, por perfil, sempre acabe me preocupando com uma visão geral do lugar em que estou -, mas nada é tão desgastante quanto acompanhar os momentos de disputa pela disputa. Costumo dizer que são tantos problemas que temos, porém gastamos mais em brigar com outras pessoas que em resolvê-los.

Um dos grandes problemas que eu tenho é tentar ser responsável, até demais. Acrescido à tentativa de fazer as coisas da forma mais certa possível, o ser "certinho" ou "formal", que tanto me apontaram no ano passado. Ainda que nem sempre isso seja possível. Primeiro porque eu sou ser humano como qualquer outrx, passível de erros - ainda que eu odeie errar, e ainda mais repetir o tipo de erro. Segundo, que muita coisa não depende do que eu faço - está aí a minha vida para sempre me provar isso.

2017 começou num ritmo frenético para mim. Janeiro e fevereiro foram meses em que só pude respirar durante o carnaval, ainda assim, tendo que escrever artigo, para além de descansar e dormir adequadamente. Para piorar, venho de uma sequência de experiências não tão boas, cujas surpresas negativas só aumentam a cada semana. Em novembro rolou tentativa de intimidação após uma reunião, que não deu certo, porque eu repeti a mesma fala na reunião da semana seguinte. Nos últimos meses coisas "estranhas" vêm acontecendo, cuja sequência me faz crer que não são acasos, fazendo com que eu tenha ainda mais cuidado com o que assino, dependendo de que lugar venha; e, o que vem me deixando ainda mais irritado, são as falas, conversas e boatos que vêm baseados em generalizações e reclamações, de diferentes partes - algumas até de quem deveria conhecer melhor o meu jeito de pensar as coisas - que se acentuam devido a determinado acontecimento político. Fora o fato de se pular a comunicação às instâncias devidas, que também aconteceu por diferentes partes, ainda que uma esfera tenha preponderado - e uma ameaça de processo por e-mail por falta de entendimento de uma preocupação.

Nunca gostei de participar de campanhas políticas, mesmo na época de movimento estudantil e sendo um dos candidatos Sempre me pareceu que a disputa se impunha em relação à importância do cargo e frente aos desafios do mesmo. A experiência enquanto professor só ajuda a ampliar esta reflexão. Primeiro que a política acadêmica, em diferentes níveis, pode ser pior que a partidária. A disputa do poder pelo poder pode superar até as dificuldades claras que aparecem e que caracterizam os problemas em se se gerir a educação em qualquer esfera no Brasil, especialmente no atual contexto, e para isso pode-se ter de tudo - tipo, colocar como lema, dentre outros elementos, ser "decente". Deixando claro que há casos de preocupação real, com propostas e planejamento. Mas às vezes tenho a impressão que o bem coletivo nem sempre é prioridade. A adrenalina gerada pelas batalhas podem superar mesmo as pessoas mais comprometidas, imagina aquelas que estão só pelo status.

Curiosamente, na unidade em que trabalho, o coordenador-geral, o que se afastou há algumas semanas e o atual, votou numa candidata à reitoria e eu na outra, e não houve/há diferença nenhum de diálogo para fazer as coisas no nosso local de trabalho. Assim como, meu principal parceiro de trabalho internamente é alguém que brinco que a única coisa em comum é o nome, porque até no futebol ele torce para o CRB e para o São Paulo, porém é alguém que gosta de pesquisa, quer desenvolver o local de trabalho e é comprometido. Enfim, na minha cabeça, comprometimento, respeito e responsabilidade não são características exclusivas de escolhas teórico-metodológicas ou posicionamentos político-ideológicos.

A prova desse incômodo é que as sessões de terapia deste ano são muito mais para eu falar do trabalho do que qualquer outra coisa. Arriscaria em dizer que metade das 8 sessões deste ano foram inteiramente dedicadas a isso, olha que o final do ano, em termos pessoais - para além do título do Palmeiras - foi ainda pior que o anterior.

Como disse, não gosto de errar, até porque minha mente foca mais nas experiências negativas que nas positivas, então sempre busco erros parecidos no passado para me irritar por ter voltado a cometê-los. Mas tento aceitar as críticas, até mesmo para tentar não cometer determinado erro indicado novamente. Só que odeio ainda mais quando se encaminha algo para mim sem eu ter nada a ver. Demonstração irritação num espaço ao saber de algo assim mês passado.

De forma geral, em quase um ano de coordenação acadêmica - cargo eleito, não indicado por quem quer que seja na universidade -, vem sendo de muito trabalho e muitas vezes tendo que ser também de outros cargos. Poderia muito bem dizer que "isso é com fulanx, não comigo", mas não consigo ser assim. Minhas críticas e meus elogios nesses espaços surgem quando acho devido, sem nenhuma restrição a amigxs ou pessoas mais distantes, tentando seguir os meus princípios de avaliação, algo que surpreendia os meus colegas de trabalho, porque isso não é comum.

Importante frisar que eu venho falando mais nãos e estabelecendo limites de paciência e trabalho - meus amigos de grupo de estudo daqui de Alagoas e de Sergipe sabem bem disso por experiências recentes. Além de tudo, sinto-me bem em tentar melhorar a instituição em que trabalho, cujo papel é tão importante para a vida de tantas pessoas - só eu devo ter tido 300 estudantes em 2 anos e meio como professor. Comemoro as pequenas vitórias de ordem coletiva que aparecem como se fossem gols do Palmeiras ou do CSA.

Mas não dependo de cargo algum para viver. Ser professor da UFAL era uma meta da época da graduação por poder tentar fazer o melhor possível para a instituição que foi e é muito importante também para mim; é uma profissão (ainda) estável, que me dá a possibilidade de fazer coisas que eu gosto, como pesquisar e viajar para eventos. Se tem algo que eu ache importante para mim, individualmente, é estar como secretário-geral da minha entidade de pesquisa, o que imaginava que poderia ocorrer, mas bem mais à frente. Então não teria problema algum em deixar cargo algum se alguém puder fazer melhor, manteria-me fazendo o meu trabalho da mesma forma, ou seja, da melhor maneira possível. Desde que se fale isso comigo e mostre o que se quer.

Sentir-me supervisionado  ou que querem me prejudicar só porque eu votei em a, b ou z; ou porque eu sou muito novo - como falaram, num outro contexto, para uma colega de trabalho; ou porque eu me posiciono em qualquer espaço, mas sempre mantendo o respeito e a educação; ou porque eu sou palmeirense e torcedor do CSA, sei lá...  Isso é muito estranho para mim porque não é o meu bom ou péssimo trabalho que está em jogo. Talvez seja por isso que tanta gente, comprometida, desiste de trilhar certos caminhos. Ainda bem, talvez não para mim, que eu sou teimoso.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

[Azul e branco a vida inteira] Jogo 4 - Maceió

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Comentei no texto sobre o jogo anterior o quanto o início de ano vem sendo (ainda mais) complicado. Mais coisas a fazer e ainda mais coisas a me chatear. Na segunda, uma delas já havia gerado uma resposta mais direta para a terça. Na quarta, no intervalo do jogo contra o Sport, outro fato que gerou a necessidade de deixar claro certas coisas. Ainda que a reunião de trabalho em Penedo tenha sido boa, que tornou melhor ainda as coisas por ter conseguido chegar em Maceió a tempo do jogo pela Copa do Brasil, acabei terminando a noite bem irritado, com direito a pesadelo com meu grande receio atual, ainda que bem provável, durante o sono na madrugada.

Início bom, final péssimo
Cheguei por volta das 18h em Maceió, mas tive que resolver algumas coisas de trabalho antes de sair ao estádio. Num dia que acordei antes das 6h, o cansaço estava pesando. Porém, ir ao Trapichão na quarta-feira serviria para dar uns gritos que o nosso dia-a-dia não permite, ainda que vontade em determinados momentos não falte. Na hora de buscar o fone de ouvido na mochila, peguei um cabo USB, só reparando nisso ao retirar do bolso antes da revista da polícia.

Esperava maior público no estádio, ainda mais por Recife ser perto (foram 6.312 pessoas no total). Optei, na última hora, de dar a volta pelo estádio porque vi certa aglomeração na entrada do visitante (ao lado da Veleiro), e, sozinho, preferi não arriscar, ainda que a organizada do Sport estivesse formalmente proibida de entrar.

Sentado nas grandes arquibancadas, mesmo chegando cerca de meia hora antes do jogo, consegui um lugar mais em cima, recebendo companhia logo depois de um grupo de torcedores que se conheciam. Eram eles que passavam as informações e que dialogavam comigo sobre o andamento do CSA na partida.

O Sport começou um pouco melhor, mas depois o jogo entrou num marasmo. Até que aos 13 minutos, numa bola alçada para a área, Douglas cabeceou meio torto para frente da área, Everton Eleno ratou a bola, que sobrou para Rithely marcar um golaço de fora da área. Frustração da torcida, que começou a pressionar o time, que se atrapalhava para criar as jogadas e seguia com uma avenida na lateral direita defensiva mesmo com a entrada de Celsinho no lugar de Denilson, que deixara o mesmo espaço na derrota no clássico.

O CSA e a torcida foram melhorando ao longo da etapa inicial e aos 32 minutos uma falta na entrada da área inflamaria ainda mais o torcedor. Everton Heleno acertou uma cobrança quase perfeita, Magrão tocou na bola - aparentemente já dentro do gol -, mas Alex Henrique, meio sem jeito e impedido, empurrou para o gol. 1 a 1 que fez o time se mostrar mais confiante.


Na volta, Canindé resolveu tirar Alex Henrique e colocar Giancarlo, centroavante típico, mas fora de peso e ritmo de jogo, no lugar. O time desandou totalmente, como o técnico reconheceria depois da partida. Para piorar, o time levou outro gol logo no início. Aos cinco minutos, Everton Felipe fez jogada na direita, chutou e contou com o desvio em Rafinha para enganar Jeferson.

Em contra-ataque com CSA todo desorganizado, Rogério recebeu livre e chutou rasteiro para marcar o terceiro. A torcida voltou a se impacientar e já dava como perdido um jogo que precisava ganhar de qualquer jeito, vide a mudança de regra na Copa do Brasil. 

Canindé resolveu ir para o tudo o nada, tirando dois volantes e colocando dois meias. O time seguiu aberto e pouco conseguindo criar, errando passes simples. Poderia ter sido mais, porém o último gol do jogo só saiu aos 31 minutos, com Thalysson empurrando para o gol após grande defesa de Jeferson em chute de Diego Souza.

Se a eliminação era previsível, a péssima atuação no segundo tempo, não. Fez lembrar o primeiro tempo desastroso contra o CRB no domingo. Duas derrotas que pesam no ânimo de qualquer torcedor, ainda mais para quem precisava ter mais alívio - ainda que xingar faça parte do processo terapêutico de ir a jogos.

Veja os melhores momentos do jogo:



Ficha do jogo
CSA 1-4 Sport
Data: 08 de fevereiro de 2017 - 21h30
Local: Estádio Rei Pelé (Trapichão) - Maceió-AL
CSA - Jeferson; Celsinho, Leandro Souza, Douglas Marques e Rafinha; Panda (Geovani), Everton Heleno (Cleyton), Marcos Antônio, Thiago Potiguar e Daniel Cruz; Alex Henrique (Giancarlo).

2017 do CSA
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domingo, 29 de janeiro de 2017

[Azul e branco a vida inteira] Jogo 3 - Maceió

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Das três partes das férias, a última, com maior parte em janeiro, foi a única que não consegui recarregar as baterias. Comecei o semestre letivo bem no ritmo de reta final. Para piorar, outra semana de muito trabalho, algumas outras surpresas ruins e, especialmente, não poder vir a Maceió a tempo de ver o CSA ganhar do ABC por 3 a 0 no Trapichão - meu pai foi. Restou-me adiar a vontade de expurgar tudo hoje, já que o Sete de Setembro me fez o favor de colocar o mando de campo por aqui.


Tomar pitú
De manhã até choveu um pouco em Maceió, mas pensa num calor durante a tarde! Resolvi sair no horário normal, ainda que tivesse que comprar ingresso antes desta vez. Pouca gente teve a mesma ideia. Trapichão praticamente vazio uma hora antes do jogo. Restou aos ambulantes buscarem a sombra e conversarem sobre o dia a dia.

Um deles, mais falador, não sabia que o Sete era do Tabuleiro, na parte alta de Maceió, sendo tudo logo explicado pelo colega ao lado. Mas destacou a felicidade que, provavelmente os jogadores do canarinho do Tabuleiro teriam com o jogo;

"Os jogadores do Sete não morre de fome esses dia. Vão receber uns três ou quatro meses adiantado. Vão tomar um whisky amanhã..."

"Whisky não", disse o outro.

"Whisky não! Uma pitu mermo".


"Nem 100% cabreiro como na quarta, nem 100% confiante hoje"
Teve tempo de o ambulante reclamar dos R$ 25 que paga para trabalhar em dia de jogo e dizer que é melhor dar outra coisa que não posso publicar. O público foi chegando aos poucos, com maior concentração na arquibancada baixa, fugindo do sol no caso da alta. Por olho, diria que de 2 a 3 mil pessoas. Dentre aqueles que ficaram nas grandes arquibancadas, um comentou a frase que viria a ser o resumo da partida: "Nem 100% cabreiro como na quarta, nem 100% confiante hoje".

O CSA começou muito bem, com toques rápidos na chegada ao ataque. Na terceira delas, Didira esperou e deu uma boa assistência para Daniel Cruz bater cruzado e marcar aos 4 minutos de primeiro tempo. Se a torcida ficou ainda mais empolgada, o time passou a tentar controlar o jogo, que ficou igual à sensação térmica, incômodo. Parecia que bastava querer para o CSA ampliar, dada a fragilidade do adversário. Os torcedores ficaram impacientes e vaiaram no intervalo o 1 a 0. E ficaria pior.

Oliveira Canindé veio com duas mudanças, uma na defesa e outra no meio, mas foi a alteração de Adriano Cabeça que surtiu efeito, a entrada de Silva acelerou as jogadas de ataque. Assim, o Sete começou o segundo tempo conseguindo sair jogando e conseguiu empatar aos 4 minutos, numa sequência de erros do setor defensivo azulino. No bate e rebate, a zaga parou - como no jogo contra o Confiança - e Paulinho apareceu na cara de Jeferson para marcar.

Daí em diante, o CSA até passou a ter vontade, mas o Sete tentava conectar contragolpes. Quando o CSA conseguia chegar, parava em impedimentos e em defesas do goleiro Gustavo. A torcida aumentava o nível da impaciência, chegando a vaiar o time com a bola rolando, mas apoiava quem demonstrava vontade (quase que só Didira) e quando a equipe criava chances.

Numa delas, Cleyton entrou sozinho na área, encheu o pé, mas Gustavo fez uma grande defesa. Na cobrança de escanteio, bate e rebate na área e Everton Heleno aproveitou, aos 39 minutos, para acabar com o sufoco. O mesmo Everton Heleno, três minutos depois, cobraria o pênalti que garantiu o 3 a 1 para o CSA no marcador. Terceiro gol do volante no campeonato, artilheiro com Sergio Mota, que fez 3 gols contra o Miguelense hoje à tarde pelo rival.

O próximo jogo do CSA é contra o Coruripe, quarta-feira à noite no Litoral Sul, ainda pelo Campeonato Alagoano.

Veja o jogo completo na FAFTV:


Ficha do jogo
Sete de Setembro 1X3 CSA
Data: 29 de janeiro de 2017 - 16h
Local: Estádio Rei Pelé (Trapichão) - Maceió-AL
CSA - Jeferson; Denilson, Leandro Souza, Douglas Marques (Thales) e Rayron; Panda (Marcos Antônio), Everton Heleno, Didira, Cleyton, Alex Henrique (Geovani); e Daniel Cruz.

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

[Azul e Branco a vida inteira] Jogo 2 - Maceió

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Como contei aqui anos atrás, muito da boa relação que sempre tive com o meu pai foi estabelecida devido ao futebol, fosse na época que ele trabalhava demais em Aracaju, mas sobrava um tempo na sexta à noite para brincarmos no quintal de casa; ou vendo jogos pela televisão ou no Trapichão, idas ao estádio mais frequente no primeiro período de volta a Maceió. Não à toa que perturbei amigxs por um bom tempo para levar seus filhos a estádios, conseguindo num caso.

Fui ao estádio aqui até o último jogo de 2011, antes de ir ao Mestrado, tendo orgulho por naqueles anos poder pagar o ingresso dele para ir comigo às partidas. Voltei a Maceió em março de 2013, mesmo mês que o meu pai acabou voltando à cidade natal dele para trabalhar, agora como servidor público, e as idas conjuntas aos estádios rarearam, ficando as conversas sobre futebol para depois das partidas, quando ele me liga.

Mas, no início de cada ano tanto ele quanto eu temos mais tempo para ir ao Trapichão - incluo-me nisso porque já houve anos de colocarem jogos nos dias que trabalho em Santana ou, como na reta final da Série D do ano passado, eu estar fora do Estado mesmo aos domingos. Ano passado mesmo fomos ao Mutange ver o amistoso contra o Itabaiana, e no Rei Pelé ver outro amistoso contra o Treze e acompanhamos as primeiras rodadas do Alagoano (Penedense e Ipanema). No caso do último, eu lembro bem porque foi o primeiro dia que tirei o colete da cervical, mas ainda estava sensível a movimentos mais bruscos, numa situação de jogo de futebol e goleada.


Seu Antônio
Uma das primeiras coisas que fiz quando passei a contar com recursos de forma regular foi me tornar sócio do CSA. Aliás, tornarmos, já que o coloquei como dependente. Ainda que ele use bem menos que eu do final de 2014 para cá.

Quando comentei com ele sobre o jogo contra o Confiança, ele disse que viria assistir. Tentei convencê-lo a ir comigo para Aracaju, mas preferiu não. Tanto falou, perguntando para mim sobre o cartão de sócio-torcedor, que acabou esquecendo ao vir a Maceió. Mas nem por isso deixou de ir comigo. Comprou o ingresso dele antecipadamente e tudo.

Outra coisa que costumo fazer, é comprar as camisas oficiais do CSA para ele, algumas com o nome dele impresso. No final do ano dei a ele a especial dos 103 anos, adorou a camisa e disse que o pessoal em Viçosa, mesmo os torcedores do rival, vivem a falar o quanto ela é bonita. Ele trouxe para cá, mas usou antes do jogo, para ir à casa da minha tia.

Como o jogo começaria às 20h e, inicialmente, abririam só as grandes arquibancadas e um trecho muito pequeno da ferradura, sugeri que fôssemos antes. Talvez tenha sido uma das idas mais tranquilas ao estádio, quase vazio no início. Acabamos ficando no alto, na altura do meio do campo. Para além da divergência de clube nacional (ele corintiano, eu palmeirense), gostamos de lugares diferentes no Trapichão. Ele prefere o lado "família", sem bancos e ao lado das cadeiras. Eu, as grandes arquibancadas - mesmo com sol castigando nos domingos à tarde -, ao lado, mas em distância segura, da principal organizada. Ontem, ficamos onde eu gosto.

O CSA veio com mudanças no gol, com a entrada de Mota; na lateral-direita, com Celsinho no lugar de Denilson, que sentiu a panturrilha; Didira no lugar de Alex Potiguar, no meio; e Soares no lugar de Daniel Cruz. A volta de Soares, que fez um bom Alagoano, mas caiu de produção no mata-mata, não foi tão boa. Colocado como falso nove, pouco fez, melhorando quando deslocado no início do segundo tempo para o lado direito, quando Daniel Cruz entrou no time.

Com os times mais próximos aos que estrearão no Estadual, o primeiro tempo foi muito melhor que o de Aracaju. O CSA dominou a partida, mas com alguma dificuldade em armar as jogadas, conseguindo fazê-lo graças a jogadas de habilidade de alguns de nossos jogadores ou em bola parada, a partir de cruzamentos de Rafinha. Numa delas, Everton Heleno cabeceou sozinho, na frente do gol, mas por cima. Na única chance do Confiança, Mota saiu bem do gol e evitou qualquer contratempo. 0 a 0.

O público não parou de chegar no estádio ao menos até às 20h30, a ponto de tornar ainda mais quente a noite de quarta-feira. A quantidade foi tão grande que tiveram que abrir o trecho da ferradura, incluindo a parte "família" do estádio (ver vídeo acima). Como costumeiramente eu falo, a diretoria do CSA costuma subestimar a torcida e sempre tem que fazer algo para remediar - por isso que fui antes.

As mudanças em profusão no segundo tempo foram piorando o jogo, também ao contrário do sábado. O CSA voltou melhor, com Soares participando mais, só que depois foi piorando. Mais uma vez, agora com a entrada de Jeam no lugar de Soares, Daniel Cruz foi deslocado para a direita. Mesmo jogando melhor, o time perde o pivô na frente como referência.

Depois de um escanteio duvidoso marcado, o CSA perdeu o rebote e a bola sobrou livre, livre para Felipe Cordeiro encher o pé na frente de Jeferson, que ficou estacionado na linha - mais uma vez. Depois disso, o CSA chegou com real perigo só numa cobrança de falta de Celsinho, que recebeu defesa muito boa de Henrique. Fora isso, sobrou impaciência da torcida, e uma certeza maior da diferença entre o time que iniciou e o time reserva. Ao final, um revezamento entre vaias e aplausos o time na segunda partida de 2017.

O próximo jogo do CSA é outro amistoso, contra o CSE em Palmeira dos Índios, no sábado à noite, que é difícil para eu ir. Minha volta deve ficar para a estreia no Nordestão, no dia 25, contra o ABC.

Ficha do jogo
CSA 0X 1 Confiança
Data: 11 de janeiro de 2017 - 20h
Local: Estádio Rei Pelé (Trapichão) - Maceió-AL
CSA - Mota (Jeferson); Celsinho (Kelvin), Leandro Souza (Lucas Silva), Douglas (Leandro Cardoso) e Rafinha (Cassiano); Panda (Serginho), Everton Heleno (Marcos Antônio), Didira (Matheus Lima), Cleyton (Dawhan) e Geovani (Daniel Cruz); Soares (Jeam).

2017 do CSA
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domingo, 8 de janeiro de 2017

[Azul e Branco a Vida Inteira] Jogo 1 - Aracaju

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Ano passado foram mais de 20 jogos, entre Maceió, São Paulo e um em Santana do Ipanema. Como o caso da segunda cidade tem opções aos montes, de noticiosos a opinativos, resolvi escrever um pouco mais neste blog em 2017 sobre o Centro Sportivo Alagoano (CSA). Entendo que o clube tenha iniciado em 2016 um novo ciclo vitorioso de sua história, que pude acompanhar em mais de uma dezena de partidas enquanto sócio-torcedor. Para 2017, temos ainda mais, com Copa do Brasil, Nordestão e Série C fazendo companhia ao Alagoano, pois finalmente temos calendário garantido para o ano inteiro!

A ideia aqui é falar de futebol, mas especialmente contar as histórias que aparecem nas minhas idas e vindas por estádios, assunto e lugar que tanto adoro. Poucas vezes consegui escrever sobre elas nos últimos anos - eis um caso - e talvez me propondo a criar uma espécie de sessão no blog me ajude a não esquecer de contá-las.

A volta
Quando soube no final de dezembro que o CSA iniciaria a temporada com dois amistosos contra o Confiança, animei-me a ir aos dois. O de Maceió, na próxima quarta-feira, fácil. De férias, é só ir e voltar a pé para o Trapichão. O da ida, ontem, mais difícil, pois costumo ir a estádio sozinho mesmo aqui, então não tenho um grupo que conheça que pudesse ir de carro - o que deverá ser um problema com os mandos de campo tendo que ser no interior na primeira fase do Alagoano.

Tentei convencer o meu pai a ir comigo. Não rolou. Tentei ver se conseguiria encontrar um colega de Whatsapp proletário do Baião de Dois. Também ele não pôde. Tentei, por fim, uma colega de grupo de pesquisa que nunca foi ao Batistão e que queria ir este ano. Também não aconteceu.

Fiquei na dúvida se valia a pena fazer uma viagem super rápida, que gastaria dinheiro consideravelmente, só para ver um amistoso. Quase desisti. Mas resolvi que tinha que ir. Afinal, estou de férias e estou trabalhando mais que descansando - ainda que o labor seja menor que em período menor -, com a viagem tendo sido a tradicional de final de ano para a casa dos meus pais. Além disso, morei em Aracaju de 1990 a janeiro de 2000, mas não recordo de ter ido ao Batistão. Segundo meu pai, fomos quando eu era pequeno, mas nada ficou na memória. Recordo-me de ter ido ao Etelino Mendonça, para jogo da Série C do CSA contra o Itabaiana, em 1997; e ao João Hora Filho em 1999, ver o Sergipe ganhar do Vitória pelo Nordestão.

Cheguei no estádio perto das 17h, comprei meu ingresso, vi o ônibus do CSA chegar e fiquei esperando a abertura das portas, cerca de 1h depois. Enquanto isso, via a presença, pequena, da torcida proletária e alguns poucos torcedores do Azulão, geralmente em grupo, por lá.

Seu Enéas
Para a minha surpresa, não há qualquer divisão entre torcidas no Estádio Lourival Batista, especialmente agora num formato de "Arena" após a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Andei um bocado por ele até escolher ficar onde tinha maior aglomeração de torcedores azulinos. Durante o primeiro tempo, um senhor com uma camisa polo do Corinthians, que fora ao jogo com o filho, acabou puxando conversa comigo.

Seu Enéas mora em Aracaju com a família há 3 anos, mas sempre passa ao menos uma semana por mês em Maceió e acompanha o CSA. Era a primeira vez dele no estádio porque não gosta de sair à noite, preferindo assistir aos jogos pela TV fechada em casa. O filho, curiosamente, joga na base do Sergipe porque fica bem perto da casa deles.

Algumas semelhanças nisso é que a família dele mora no Siqueira Campos, mesmo bairro que minha família morou em Aracaju por alguns anos, numa rua, se não me falha a memória, paralela a que nós moramos. Em Maceió, ele chegou a morar no mesmo conjunto que eu, conhecendo algumas vizinhas - por isso ele me disse o nome, algo não tão comum em conversas alheias que temos por aí e que eu costumo atrair.

Para irritação do grupo alagoano, o técnico Oliveira Canindé resolveu escalar o centroavante Daniel Cruz como ponta-direita, fazendo a cobertura na defesa, com Geovani, o nosso camisa 10, como uma espécie de falso-9, moda barcelonista. Não dava certo. O time ficava sem referência na frente e Daniel cansava muito tendo que ir e voltar, sem ter maior habilidade para controlar a bola. Só perto do final do primeiro tempo é que ele passou ao meio do ataque, com o setor ofensivo se movimentando mais, invertendo de posições. Foi nessa reclamação, e na identificação de jogadores que eu e Seu Enéas começamos a conversar. o intervalo foi todo nisso.

Para o segundo tempo, em meio a tantas mudanças típicas de amistoso, o jogo ficou muito melhor. Aos 8 minutos, num bate-rebate após um escanteio, a bola sobrou para Jeam, substituto de Daniel, acertar o canto e marcar o que seria o único gol da partida. O único muito mais por falhas dos atacantes do Confiança, que tiveram quatro chances claras de gol na marca do pênalti, duas muito bem defendidas por Mota, goleiro que veio do Volta Redonda, nosso algoz na final da D, e que deve dar muito trabalho ao titula Jeferson.

No final do jogo, Enéas perguntou como eu iria voltar, deu algumas sugestões de "segurança" para o entorno da Rodoviária e se despediu de mim. Foi ele que me fez perceber que no dia seguinte, 8 de janeiro de 2017, minha família completaria 17 anos da volta a Maceió. A ficha caiu para valer porque peguei o ônibus de 0h10 do dia 08. Veio tudo aquilo de novo na memória.

Como demonstrei anos atrás por aqui, essa mudança deixou marcas muito profundas em mim, que eu diria que definiram a minha personalidade, para o bem e para o mal. Algumas muito boas, afinal eu já havia colocado na cabeça que queria cursar Jornalismo pela UFAL mesmo sem saber que voltaria, o que acabei fazendo. Além disso, a mudança serviu para sair da zona do conforto e me ajudou enormemente para eu me tornar o profissional e pesquisador que sou hoje. As ruins estão centradas na desconfiança das pessoas, afinal largamos toda uma vida, amigos, escola, estilo de vida, por algo novo, depois de uma experiência de mudança de classe social que me fez ficar muito receoso com qualquer pessoa. Além disso, ao menos até 2008, foram anos bastante difíceis para a família nas mais diferentes esferas possíveis. Talvez eu só tenha reparado o quanto tenha sido necessário para a minha formação pessoal a partir da ida ao Mestrado, no Rio Grande do Sul.

Foi a primeira vez que estive nos dias 07 e, novamente, por parte do dia 08 de janeiro em Aracaju. Ainda bem que a volta foi sem ninguém ao lado, porque algumas lágrimas caíram - ainda estou sob efeitos de um dezembro difícil. De 2000 para cá, tive alguns reencontros e desencontros com Sergipe. Em 2012 eu quase tentei a seleção de doutorado por lá, o que não ocorreu por uma falha dos Correios na entrega da documentação. Devido a uma fatalidade, meu grupo de pesquisa teve de ser transferir à UFS em 2013, o que me fez ir algumas vezes para lá de 2014 para cá. Nesse meio termo, namorei uma sergipana, algo que acabou rapidamente e eu sempre acabo pensando que nas duas vezes que tentei uma "volta" mais frequente parece algo para atrapalhar. Coisas que acabam não tendo que ser.

No final das contas, pensando no Anderson até 2000 e no que é hoje, algumas mudanças importantes para a vida. A UFAL esteve como dois objetivos de vida e se tornou presente na minha vida, ainda que de uma forma não planejada. Especialmente por isso é que posso ir quando quiser para Aracaju e e pude me manter interligado de alguma forma com Sergipe.

Na próxima quarta-feira, CSA e Confiança voltam a se enfrentar, mas desta vez aqui perto de casa. Imagino que sim, mas espero poder ter outras histórias a contar.

Ficha do jogo
Confiança 0X 1 CSA
Data: 07 de janeiro de 2017 - 19h
Local: Estádio Lourival Batista (Batistão) - Aracaju-SE
CSA - Jeferson (Mota); Denilson (Celsinho), Leandro Souza (Lucas Silva), Douglas Marques (Leandro Cardoso) e Rafinha (Matheus); Panda (Serginho), Everton Heleno (Marcos Antônio), Cleyton (Joãozinho), Geovani (Didira) e Thiago Potiguar (Cassiano); Daniel Cruz (Jeam). Técnico: Oliveira Canindé
Gol: Jeam (CSA), aos 8 do primeiro tempo
Cartões amarelos: CSA (Douglas Marques, Daniel Cruz, Panda).

2017 do CSA
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