Antes de qualquer coisa sobre os comentários referentes à “entrevista” do presidente Lula à
piauí, é necessário que se explique de fora geral de quem partirá os textos.
O autor desse texto se considera crítico aos protagonistas dessa história: ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva e ao que se convencionou chamar de grande imprensa, pelo apoio à exploração do trabalhador deflagrado por ambos.
Você pode achar estranho que alguém escreva algo assim, mas nunca tive a percepção que as matérias produzidas fossem neutras, porque é humanamente impossível que assim o seja. Entretanto, ainda há quem acredite nessa hipótese, logo deixemos claro que não será nesses textos – nem neste blog – que isso irá acontecer. Vamos às análises.
De início, iremos pegar o grupo de comentários relacionados à própria entrevista e textos produzidos por outros jornais a partir dela. Há uma ligeira desvantagem para Mario Sergio Conti quanto à qualidade da entrevista realizada – e publicada na íntegra pelo site da Secretaria de Informação do Planalto.
Os elogios à entrevista vêm de simpatizantes do governo Lula. Uma das maiores justificativas é o fato da piauí não ter utilizado o fato do presidente ter afirmado que não lê jornais, revistas, blogs, ... como foco principal da matéria.
Casos da jornalista mineira Ilda Nogueira, que afirma o seguinte: “Parabéns pela entrevista, inteligência na condução da conversa, edição. Como diria
o companheiro: ela foi "justa"”. Assim como, o fez o também jornalista, só que paulistano, Thomaz Magalhães: “Entrevista bem conduzida por Conti,
abordando todos os temas da pauta presidencial nos últimos tempos. Lula, a seu jeito, respondeu objetivamente a tudo, foi oportuno e cavalheiro”.
A nossa maior prova de inexistência de neutralidade vêm de pessoas da própria profissão que desenvolve uma notícia. Será que quando queremos entrevistar alguém devemos fazer o possível para que ele se mantenha “cavalheiro”. Imagino que para certos casos o ideal é fazer aquela pergunta que o faça sair do sério, contradizer-se. Ou será que escutar apenas o que o entrevistado quer falar é fazer jornalismo?
Será que foi assim devido à linha política da revista que, como destacaram os assessores de Lula, seria “‘desencantada’: cética em relação ao alcance do progresso ocorrido no passado recente e descrente da política”? Mas se fosse isso porque pedir para fazer a entrevista, e não só com Lula, mas com outros políticos (como FHC)?
Confesso que quando li a matéria da revista, após ler na íntegra, achei bastante esquisito o formato. Afinal de contas, na publicação, não se tratou de uma entrevista – por isso as aspas nessa palavra no texto “O dia do caçador” –, e sim de tratar de tudo que a circunscreveu na visita ao Palácio. A entrevista virou um “anexo de luxo” para que o presidente falasse da sua relação com a imprensa, demonstrada anteriormente segundo o exemplo do próprio Conti.
Quanto ao “esquema perguntas e respostas” o qual estamos tão acostumados, isto não existiu. O que confirma a nossa hipótese (e a de Homero Baco, em comentário ao texto anterior) disso, na prática, não ter sido uma entrevista. O que me espantou foi de ter lido a alguns meses a entrevista realizada pela
piauí com o ex-presidente FHC e ser da mesma forma, com a diferença das perguntas e respostas mais interessantes concentradas no final, em sequência.
O publicitário Dante Caleffi, do Rio de Janeiro-RJ, acusa Conti de censura pelos cortes realizados (um dos quais foi a pergunta sobre o que o presidente achava de Mino Carta): “Não só da azia ,como cesura [sic]. Não é. Mario Sergio Conti?”.
Sobre o assunto, em outros textos há o destaque de que a revista de janeiro atrasou para publicação. O que seria uma relação, no mínimo, estranha, já que fora o próprio diretor de redação que a escreveu, “o homem” a transmitir a linha editorial da revista e a tê-la decorada.
Além disso, a maneira como as perguntas foram feitas, na entrevista real, ocorreu de maneira bastante grosseiras e de forma esquisita. Ao contrário de Lula, parece que o diretor de redação da piauí não estava preparado para fazer a entrevista, mas sim para uma conversa com um velho amigo.
Eis um exemplo de pergunta mal-formulada, esquisita até: “Mas eu lamento que o senhor não curta mais como o senhor me dava a impressão de curtir. O senhor gostava daquela conversa de... Você viu o que o Juca Kfouri escreveu?
Este fato foi destaque de um dos comentários do engenheiro eletrônico Giovani de Morais, de Jaboatão dos Guararapes (PE): “‘Eu vi uma entrevista ontem, lá, dos presidentes. Parece que é uma coisa chata pacas também, né? ’. Vocês tem [sic] certeza que o entrevistador é formado em jornalismo??? Que indigência vocabular!”.
Mas há também quem discorde, e com razão, do comentarista Thomaz Magalhães sobre a variedade de temas debatidos. “O entrevistador tem a raríssima oportunidade de entrevistar o presidente da república com o maior índice de popularidade da história brasileira em meio a uma preocupante crise financeira na matriz do capitalismo global e não faz uma pergunta de interesse público!”, disse o professor carioca Álvaro Marins.
Mesmo quando trata sobre o “mensalão”, Conti não prestou a atenção no momento para comparar o que Lula havia dito no início: “
não há hipótese de um presidente da República ser desinformado sobre as coisas mais importantes que acontecem no Brasil”. Como seria então em relação às coisas do próprio Governo e do partido que ajudou a criar? Seguindo essa resposta, o “eu não sei de nada!”, várias vezes utilizado, cai em descrédito.
Para finalizar a análise deste grupo, ainda há os comentários sobre outros meios. Um reclamando sobre o fato de Conti ter achado desproporcional a propaganda governamental nas revistas
Carta Capital e
Caros Amigos. Algo que só dá para medir com estas revistas nas mãos, assim como, com
Veja, Isto É, Época, ...
Os outros destaques foram para textos de jornais sobre a entrevista, que fizeram questão de destacar o fato do presidente não ler jornais, seja em editoriais ou em matérias sobre. Não tivemos acesso às matérias citadas, veja abaixo um comentário sobre:
“Lula mereceu até mesmo um editorial do Estadão, intitulado “Por que Lula não lê jornais”. Ali, critica-se o presidente por se informar em conversa com pessoas. Segundo o jornal, ‘
pessoas que conseguem escalar o gabinete presidencial evidentemente não pediram audiência para criticar o seu titular’. E acrescenta: ‘têm, todas, interesses a defender, o que aconselha os seus porta-vozes a guardar para si as verdades inconvenientes de que tenham conhecimento’”,
Valmir Gôngora, bancário de Brasília-DF.
Tudo bem a grande mídia, em sua maioria (com destaque para a hiper-tendenciosa
Veja), escolheu o lado, principalmente após 2004-2006 – apesar de continuar a receber suas verbas de publicidade. E o lado foi o contrário ao Governo, pelo menos na aparência. Mas não deixa de ser verdade o que foi dito nas partidas supracitadas e transcritas por Gôngora. Leia de novo e veja o que você faria se fosse um assessor direto do presidente numa condição ruim.
A partir do próximo texto da série “O dia do caçador” veremos até que ponto Lula tem razão em “ter azia” da imprensa e se a má qualidade da mesma é motivo suficiente para deixar de ler qualquer coisa. Além de um debate importantíssimo sobre as ações do profissional jornalista: protagonista de mentiras ou um simples assinante delas?